Susukihotaru sabia que não podia mentir para si tanto mesma. Do mesmo modo que ninguém podia mentir para ela.

Ela saberia se o fizessem com apenas um toque. Um unico toque e ela podia desvendar os sentimentos mais profundos e  secretos do coração.

Ainda assim, tentava desesperadamente mentir na tentativa de convencer seu pobre coração.

Já era madrugada e não conseguia dormir. Virava-se de um lado para o outro em sua enorme cama e quando seus olhos se fechavam, mesmo que por um instante, era a imagem de um belo soldado que lhe visitava.

Como pode deixar-se apaixonar assim?

Ela era apenas uma Hanyou. A mesma hanyou desprezada e odiada pelos humanos durante toda sua existência. Como pode se deixar levar pela gentileza dele? Pelo cuidado, pelos momentos em que ele a acalmava, acompanhava e cuidava dela, com tanto zelo.

Censurou-se mentalmente. Era uma tola. Não deveria sonhar tão alto. Ela não deveria nem sonhar.

Não era ninguém, era menos que ninguém. Não era humana e não era um demônio. Nenhum dos lados a queria.

 Riken era diferente. Ele era cortês e prestativo em todo o trabalho que prestavam, e com todas as pessoas que encontravam. Ele apenas cumpria com suas obrigações com maestria e competência. 

Mesmo que as obrigações dele o fizesse trabalhar com Youkais e Hanyous. O que for necessário para manter a paz com humanos.

Seus sentimentos não são importantes. Não tem lugar para eles no acordo feito para esse trabalho.

Ela tinha sido fraca. Ela não soube se conter diante de todas as novas sensações que lhe afloraram. Diante de toda as novas sensações que ele lhe proporcionou.

Lamentou-se sabendo ser tarde demais. Seu destino sempre será sofrer mesmo não sabendo qual culpa tinha em nascer ela mesma.

Rendendo-se a insonia, levantou-se. Ajeitou a comportada camisola que usava e saiu do quarto. Perambulou pelos corredores vazios, até chegar ao enorme jardim da casa. A noite era densa, havia uma lua fraca no céu com poucas estrelas.

Sentou-se em um banco, próximo a uma árvore e se deixou torturar pelos pensamentos intensos. Pelo sentimento tão grande, que cada vez crescia dentro de si. 

Já o amava com tudo que havia em si.

— Susukihotaru?

Ele. Sempre ele.

— Riken-sama?! - disse enquanto se levantava para o fitar - O-o que faz aqui?

— Eu te faço a mesma pergunta. Não é prudente estar sozinha a noite, mesmo em sua própria casa. Estava tão distraída que nem percebeu minha aproximação.

— T-tem razão. Perdão... eu, eu só não conseguia dormir ... - disse receosa.

— Eu também não consigo. - fitava-a - Posso lhe fazer companhia?

— Claro. - disse suavemente, com um leve sorriso nos lábios. Observou-o caminhar até ela e sentar-se ao seu lado. Ela o acompanhou, sentando-se novamente e lamentando o fato de seu destino ser tão travesso.

Permaneceram em silêncio por alguns momentos, observando a noite escura. 

— Porque não consegue dormir? - ele disse quebrando o silêncio. - Alguma coisa a preocupa?

— Não é isso... - é exatamente isso.

— Então?

'Porque eu não sei fazer mais nada que não seja pensar em você' - Pensou corando, porém o que saiu de seus lábios foi:

— Nada... não é nada Riken-sama. Não se preocupe. - Era difícil chamar um sentimento tão grande de 'nada'. Sorriu forçosamente. - E você? 

— Eu estou preocupado - falou, fitando o céu.

— Aconteceu alguma coisa? - preocupou-se verdadeiramente com o jovem soldado.

— Aconteceu. - Ele disse e ela permaneceu fitando-o, esperando que ele continuasse. Porém ele apenas fitava o céu vagamente. Parecia hesitar em alguns momentos. Queria incentiva-lo a continuar, mas não conseguia dizer nada. Apenas o fitava quase com devoção, ansiando suas próximas palavras.

Depois de alguns instantes eternos, ele continuou:

— Eu me apaixonei... - disse com a voz suave, surpreendendo a hanyou ao seu lado que não sabia como reagir. Ele baixou o olhar para pousá-lo sobre a jovem e continuou sereno -...por você.

Susukihotaru sentiu seu pobre coração falhar uma batida. O que era muito estranho, pois o que mais fazia era bater descontrolado.

O que estava acontecendo? Será que dormiu sem perceber e agora sonhava? Ele não podia estar ali dizendo que a amava. Não pode ser real, não com ela. E mesmo que não fosse um sonho, ela não podia aceitar seus sentimentos. Ou podia?

Riken percebeu toda a confusão em seus olhos. Ela estava assimilando o que ele dissera e ele queria lhe dar tempo para pensar. Não o planejou fazer desse modo e naquele momento. Na verdade, não planejou o fazer em nenhum momento ou de modo algum. Mas, ao vê-la ali, tão linda sobre a noite, não conseguiu se conter. As palavras, que sempre foram tão difíceis pra ele, simplesmente se formaram e ele não conseguiu guardá-las só pra si. Ele precisava dela como jamais acreditou que poderia precisar de alguém.

Analisava cada traço em sua feição, enquanto aguardava uma resposta ansioso. Os olhos da jovem pareceram tristes de repente.

— Eu...sou somente uma hanyou. Uma hanyou odiada, fraca e...

— Eu te amo. - cortou-a, deixando-a totalmente sem ação. Ele levou sua própria mão até a dela, segurando-a delicadamente e assim, a jovem pode sentir toda a confusão de sentimentos que o rapaz possui-a dentro de si, naquele momento.

Assim, como ela.

Sem desviar os olhos dela, nem por um instante, levou a mão da jovem garota ao seu próprio rosto e ela pode constatar algo que fez seu coração falhar mais uma vez.

Ele a amava. Ele a amou desde a primeira vez e, assim como ela, tentou resistir o quanto pode. Mas não queria resistir mais.

— Você é perfeita.

Ela queria que ele pudesse ver todos seus sentimentos por ele, tão claramente quanto ela via os dele agora.

— Eu te amo. Te amo Rikem-sama. - fitou-o corada.

— Você é a pessoa perfeitamente moldada para ser meu par.- Ele sussurrou já contra os lábios da jovem, tocando-os em seguida.

'Eu posso amá-lo' - pensou se deixando levar pela sensação maravilhosa de ter seus lábios tomados por ele.

Sim, ele que havia lhe tirado o sono naquela noite, mas havia lhe dado também o sonho mais lindo de ela poderia sonhar.