Baby, Its Cold Outside escrita por Sorrow


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Se quiserem ouvir a versão mega gay de Glee de Baby, It's Cold Outside [Por Darren Criss e Chris Colfer], seria lindo. [/watch?v=ANzkTZGrby4]



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                Eu caminhei lentamente pelo quarto, com os sapatos nas mãos, apenas usando meias grossas nos pés e tentando ser o mais silencioso possível. Meus pais provavelmente dormiam profundamente no quarto ao lado e era melhor que continuasse assim. Peguei meu celular e minha carteira e os coloquei nos bolsos traseiros da minha calça, saindo do quarto praticamente nas pontas dos pés. A casa estava completamente silenciosa e escura, a única fonte de luz era a árvore de natal cheia de luzes na sala de estar, e foi por ela que me guiei para chegar até a saída. Novamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível, eu saí de casa, me certificando de trancar a porta.

            Imediatamente senti o frio insuportável que estava do lado de fora, o chão estava coberto de neve e tudo estava pintado de um branco angelical que fazia a noite parecer mais clara do que realmente estava. Eu me abaixei para rapidamente calçar os sapatos antes que meus pés congelassem depois enfiei as mãos enluvadas nos bolsos do meu casaco. Então, enterrando o rosto em meu cachecol, saí caminhando rapidamente em direção à estação de metrô mais próxima. Não era tão tarde ainda, não devia ser nem meia noite, mas as ruas estavam consideravelmente vazias, afinal era o restinho da noite de Natal, de vinte e cinco, e em poucos minutos a magia natalina teria acabado, então a maioria das pessoas devia estar em casa com suas famílias e seus entes-queridos.

            E era exatamente como eu pretendia passar o resto do meu natal, embora tecnicamente não fosse mais natal. A estação de metrô estava mais ou menos movimentada com pessoas pegando provavelmente os últimos trens para voltarem para casa. Entrei num vagão quase completamente vazio e me sentei num banco no fundo, olhando com atenção as paredes sujas que passavam pela janela. Um pouco cansado, fechei os olhos e a imagem dele apareceu. Suzuki Akira – ou Reita, como apenas eu o chamava – era meu professor de Biologia I. Lindo, loiro e objeto de desejo de todas as garotas da escola desde seu primeiro dia no emprego. Obviamente, se tornou meu objeto de desejo também.

            Mas eu não era como aquelas garotas sonhadoras, eu jamais pensei que um dia ele fosse olhar para mim e dizer “é você”. Havia muitas barreiras para isso, a começar pelo meu gênero. Eu era um garoto, e a probabilidade de ele ser gay era muito pequena. Além disso, eu era muito mais jovem, eu tinha dezesseis na época e ele vinte e oito, então outro motivo para ele não desperdiçar nem um olhar em mim. Por fim, ele era meu professor e eu era um péssimo aluno. Eu sentava no fundo e passava a aula toda prestando atenção nele e não no que ele dizia. Biologia para mim era grego, e eu não fazia o menor esforço para me sair bem.

Curiosamente, foi isso que nos aproximou. Enquanto as garotas se esforçavam absurdamente para serem as melhores da sala e chamar a atenção do professor para si, eu ficava quieto no meu canto, conformado com as notas vermelhas e com a silenciosa certeza de que iria reprovar. Até que um dia Reita me pediu para ficar depois da aula para conversarmos sobre minha situação em sua matéria. E foi aí que tudo começou a acontecer, eu acho, ele começou a reparar em mim, mas nada de concreto se passou até esse ano. Eu havia passado em sua matéria – depois de muitas aulas particulares e reforço - e ele não era mais, tecnicamente, meu professor. Ainda assim, ninguém podia saber, o que às vezes podia ser muito cansativo.

Minha parada chegou e eu desci rapidamente, voltando a caminhar pelas ruas geladas com o passo apertado. Eu odiava caminhar sozinho, principalmente à noite, eu era meio medroso e paranóico, mas eu estava disposto a fazer aquilo por ele. Qualquer coisa por ele. Confesso que eu era também meio bobo, fazia exatamente o estilo adolescente apaixonado e acreditava que meu mundo girava em torno dele e que se ele me deixasse eu ia morrer. Reita, obviamente, era mais maduro que eu, e seu amor por mim era mais sólido, mais sóbrio, mas isso não o impedia de ser romântico ao ponto de ser piegas. Acho que muito do nosso romantismo exagerado tinha a ver com o fato de nos vermos muito pouco – somente quando eu conseguia escapar sem ninguém perceber, e quando ele não estivesse trabalhando.

Finalmente cheguei a casa já conhecida e sorri para mim mesmo quando vi, pela janela da frente, que as luzes estavam acesas e sabia que ele estava esperando por mim, como prometido. Eu bati à porta e mal tive de esperar cinco segundos até ela se abrir e eu ser puxado para dentro. Senti os lábios dele colidindo com os meus intensamente, me entontecendo, mas coloquei meus braços em torno de seu pescoço, retribuindo o beijo com o mesmo vigor. Reita se afastou e, inconscientemente, tentei acompanhar seus lábios, ele sorriu, acariciando meu rosto e me mantendo perto, antes de depositar um beijo na porta do meu nariz.

- Seu rosto está tão gelado! – Ele disse, então, me abraçando com força, e eu aproveitei a deixa para esquentá-lo em seu pescoço descoberto. Ele reclamou e se afastou, rindo, mas voltou a me abraçar logo em seguida. – Fiquei preocupado com você vindo sozinho a essa hora e pegando o metrô... Céus, você é o principal motivo para os meus cabelos brancos. – Eu ri, rolando os olhos.

- Você não tem cabelos brancos. – Retruquei, beijando seus lábios rapidamente e vendo-o erguer os ombros com um sorriso.

- Poderia ter, do jeito que você me dá trabalho. – Eu ri e me afastei levemente, sacudindo a cabeça. Tirei meu casaco, o cachecol, as luvas e os sapatos e Reita recolheu tudo, guardando no armário ao lado da porta. – Não posso ficar muito, meus pais podem acordar a qualquer momento. – Eu disse, mordendo os lábios, e ele simplesmente sorriu e concordou com a cabeça, segurando meu rosto para me dar mais um beijo.

- Então vamos aproveitar que você está aqui. – Me puxando mais para dentro, ele me levou para a sala de estar, e eu me surpreendi em encontrar a mesa de centro toda arrumada com velas e tudo, e ainda alguns pratos de comidas natalinas, duas taças e uma garrafa de vinho. – Feliz natal, pequeno. – Ele sussurrou, meramente encostando os lábios nos meus, eu sorri contra sua boca, desejando poder ficar ali para sempre.

- Feliz natal. – Eu respondi, aprofundando o beijo, sentindo seus braços me envolverem e me puxarem para mais perto de si. O interior da casa estava um pouco mais quente que o lado de fora, mas ainda estava muito frio, e seu corpo quente tão próximo ao meu era aconchegante e bem vindo.

Eu me sentei no sofá e Reita sentou-se ao meu lado, logo se inclinando sobre a mesa para nos servir as duas taças de vinho. Tirei aquele momento para observar a sala da casa dele, de onde eu via o corredor para o quarto, o banheiro e o escritório e a porta para a cozinha. Eu conhecia bem o lugar, quase todos os nossos encontros aconteciam ali. Não era como se pudéssemos sair juntos de mãos dadas pelas ruas de Tóquio, ou sair para jantar e ir ao cinema como um casalzinho apaixonado. Eu costumava dizer a ele que aquilo era besteira e que eu não ligava, o que importava era que estávamos juntos. Mas a verdade é que eu ligava sim, e muito. Eu queria poder ter aquilo, queria não precisar me esconder como algum criminoso. Mas eu tinha paciência, sabia que aquele dia chegaria.

Reita me entregou uma taça e sentou-se ao meu lado, passando um braço sobre meus ombros e me puxando para repousar contra o seu corpo. Sem cerimônias, me aninhei em seus braços com a taça de vinho e suspirei profundamente, me perguntando se a vida podia ser melhor. E cheguei à conclusão que podia, obviamente, se eu pudesse ter aquilo todos os dias e não apenas como presente de natal.

- Se eu pudesse, não saía nunca mais daqui. – Murmurei, sentindo seus dedos se emaranharem em meus cabelos, sua unhas curtas arranhando levemente meu couro cabeludo, um carinho que me fez fechar os olhos e praticamente ronronar como um gato.

- E se eu pudesse, trancava aquela porta e não te deixaria sair nunca mais daqui. – Ele disse, virando-se para mim e se inclinando para me dar um beijo nos lábios. Eu ri, fazendo-o se afastar um pouco, me olhando com diversão. – O que foi?

- A gente é muito brega. E meloso. – Eu disse, arrancando uma gargalhada dele, que apertou minhas bochechas e me deu mais um beijo antes de se afastar, levando nossas taças junto, o que me fez erguer um sobrancelha.

- Ora, mas é claro, o amor é brega. – Ele retrucou, sorrindo divertidamente. – E melado. – Quase sem eu perceber, ele já tinha me empurrado contra o sofá e estava em cima de mim, segurando meus pulsos sobre minha cabeça e com o rosto tão próximo do meu que eu podia ver cada detalhe de sua íris. Eu ri.

- Eu disse meloso! – Reclamei, sentindo sua língua percorrer a extensão do meu pescoço sem pressa, me fazendo fechar os olhos. – Eca... – Disse, sem a menor convicção, e ouvi sua risada abafada pela minha pele.

- Você é um bebezão. – Ele reclamou, mas não saiu de cima de mim, deixou seu corpo pesar sobre o meu, dificultando minha respiração, mas eu ia morrer asfixiado antes de pedir para ele sair de cima.

- E isso faz de você o quê? Um pedófilo? – Estreitei os olhos, fingindo estar pensando naquela hipótese. – Uhn, acho que sim...

- É, nada muito distante disso. – Ele disse com um sorriso, mas eu o conhecia bastante para saber que aquilo o incomodava um pouco, a diferença de idade, o fato de ele ser meu professor. Eu sorri, pousando uma mão sobre seu rosto.

- Ei, já está quase acabando. Próximo ano será o último. Aí eu vou fazer dezoito anos, me formar na escola e me tornar um universitário e todos os nossos problemas serão resolvidos. – Sussurrei, deslizando os dedos pela pele do seu rosto delicadamente, vendo um sorriso que alcançava seus olhos surgir em sua face, antes de ele se inclinar sobre mim e juntar nossos lábios num beijo lento e calmo, que com certeza valia mais que mil palavras.

- Eu te amo. – Ele sussurrou contra os meus lábios, encostando a testa na minha, olhando no fundo dos meus olhos. Havia mais que uma declaração de amor naquelas palavras, e os sentimentos que ele estava me passando me deixaram tonto por um segundo.

- E eu te amo tanto que até estou disposto a te deixar me esmagar até a morte. – Eu respondi, arrancando uma gargalhada dele, que facilmente me segurou pela cintura e inverteu nossas posições, deitando-se no sofá e me colocando sobre seu corpo.

- Melhor, bebezão? – Ele perguntou, apertando novamente minhas bochechas, porque ele sabia que eu odiava. Eu tinha bochechas enormes e que me irritavam infinitamente, mas ele insistia em apertá-las, dizendo que era “gordura de bebê” só pra me provocar. – Você é lindo.

- Eu sei, deve haver algum motivo pra você estar comigo, afinal. – Brinquei, apoiando o queixo sobre minhas mãos, repousadas no peito dele. – Veja bem, eu não sou inteligente, como você já deve ter percebido, não sou muito simpático e obviamente não sou rico, então o que você poderia ter visto em mim além da minha beleza incrível? - Brinquei, arrancando mais uma gargalhada dele.

- Ah, então é assim, esses são seus pré-requisitos. Então o que você viu em mim? – Ele perguntou, acariciando meus cabelos, e eu rolei os olhos.

- Okay, okay, você quer elogios de graça. – Eu disse, com falso desinteresse, e ele riu mais uma vez. – A pergunta seria o que eu não vi em você, talvez? Você é bonito, todas as garotas da escola podem confirmar, infelizmente; você é simpático e, mais uma vez, todas as garotas da escola podem confirmar, não é? – Estreitei os olhos, fingindo um ciúme que na verdade sentia. Não suportava ver aquelas garotinhas se jogando para ele, mas não é como se eu pudesse mandar elas saírem de cima do meu namorado. – E você deve ser muito inteligente, né, você é meu professor, afinal. – Eu disse, com um sorriso de lado.

- Ex-professor. – Ele corrigiu, me fazendo rolar os olhos novamente. Eu me aconcheguei melhor no peito dele e deixei que metade do meu corpo se apoiasse no sofá, tirando um pouco do peso de cima dele. Ele envolveu os braços ao meu redor e eu fechei os olhos, me concentrando em seu cheiro inebriante, quando ele começou a acariciar meus cabelos. – Eu andei pensando... – Reita disse, e eu murmurei qualquer coisa em resposta, para dizer que estava ouvindo. – Em um ano você será universitário. Você vai morar nos dormitórios?

- Provavelmente não. Já que já decidi que vou freqüentar uma universidade daqui, meus pais obviamente vão querer que eu fique em casa. E vai ser mais fácil também. – Eu já tinha pensando muito a respeito daquilo, e embora a liberdade que morar num dormitório me permitiria, algumas outras implicações também certamente deveriam ser levadas em conta.

- Então... Eu estava pensando. – Ele retomou, segurando meu rosto e indicando que eu deveria encará-lo, e eu o fiz, observando-o calmamente. – Você podia morar aqui. Comigo. – Eu arregalei os olhos e meu coração bateu mais forte, e eu comecei a achar que tinha ouvido errado. – Não precisa decidir nada agora, você ainda tem um ano. Eu só...

- Decidir? Você está brincando? Seria maravilhoso! – Eu disse, me levantando e me sentando no sofá, perto de suas pernas. – Depois de tanto tempo nos escondendo, nós poderemos passar todo nosso tempo livre juntos, cada minuto! Dormir juntos em vez de eu ter que ir embora antes de o dia nascer. E podemos ficar até tarde na cama nos finais de semana. E...

- Calma, pequeno. – Reita riu e sentou também, bem perto de mim, na minha frente, e segurou meu rosto com as duas mãos, olhando seriamente nos meus olhos. – Mais que tudo isso, eu quero que você entenda que esse é um passo importante para se dar na vida de uma pessoa, Ru. Um relacionamento onde se vive junto com a pessoa é muito mais complexo e delicado que um relacionamento casual, então eu quero que você pense bastante a respeito. Você ainda é tão jovem... Não quero te pressionar a nada, nem quero que você queime etapas. – Reita encostou a testa na minha e me deu um beijinho nos lábios, e eu sorri calmamente para ele.

- Se for te deixar tranqüilo, eu posso te dizer que vou pensar e daqui a três meses te dar a mesma resposta. Porque eu já decidi, Rei, e eu não vou voltar atrás. Tudo que eu mais quero nesse momento é ficar com você. Agora mesmo, hoje, essa noite, poder dormir aqui e ficar aqui sem preocupações, e eu não posso. E poder estar aqui sempre, todas as noites, e poder ter você por perto sempre que eu quiser? Que venham todos os problemas que isso possa acarretar, a resposta é sim! – Eu abracei seu pescoço, acariciando sua nuca. – Eu te amo.

Senti ele assentindo em meu ombro, antes de envolver minha cintura e me apertar com força, nos puxando para deitar de novo no sofá. Não falamos nada depois disso, eu fiquei com cabeça repousada em seu peito, sentindo e ouvindo seu coração bater acelerado, pensando que eu havia causado aquilo. Eu sorri para mim mesmo e fechei os olhos, deixando o tempo passar, por mais que eu desejasse poder pará-lo. Mas o relógio é sempre seu inimigo quando você precisa de ajuda, e logo o dia amanheceria e eu precisava ir.

- Tenho que ir, Rei. – Eu sussurrei, levantando do seu peito, vendo-o praticamente adormecido com a cabeça apoiada no braço do sofá. Ele choramingou alguma coisa e me puxou de volta ao seu peito, me abraçando. Eu ri.

- Fique. – Ele murmurou, sonolento, e eu suspirei contra seu pescoço sentindo o cheiro conhecido de sua loção pós-barba.

- Eu não posso, você sabe. Meus pais não vão gostar nada de acordar e descobrir que não estou em casa. – Respondi, embora não fizesse nenhum movimento para me levantar. Ele me apertou com mais força.

- Está frio lá fora. – Ele disse, simplesmente, e eu ri. – Não saia.

- Eu vou sobreviver.  – Retruquei, levantando-me do seu peito para olhar o seu rosto. Ele me encarava de volta com uma expressão séria.

- Fique. – Ele pediu novamente, e eu ergui as sobrancelhas, não acreditando que ele estava falando realmente sério. – Nós lidamos com as conseqüências depois.

- Rei...

- Durma comigo. Vamos acordar juntos, me deixa fazer seu café da manhã. – Ele pediu e eu olhei atentamente para ele, procurando qualquer sinal de que ele não estivesse falando sério. Não havia. Eu concordei lentamente com a cabeça, voltando a deitar em seu peito.

- Tudo bem.

Eu sabia que as conseqüências seriam duras no dia seguinte, sabia que seria difícil. Mas algo me dizia que eu não ia me arrepender. Afinal, realmente estava frio lá fora.


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Notas finais do capítulo

Amo o Natal, porque tenho desculpa para fazer fluff, rererere. (L)

FELIZ NATAL!
=***



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