A noite estava magnífica.

Ambas as luas brilhavam com tamanho esplendor no alto do céu desabitado pelas estrelas. Eram capazes, com a ausência dos pontos brilhantes, de chamar a atenção de qualquer olhar; do mais bondoso ao mais sério e frio. A cidade de Baron dormia tranquilamente naquela noite, as ruas estavam pouco movimentas e o som da brisa ecoava pelos becos vazios. Graças à escuridão, ninguém era capaz de avistar o homem parado no alto de uma estrutura, observando as luas. Suas vestes quase negras o camuflavam na penumbra; somente os fios dourados de seus cabelos refletiam algum brilho sobre a luz dos astros no céu.

Kain havia finalmente retornado para Baron depois de um longo período sozinho no Mt. Ordeals, no qual buscava a paz de espírito que Cecil havia conseguido ao se tornar um Paladin. Entretanto, diferente do amigo, o Dragoon não havia conseguido. Seu interior continuava entorpecido pelos próprios sentimentos. Talvez, por esse motivo, que sua coragem para ir ao castelo de Baron e encarar os velhos amigos Cecil e Rosa, atuais Rei e Rainha, ainda não tivesse surgido.

Sua mão canhota pressionou a fiel lança ao lembrar rumores que ouvira de moradores na cidade. Rosa estava esperando um filho. Um filho de Cecil. Deveria estar feliz pelo acontecimento, eram seus amigos de infância afinal. Mas seu interior, seu lado negro ainda existente, dizia que o acontecimento não era justo. Não para ele. Seus sentimentos pela moça ainda pulsavam em seu peito, sentimentos que nunca foram aceito e nunca mudaram. Amava-a.

Suspirando, ele saltou a uma estrutura mais próxima. Suas habilidades como um Dragoon estavam precisas como nos velhos tempos. Sentou-se e observou o movimento deserto da rua principal de Baron, a qual levava ao castelo e grande parte do comércio. Em um momento da noite, um semblante chamou sua atenção. Um belo semblante. O longo manto branco esvoaçava nas costas da mulher e seus cabelos loiros, presos, caiam aos ombros com os passos ligeiros que ela dava. Estava saindo da cidade.

Kain tinha tanta certeza de quem era que resolveu segui-la cautelosamente. Fora da cidade, a moça combateu alguns animais selvagens que surgiam pelo caminho com sua magia branca e graças às habilidades, o Dragoon confirmou sua teria. Era ela. Rosa Farrell. E por algum motivo estava se dirigindo ao Mt. Ordeals. Estaria indo atrás dele? Mas por qual motivo? A curiosidade de Kain falou mais alto e ele a abordou em frente à entrada do lugar.

Com um salto habilidoso ele caiu em frente a ela, flexionando os joelhos ao tocar o chão. A aparição inesperada fez com que a moça sobressaltasse e levasse as mãos em frente ao peito. A maneira misteriosa que Kain sempre aparecia a assustava, e não foram poucas as vezes que ele fez isso. Ele não fez cerimônias para questioná-la:

— O que faz aqui, sozinha?

— Kain... — antes de responder, ela recuperou o fôlego perdido após o susto. — Você precisa voltar para o Império de Baron, sua falta é lembrada todos os dias por seus amigos.

— Amigos...? Apenas você e Cecil, talvez.

— Todos, Kain! Até Rydia já perguntou por você depois de tudo o que fez. Por favor, volte para Baron.

— Só para isso veio até aqui? — ele deu passos para próximo da moça que recuou alguns centímetros. — Porque Cecil não veio em seu lugar? Por acaso avisou a ele do que está fazendo?

— N-Não. Ele não iria deixar-me vir.

— Por quê? — ele sabia a resposta, mas queria vê-la sair da boca de Rosa.

— Porque ele sabe de seus sentimentos por mim. — ela o encarou diretamente para continuar. — Mas eu sei que não faria nada, Kain! Confio em você.

— Não deveria.  Nem eu confio.

Rosa tentou não acreditar nas breves palavras proferidas por Kain, conhecia-o tão bem e, talvez, ele, não seria capaz de tentar feri-la. Ou sua teoria estava errada? Cruzou os dedos. Ele deu mais dois passos ao encontro dela, a expressão escondida pelo helmo que sempre costumou usar.

— Vai... voltar? — ela, enfim, sentiu-se acuada pela aproximação.

— Voltar? — o passo seguinte do Dragoon fora mais longo. Estava tão perto que foi capaz de sussurrar suas palavras seguintes no ouvido dela. — Talvez.

Ela teria respondido algo se não tivesse caido em inconsciente graças a um golpe estrategico, e pouco doloroso, dado por Kain. O homem a amparou em seus braços e a observou por longos minutos; um sorriso sarcástico tomava conta de seus lábios.

Deveria aproveitar a única oportunidade?

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Na manhã seguinte, Cecil andava de um lado a outro na sala do trono. O sumiço de Rosa havia sido descoberto quando ele acordou junto com o Sol e, imediantamente, mandou os soldados de Baron procurá-la. Haviam se passado duas horas desde que suas ordens foram dadas e, até o momento, nenhuma notícia.

Estava começando a ficar preocupado com a amada.

Quando pensou em deixar a sala e o castelo para vasculhar todos os cantos da região de Baron, um homem entrou as pressas. A expressão que carregava era de alívio.

— Majestade! — exclamou ao receber permissão para falar. — A Rainha Rosa foi encontrada. Está tudo bem!

A resposta que Cecil desejava acabou chegando antes que ele perguntasse. Com passos lentros, carregando a jovem mulher inconsciente nos braços, Kain se aproximou. Estava sem o helmo e, então, suas longas madeixas loiras dançavam em suas costas na medida em que se locomovia. Estava sério ao encarar o amigo.

— Kain?

— Por sorte a encontrei no momento certo. — e sorriu de maneira desafiante.

— O-Obrigado. — Cecil se aproximou de ambos. — Quer dizer que voltaste?

— Agora sim.

E entregou a mulher ao amigo antes de dar as costas e sair.

Cecil observou-a por um momento.

Haveria alguma coisa errada? Algo que ele não sabia?