Skater Girl escrita por sisfics


Capítulo 17
Capítulo Dezesseis: Algemas.




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Bella Pov

Uns dias depois

Quando voltei da escola naquele dia e entrei no treino, soube que me daria mal em algum momento. Foi na terceira descida que levei o primeiro tombo e depois dela não consegui mais me concentrar direito. Tinha sido assim nos últimos três dias, pois eu me prepocupava demais com outras coisas ou, simplesmente, era invadida por lembranças que quase me cegavam.

Minha sorte era que nem Phill nem Andrew estavam lá para me chamar atenção ou perguntar o que estava acontencendo. Assim que deu a hora de ir embora, saí de lá correndo o que não era usual, eu sempre gostava de ficar mais na rampa.

Mas precisava correr para casa e me deitar, nem que fosse para passar mais uma noite em claro, imaginando como poderia ter sido se eu tivesse feito tudo diferente. Fui para o apartamento debaixo de chuva e quando cheguei só tirei as peças molhadas e me deitei. Abracei as pernas, sentindo o frio me cortar como uma lâmina afiada, contudo estava sem vontade de me levantar e aumentar a temperatura do aquecedor porque tudo ali me lembrava Edward.

Aquele apartamento inteiro pertencia à ele e estava completamente sem foco por ele também não estar ali. De repente, me lembrei das palavras que Edward dissera naquele dia, jogando na minha cara que só tinha me usado e que não estava de verdade se importando com minha história com James, então recordei do exato momento que contei a ele sobre a minha verdadeira história com minha filha. Me lembrei que tivemos um princípio de briga sério, mas logo ele estava lá me abraçando, me beijando, me protegendo.

Flash back on

- Então porque continua me atormentando? Até pensei que poderia sentir alguma coisa por você, mas nossos mundos são diferentes demais.
- É o que você acha, não é? Você pode até dizer que somos diferentes, que somos incompatíveis e impossíveis um com o outro, mas eu sou teimoso, Bella. Não deveria pedir para ver o quanto. Tenho muitas dúvidas desde que te conheci mais a minha única certeza é de que agora eu pertenço a você e não há mais nada nesse mundo que não queira mais do que ouvir você dizer o mesmo.

Flash back off

Algumas lágrimas escaparam de mim, molhando a fronha e o lençol.

Flash back on

- Não sei para você, Bella, mas para mim "nós dois" significa muita coisa. - se calou um tempo, claramente pensando no que dizer - Desde o primeiro dia, você me trouxe alegria, entende? É claro, você também me trouxe algumas preocupações e maltratou, aliás, maltrata o meu ego até eu dizer "chega". Mas, com você eu consigo ser natural. Com você eu não preciso me disfarçar atrás de máscaras estúpidas simplesmente para ser aceito. Eu posso ser eu mesmo e você vai continuar gostando de mim. Quer dizer, eu acho que você gosta de mim...

Flash back off

Não fazia sentido algum. Não conseguia acreditar que ele mentira por tanto tempo, parecia impossível. Uma parte dentro de mim não queria acreditar e a outra insistia em me culpar por ter abaixado a guarda e agora estar colhendo os péssimos frutos.

Meu celular tocou, finalmente algo para atrair minha atenção. Rolei até a bolsa, peguei o aparelho e atendi, mas ninguém respondeu.

- Alô? - chamei de novo.

Havia muitos barulhos atrás, telefones tocando, sons irritantes de sirene de polícia, mas nenhuma voz específica. Afastei o aparelho para tentar identificar o número no visor, mas não me lembrava de ninguém.

- Quem está falando? - rosnei já sem paciência.
- Charlie? - uma voz feminina chamou bem fundo, então desligaram.

Joguei o celular na parede, pois era a melhor solução para me livrar da sombra do desgraçado que um dia ousei chamar de pai.

- Idiota. Não consegue ser homem suficiente para falar comigo como não foi homem suficiente para olhar na minha cara e realmente me enxergar por cinco anos, não é? Está me procurando por remorso?

Me levantei, a náusea estava aumentando, a tonteira também, por isso precisei andar até o banheiro me apoiando nas paredes.

- Como se eu precisasse de você, seu imbecil. Não sou mais sua filha, nunca mais vou ser, nem nunca fui. - não eram as mesmas palavras, mas eram bem parecidas com as que eu disse antes de sair de casa - Nem que você esteja morrendo, eu te perdoo. Nem que eu esteja morrendo, farei isso. Minha mãe tem sorte de ter ido antes de todos. - gritei.

Depois de exorcizar todos os meus medos e pensamentos, caí ajoelhada de frente para a privada e vomitei mais um problema que não conseguia digerir. Só mais um deles. Me levantei, escovei os dentes e voltei para a cama finalmente cansada para dormir.

Precisava ter coragem de repetir tudo só que na cara de Charlie. Apaguei a luz, me cobri e fechei os olhos com força. Jurei para mim mesma que na primeira oportunidade eu o faria. Diria com todas as letras o quanto o odiava e para Emmett guardaria os melhores xingamentos por ter sido tão covarde e infantil comigo por todo esse tempo que mais precisei de uma atitude de irmão mais velho e só recebi desprezo. Como se eu também não sentisse a morte de Renne.

O que mais precisava agora era de uma dessas viagens repentinas que a Spitfire gostava de me dar. Talvez com uma missão bem difícil para tomar todo o meu tempo e minha cabeça. Viajar para longe me faria bem. Mas Phill tinha sumido dos treinos, não vinha mais falar comigo desde que me dera o conselho de procurar Edward. Não que eu estivesse preocupada, mas sentia que ele poderia me dar uma bóia salva-vidas com o projeto de cobaia. Onde estão os empresários quando mais se precisa deles?

[...]

- Isabella? - levantei o rosto e vi Andrew lá embaixo sacudindo as mãos para que eu descesse.

Vistoriei o truck que desde o tombo que Phill me ajudou a levantar não estava seguro e poderia quebrar em qualquer Flip. Precisava de dinheiro para comprar um skate novo, assim como também precisava para pagar a conta de luz que em breve venceria. Coloquei o skate nas costas, apoiei os joelhos na rampa e desci escorregando até parar no vão. Ele sacudiu a cabeça negativamente e riu.

- Isso tudo é preguiça?
- Não. É a necessidade da porra de um skate novo. - joguei o meu no chão e pulei o degrau - Pelo menos, minhas joelheiras ainda estão firmes e fortes. O que houve?
- Estava entrando e um rapaz me parou pedindo uma informação. Queria saber se você estava aqui.
- Rapaz? Como ele era?
- Moreno. Alto. Cabelo baixo. Cicatriz feia no ombro. Quem era? - só uma pessoa passou pela minha cabeça com a descrição e não era ninguém que soubesse onde eu poderia estar.
- Não sei. - menti.
- Tem certeza? Me pediram para te dar isso aqui com máxima urgência, eu diria. - me entregou um envelope pardo que tirou de dentro do seu casaco - Passa na sua cabeça uma pista sequer do que seja ou de quem esteja mandando?
- Não. - ri nervosa.
- Que pena. - puxei o embrulho de sua mão - Não gostei muito do jeito dele. Se precisar de ajuda, sabe que pode contar para mim ou para Phill seja lá o que for, não sabe? - assenti - Então, vou te deixar sozinha para abrir. Vou subir porque preciso perguntar uma coisa para o pessoal da manutenção, já tive duas reclamações da rampa.
- Sim, o corrimão da três está rachando com o peso dos street's¹. Falta uma base, então acho melho mandar o cara grande de cabelo vermelho emagrecer para resolver o problema. - ele riu e se foi.

Assim que sumiu de vista, peguei meu skate, minha mochila na pequena arquibancada e, sem que nenhum dos outros que estavam treinando me vissem, me escondi no banheiro para abrir o envelope.

Se Jared estivera lá, a pessoa que mandou o envelope só podia ser Jacob. E se Jacob estava de volta, então só podia ser coisa errada. Tranquei a porta do banheiro para que ninguém mais pudesse usar nenhuma das cabines. Tirei todos os itens de segurança que me atrapalhavam a andar e guardei na bolsa. Esfreguei o papel entre meus dedos, sentindo a textura, talvez pelo receio de abri-lo. Tomei fôlego, rompi o lacre estupidamente burocrático e derramei o conteúdo numa parte seca da pia.

O primeiro choque me impediu até de tocá-las. Não pude acreditar que aquelas fotos eram mesmo reais. Uma lágrima transbordou dos meus olhos, molhando o rosto de Rennesme logo embaixo do meu e seu pequeno sorriso amedrontado. As peguei com raiva no momento que notei que não era mesmo fruto da minha imaginação ou do meu medo.

Travei na primeira. O celular tocou dentro da minha bolsa, mas precisei de um tempo para atendê-lo pois minha vista estava completamente embaçada com o choro.

Não reconheci o número de imediato, mas por não ser o mesmo que de ontem a noite, consegui imaginar um dono e confirmei minhas suspeitas quando atendi.

- Bêzinha? - Jacob sussurrou - Está me ouvindo, meu amor? A ligação tem um chiado irritante. Dentro da quadra seu celular não pega? Acho que precisa procurar mais sinal.
- Seu filho-da-puta, o que está fazendo com Nessie? - olhei de novo para imagem de Rennesme na porta da escola conversando com Jacob.
- No meu tempo, meus pais me ensinaram a não conversar com estranhos e esperá-los dentro do portão da escola, sabia?
- Pais? Você é um perdido. Um largado. Imbecil, o que fez com minha filha?
- Bê, assim você me magoa.
- Fala o que fez com minha filha ou vai ser arrepender de ter nascido.
- Sem ameaças. A Nessie não vai gostar de ouvir a mamãe falando assim com o amigo tão querido. Aliás, quer que eu passe para ela? Um papinho mãe e filha que vocês não tem desde que você saiu de casa, sua cachorra. O que acha?

Ele estava com o meu bebê.

- Jacob, deixa minha filha, por favor? - chorei ainda mais.
- Hum... você já viu todas as fotos? Tive vários problemas com a produção, Bella. Quero que admire meu trabalho.

As passei tentando entender o que ele dizia. Todas as fotos eram deles dois conversando na porta do colégio de Rennesme, mas não entendia como nenhum professor ou funcionário pôde não ver isso. Até que a última foto chegou, fazendo meu coração quase saltar pela boca quando a vi deitada e dormindo numa espécie de sofá sujo e rasgado.

- Gosta do que vê? - sussurrou.

Passei as fotos rápido, todas elas, a mesma pessoa. Minha filha na mira de Jacob era demais. Deixei as fotos caírem no chão e comecei a gritar.

- Seu psicopata. Maluco. Desgraçado.
- Ah, Bê, não chore, meu bem. Você sabe muito bem o que pode fazer para deixá-la à salvo?
- Seu problema é comigo, canalha. Onde a minha filha está? Solte ela agora.
- Poxa, que pena, acho que não vai dar. Só posso deixar o bebê sair correndo para os braços do vovô se a mãezinha dela estiver disposta a fazer um favorzinho para mim. - não queria nem tinha mais estrutura para ser uma boneca de novo nas mãos de Jacob, mas era a vida dela que estava em jogo então me submeteria a qualquer coisa.
- Que favor? - rosnei.
- Ah, não, espere. Ouço uma redenção? Aplausos para a mãe do ano.
- O que você quer? - gritei.
- Mais paciência para começar. Se você a quer salva no seio da sua família inútil e desgraçada é melhor ficar bem calminha comigo. A gente não quer que ninguém saia machucado nessa história, não é mesmo? - minhas pernas fraquejaram - Você vai me encontrar hoje às onze no meu antigo apartamento sem nenhum minuto de atraso. Entendeu?
- O que você quer? - perguntei de novo.
- Conversar, meu amor. Poxa, acha que não tive saudade todo esse tempo longe? Se bem que matei um pouquinho dela quando conheci Nessie, ela é a sua cara. - gargalhou, fazendo meu peito apertar ainda mais.

- Tudo bem, eu vou. - respondi sem voz.
- Sempre tão obediente.
- Vai deixá-la ir quando eu aparecer?
- Claro. Agora, Bella é segredinho, então não pode contar nem para o papai, nem para o Edward, entendeu? - ele sabia o nome dele - Responda, quero saber se entendeu ou não.
- Entendi.
- Muito bem. Espero que cumpra a promessa. Eles só podem saber que eu voltei para a cidade quando terminar de pagar umas dívidas, então talvez depois a festa demore para recomeçar. E você estará comigo, amor. Acho melhor desligar. Seu bebê vai acordar. Até mais tarde, Bella. - bateu o telefone na minha cara.

Recomecei a chorar ainda mais nervosa e apreensiva. Caí sentada no chão do banheiro sobre as fotos. O que aquele desgraçado poderia querer comigo de novo? Como sabia o nome de Edward? Como conseguiu tirar Nessie da escola com Emmett e Chalrie cuidando dela? Uma lâmpada se acendeu na minha cabeça. Só podia ser por isso que Charlie me ligou noite passada.

Seja qual fosse a chantagem dessa vez, não poderia me arriscar a ser corajosa, não pedir ajuda. Jacob não era tão esperto assim, por isso com ajuda eu seria capaz de bolar alguma armadilha para ele. Se Jared ainda estivesse lá na frente me esperando, era melhor sair pelos fundos. Precisava agir de modo sensato uma vez na vida e procurar a polícia. Mesmo que Jacob tivesse dito o contrário, mas nada me garantia que ele levaria mesmo minha filha e a deixaria bem.

Num sopro de vida repentino, me levantei, lavei o rosto e vasculhei minha mochila por um outro casaco. Sempre levava dois por causa de chuvas e dessa vez seria meu disfarce. Entrei no treino com um quadriculado vermelho e preto e saí de lá com um azul escuro. Fui pelos fundos, escondida de Andrew, e peguei um táxi até a delegacia onde acharia ajuda.

Quando entrei lá, alguns policiais estavam alvoroçados, outros descansando, parei de frente para a recepcionista e perguntei:

- Eu poderia falar com o policial Charlie Swan? - a moça levantou o rosto curiosa - É urgente.

- E você seria?
- A filha dele. Isabella. Eu posso esperar se for preciso, mas não muito. É um assunto muito particular.
- Bem, o Chalrie está passando por um momento difícil, querida. Vou pedir que ele venha te atender agora. - estreitou os olhos, parecia estranhar eu ser sua filha e não estar comentando assunto nenhum, talvez Nessie - Você pode vir comigo?
- Tudo bem. - tirei uma das alças da mochila do ombro e a passei para frente.

A policial me guiou até um outro departamento, passando por dois corredores com suas portas de vidro com nomes pintados no jateado. Não esperava ficar tão nervosa com o fato de ir encontrar Charlie. Meu estômago já revirava com a idéia de Nessie estar nas mãos de Jacob, ter que enfrentar meu pai, contar tudo para ele só estava me fazendo ficar ainda pior. Na sala que entramos, havia vários policiais sentados em suas mesas, mais um monte deles em frente a mesa de café. A mulher me levou até um box com uma mesa velha, um computador ainda mais, cercados com suas baixas paredes de compensado.

- Você pode esperar aqui. Ele está resolvendo um assunto muito grave. - avaliou meu rosto para tentar entender se eu sabia qual assunto era ou não.
- Muito obrigada. - sussurrei.
- Você não se incomodaria se eu pedisse para ver sua identidade certamente. Você é a cara do Charlie, mas seria por questões chatas de segurança.
- Não, tudo bem, eu entendo. - abri minha bolsa, achei minha identidade dentro da carteira e ela conferiu atentamente meu sobrenome que batia com o escrito na plaquinha preta sobre a mesa.
- Obrigada, tenho certeza que ele já vem falar com você.

Ela se afastou ainda um pouco receosa do que estava fazendo, mas voltou para seu posto na recepção. Percebi que os policiais nas mesas mais próximas se estendiam e esticavam nas cadeiras ou nas pontas dos pés para me espiar. Empurrei a cadeira que estava sentada mais para o canto, me protegendo da curiosidade alheia atrás das pequenas paredes.

Olhei o relógio de parede mais próximo que marcava seis e meia e rezei silenciosamente para que Charlie viesse logo falar comigo, mas como sempre meu pedido não foi atendido.

Os minutos passaram, se tranformaram em horas, e a cada martelar dos ponteiros eu sentia o nó em minha garganta aumentar, me impedindo de respirar. Ele só podia estar brincando comigo. Já era quase nove quando me levantei, perguntei a um policial próximo onde poderia encontrar meu pai, mas ele não sabia. Tentei não chamar atenção quando dei uma volta na sala, olhando em todas as outras mesas e nos corredores que passei, mas nem sinal de Charlie. Quando voltava para sua mesa, dei de frente com ele.

Eu parei completamente congelada, ele levantou seus olhos cansados do copo de café e rosnou:

- O que você está fazendo aqui, garota?
- Também estava morrendo de saudade de você.
- Entra. - apontou com a cabeça.

Passei na frente, ele veio em seguida e se sentou do outro lado da mesa.

- Seja breve. - tentou não olhar em meus olhos, o que só fez aquela queimação subir pelas minhas bochecha até meus olhos.
- Você me ligou. Eu sei que foi o senhor que ligou para o meu celular. Vocês sabem alguma coisa da Nessie?
- Qual o seu interesse nisso?
- Nenhum. Eu só sou a mãe dela. - tentei não alterar minha voz.
- Você pensou nisso quando saiu da minha casa?
- O senhor pensou nisso quando me prometeu com tanto amor que nos protegeria assumindo a paternidade dela? - debochei.

Dessa vez não consegui reter as lágrimas que só escondi ao abaixar a cabeça.

- Sabe, garota, eu devia ter te expulsado da minha casa quando tive a oportunidade, ter te deixado passando fome com aquela criança nos braços, mas não, eu tive que ouvir sua mãe.
- E se arrepende todos os dias disso, não é? - ri de nervosa.

Ele não respondeu, só segurou tão forte na beirada da mesa que tive a impressão de ouvir a fina tábua estalar.

- Eu vim aqui para ajudar a achar a Nessie.
- Quem te disse que ela sumiu? - sua voz parecia desesperada e amedrontada.
- Como foi? Anda, pai, me diz como foi que aconteceu.
- Emmett foi buscá-la na escola e ... - não completou a frase - Mas que inferno, você só está me atrapalhando vindo aqui. Só está me deixando mais nervoso.
- Porque me ligou?
- Se não percebeu, eu desisti da idéia de que poderia me ajudar. Você não ajuda nem a si mesma.
- Você está enganado, pai. Eu posos ajudar sim, eu sei onde ela está e posso tirar Nessie de lá, mas eu preciso da sua ajuda. Eu posso cuidar sim da minha filha.

Ele se levantou depressa, contornou a mesa e me agarrou pela camisa.

- Você sabe onde ela está? Cadê minha filha? Onde está a Nessie? Como você sabe onde ela está? - as palavras prenderam na minha garganta conforme me sacudia - Anda, garota, conta onde está minha filha?
- Charlie. - a mesma policial que me recepcionou e me levou até sua mesa quando cheguei entrou no box e segurou meu pai pelos ombros, tentando fazer com que me soltasse - Largue-a, Charlie. Você tem mais com o que se preocupar.

Com dificuldade, ela conseguiu tirá-lo de cima de mim com a respiração alterada. Só então notei a quantidade de pessoas que estavam em volta de nós, minhas lágrimas não paravam de cair e meu ódio só aumentar.

- Por favor, você tem que vir comigo, ligaram da sua casa e parece que sua filha apareceu e está bem.
- O que? - gritou.
- Passei a ligação para você. - Charlie quase tomou um tombo e derrubou vários papéis na mesa quando correu para atender o aparelho.

Meu coração subiu até a gargante e desceu. Também me debrucei sobre a madeira quando ele atendeu o telefone. Minha cabeça estava muito confusa. Será que alguma coisa tinha dado errado? Porque Jacob a deixou ir?

- Alô, Emmett? O que aconteceu? - a voz de Emmett gritava abafada no fone - É ela mesmo? Quem a trouxe? - esperou enquanto meu irmão terminava - Não conheço nenhuma mulher com essa descrição, você não a segurou?

- Pessoal, circulando. Alguém avise ao comandante que podemos suspender as buscas e alguém prepara um carro para o Charlie voltar para casa, por favor? - a policial da recepção pediu para que todos os outros se afastassem e nos dessem mais privacidade - Acabou o show. - gritou.

- Então, ela a deixou na porta e foi embora correndo, você nem viu seu rosto? Não, tudo bem, meu filho. Eu estou indo para casa agora. Cuide de sua irmã, não a deixe sozinha um minuto sequer, nós vamos levá-la ao hospital. - ele desligou o aparelho e pegou o casaco atrás da cadeira.
- Como ela está? - Charlie me ignorou - Eu perguntei como ela está. - gritei, segurando seu braço.
- Não te interessa. Você nunca cuidou dela, então porque o interesse repentino? Você tinha alguma coisa a ver com isso, não tinha, sua vadia? Foi você que mandou fazerem isso com ela, eu tenho certeza. Foi para tentar ganhar minha confiança? O plano deu errado Bella? Quer saber, nunca mais se aproxime de mim ou da minha família. Não nos procure, não fale conosco, não pense em nós. Eu vou tirar a minha filha do alcance das suas mãos, Bella. Antes que Rennesme sofra as conseqüências por ter seu sangue.
- Não é verdade. Eu jamais faria isso com ela. Porque você vai levá-la ao hospital? Ela está bem, Charlie?
- Estará melhor se estiver longe de você.
- Charlie?
- Vai embora, Isabella. Eu quero que você morra, garota. Eu quero que você morra.

Meu pai saiu na direção da porta do departamento, me deixando tombar sozinha na cadeira e chorar. Pelo menos, Nessie estava salva. Policiais acompanhariam Charlie, ele a faria ficar bem, Jacob por algum motivo insórdido a tinha soltado, então eu não precisava mais procurá-lo.

Outro sentimento tomou conta de mim quando aquela mesma mulher me ajudou a levantar e me levou embora sobre os olhares curiosos. Assim como Charlie dissera, eu também queria morrer.

Jacob Pov

Cerrei o punho e soquei a parede.

- Filha-da-puta, desgraçada. E quando perceberam?

- Quando o Quill foi levar comida para a menina. As cordas estavam cortadas. - Jared falou.

- Presta bem atenção, segura essa cachorra aí e quando eu chegar acabo com ela. Preparem as coisas para mim. Mas tomem cuidado com essa vadia, ela já deu um bote, não demora para dar outro.

- Tudo bem. - desliguei o telefone e o apertei com força.

Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Meu dedos começaram a doer, então segurei firme o aparelho, tomei impulso e o joguei contra a parede o fazendo quebrar.

- O que aconteceu? - Paul perguntou atrás de mim.

- A piranha da Emily me traiu. Aproveitou a distração de Jared e Quill, pegou a garota e a levou para a casa do policial. Aquela vagabunda. - gritei.

- Calma, cara. Pensa bem. A Emily levou a pestinha de volta pra casa mas isso não quer dizer que a Bê sabe. Eles não devem ter contado para ela, então o encontro ainda está de pé.

Paul parecia idiota, mas não era. Ele tinha razão nisso. Bella não falava mais com o pai, nem o irmão, então não poderia saber nunca que a filha voltara para a casa do avô.

- Tem razão, Paul. Acho que agora eu tenho outras coisas mais importantes para me preocupar. - peguei em cima da mesa minha arma e a prendi na cintura - Fique atento. Quando eu terminar, te chamo.

- Tudo bem.

Saí da garagem, subindo pelos degraus para o cômodo de cima. Entrei no primeiro quarto e lá encontrei Felix ajoelhado, com a mãos amarradas e a boca amordaçada. Parei de frente para ele, tirei o pano de sua boca e sorri.

- Oi, amigão.

- Jacob, Jacob, por favor. Não faça isso.

- Só estou cumprindo meu papel do contrato, Felix. Você me deu o que eu queria, e em troca ganhou aquilo que prometi. - abaixou o rosto cansado - Eu disse que essa história teria um fim. - tirei a arma da cintura - Sou um homem de palavra.

- Mas porquê? Eu arrumei o endereço do tal cara que você queria, eu coloquei meu irmão para trabalhar na portaria do prédio, ele vai facilitar as coisas. Eu cumpri a minha parte, mas por favor, não faça isso. Eu vou embora. Sumo, não entro mais em contato com o pessoal do Mario. Por favor, Jacob. - sangue saía de sua boca enquanto falava

Cansei de todo o falatório, além do mais precisava relaxar e me acalmar um pouco. Por isso dei um soco forte nele que já estava todo ferido e o assisti cair deitado.

Me ajoelhei no chão de frente para seu rosto e saquei minha arma. Seus olhos tremeram e mais sangue saiu de sua boca que não conseguia ficar fechada.

- Jacob, por favor? - conseguiu sussurrar.
- Não, Felix, eu é que tenho que pedir por favor. Poxa, amigo, queria muito ajudar você assim como me ajudou, mas você sabe que a gente não pode deixar rastro. - tirei alguns fios de seu cabelo de cima do olho com o cano da arma - Sabe, fios soltos podem causar um grande desastres. Você não tem nem noção do tamanho que as coisas podem assumir aqui. Você foi tão útil e tenho certeza que seu irmão também vai ser. - tentou falar mais alguma coisa, mas encaixei a arma em sua boca para que não começasse a implorar pela própria vida.

Ver um homem implorando me dava náuseas.

- Quando tudo acabar, você vai se encontrar com ele lá em cima, tudo bem? - choramingou ainda mais alto - Não precisa ficar preocupado, amigão. Ele vai, mas eu prometo que da sua viúva e dos seus filhos, eu vou cuidar com muito amor. Vou deixar até que eles te enterrem. Eu prometo não fazer mal nenhum para eles, tudo bem? Vou adorar cuidar da quadrilhazinha do meu amigo que me ajudou tanto.

- Ja-cob. - agarrei seus cabelos e fiz com que ficasse de joelhos no chão, me levantando também e dando alguns passos para longe.
- Obrigado pelo endereço, pela disponibilidade, eu jamais vou esquecer.
- Jacob, por favor, eu juro que não vou abrir a boca para os tiras. Por favor, me deixa ir embora, eu vou sumir. Eu sumo pra sempre. Você nunca mais vai ter notícias minhas. Eu juro, Jacob. Por favor, eu te recompenso por todas as merdas que fiz...
- É claro que vai ser recompensador, não tenha dúvida disso. Quanto a notícias suas? Acho que a próxima que vou ter vai ser no seu obituário.

Ele arregalou os olhos quando levantei o braço na sua direção.

- Até mais, Felix. - puxei o gatilho.

O tiro pegou na garganta, e logo seu corpo caiu sem vida no chão. Alguém tinha que vir limpar a bagunça.

Saí o mais rápido que pude daquela garagem, deixei Paul limpando tudo e de carro fui até o meu antigo apartamento. Já era mais de dez e logo Bella chegaria. Eu entrei no prédio pelos fundos, fui até meu apartamento e me sentei na última grande poltrona que ainda estava lá. Aquilo me fez lembrar um pouco do meu pai, dos meus irmãos, mas não eram lembranças muito agradáveis.

Quando dei por mim já passava das onze, tentei tolerar, respirei fundo e me ajeitei mais confortável no sofá. Mantive meus olhos firmes na porta que podia abrir a qualquer momento.

- Não, Bella. Não me obrigue a fazer isso. - os minutos passaram.

Andei imapaciente de um lado para o outro, mas quando foi uma e meia da manhã, eu já estava quebrando o apartamento todo de raiva. Alguma coisa tinha dado errado e ela descobrira que a filha estava em segurança. Eu mataria Emily por ter estragado meus planos. Eu mataria lentamente como aquela vadia merecia.

Saí do prédio, fui até uma farmácia e comprei algumas coisas úteis. Depois fui até o endereço que havia memorizado, parando numa esquina escura, atrás de uma caçamba alta de lixo que cobria o carro. Caminhei até lá, as ruas vazias me ajudando a não me preocupar com alguma testemunha. Achei a escada de incêndio, subi até o segundo andar sujo daquele maldito prédio e depois de espiar dentro da apartamento, consegui entrar pela janela.

Bella estava tomando banho, a vadia ia me pagar. Eu apaguei as luzes da cozinha e do quarto e me escondi atrás da porta do banheiro. Peguei o material da farmácia, molhei as ataduras com o éter e esperei.

O som do chuveiro cessou. Apertei o pano úmido na minha mão, fazendo o que o líquido fosse para as bordas. Alguns poucos minutos depois, a porta foi destrancada, aberta e a luz apagada.

- Quem apagou as luzes? - ela perguntou para si mesma saindo.

Pulei nas suas costas e tapei sua boca e nariz com a gaze. Ela se debateu, chutou, tentou me socar, mas eu a apertei bem contra a parede.

- Eu avisei, bêzinha. Eu avisei. - sussurrei no seu ouvido.


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Notas finais do capítulo

Meninas, quero agradecer muito pelos reviews. Estou adorando os comentários. Depois eu posto mais. Beijos.