Pluma de Travesseiro escrita por LadySpohr


Capítulo 5
Sem Demora


Notas iniciais do capítulo

Final!



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Então ali estava eu, domingo, com a cara enfiada na cama e ainda com a roupa de festa, morrendo de raiva agora. Quem ele pensava que era? Zeus? Apolo? DEUS? Ele não era ninguém pra me rejeitar, ele não era NADA!

Ah, tá. Ele era sim, ele era o Bruno, podia mandar quem quisesse pastar.

Só que não devia ter sido eu!Esse filho da puta!

Mordi a ponta do meu travesseiro e puxei, vendo que minhas mãos tremiam de ódio.

Foi pluma pra tudo que é lado, e minha fúria junto com elas, por toda a cama e chão,e na minha boca e cabelo.

Não ia adiantar nada sentir ódio dele, não faria com que ele me amasse.

Meu lábio inferior começou a tremer de volta, prestes a desencadear mais uma longa sessão de água salgada dos meus olhos.

O telefone tocou na sala, me dando um susto. Nem sabia que horas eram, só sabia que estava claro lá fora, dava pra perceber pela luminosidade dentro do quarto.

Minha mãe bateu na porta.

  • Filha, é Vanessa na linha.

  • Obrigada mãe, eu atendo aqui.

  • Você está melhor? - a voz dela era preocupada.

  • Vou ficar melhor se você fizer aqueles sanduíches com atum que só você sabe fazer mamita – respondi, dando um sorriso lacrimoso pro travesseiro.

  • É claro, tudo pra te ver sorrindo. Eu te amo, bebe, te chamo quando o café estiver pronto.

  • Obrigada mãe, você é a melhor, te amo.

Ela era mesmo a melhor. Não era aquelas corujas em excesso, me conhecia muito bem pra saber que eu preferia sofrer sozinha, com o som no último volume (mesmo que a incomodasse). Ela me dava espaço, e ficava ali por perto, se eu quisesse falar com ela.

Apertei o botão verde no meu telefone ao lado da cabeceira, perto do som, que abaixei.

  • Oi.

  • Você está bem? Não, não responda essa pergunta bizonha, é óbvio que não está bem.

  • Não, não estou – murmurei, puxando as plumas que sobraram pelo furo que tinha feito com os dentes – Mas você pode melhorar pra mim.

  • Manda, faço qualquer coisa! Topo qualquer negócio, menos comer olho de cabra, por favor!

Ri e chorei ao mesmo tempo, sem poder me conter. Ela era a melhor amiga de todo o universo.

  • Ai, por Dimmi Choo! - ela exclamou – Foi mesmo da pesada, não foi? Adriane me ligou super chateada!Fala, limpe essa alma de toda a sujeira!

Soluçando contei tudo pra ela. TUDO.

  • Mas que jamanta esse Bruno! Posso meter a porrada nele? Por favor, deixa eu quebrar o nariz desse infeliz!? Se lembra que eu quase fiz isso quando aqueles garotos do pré ficavam puxando seu cabelo? E olha que eu nem tinha tido aula de defesa pessoal aos seis anos de idade! Deixa, por favor, deixa, deixa, deixa!

Eu ri de novo, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

  • Bater nele não vai me tirar essa dor, Vane. Mas você pode melhorar pra mim, já disse.

  • Fala, eu faço. Só o olho de cabra, não, apenas não.

  • Me conte como foi a sua noite ontem, eu preciso ouvir que ela foi incrível- eu comecei a soluçar, descontrolada – Me diga que você e Joaquim dançaram bastante, riram um com o outro, comeram bastante, passearam na rua de mãos dadas, e que ele disse que você é linda e inteligente, citou Vinícius de Morais, te beijou, e ainda abriu a porta do carro pra você descer quando te levou pra casa!Diga que isso aconteceu, diga!

  • Na verdade, acho que você ficou espionando a gente, porque tudo que você falou aconteceu! - ela soou espantada – Mas ainda posso acrescentar que meu pai estava esperando a gente na porta, e praticamente arrastou o Joaquim pra sala de estar, pra tomar vinho, só que ele declinou da oferta, afinal estava de carro e não queria morrer ou matar alguém por irresponsabilidade, mas aceitou as bombas de chocolate da minha mãe, com o maior prazer. Detalhe que isso aconteceu às três da matina. Hiper hilário!

Eu soluçava e sorria.

  • Graças a Deus, eu não iria suportar que você também tivesse uma noite ruim.

  • Deve ter sido como a formatura da Carrie, a Estranha, né? - Vane perguntou, a vozinha murcha.

  • Sim, exceto que ninguém morreu.

  • E não tinha nada levitando.

  • É.

  • Ou quando o Ed deu um pé na bunda da Bells em Lua Nova?

  • Por aí.

Tá vendo porque ela é a melhor amiga da face da terra? Ela me conhecia de trás pra frente.

  • Estou me sentindo culpada, eu devia estar lá com você!Você devia ter me ligado!

  • Nem se o Dan Radcliffe aparecesse no meu quarto! Se você não tivesse sua noite maravilhosa, como você poderia me consolar com boas lembranças? Pode parar, por favor, apenas, por favor.

  • Quer que eu vá aí? - ela perguntou de supetão – Levo meus dvd's do Senhor dos Anéis, sei que o Frodo e o Légolas vão fazer um servição por você! E ainda posso abusar dos sanduíches de atum que só sua mãe sabe fazer. Sério, nem a minha consegue copiar!

As lágrimas tinham secado e os soluços também. A dor no peito continuava, mas só havia uma coisa possível de fazer: tentar ignorá-la. Na esperança de que quando eu consultasse meu coração de novo, ele estivesse inteiro novamente.

- Você vai fazer algo com o Joaquim hoje?

  • Não, ele foi viajar com a turma, às seis da manhã – ela soltou uma gargalhada – Deve estar um bagaço! Mesmo assim me ligou pra desejar bom dia!

  • Que horas são agora?

  • Oito.

  • Eu vou na sua casa e levo sanduíches de atum. Prepare o Frodo, e depois seus cd's da Madonna e da Rihanna.

  • Feito e feito! Vem logo!

  • Estou indo!

Desliguei o telefone. Olhei pra janela e minhas cortinas de musselina.

Eu não tinha o Bruno.

Mas eu tinha minha mãe. A Melhor.

Eu tinha Vanessa. A Melhor.

E eu iria passar por isso da melhor maneira possível.

E talvez, quando a dor uma hora fosse embora , eu também poderia me sentir, A Melhor.

Saí da cama, espanando as plumas. Se era pra começar o processo de cura, vamos começa já, e sem demora.


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