Ghost escrita por bionicrevenge


Capítulo 6
Capítulo 5 – You never had a care


Notas iniciais do capítulo

Sentiram saudades? Desculpa pela demora, vocês não sabem como minha vida está um inferno de tanto fichamentos que tenho que fazer! Eu realmente preciso saber o que vocês estão achando da Ghost, uma crítica ruim ou boa, desde que me ajude (e vai! bastante mesmo!). E não tem jeito, é um capitulo grande ou nada!
Obrigada por lerem a Ghost, significa muito pra mim... mais do que vocês imaginam.
Se vocês notaram, é o Gerard de Danger Days e o Mikey de I Brought You My Bullets You Brought Me Your Love. De que jeito será o Frank e o Ray, agora? Vocês podem imaginar?
Em breve, uma grande surpresa pra vocês. Coloquem House Of Wolves para tocar.

Tradução do nome: E você nunca ligou



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/118821/chapter/6

Por que você está correndo?

Cedo ou tarde, você se cansará

E parará de correr.

Apoiei-me na arquibancada com a respiração acelerada, ao meu calculo já se foram 14 voltas. Parecia que meus pulmões sairiam pela minha boca cada vez que eu respirava. Deus, como eu odiava correr, andar ou fazer qualquer exercício físico. Minhas pernas já estavam doendo. Eu odiava essa angustia que correr trazia, você tentando puxar o ar mais e mais.

Às vezes me acho sortuda por não morrer afogada...

Fitava os outros alunos passando por mim.

Jamins Elton, espancada pelo namorado. John Collis, overdose de drogas. Charlotte McBeth, atropelada. Hans Hammet, ataque cardíaco. Alice Goldman, acidente de avião. Anna Fox, suicídio. Ben Fuller, incêndio. Esse, aquele, acidente, ataques, armas, suicido. Ficaria surpresa por quantas pessoas morrem em acidente de carro ou mortos em assaltos.

Mas algo puxou minha atenção surpreendentemente.

Gerard Way, câncer pulmonar.

Apoiado na trave do gol, a cabeça baixa com os fios vermelhos cobrindo o rosto, cercado pelos amigos. Algo estava errado com ele. Parecia fraco, sua pele tão branca aparentava ainda mais cansaço.

Ouvi o apito soar, rapidamente o professor de Educação Física, sr. Cord, estava entrando na cena com Gerard. Então, eu finalmente ouvi as tosses, sofridas e aterrorizantes. Não sei com que força, mas eu corria o mais rápido possível até eles.

Gerard tossia compulsivamente, suas pernas tremiam e uma de suas mãos estava cobrindo a boca.

– Sr. Way? – sr. Cord perguntou como se perguntasse se estava tudo bem. Gerard tossiu mais alto ainda – Sr. Way, se estiver fingindo vai correr mais 10 voltas!

Quando cheguei, Gerard levantou os olhos como se soubesse que era eu quem corria, a boca entreaberta, a mão pairando no ar, os fios vermelhos atrapalhando levemente seus olhos. Ele pediu algo pra mim. Do jeito que só eu pudesse ler seus lábios.

Ar.

Ele caiu desmaiado.

Cai ajoelhada ao lado dele, meu corpo estava tremendo. Mesmo que eu soubesse que não era agora, eu tinha o certo medo dentro de mim. Peguei sua mão, gélida e macia. Eu quase não conseguia recuperar meu ar. A angustia de novo tomou conta de meu corpo, eu não sabia o que fazer. O que eu podia fazer? Eu sabia que não era a hora, mas eu estava desesperada.

– Gerard? Gerard! – chamava desesperada, com meus dedos cercando a mãos dele.

Eu sentia vários olhares sobre minhas costas. Vamos, Gerard, acorde!

Odiava aquele silêncio, era perturbador, só isso. Eu odiava a angustia de esperar. Eu odiava qualquer angustia. No fundo, eu só estava desesperada e não mostrava.

Olhei para Gerard mais uma vez, a boca coberta pela mascara que o fazia respirar, os olhos fechados levemente e os cabelos esparramados pelo travesseiro. Aquela cena me lembrava Ella, mas a de Ella era pior, não sabia que horas ou dia ela acordaria. Já a cena de Gerard, eu sabia que dali algum tempo ele abria os olhos e falaria alguma coisa estupidez.

Peguei a mão dele e levantei o olhar para a maquina respiratória.

Quanto tempo ele tem? Quanto tempo nos resta? Posso eu mudar alguma coisa? Não.

De repente um aperto veio na minha mão. Gerard a apertou. Voltei meu olhar pra ele e seus olhos fitavam-me entreabertos. Às vezes, ele parecia tão perto de mim, como se me entendesse, como se soubesse de toda a dor e depois, ele parecia tão longe, como se fosse apenas um estranho ao meu redor.

Eu gosto de ambos, o estranho não me pergunta nada e o conhecido me apóia.

Às vezes, eu não entendo como me sinto bem perto dele, apenas segura. Sem felicidade ou tristeza. Apenas bem.

Ficamos algum tempo em silêncio, apenas olhando um pro outro. Eu não odiava mais o silêncio, eu o amava, eu gostava dele... De ambos.

Gerard falou algo, porém saiu abafado pela mascara que conduzia o ar, ele lentamente arrastou a máscara até sua bochecha esquerda. Os lábios rosados quase secos e entreabertos. Bem sonolento.

– Por que você está aqui? – perguntou com a voz fraca e com a mão ainda na minha.

Porque eu fiquei preocupada.

– Porque o sr. Cord pediu – respondi olhando seus lábios.

– Por que você continua aqui?

– Porque você parece sozinho.

Gerard sorriu fracamente com a minha resposta fechando os olhos.

Foi naquele momento que notei o quanto ele era frio. Sua pele era tão fria, achava que podia ser algo que aconteceu com ele, o desmaio ou até o frio, mas sua pele era realmente fria e macia também do jeito que deveria ser. Devo confessar que às vezes, Gerard parecia meio feminino, o jeito que jogava seu cabelo vermelho, o jeito que “checava” sua aparência, porém suas mãos eram grandes, bem masculinas e as minhas tão pequenas perto das dele quase sumiam.

Eu estava começando a me acostumar com o seu toque.

Gerard abriu os olhos mirando o horizonte a fora da janela, ele estava distante.

– Quando você estava no hospital... quem você visitou? – sua voz era tão baixa, tão distante.

– Minha melhor amiga.

– O que ela faz naquela área do hospital? – voltou seu olhar pra mim e com a mão vaga ele colocou a máscara respiratória de volta na boca.

– Ela está em coma.

Gerard arregalou os olhos o máximo que pôde e apertou minha mão ainda mais forte. Eu consegui ler em seu rosto o quanto estava surpreso, mas eu não entendia o porquê de tanta surpresa. Com a mão vaga, coloquei minha grande franja atrás da orelha enquanto ele arrastava a mascara de novo para sua bochecha esquerda e voltava com sua expressão distinta.

– Como isso aconteceu? – perguntou com total inocência.

Respirei fundo e devagar, nunca havia contado a real situação para alguém, não menti, mas evitei mencionar o quando Ella estava fora de si quando o acidente aconteceu ou o quanto frustrada estava – e era.

Este era o conhecido, o que me apoiava, aquele quem eu confiava.

– Bem... Ela era um pouco difícil de conviver e com muitos problemas sobre si mesma. Então um dia, ela me ligou pedindo-me para ir até a casa dela, quando eu cheguei, ela já estava no chão... – parei um pouco, falava rapidamente... desesperadamente – Eu não sabia o que fazer, tinha muitas garrafas no chão e todas vazias. Ella não se mexia e... – voltei meu olhar pra os olhos dele – ela não acordou desde então.

Gerard franziu o cenho ainda com a expressão distinta.

– Você viu isso acontecendo com ela?

Essa pergunta me pegou de surpresa. Olhei para a parede e voltei para Gerard.

– Não – respondi –, mas vi outra coisa acontecer.

Ele soltou algo que julgo ser um sorriso.

O que vi acontecer com Ella é muito pior que coma, é muito pior que álcool. É frustração, é dor, é desespero... É a própria morte.

– Então ela vai acordar... – falou devagar, com os olhos piscando lentamente, sem afirmação ou negação, como se falasse pra si mesmo.

Virou- a cabeça para o outro lado e fechou os olhos definitivamente, um momento de silêncio se fez.

– Lilith? – chamou-me.

– Sim?

– Você é tão esquisita – soltou uma risadinha sem força e nasal.

Gerard era tão imprevisível, eu nunca achei que sequer ele me notaria entre as inúmeras pessoas nos corredores, nunca achei que realmente fosse falar comigo ou que me abraçaria, nunca achei que ele fosse deixar sua mão junto a minha por tanto tempo. Mas eu sabia desde o inicio que ele tinha a história diferente, ele me olhou na visão, ele me viu, ele me conhecia, ele sorriu...

Acho que é desse jeito que as coisas se resolvem no final, o óbvio sempre é muito ignorante para se tornar verdade. A história – pode ser boa ou ruim, mas não fará sentido vivê-la, já sabendo o que acontecerá, talvez possamos até acertar o final, entretanto o esforço que é feito para mantê-lo uma surpresa, isso sim nos faz forte.

Eu sei o final, isso me faz fraca? Procuro pensar que, sim, esta é a minha fraqueza, mas o meu caminho para o meu final será prazeroso e confiante, isso me faz forte. Saber minha fraqueza, minha falta de esperança, me faz forte, sei que devo vencer isso. 

O tempo que Gerard ainda tem é um enigma, é imprevisível acertar o que pode ou não acontecer ao decorrer dos tempos. 1 mês? 1 ano? 3 anos? 5 anos? Eu não sei, a trilha para o ponto final será uma escolha dele, boa ou não, ele ainda está vivo.

Ainda está aqui, ao meu lado.

– Por que você começou a fumar, Gerard? – perguntei, confesso que devia ser um motivo pessoal, mas parte de mim queria saber o porquê Gerard começou com tal vício.

Bem, ele deixou o ar sonolento de lado, sua expressão mudou completamente. Sério, rígido. Macabro. Seus olhos torturantes fizeram algo dentro de mim se sentir culpado, mas não transpareci. Seus lábios se espremeram um no outro, e seu maxilar foi endurecido. A luz do quarto da enfermaria só fez Gerard parecer ainda mais pálido... Isso me assusta.

Aqueles sussurros nos meus ouvidos quando eu ficava com Gerard. Você está mentindo, você sabe como pode fazer isso parar, por que você não faz nada? Você não pode salvá-lo. Inútil... Assassina... Inútil... Assassina...

Pisquei os olhos tentando mudar meus pensamentos, não dar ouvido aos sussurros. Aos meus fantasmas.

– Pela sensação – ele desfiou os olhos com a voz amargurada –, pelo alivio.

Eu me vi naquela cena, deitada na cama de hospital, clamando por ajuda. Condenada por um vício que me faz mal, mas me traz alivio. Rodeada de sangue, sangue meu, sangue deles. O alivio vai me matar.

– Eu não fui uma criança muito feliz e o único amigo que eu tinha, me mostrou os dois piores monstros do mundo – ele continuou, mas agora os olhos eram nos meus – Como eu disse antes... ficar sozinho traz monstros para a nossa vida.

Não, eu não posso. Eu não posso abraçá-lo, eu não posso falar que estou aqui do lado dele. Eu não posso chorar. Eu só posso amá-lo em silêncio. Eu só posso tentar.

– E-eu... – comecei a gaguejar, respirei fundo e continuei – eu estou... aqui... por você.

A reação dele, o que tinha em seus olhos até hoje não consigo descobrir. Gerard sorriu sem mostrar os dentes, apertou minha mão, os olhos ainda macabros, o ar sombrio.

– Então eu acho que você não está mais sozinha – Gerard piscou lentamente.

Eu sorri.

Estava prestes a dizer alguma coisa quando a coordenadora entrou na enfermaria. Antes, estávamos só nós dois.

– Srtª. Whintre você pode ir para casa agora que o Sr. Way já acordou.

Srª. Reews não pediu ou sugeriu, ela mandou com o leve tom de suspeita. Gerard se despediu com um sorriso, me levantei e fitei srª. Reews. Os cabelos ondulados perfeitamente caídos sobre os ombros, os olhos castanhos escondidos pela lente dos óculos de grau que usava, a pose de mulher sobre os saltos altos.

Eu imagino como mulheres iguais a mamãe e srª. Reews são tão adultas, como tem aquele ar de mulher, de madura, de independente. Elas são mulheres.

Deixei a enfermaria e fui direito pra casa. Eu fiquei algumas horas com Gerard, na verdade, 5 horas esperando ele acordar. Eu esperaria 72 horas para vê-lo acordar se precisasse. Esperaria 720 horas se precisasse e continuaria esperando e esperando. Só pra vê-lo abrir os olhos.

Só para ver aqueles olhos.

Respirei aliviada quando cheguei em casa e já vi meus pais na cozinha. Mamãe sempre me ensinou que quando casar, não importa quanto dinheiro eu tenha, mulher de verdade é aquela que cozinha para o marido quando ele chega do trabalho. Mulher de verdade é aquela que sabe cuidar de uma casa.

Adentrei mais na cozinha, perto do balcão para ver o que mamãe cozinhava enquanto papai só a observava encostado na pia. Ainda estavam com as roupas sociais do trabalho e com uma taça de vinho na mão direita – o par perfeito. Papai é dono de um escritório de advocacia e mamãe o ajuda a administrar. 

Meu pai olhou pra mim parada na porta da cozinha com o uniforme da Educação Física e as chaves em mãos. Papai também era bem bonito, os cabelos castanhos penteados para trás, os olhos azuis como o de mamãe, porém mais brincalhões, a roupa social mostrava seus ombros largos, papai tinha os lábios finos contornando seu sorriso com os dentes perfeitamente alinhados. Algo em papai transmitia empatia, transmitia conforto, como se mesmo passando dos cinco anos, eu poderia correr para seus braços e ele me seguraria com todo o amor fraternal que posso receber.

– Achei que nunca chegaria, Lility – papai sorriu pra mim.

– Lilith? – minha mãe virou o rosto para me olhar, o ângulo perfeito para seus lábios cobertos de batom vermelhos aparecer – O que você ficou fazendo na escola até tarde?

Apertei a chave do carro nervosa, devia ter subido para o meu quarto de uma vez. Olhei para papai e ele apenas bebeu mais um gole do vinho que havia na taça mostrando o anel dourado de casamento. Eu ainda estava com o anel de casamento deles no meu dedo, havia esquecido de tirar, talvez não fosse a pele de Gerard que era totalmente fria.

– Eu fiquei ajudando um menino doente – disse sem enrolar.

– Um menino? Que menino? Como assim um “menino”? Você só tem 17 anos! Não precisa de menino nenhum! – meu pai falava sem parar, cada vez mais citava a palavra menino. Ele falava cada vez mais, chegava a doer meus ouvidos de tanta palavra embolada que ele soltava.

Mamãe sorriu carinhosa, deixou a taça que tinha em mãos na pia e veio até mim.

– Tenho algo para você, estranha.

Ela pegou minha mão, conduziu me até seu quarto deixando meu pai embolado com a palavra “menino” , começou a mexer na sua bolsa. Fiquei só sentada na cama a observando.

– Lilith, acho que tenho que te ensinar uma coisa.

Mamãe me convidou a sentar ao seu lado na sua penteadeira, sentei-me e logo a vi tirando o pedaço de ouro que era sua marca da bolsa. Algo que fazia a mágica começar, algo que me fascinava na beleza de mamãe. Seu batom vermelho.

Deu-me ele e pegou outro.

– O segredo é passar direto no contorno dos lábios.

Primeiro a vi passar nos seus lábios perfeitamente, depois era minha vez. Passei o batom vermelho sobre os meus lábios com os olhos fitos no meu reflexo do espelho. Abaixei o batom vermelho e entreabri os lábios. Eu parecia tanto com a minha mãe e aquele batom vermelho. Nós duas éramos iguais, quase gêmeas. Ela apenas parecia mais madura. Os lábios cobertos da expressa camada de vermelho nos fez mãe e filha mais que nunca.

Eu sorri e logo depois ela sorriu.

– Então eu acho que você não está mais sozinha – Gerard piscou lentamente.

Peguei a mão da minha mãe, a olhei pelo espelho e logo desviei o olhar para a parede do quarto voltando a ficar séria.

– Mãe... eu... te amo – disse baixinho.

– Eu também te amo, Lilith – ela disse me olhando pelo reflexo do espelho.

Amor é a carência, é notar algo em outra pessoa que você não tem, amor é perceber que alguém tem algo que possa te completar. Amor é poder completar alguém que se sente vazio. Eu amo.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim, o cap.6 já está sendo escrito. Beijos, amores ♥
Não estão sentindo falta de alguma coisa na fic...? Nada mesmo?