Novamente ela estava lá...Mire Somnia.

Era um doce de menina!Encantava todos.

Era uma excelente aluna;com notas altas,comportamento exemplar,não dava um pio na sala durante todo o período escolar se não lhe pedissem para falar.

Não causava problemas aos pais,respeitava todos,comia direito e fazia tudo na hora certa.

Mas era muito desatenta;não que os outros achassem isso,eles nem a notavam!Mas ela era muito desatenta ao mundo.Estava sempre presa,mas ao mesmo tempo,viajando em devaneios.Vivendo em um mundo de fantasias e sonhos.

Um exemplo era o agora;a aula livre que todos adoravam.Os alunos e alunas estavam lá fora brincando e jogando bola...Mas Mire estava na sala,presa em seus devaneios,viajando pelos seus sonhos.

Depois de mais um dia de aula;a pequena volta pra casa ainda em poucos devaneios,prontos para escrever seus sonhos diários em seu amado e precioso caderno de sonhos.

Mas...Sua felicidade de poder pegar seu bem mais precioso para escrevê-lo,morre,ao ver o seu caderno aberto em cima da cama...

Ela entra em desespero e desce as escadas,indo em direção aos pais.Ela começa a falar alto e perguntar repetidas vezes:“QUEM...QUEM O LEU?!QUEM FOI?!?FORAM VOCÊS QUE EU SEI MUITO BEM!!!”

Ela começa a ficar neurótica...Os pais não sabiam do que ela falava,nem ao menos entravam em seu quarto.Mas com a preocupação que tinham com a filha,mesmo não convivendo muito com ela,eles decidem tomar uma atitude...Levá-la ao Psicólogo.

Não deu certo.A saída foi o Psiquiatra...

Alguns dias depois;por volta das 23:h,Sheyne,o filho de 16 anos do dono da papelaria(muito cobiçado pelas garotas da cidade),pensava em sua bonequinha quando fechava a papelaria para o pai...Sim,sua bonequinha.Sheyne,mesmo com uma diferença de três anos,tinha uma “queda” pela pessoa que todos na pequena cidade jamais suspeitariam...Mire.

Ele achava apequena de pele clara com a neve,olhos azuis como ametistas e cabelos negros como a noite,tão atraente e delicada quanto um valiosa boneca de porcelana;a mais cara do mundo,que nem mesmo o dinheiro compraria.

E ele sentia isto,com apenas a única vez em que se viram...

Ainda lembrava de como as pequeninas,delicadas e macias mão acariciaram seus cabelos loiros após colocar um curativo em seu rosto(resultado de uma de suas brigas constantes).

Depois de fechar a papelaria e conseguir fugir de algumas “fãs”,o loiro de olhos verdes encontra-se bem em frente a casa da sua bonequinha.Mesmo sabendo ser tarde,os pais dela geralmente iam pra reuniões e voltavam lá por volta das 02:h da matina,então resolveu falar com ela.

Foi até a porta e bateu na mesma,mas ao encostar nela,a porta se abre.

Estava escuro...Mas repentinamente,a fina garoa de antes transforma-se em uma tempestade com ventos...Logo,um raio cai e ilumina o local por um breve instante...Mas deu claramente para ver...

Uma pequena boneca de pele como a neve,olhos ametistas,cabelos logos e lisos como a noite,com uma camisola azul claro até os joelhos...Manchada de sangue,segurando uma peixeira...E olhando fixamente para o chão...Onde dois corpos adultos estavam com expressão de pânico,deitados em um leito escarlate.

Sem pensar muito,Sheyne foi até Mire e abraça-a.Tira a peixeira de sua mão e a joga no sofá,para logo depois pegar sua bonequinha no colo e correr com ela para fora da casa,só então notando o caderno com ela.

Ele chega em casa,leva-a para seu quarto,conta tudo ao pai e depois discute com ele por não querer deixar ela ali por um tempo.

Mas a discussão toma outros rumos.

Iludido,achando que o pai não mais acreditava em si,ele o empurra contra a parede;mas ao invés de acertar a parede,ele vai de encontro a um armário de vidro...Tendo a cabeça furada por um caco do mesmo...

Apavorado com o que fez,ele sobe e pega novamente Mire e corre para fora da casa.

Ele corre até um beco e encosta-se na parede e deixa-se deslizar para o chão,enquanto abraçava Mire e deixava a chuva banhá-lo.

-Doushite?

-Hn?

-Por que ajuda-me?Por que está tão apavorado?Doushite?

-Wakaranai...

Era estranha a troca de frases que tiveram.Talvez  eles se entendiam agora...Compartilharam da mesma dor.

...

O sol já nascia,trazendo consigo seus raios ofuscantes.E com o nascer do mesmo;um tumulto formava-se na pequena cidade.

A policia estava atrás de Sheyne e Mire,que ainda estavam no beco.

Mas logo os acham...

Na delegacia eles foram maltratados e surrados...Mire quase foi abusada por um policial;mas por sorte Sheyne conseguiu afastá-lo...O que custou um braço.

Tempos depois;eles tem seu julgamento e foram condenados culpados.Sheyne

ficaria no reformatório até completarem a maioridade e Mire no orfanato até os 15 para ir ao reformatório...Depois passariam para a cadeia...Sheyne ficaria 15 anos após o reformatório,pois havia cometido homicídio não-intencional,e Mire pegaria pena de 40 após a maioridade.20 anos para cada um dos pais...

Mas...Não se sabe como...Os dois morreram no primeiro dia em que ficaram no orfanato e reformatório.

Agora;quem ficar na delegacia das 23:h ás 01:h,vai ver e escutar Mire chorando pelos corredores com a roupa banhada de sangue e segurando seu caderno,enquanto se ouve os passos de Sheyne que corre pelo local a procura dela...Sem quase nunca encontrar...

Mas quando se encontram;Sheyne a abraça e eles somem.Mas suas vozes ecoam pelo local...Não exatamente as vozes...Mas sim o choro compartilhado.

Muitos policiais queriam que o delegado chamasse alguém para expulsá-los de lá.Mas o mesmo sempre se negava;dizendo que eles deveriam ficar mais um tempo juntos.

Com o tempo,todos se acostumaram com eles e passaram ou a ignorá-los ou fazer preces e oferendas para que se encontrem e possam compartilhar mais uma vez dela...

A Dor da Ilusão