Diz à lenda que em todo Natal, doces criaturas humanas se transformam em bonecos para passarem por teste e renovarem suas convicções de fazerem as vidas suas e dos outros mais felizes.

Tudo começou com uma boneca de porcelana frágil e sentimental.  Tudo para ela é extremamente intenso. Qualquer coisa a atingia. Por isso ela vivia em seu casulo de emoções, com medo de ser quebrada. Ela também era super bem guardada, por isso raramente via a maravilhosa luz do sol. Só quando seus donos a tiravam do lugar em que estava guardada para dar uma rara olhada nela.

Sua vida era recheada de emoções negativas: de solidão, angústia, desespero e principalmente cheia de pessimismo. Essa boneca se achava inferior a qualquer coisa, achava que era uma coisa condenada, pois  quase nunca podia ver a luz do sol, além de sempre ficar trancada e não ter ninguém para conversar. Ela não via sua beleza interior e exterior, ela apenas via as luzes negras da vida.

Essas luzes negras distorciam toda sua vida, fazendo com que ela ficasse cada vez mais triste. Mas algo inesperado aconteceu. Em certo dia, duas criaturas maravilhosas surgiram para tirar ela da luz. Era a Polegarzinho e a atiradora de fogo gigante. Ambas eram criaturas doces e queridas. Mas ao contrário da boneca de porcelana não eram frágeis, eram guerreiras natas.

Por algum motivo que ninguém sabe explicar, elas simpatizaram com a doce boneca e enxergaram não só uma boneca linda escondida a sete Chávez, mas sim uma boneca linda por dentro, que  só precisava de um pouco de carinho e atenção para desabrochar.

Elas passaram a cuidar da nova amiga, sempre que podiam, pois tinham descoberto a chave de seu esconderijo. Então elas entravam lá sempre que queriam e por causa disso passaram a trazer mais luz para o pobre coração da boneca.

Agora ela já conseguia ver algumas cores e até mesmo sorrir. A dor em seu interior não tinha ido embora totalmente, ela ainda era insegura e cheia de medos, mas agora já não se sentia tão só. Ela sabia que de alguma forma poderia sempre contar com aquelas duas trazendo esperança para seu pobre coração sofredor.

A esperança nascente em seu peito fez com que ela mudasse internamente e tentasse vencer seus medos e ser uma pessoa melhor. Fez ela perceber que de algum modo ela tinha valor, e que ela não o ser inferior que achou que fosse e nem uma criatura pior do que o diabo. Sua história poderia ter sido triste, mas agora ela tinha algum motivo para sorrir. Suas amigas a amavam e naquele momento aquilo bastava.

Mas como nada que é bom dura para sempre. Houve as épocas de brigas e a pobre boneca de porcelana voltou a ser um ser triste e refugiado na fortaleza de cristal de sua cabeça. A queda fora enorme. Pois antes ela não tinha esperança, portanto os tombos eram pequenos. Mas agora não, o tombo fora enorme e a pobre boneca quase se despedaçou em mil pedaços de tanta dor que sentiu. Aquilo a estava matando, por dentro e por fora e isso não podia continuar mais, algo teria que ser feito, antes que a pobre boneca não resiste e decidisse por partir-se em mil pedaços literalmente.

Mas novamente uma luz no fim do túnel surgiu, a boneca cresceu interiormente, dizendo que nunca mais iria sentir tal dor e que jamais abriria seu pobre coração novamente para qualquer sentimento. Ela voltou a falar com a polegarzinho e com a atiradora de fogo. Sua amizade não era tão intensa quanto antes, mas era real. Elas ainda se preocupavam com a pobre boneca, mas sabiam que nada poderiam fazer, pois ela já não estava mais aberta como antes. Elas acabaram aceitando suas decisões malucas, mesmo sabendo que aquilo era errado e só a prejudicaria. Elas só não queriam ficar longe de sua amiga.

Outra criatura surgiu no cenário, a Barbie. Mas essa Barbie na época, não parecia com a Barbie que vocês conhecem hoje em dia, ela era uma moleca, super querida e muito parecia com a boneca de Porcelana, pelo menos vivenciava, de certa forma os mesmo sentimentos que a boneca. A Barbie a entendia, a ouvia, e ela ouvia a Barbie. A amizade das duas foi crescendo cada vez mais. E ao contrario do que a porcelana acreditava, ela voltou a amar alguém e acreditar profundamente nessa pessoa. Ela voltou a ter esperança.

A boneca e a Barbie conversavam noite e dia, dia e noite sem parar. Suas antigas amigas ficaram com um pouco de ciúmes, mas entendia que aquela amizade, era importante para ela e respeitavam isso, pois queriam ver a boneca feliz. E a felicidade era o que importava para elas.

A boneca passou a contar com as três maravilhosas amigas para tudo e finalmente ela passou a ver a vida de maneira colorida, como ela deveria ter visto desde o inicio.

Passou-se algum tempo e a boneca continua feliz com suas amigas, esquecendo-se da tristeza que um dia habitara em seu peito.

Mas infelizmente, a tristeza nunca se esquece da gente e muito menos da boneca de porcelana, uma “cliente” fiel. Ela voltou a assombrá-la, a fazendoela ter ataques de tristeza e dor do nada, mesmo quando tudo estava bom. A tristeza começou a sugá-la cada vez mais para sua rede, fazendo com que ela voltasse a enxergar tudo preto e branco novamente e que a dor voltasse a habitar em seu ser.

Suas amigas não sabiam o que fazer para deixá-la melhor. A Barbie que já tinha resolvidos seus problemas e agora parecia com a Barbie atual, já não se importava mais tanto assim. Ela tinha outra visão da vida e pessoas amarguradas não lhe interessavam. A dupla dinâmica, não abandonou a boneca, elas apenas não sabiam lidar tão bem com ela, quanto a Barbie lidava antes. Acredito que seja porque elas nunca sofreram ou passaram pela dor que a Boneca passou. Podia ser que às vezes fosse exagerada, mas para ela era real. E com o “abandono” da Barbie em seu pior momento, a boneca passou a cada vez ficar pior, até que um dia desistiu de sua própria vida.

Ela realmente teria partido dessa para melhor se não fosse pela dupla dinâmica que a salvou e as resgatou. As duas a tiraram do buraco e aprenderam de algum jeito a lidar com a Boneca, a fazendoela colocar pequenos sorrisos em seu rosto.

As lições que a boneca sofreu foram duras, mas ela aprendeu a não confiar cegamente nas pessoas e nem a ser tão frágil assim, a ponto de qualquer um, com qualquer movimento e gesto a quebrasse por inteiro. Ela aprendeu que verdadeiros amigos estão com a gente nos piores e nos melhores momentos e não apenas quando estamos bem. Ela também descobriu que apesar de ser instável emocionalmente, ela era uma boa amiga, alguém que estava ali sempre que seus amigos precisassem. E o  mais importante, ela sabia que estava com eles sempre nos bons e nos maus momentos. Ela finalmente saiu do seu “esconderijo” e passou a viver no sol. Ela foi libertada da gaiola e passou a ficar na instante ao lado de suas verdadeiras amigas que estavam ali sempre ao seu lado.

Novamente a vida lhe deu um ponta pé, mas dessa vez ela estava preparada. Certo ela e a Polegarzinho haviam brigado, por uma coisa besta e sem valor. E no dia seguinte, ela já não estava mais lá, tinha ido embora e a boneca não teve chance de pedir desculpas, de dizer sinto muito, ou um sequer eu te amo. Ela já não estava mais lá. Lágrimas de tristeza escorriam de seu rosto, mas era tarde, tarde demais, e ela teria que conviver com aquele peso na consciência para sempre.

Por causa disso a atiradora de fogo gigante afastou-se da boneca, pois sabia que de alguma forma havia perdido a amiga por causa dela. Ela no fundo não a culpava, ela só estava precisando de um tempo para se recuperar. Novamente a boneca ficou sozinha. Dessa vez a tristeza não a dominou totalmente, ela sabia que não poderia voltar para o buraco que se encontrava antes. A Barbie voltou a aparecer em sua vida, mas a amizade das duas nunca mais foi a mesma coisa. Elas eram apenas conhecidas que se falavam de vez em quando sobre qualquer assunto em comum que elas tinham.

Foi aí que por fim surgiu a duende verde e tímida e a boneca de pano grandona. Elas no começo eram só mais alguém que ela falava e tinha algum carinho, mas com o tempo foi percebendo que elas eram especiais, que elas eram extremamente parecidas com ela. Um triozinho novo foi se formando e dessa vez, finalmente a boneca de porcelana foi feliz nas escolhas de suas amizades. Elas se tornaram fortes e unidas. E sua amizade foi duradoura, repleta de alegrias.

A gigante do fogo voltou a ser amiga da boneca, afinal uma amizade de tanto tempo assim, nunca é esquecida. A amizade passou a ser mais forte e mais intensa, além de mais madura. A porcelana era grata por tudo que havia feito por ela, e a gigante a amava por ser quem ela era.

A grande lição da boneca foi aprender a confiar mais em si mesma e acreditar que as coisas fossem possíveis. Ela passou a ser uma criatura melhor por causa disso, além de ajudar a todos que sofriam do mesmo mal que ela sofrera. Ela não se transformara numa Barbie, que após ficar bem se esquecera do passado. Ela se preocupava com os outros e ajudava a quem pudesse.

Ela aprendeu a dura lição da vida, que sem amigos não somos nada e que amigos verdadeiros estão sempre nos bons e nos maus momentos,  que eles nunca te abandonam, ainda mais no momento que você mais precisa dele.

A boneca percebeu que a boneca de pano e a duende, de certa forma terminaram de curar todas as suas feridas e com elas, ela passou a encontrar a verdadeira alegria que havia dentro de si, com elas aprendeu a gostar de si mesma e a deixar mostrar quem ela realmente era. Ela também ajudou as duas nos seus problemas e sua amizade, virou lenda perante todos, que queriam poder ter alguém com quem contar, que nem elas podiam contar umas com as outras.

Essa boneca, não era uma boneca de porcelana em si. Era uma humana que se sentia assim. Sentia-se presa dentro de si mesma. Ela era como uma boneca de porcelana, frágil, porque qualquer coisa poderia quebrá-la em mil pedaços. Mas essa humana se deu conta, que essa boneca de porcelana, só estava dentro dela e que ela poderia ser sensível, mas nunca tão frágil a ponto de qualquer coisa poder derrubá-la. Ela aprendeu com suas amigas a ser mais feliz. Aprendeu que amizade vale a pena sim, quando se é algo sincero.

E como diz a lenda, toda época de Natal elas e amigas eram transformadas em bonecos, para não se esquecerem da lição que haviam aprendido e assim continuarem a ajudar os outros e a serem cada vez mais unidas.