Saint Claus - Natal em Eólia escrita por Nisa de Touro


Capítulo 1
Capítulo único




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Pessoal, como prometido eis aqui o presente de Natal de vocês. Sei que ele devia ter sido postado ontem a noite, mas contratempos me impediram... depois eu conto tudo, agora vamos à fic! o/

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Cibele estava encantada com aquele inverno na ilha: Desde que viera viver ali, ela nunca tinha visto Eólia tão bonita. As montanhas estavam cobertas da mais branca neve, e um a brisa gelada soprava em seu rosto, a única parte descoberta no corpo da jovem de treze anos.

A canceriana adorava o Natal. Era uma data especial tanto para cristãos quanto para pagãos, e todos se uniam pra enfeitar o Santuário o melhor que podiam: Aurora pendurava as guirlandas que confeccionara com flores e ramos de azevinho, Helena e Siana cuidavam da iluminação, Nisa bordava a toalha da mesa de jantar e Lia polia com esmero os enfeites da árvore.

Os rapazes haviam ido até a parte mais alta da ilha e trouxeram o maior e mais belo pinheiro, que fora plantado no centro do pátio, imponente, de uma exuberância que saltava aos olhos. A Hierofante desceu a escadaria acompanhada por Alianna, a fim de supervisionar os preparativos para a festa de Natal. Anotando coisas numa prancheta, Selinsa gritou para que todos pudessem ouvi-la:

- Muito bom, pessoal! É bom ver que todos estão empenhados em terminar tudo a tempo, mas tenham calma: sejam criativos e alegres, e Saint Claus com certeza não se esquecerá de vocês. Até a noite, minhas crianças!

E quando as duas mulheres se afastaram, ninguém conseguiu mais segurar o riso.

- É sério que ela acha que a gente ainda acredita nessa bobagem de Saint Claus? – indagou Aurora, sarcástica – Qual é, cavaleiro da Arvore de Natal? Conta outra!

- Cavaleiro da Árvore de Natal? – Cibele parecia curiosa – nunca ouvi falar nele.

- Pois então, a história deste livro vai te interessar...

As garotas olharam todas na direção da qual veio a voz: Agnes, a guardiã do Templo Norte, vinha descendo as escadas do mesmo com um livro nas mãos. Com um sorriso gentil e a voz cálida, a jovem abriu o mesmo, mostrando uma antiga ilustração do lendário cavaleiro:

- Saint Claus nascera há mais de oitocentos anos, no dia 25 de dezembro. Era um cavaleiro forte e sábio, mas que viveu pouco: ele morreu de uma rara doença nos pulmões dos vinte anos, mas sempre foi lembrado por todos como um homem gentil e solidário, que sempre fora até as últimas consequências por aqueles que precisavam de ajuda.

De acordo com a lenda, uma vez a cada dez anos na noite de Natal, o seu espírito cruza os céus, na forma de uma estrela cadente, e realiza o mais secreto desejo escondido no coração daqueles que trazem a esperança dentro de si. E curiosamente, essa noite é a noite do passeio de Claus, quem sabe vocês não dão a sorte de vê-lo?

Todas se calaram, como que absorvendo cada palavra daquela tão antiga história. Algumas no seu íntimo ponderavam sobre a existência de Claus, e outras acharam a lenda deveras engraçada, mas o fato é que aquela narrativa tinha algo de muito misterioso.

O dia transcorreu sem maiores novidades, todos estavam muito atarefados. Quando o último prato de rabanada foi colocado na mesa da ceia, Siana desceu com o seu embrulho, correndo para colocá-lo aos pés da lareira. De tão estabanada que era, acabou por esbarrar num rapaz que passava, e ambos foram ao chão.

Levando as mãos á cabeça, a sagitariana abriu os olhos lentamente e percebeu corada quem havia derrubado: os cabelos negros e revoltos, os olhos escuros e enigmáticos, o sorriso gentil que tanto fazia o coração dela disparar. Sentia seu rosto quente, e começara a gaguejar:

- Ga... Gabriel? Meu Zeus, me desculpe! Que tonta que eu sou...

Ela saiu de cima dele, sentando-se, e ele sentou-se também, massageando a cabeça.

- Você se machucou? – ele perguntou, a voz carinhosa fazendo a jovem corar ainda mais.

- Hã... Não, não. Desculpe mais uma vez Gabriel, a gente se fala...

Ela procurava com o olhar o que deixara cair com a queda, e o rapaz lhe entregou o mesmo, limpando a neve do embrulho.

- Aqui... Acho que isso é seu.

As mãos dos dois se tocaram por alguns instantes, e um olhou nos olhos do outro. Siana queria que aquele momento durasse pra sempre. Foi quando Gabriel coçou a cabeça, levemente envergonhado, e perguntou:

- Hã... Siana, depois da troca de presentes você podia ir me encontrar no lago, a meia noite? Eu queria muito te dizer uma coisa...

O coração da sagitariana quase saíra pela boca, e ela de tão envergonhada apenas fez que sim com a cabeça, enquanto ele a ajudava a se erguer. Ele sorriu feliz, e tomou o seu caminho, acenando:

- Então, nos vemos mais tarde. Meia noite, não se esqueça... Estarei esperando.

Siana acenara de volta sorrindo, quando suas amigas chegaram, ainda a tempo de ver o garoto indo embora.

- Ora ora ora, parece que o mago está mexendo com a cabeça da nossa Siana, vejam só!

A ariana bagunçou os cabelos da amiga, que contrariada esbravejou:

- Helena... Pelo menos uma vez na vida você pode manter essa maldita boca fechada?

- Ora, mas qual o problema? Se não pra todo mundo, pelo menos pra mim não é nenhuma novidade que você arrasta um bonde pelo Gabe. E vocês formariam um casal tão fofo...

Siana não sabia onde enfiar a cara, Helena estava certa: desde a primeira vez que o viu, o coração dela batia descompassado pelo rapaz. Um jovem mago apenas um ano mais velho que ela, talentoso, brilhante e extremamente carismático. Não era a toa que ele tinha uma legião de admiradoras, igualmente apaixonadas. E agora, ele queria se encontrar com ela, a sós! Definitivamente, ela não estava preparada para aquilo...

Solícita, Nisa que até então apenas assistia, colocou um gorro vermelho na cabeça da morena, e tentou acalmá-la.

- Calma Siana, também não é o fim do mundo... Você só precisa se produzir, ser confiante e espontânea. E abrir o coração pra ele, de uma vez por todas, mulher! Você consegue atirar cinco flechas de uma só vez e não consegue expressar seus sentimentos?

- Pra você é fácil falar, todo mundo cai de amores por você... Eu não sei o que fazer, não sei onde estava com a cabeça quando aceitei o convite dele. Ai cupido, em que mão você me meteu...

Helena, que era a mais velha das três, tomou as garotas pelo braço e sorriu de forma travessa:

- Então, nós duas vamos te ajudar! Eu te ajudo a escolher uma roupa bem bonita e a chifruda aqui cuida da sua produção. Venham, não temos muito tempo: daqui a pouco vai anoitecer!

E assim, as três correram para o quarto da sagitariana, rindo e deixando para trás uma profusão de cristais de gelo.

Mais tarde naquela noite, todos confraternizavam entre si, comiam, bebiam e trocavam presentes. Gabriel procurava com o olhar, mas nem sinal de Siana, ela não estava em lugar nenhum na festa. Será que ela tinha se esquecido, ou pior, desistido do convite dele?

O rapaz avistando Helena, que comia algumas uvas, a segurou pelo braço e chamou em particular, disfarçando o melhor que podia.

- Lena, você viu a Siana por aí? Um amigo perguntou por ela, mas eu não a encontro em lugar nenhum...

Engolindo, a amazona respondeu, num tom divertido:

 - Calma, Romeu... Ela está um pouco atrasada, mas vai aparecer.

O mago corou violentamente, no que a ariana riu, oferecendo-lhe uma taça de vinho tinto.

- Relaxa Gabe, é Natal! Aqui, bebe um pouco... Mas não beba demais, hein...

Quando dava o primeiro gole na taça, eis que Siana vinha descendo as escadas, conversando animadamente com Nisa. O inglês engasgou na hora, tamanha surpresa: ela estava mais bela do que nunca.

A sagitariana vestia um vestido azul, que combinava com a cor dos seus olhos. Os longos cabelos negros, estavam presos ao estilo grego e um bracelete dourado lhe adornava o braço direito, envolto numa fina encharpe de seda transparente. Ela lhe olhou e sorriu, o que fez ele se antecipar e correr ate a escada, a fim de esperá-la.

Vista de cima, ela era tão bela que seria capaz de rivalizar com qualquer deusa do Olimpo. Ele se perdera no seu olhar, e ficara sem palavras, enquanto lhe tomava pela mão. Tudo à sua volta perdera a importância, só havia ela, ela e ela... Mas, antes que sequer pudesse dizer-lhe algo, a escorpiana apareceu e quebrou o encanto do momento:

- Oi gente, boa noite! Siana, eu posso tirar o Gabe pra dançar um minuto? É que ele tinha me prometido a primeira dança... Obrigada, feliz Yule!

E, sem que ela pudesse fazer nada, Aurora arrastara o rapaz pra longe dela, e os dois sumiram no meio da multidão. Num suspiro resignado, e coberto e ciúmes, Siana se juntou a uns amigos na festa e tentou se distrair, ainda que procurando com o olhar o casal que dançava.

Gabriel não conseguia se desvencilhar da ruiva, que dançava de forma sensual, provocando-o. Com o olhar, ele procurava por Siana, enquanto a acompanhava naquela dança. Foi quando ele avistou os olhos azuis da amazona e a música acabou, e ele seguiu na direção daqueles olhos, que lhe enfeitiçavam, lhe chamavam, deixando para trás uma estonteante e confusa ruiva.

Mas fora a vez de Siana ser arrebatada para uma dança: Eric, um francês narcisista e metido a besta que tinha uma queda pela amazona, chegara primeiro, e a levara para longe.

Durante a dança, Eric colara o corpo com o da jovem, que se sentia incomodada, mas não queria parecer grosseira lhe ignorando. Mas, a cada palavra dele, ela apenas respondia com um simples “ahã”, os olhos fixos em Gabriel. Foi quando Eric sorriu, satisfeito, e ela acordou de seus devaneios.

- Ótimo! Vamos até lá, então! – disse ele, dando-lhe o braço e a levando para fora do castelo. Alguma coisa no íntimo da Sagitariana lhe dizia que ela devia ter prestado atenção no que o francês dizia... E, no relógio, faltavam quinze minutos para a meia noite.

Ele a levou até as ruínas, que cobertas de neve eram extremamente românticas, mas o seu jeito apressado assustava Siana. Ao chegarem lá, o rapaz lhe acariciara os cabelos, deixando-a nervosa, e se inclinara para beijá-la, abraçando-a com firmeza. Ela o repelia com os braços, mas ele era extramente insistente:

- Vamos, cherrie, eu sei que você também quer...

- Não, me solta!

Foi quando ela lhe acertara uma joelhada na virilha, fazendo com que ele a soltasse, num urro de dor. Eric foi a chão, e ela correu o mais rápido que pôde, o vento desfazendo o seu penteado. Ela olhou no relógio: cinco pra meia noite. E o lago era muito, muito longe dali. Ela voltou à festa, na esperança de ainda encontrar Gabriel ali, mas Nisa lhe disse que ele já tinha saído, há cerca de meia hora com Aurora, quando viu a sagitariana sair da festa com Eric.

O coração de Siana apertara, e uma lágrima traiçoeira escorrera pelo seu rosto. Mas, antes que a taurina pudesse continuar, Siana deixou a festa, desolada.

Ela caminhou a esmo, a neve caía cobrindo tudo com o seu alvo e frio véu. Frio como o coração da amazona. Ela tivera a chance de se declarar, mas por um erro bobo estragara tudo. E agora tinha outra nos braços dele, compartilhando com ele a beleza daquele noite tão mágica. Mas para Siana, aquele Natal tinha um sabor extremamente amargo.

Quando seu por si, ela estava à beira do lago. Apesar do rigoroso inverno, o mesmo não congelara, e refletia com maestria a luz da lua cheia: passava da meia noite, e não tinha ninguém ali. Ela sentou-se no chão frio, e abraçou os joelhos, cabisbaixa, quando uma língua grande e acolhedora lhe lambera a mão. Ela acariciou a enorme cabeça do lobo negro, os olhos da fera brilhavam como nunca.

- Ah, Deimos... Só você mesmo pra me achar aqui. Estava preocupado comigo, garotão?

- Se estava... Ele é um bom lobo, te achou num piscar de olhos.

Siana olhou para trás, surpresa. Aquela voz, só podia ser de uma pessoa! Foi quando a enorme figura surgiu, de detrás da árvore.

- Gabriel! – ela levantou-se, tentando se ajeitar como podia: os cabelos estavam soltos, e o vestido ligeiramente amassado. Devia estar horrível... – eu pensei que você tivesse...

- ... Ido embora com a Aurora? – ele completou, afagando a cabeça do lobo e olhando nos olhos dela, a fazendo corar – Sim, mas foi só pra ajudá-la com uma guirlanda que tinha se desfeito. Você me deixou preocupado, mocinha... Onde esteve?

Siana teve um calafrio ao se lembrar do acontecido, e contou a ele.

- Aquele desgraçado! – o rapaz cerrou os punhos, furioso – quando eu puser as mãos nele, eu...

- Deixa. Eu estou bem, no fim das contas. – ela sorriu, fazendo o coração dele bater descompassado – obrigada por se preocupar...

Ele tomou as mãos dela, e beijou gentilmente, uma onda de calor percorreu o corpo da mulher. Tirando seu sobretudo e colocando sobre os ombros da jovem, ele a levou para um passeio de barco. A noite estava bastante agradável, e os dois conversaram como nunca antes tiveram a oportunidade. As estrelas pareciam brilhar ainda mais, como que abençoando o jovem casal.

Ao descerem do barco, Gabriel tirou do mesmo uma cesta que havia escondido nele mais cedo: nela, havia uma grossa toalha que ele estendeu no chão debaixo de uma árvore para que eles pudessem se sentar. Também trouxera na mesma cerejas, vinho e alguns sanduíches.

- Com fome? – ele lhe estendeu um sanduíche de manteiga de amendoim e geleia, que ela aceitou de bom grado: não havia comido nada na festa, e estava faminta.

Os dois comeram em silêncio, até que um pequeno ramo da árvore despencara aos pés dos dois, e a amazona percebeu: eles estavam debaixo de um pé de azevinho.

Siana corava violentamente, não conseguia encará-lo. Ele estava tão próximo, e ela não conseguia dizer nada. Precisava abrir o coração e dizer o que sentia por ele, talvez não tivesse outra oportunidade. Foi quando ele, apontando para o céu, disse:

- Olha, uma estrela cadente! Rápido, faz um pedido!

Siana levou a mão direita ao coração, fechando os olhos, sendo seguida pelo rapaz, e fez o seu pedido. Quando ela abriu os olhos, seu olhar se encontrou com o dele mais uma vez naquela noite. Enfeitiçado, ele perguntou, com a voz rouca:

- O que você pediu?

- Coragem

- Coragem pra quê? - ele arqueou a sobrancelha, curioso

- Pra fazer isso...

 E ela tocou-lhe a face, tomando os lábios dele gentilmente, num beijo apaixonado. E, para a sua surpresa, o beijo foi correspondido.

Os segundos escorreram, enquanto o beijo se prolongava, os corações de ambos batiam no mesmo ritmo, felizes. Quando seus lábios se afastaram, os dois ofegantes, o rapaz sorriu e acariciou o rosto da amazona.

- É, parece que os nossos desejos foram atendidos...

Sorrindo, uma radiante Siana se aninhou nos braços dele, quase o derrubando pela segunda vez naquele dia. Acariciando seus cabelos, eles se beijaram novamente. Naquela noite, debaixo do pé de azevinho, a mágica de Saint Claus uniu aqueles corações, para nunca mais separar.



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Notas finais do capítulo

Opa! Ai, os dois não formam um casal fofo? Taí pessoal, uma fic de Natal feita com muito esmero pra vocês. Mais uma vez desculpem pelo atraso... mas, tenho uma nova: teremos mais uma fic, dessa vez de Ano Novo! se essa foi romântica, ao outra então... Ui... XD

É isso aí pessoal, até a próxima! o/


Notas:

1: acharam estranho a Aurora ter dito "Feliz Yule"? É que a escorpiana é uma bruxa, e Yule é o Natal delas: é a festa do solstício de inverno, onde eles comemoram o nascimento do deus pagão. ^^

2: Siana ficou corada ao ver o ramo de azevinho por uma simples razão: segundo a tradição, quando um casal se encontra debaixo de um ramo de azevinho, eles têm que se beijar. Interessante, não?



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