POV Annete

O vento soprava leve num silencioso anoitecer nublado

Eu deixei meu lar

Ta certo de que queria isso não muito tempo atrás

Mas não desse jeito.

E minha alegria de ter sido heroína deixou meu coração

Eu só caminhava

Sem direção.

Deitei no chão mesmo, tentando achar alguma forma de nuvem que fosse ao céu.

Quase pregando os olhos de tédio, na esperança de que alguma coisa me achasse, me atacasse e até me matasse de uma vez não importando a causa.

Quando uma coisa vermelha em forma de rolinho caiu bem em cima da minha cabeça

Eu hein?!

De onde veio?

Dãããã

Se foi de cima, foi do céu né?

Obviamente encontrei dois caras ao olhar pra cima

Caras não.

Eram melhor que simplesmente caras

Eram alados

De qualquer jeito não deixavam de ser compania

Mesmo que fossem só caras eram compania

Enfim,

Alados.

Isso.

E eu precisava atrai-los a mim

Dava pra ouvir a discussãozinha dos dois de onde eu estava:

- Por que você sempre quer complicar as coisas que já estão difíceis ã?- o primeiro gritou

- Isso não deve ser tão difícil assim! – berrou o segundo

- A culpa é sua!

- Não é não!

- É sim!

- Não é nada!

-Sempre foi sua culpa o tempo todo!

Legal.

Encontrei duas criançinhas chorando

Legal.

O primeiro parecia tão, tão enraivecido.

O segundo parecia mais ainda

- Vamos logo cuidar disso antes que eu te mate... Você trouxe o amuleto[B1] certo?

- Corretíssimo.

- Então cadê?

- Meus bolsos são fundos demais, espera aí.

E o segundo foi afundando as mãos nos bolsos para encontrar aquela coisa que eu acho que se chamava amuleto.

- Ta demorando.

- Espera. Eu trouxe. Eu juro que trouxe cara.

- Tem certeza que sim? É uma coisa vermelha enroladinha escrita em grego. Trouxe mesmo?

- Já falei.

Uma coisinha enroladinha vermelhinha escrita em grego?

Epa epa epa

Eu tinha ganhado uma coisinha enroladinha escrita em grego que caiu em cima da minha cabeça de brinde!

NOOBS!          

-Ta! Ta bem! Você trouxe... Cadê?

- Só mais alguns minutos vai...

Com um sorriso esnobe eu estendi a coisa pro alto balançando-a de um lado pro outro, na esperança de que isso atraísse a atenção deles.

- Já?

- NÃO!

-PROCURA DIREITO CARAI!

-ELE TAVA COMIGO 5 MINUTINHOS ATRÁS!

O primeiro suspirou, tentando se livrar da raiva.

Suspirou mais outra vez olhando pro seu colega e dizendo bem calmamente:

-Como vamos pegar outro? Ele era importante, você sabe o quanto.

-Voltamos lá?

-E a garota?

-É. - ele pareceu sem justificativa – sei não...

- Sabia que não podia contar com você.

Mas ao ouvir aquelas palavras ele pareceu tão cheio de rancor que começou a birrar como uma criançinha de sete anos:

- OLHA, EU NÃO SEI TÁ? AGORA SERÁ QUE VOCÊ PODE DIZER QUE EU NÃO SOU O CULPADO SÓ UMA VEZ?

E birrou mais um monte de coisas e blá

Parecia nem notar que eu já estava atraindo a atenção do outro alado noob

Que tomou o maior sustão, erguendo suas sobrancelhas lá no alto da testa.

Assim exclamou:

-PARA!

- Não vou parar coisa nenhuma! – birrou o n° dois – não serei o culpado dessa vez!

- Eu não to falando com você ô idiota! – o n° 1 apontou o indicador para mim

Nisso, o segundo xingou alguma coisa que ainda bem que eu não entendi

Dei meu maior sorriso disponível do dia e ironicamente falei:

-Procurando alguma coisa rapazes? Em que posso ajudá-los?

Eles desceram de suas asas apressados. Contudo, suavemente.

Cada movimento deles parecia uma dança que fora treinada até a perfeição.

Tão suaves

Tão intensos

Que eu diversas vezes me perguntara se eles eram de outro mundo ou sei lá.

Eram diferentes dos alados que se costumava ver por aí

Os alados são sim lindos - esses eram inumanamente lindos – mais do que qualquer outro.

Fiquei olhando seus rostos, tão esculturais em perfeição.

Era como se eles estivessem saído de dentro de uma obra de arte de um grande pintor.

Tinham a face delicada de anjos. Difícil escolher o mais bonito.

Albos, muito, muito brancos, transparentes quase.

Até mais brancos azedos que eu.

Tinham olhos profundos que encantavam de certeza a qualquer um, porém, com olheiras - roxas, fundas - como se eles não dormissem faz um ano.

O primeiro alado era alto, vestia setim branco, mas, nem por isso, parecia bonzinho.

Musculoso, cabelos castanho-escuros arrepiados, olhos quase transparentes –brancos acinzentados – com uma barbicha castanha em contraste com o clássico cabelo branco e claro de um alado.

Parecia o mais sério

O mandão - o líder

Já o segundo era só um pouco mais baixo, nem por isso deixava de ter músculos e tinha uma roupa parecida com a do primeiro – seus cabelos espetados bem branquinhos, ainda mais brancos que sua pele de neve tinham mechas laranjas, o que o deixava com um ar mais de menino, também tinha olhos quase transparentes.

Esse sim era o bagunceiro da dupla

O desengonçado – o engraçadinho.

Nem notei que eu passara segundos demais os admirando

-Oi?- o primeiro estalou os dedos para mim

O segundo revirou os olhos

- Deixa ela... Só está tentando descobrir quem somos

Eu pisquei meio desatenta: - O que?

Eles sorriram

E quando sorriram eu pude ver o brilho dos dentes brancos, retos, perfeitos que eles tinham.

Qualquer cara que tivesse um corpo desses alados estava feito na vida de certeza.

Agora está na hora da bateria de testes.

- Não posso deixar de saber quem vocês são. Quem vocês são? Por que estão aqui? E por que não posso segurar essa coisa vermelha?

Os sorrisos brancos desapareceram e eu me senti uma idiota por ter feito aquelas perguntas.

Eles se entreolharam com uma expressão meio indecisa

O primeiro veio á frente: - Somos os enviados por deus...

- EI! – exclamou o segundo – Por que eu não posso dizer quem somos?

- Simples: eu sou o líder – debochou secamente o tal de líder – Eu falo.

- Não se eu falar primeiro RÁ RÁ ! – e quase atropelou as palavras na esperança de que o tal líder não o interrompesse: – Somos os enviados dos deuses para cum...

O primeiro tinha tapado a boca do segundo com uma das mãos e tentou continuar, na esperança de que ele anunciasse tudo: - Cumprir com a nossa mais importante missão de proteger vo... AI CARAI! – o segundo tinha dado um pisão no pé do primeiro e finalmente terminou: cê!

Meu cérebro demorou a processar as informações confusas, mas eu havia entendido.

Mesmo a apresentação deles sendo a coisa mais absurda do mundo eu havia entendido.

- Não vamos decepcioná-la alteza – prometeu o primeiro alado

- Sempre estivemos com você – confirmou o segundo

Como assim? Eu tinha acabado de conhecer as beldades!

Tive que perguntar: - Todo o tempo?Não acabamos de nos conhecer agorinha?

Eles sorriram

E eu fiquei feliz dessa vez por perguntar

Acho que fiz a pergunta certa agora.

- Na verdade – O líder sorriu mais – Estivemos com você o tempo todo, você jamais percebera – até agora pelo menos – mas não era para notar.Desde o primeiro dia da sua vida,fomos enviados á você para lhe guardar e proteger de más influencias,pois, você é filha de Lyon, mesmo o povo não aceitando. Você merece respeito.

- Sabíamos que você mais cedo ou mais tarde iria nos descobrir, sempre zelamos por você.. Porque você acha que você não morreu quando foi salvar a filha do tele transportador? A resposta esta em suas mãos – completou o segundo

Olhei para minhas mãos

Observando atentamente o amuleto

Não tinha percebido o emprego da formosura ali.

As palavras tinham letras fortes e largas, um ar antigo, letras que mais pareciam desenhadas do que escritas.

Páginas enfeitadas, iluminadas com dizeres gregos que eu não sabia o que significava, mas sabia que era bonito.

O que era bonito era bom

Ou não?

Eu estava de boca aberta

Dois guardiões de olhos reluzentes só pra mim?

Tudo o que consegui fazer foi sorrir

- Eu e Vinicius estamos dispostos á você alteza – com prazer o primeiro disse

O segundo – que por tudo indicava ser Vinícius – terminou: - E te faremos a melhor feiticeira de todas as melhores feiticeiras. - deu uma pausa - olhou pro céu e disse: - Já está ficando tarde Thiago.

Vinicius deitou-se em baixo da árvore, Thiago fez o mesmo e me chamou a repousar depois de um longo dia.

Fechei os olhos e logo dormi.

Deve ter sido o Vinicius e seus poderes de calmantes argh.       

Sacerdote é tenso.