Ghost escrita por bionicrevenge


Capítulo 2
Capítulo 1 – Mama, we’re all gonna die


Notas iniciais do capítulo

Coloque "Mama" para tocar, ficará mais legal ao ler o capítulo.

Tradução do nome: "Mama, todos nós vamos morrer"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/118821/chapter/2

Um dia, viver na miséria

Será tudo o que eu desejei

Porém, se você estiver junto.

– Meu nome é Lilith Whintre... – disse cruzando os braços, mas que merda eu preciso me apresentar pra todo mundo? Todo mundo já sabe quem eu sou, estudo nessa merda de colégio desde a segunda série, por favor, dá um tempo.

– Continue, srt. Whintre – o sr. Matthews disse, meu professor de ciências.

Eu gostava do sr. Matthews, ele ensinava ciências de um outro ângulo, de um jeito mais legal e era muito bonito, tinha os cabelos loiros e os olhos verdes, além de cheirar à flores, claro. Queria contá-lo sobre a minha visão de sua morte, falar pra ele sobre o acidente de carro o qual vai sofrer, porém sr. Matthews não acreditaria em mim, não o julgo, também não acreditaria.

Virei pra classe, todo mundo estava me olhando, inclusive Gerard, o que será que ele estava pensando?

– Tenho 17 anos, minha cor favorita é preta e... – eu já vi quase todos vocês morrerem. – eu gosto de cupcakes.

Sorri tão falsamente quando os peitos de Jamins Elton.

– Hey, Lilith por que você é muito chata ou por que é um demônio na cama? – John, o palhaço da turma que morre de overdose de drogas disse. Vi a morte dele durante um sonho. Acordei sorrindo depois.

A classe riu baixinho com a piadinha, inclusive Gerard, agora ele deve estar pensando: “essa idiota ainda é virgem”.

– Não sei, John, por que não pergunta ao seu pai?

– Ai, essa doeu – Gerard disse, a voz dele era como a voz de uma criança, estranha, rouca e nasal... Excitante...

Todos brincaram com John depois, e eu só sentei no meu lugar olhando Gerard por trás.

Ele era o cara que nenhuma garota queria se apaixonar, era diferente dos outros. Uma ficha na policia por soltar bombas na escola, fala muito palavrão, comia a unha e um inquestionável humor negro. Ele é imprevisível, nunca fala algo que esperamos, às vezes é infantil no bom sentido – o bom sentindo significa quando ele quer. O sorriso dele é pequeno, seus dentes são pequenos e os lábios vermelhos e finos, parecia uma criança quando sorria, seu sorriso é fofo. Sua pele é branca, tão branca quanto parece, possui olheiras pequenas; aah, seus olhos... Castanho-esverdeados... Gerard não tinha os melhores olhos do mundo, só tinha os olhos castanho-esverdeados mais fascinantes que qualquer um, eles faiscavam quando Gerard fazia alguma travessura, seus olhos eram como esperamos que sejam quando casarmos com alguém... Penetrantes e implacáveis.

O que eu mais gosto em Gerard é seu cabelo negro que já foi vermelho escuro, loiro, branco, curto, longo, topete bagunçado e com franja. Muda toda hora, eu gosto de todos os estilos, é incrível como o cabelo dele cresce rápido e já foi tanta coisa! O meu preferido é o vermelho escuro como sangue, longo até o pescoço e bagunçado para trás. Claro que o branco ficou tão excitante quanto o negro longo com topete bagunçado. Não importa como o cabelo dele esteja, Gerard sabe arrumá-lo para ficar sexy, dá vontade de puxá-lo pelos cabelos e beijá-lo.

Sua voz era 25% do seu charme, o cabelo era 35%, os olhos 10% e os 30% restantes, era o jeito como ele vestia o uniforme da escola, Sean pichava algumas coisas e gostava de colocar couro em algumas partes do terno. Fazia caras e bocas, não parecia que era forçado, mas era engraçado ver Gerard Way com cabelo preto, topete e wayfarer preto fazendo biquinho numa foto, e em outra com cara de doente com o cabelo preto todo na cara sorrindo. Gerard ama café, sempre que chegava à escola com um maldito starbucks na mão, ele também ama sexo... É, ele ama sexo; digo, ele realmente ama sexo, Gerard já disse isso, todos os anos anteriores que nós tivemos que nos apresentar para classe, ele fala “eu amo sexo” e eu gosto disso – sou virgem, mas o meu fogo por ele é imenso.

Gerard Way é o tipo de cara que minha mãe disse pra eu ficar longe, eu fico longe, tão longe que ele nem sabe que eu existo, eu não sei como ele conseguiria, até por que sou o estereotipo que ele não gosta. Gerard gosta de morenas, sou loira, ele gosta de meninas caladas, eu falo o que penso, ele gosta de meninas bem magrinhas, eu tenho o peito do tamanho da minha cabeça e ele gosta de sexo, eu ainda sou virgem.

Parei de pensar nele quando era a sua vez de se apresentar pra merda da classe.

– Meu nome é Gerard Way, tenho 17 anos como qualquer outro idiota desta sala, minha cor favorita é vermelho e... – eu já sabia o que ele iria soltar entre os lábios finos. “Eu gosto de sexo.” – eu gosto de sexo.

Como eu disse, Gerard gosta de sexo.

Fiquei pensando como ele devia ser no sexo, até que algo me ocorreu na mente, dor de cabeça, senti meus olhos revirarem, meu corpo se soltou pela cadeira sem forças, minha cabeça caiu pra trás. Eu estava tendo uma visão diferente de todas as outras, geralmente as via rapidamente durante um segundo e nunca me perdia no meio delas, mas esta visão, ela me embaraçou, tirou-me a energia e me fez desmaiar.

Eu estava num consultório médico, tudo completamente em silêncio e branco.

– Eu tenho câncer no pulmão? – era a voz de Gerard, a inconfundível voz de Gerard.

– Com apenas 17 anos, isso realmente é surpreendente – a voz de uma mulher com 40 e poucos anos.

Não conseguia vê-los, só ouvi-los. O consultório se transformou numa sala de hospital igualmente branca e vazia, cheia de sussurros que não podiam ser ouvidos, mas sabia que eles sussurravam “chegou a hora”, o silêncio foi quebrado pelo barulho do relógio, eram 16h43 e também pelo barulho da maquina que ajudava alguém a respirar. No meio do quarto tinha uma cama, alguém estava deitado lá, alguém que tinha dificuldade para respirar. A maquina contando os batimentos cardíacos fazia o barulho de que eles estavam parando aos poucos.

Aproximei-me da cama com os passos, cheguei até ela e tampei a boca, era Gerard... Gerard sem energias... Morrendo. Suas olheiras estavam ainda maiores e a pele pálida mais que o normal, os olhos castanho-esverdeados estavam sem o brilho. Ele não tinha mais nenhum cabelo, sem cílios negros, sem topete, sem sobrancelhas. Então, ele olhou pra mim – eu não participava das visões, só as assistia, mas de algum modo ele realmente olhou pra mim, piscou, sorriu por debaixo da máscara que lhe levava ar e pegou a minha mão. A pele tão gelada, os dedos finos.

O barulho parou, Gerard perdeu as forças, o barulho anunciou que às 16h44 Gerard Way estaria morto.

Acordei da visão na enfermaria do colégio, deitada numa daquelas camas, o silêncio do quarto da enfermaria me incomodava. Queria levantar, mas fui impedida.

– Srt. Whintre, você está bem? – foi o sr. Matthews quem perguntou.

Não respondi a ele, fiquei calada... Eu vi Gerard morrer, o vi morrer jovem, tão jovem quanto está agora. Cerrei os punhos, parecia que as paredes desmoronavam, todas elas, a minha parede de felicidade, a parede de esperança e depois a parede com o significado da minha vida. A parede de Gerard desmoronou. Uma solitária lagrima ameaçou sair, não! Respirei fundo fixando o olhar no nada, a engoli. Eu sou forte.

Sai da enfermaria deixando sr. Matthews gritando, corri por todos os corredores, não sei se eles estavam mesmo vazios ou se eu que me sentia sozinha. Tropecei em alguém, cai de cara no chão, levantei antes que tivesse deixado o sangue do meu nariz cair no chão. Merda. Limpei o sangue no meu nariz com a manga da blusa e olhei pra frente. Se eu fosse mais azarada, teria encontrado um fantasma, mas era Gerard com os cabelos pretos do jeito que eu gostava, os lábios finos contraídos segurando o cigarro, os olhos cobertos pelo seu wayfarer preto e o copo de café do starbucks.

– Gerard... – não sei se minha voz saiu boba ou preocupada, só sei que fiquei encarando o cigarro na boca dele.

Câncer pulmonar, algo tão ridículo como um simples cigarro iria matá-lo. Pisquei umas cinco vezes enquanto ele estava parado na minha frente tragando o cigarro e bebendo o café.

– Você é a menina que desmaiou depois que eu disse que gostava de sexo, né? – Gerard perguntou divertido.

– É, sou eu mesma.

Desviei o olhar do wayfarer para frente que dava no colo dele. Em questão de altura, eu batia em seu ombro, uma cabeça de diferença, meus 1.66m e ele com os 1.75m. Amaldiçoei-me em silencio. Gerard cheira a cigarro, rosas e café; não, o cheiro não vinha do café nem do cigarro, era o cheiro dele, do dia-a-dia, me incomodaria se fosse outra pessoa, mas o cheiro vinha de Gerard e combinava, de algum modo.

– Você devia parar de fumar, isso está te matando... – é, foi isso que saiu da minha boca, não tremi a voz, não falei insegura, saiu normal, como se eu tivesse falando “oi” – você tem câncer pulmonar de tanto fumar cigarros.

Gerard deu mais uma tragada, deixando a fumaça vir ao meu rosto e sorriu superior.

– Nós todos vamos morrer.

Assim como eu cai rápido no chão pela tropeçada, ele foi embora rápido depois daquelas palavras. Sozinha, finalmente me dei conta de algo: eu perderia alguém... de novo.

Lembro-me da sensação de ficar sozinha, da angustia e da dor. Ficar sozinha não é o problema, o problema é quem te deixou sozinha. Não tenho qualquer elo com Gerard, nenhum mesmo, não combinamos em nada, ele nem deve saber o meu nome, eu tão pouco me importo; eu gosto dele, muito mesmo, estou perdidamente apaixonada por ele e por seu sorriso, não tenho a mínima idéia de como cheguei nesse ponto de partida, mas cheguei e não tem como mudar.

Joguei meu corpo contra o armário mais perto e escorreguei até ficar sentada, lembrei dos olhos dele ficando sem vida, de algum jeito, ele olhou pra mim antes, isso nunca tinha acontecido. Em nenhuma visão, nenhuma.

Voltei pra casa depois do resto daquele dia, o caminho era rápido e perto, mas optava por um carro, odeio andar.

Meu pior defeito estava me ajudando a esquecer tudo, consigo me distrair fácil, fiquei pensando sobre os trabalhos que tinha que fazer que deixei pra ultima hora, lições, meus pensamentos circulavam enquanto a rádio tocava uma música qualquer.

Minha casa estava no completo silêncio; de tarde, sou apenas eu. Fui tomar um banho para aliviar minha tensão, era como se a água levasse todo o peso das minhas costas embora, mas alguma coisa ainda estava errada com o meu corpo, esfreguei a esponja com muita força nos braços procurando tirar todo o sangue que, teoricamente, havia caído sobre minhas costas e eu simplesmente ignorarei... todos os galões de sangue jogados pelas minhas costas. Sangue, sangue e dor. Ninguém entenderia que o eu tenho guardado dentro da minha mente. Ninguém... exceto Ella.

Tenho tantas saudades dela, digo, Ella está perto de mim, vou visitá-la toda quarta e sexta, conto tudo o que aconteceu nos meus dias, mas ela não fala mais. Fomos ligadas por uma linha vermelha, a linha de imaginação que não pode ser vista, porém a linha prende nossos dedos mindinhos e daqueles que estão destinados a se encontrar. Essa linha não quebra, nunca, assim como minha amizade com Ella.

Nada que interessasse aconteceu depois, meu pai chegou do trabalho junto com mamãe e eles me cumprimentaram com a mesma frase de sempre: “Olá, estranha.”. Estranha... algo que eles negam a dizer é que eu estou afastada deles, não sabem absolutamente nada da minha vida, apenas o necessário, minhas notas e minhas faltas na escola. Estou tentando deixá-los orgulhosos pelo tempo que ficarei com eles, não quero nenhum vinculo forte para evitar a dor que sentirão. Não os machucarei, não por tanto tempo.

Machucar a si mesmo para evitar que outros se machuquem é um ato heróico? Espero que quando eu for embora, eles se lembrem do apenas do meu sorriso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Estão gostando?