Santos e Pecadores escrita por LadySpohr


Capítulo 2
INGLATERRA - SÉCULO XII


Notas iniciais do capítulo

E chegou a Idade Média



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  • Madame, tem uma carta – a jovem que fez o anúncio era sua afetuosa e obediente serva, Anabelle, filha da sua falecida amiga Michelle. Era um desperdício, ao ver de Elenor que ela perdesse sua juventude trancada com ela em um convento, mas a menina se recusara ao casamento, alegando que estava mais feliz ajudando-lhe.

Estendeu a mão para receber a carta.

  • Como está o dia, Anabelle? - questionou, sorrindo para a garota – Bom para suas caminhadas?

  • Lady Elenor não deu uma olhada lá fora? - Anabelle espantou-se, ao ver que as cortinas estavam cerradas. O quarto era apenas iluminado pela luz das velas.

  • Ah, não, minha querida, não estou com disposição para nada nesses últimos dias.

  • Está se sentindo bem? - os olhos verdes de sua criada alargaram-se de medo imediatamente. Anabelle pensou que não poderia viver sem a companhia de Lady Elenor, era como uma mãe pra ela, sempre cuidando dela e a ensinando coisas novas. Fora graças à ela que Anabelle aprendera a ler e escrever.

  • Ora, meu bem, ainda durarei muito, não se preocupe – abriu a carta sem pressa – Então, não disseste como o dia vai indo.

- Ah, desculpe-me – ela levou uma das mãos ao peito, um gesto delicado de sua personalidade – Está chovendo, portanto, não haverá caminhadas para mim hoje. Espero que haja sol amanhã, não gosto de tempo úmido, me deixa triste.

Eleanor riu. Michelle detestava chuva.

  • Tenho certeza de que o tempo firmará minha jovem, só tenha paciência – ela voltou atenção ao papel pesado em sua mesinha de madeira – De onde veio esse correio?

  • Atravessou o Canal da Mancha, madame, é de sua filha mais velha, Maria.

Uma corrente de nostalgia percorreu o coração de Elenor. Há tanto tempo que não via suas filhas... um suspiro pesaroso lhe escapou dos lábios.

  • Pode ir, Anabelle, obrigada.

Anabelle se retirou fazendo uma mesura elegante.

Elenor apenas fitou o único papel, na letra bonita e formal de sua filha.

O que será que teria acontecido se tivesse ficado na França, ao lado dela e Alice, sua filha mais nova? Ao lado de Louis?

A resposta estava pronta antes mesmo de invocá-la.

Eu teria sido mais feliz, ainda com muitos conflitos e problemas, mas teria sido mais feliz”.

Era o arrependimento de sua vida. Deixar o que seu pai tinha planejado com tanto cuidado para sua vida: um marido inteligente e visionário, justo, e adorável, como o símbolo do reino que governava, a França. E mais isso, seu pai lhe dera um rei, a fizera rainha de um lugar encantador, onde poderia usar tudo que aprendera para o melhor de seus súditos. Assim como ele mesmo o fizera pela sua amada Aquitânia.

Mas descartara tudo, por egoísmo e arrogância. Se importara somente consigo mesma, sem pensar nos sentimentos de mais ninguém. E quando pensou que tudo seria a sua maneira, se viu em uma vida que não desejaria nem para um fora-da-lei. O que salvara de seu segundo casamento real, fora apenas seus filhos, especialmente Richard, tão parecido com ela, implacável em campo de batalha, amado pelos ingleses, sedento de liberdade. Mas ele já não estava entre os vivos a muito tempo. O que restava de sua linhagem na Inglaterra não era digno, não tinha nobreza inata, que vem de dentro, apenas uma casca quebradiça e oca. O de melhor fora levado cedo, suas filhas, seus filhos, e seu Richard, Coração de Leão. Gostava de pensar que seu sangue não corria nos descendentes de Jonh, o filho caçula e impertinente.

Pelo menos restavam Maria e Alice, cultas, educadas, bonitas, e casadas com homens dignos de tê-las.

Tomou a carta nas mãos e começou a lê-la.

Querida, mãe

Infelizmente essa carta não contém as habituais notícias sobre seus netos, ou de como anda minha saúde e a de meu marido. Escrevo-lhe com lágrimas no rosto e coração pesado de sofrimento. Como imagino, essa carta não será entregue no dia do envio, então não vou fazer mais delongas. Ontem, ao cair da noite, meu pai, já doente, como lhe disse nas cartas anteriores, não resistiu e nos deixou, às suas filhas, filhos, esposa e netos para sempre. O mais digno pai e rei da França está morto.

Eu espero que a dor que essas palavras lhe causam sejam abrandadas pelo imenso amor que eu e Isabelle temos por você. Estamos unidas no pesar, e seremos fortes, porque a mesma fibra que há em você nossa, é a nossa por sangue.

De resto, há apenas uma confissão a ser feita, minha mãe. Lhe envio as últimas palavras de meu pai, ditas em particular, somente à mim, sua filha mais velha, algumas horas antes de sua morte “Se econtrar sua mãe, diga-lhe que sempre a amei, e que morrerei a amando, nunca houve mais ninguém”.

Mãe, eu sei que suas palvras seriam as mesmas.

Com todo o amor de meu coração,

Maria

Elenor não viu a carta escorregar e cair sobre seus pés.

Só podia pensar no que deveria ter sido. E não foi.


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Notas finais do capítulo

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