Sobre Doces, Bebidas e Adolescência escrita por LyaraCR


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Espero que gostem desse ItaNaru fofinho de natal!



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Mais uma sobre doces, bebidas e adolescência…

Mais uma festa chata, um daqueles encontros de família onde os adultos bebem, jogam cartas e fazem as crianças, juntas, passarem maus bocados. Era o que podia dizer, praguejando em pensamento enquanto tinha que suportar uma gravata borboleta vermelha com bolinhas brancas que combinava com aquele suéter idiotamente vermelho. Estava sentindo-se preso dentro daquela camisa branca de mangas longas que o deixava composto como a criança exemplar que não era. Sentia-se obrigado a andar como uma princesa com aquelas calças apertando suas pernas, maltratando-o, exibindo seus contornos... Como diabos alguém podia vestir um pré-adolescente daquele jeito em pleno século vinte e um? Nossa.. Isso era doloroso demais... E o pior de tudo: Olhava para as faces de cada um dos amigos e primos, e todos pareciam genuinamente enfadados, tanto quanto ele mesmo. Todos com roupas tão incômodas quanto às dele.

Suspirou exasperado e pôs-se a caminhar em direção à cozinha, provavelmente pensando em buscar algum doce pra tentar se distrair. Inútil. Mesmo que comesse todo o chocolate do mundo ainda continuaria chateado e sem nada pra fazer.

Adentrou o recinto e foi direto ao armário alto onde sua mãe costumava deixar os doces... Teria que subir ali de algum jeito, mas duvidou que com aquela calça apertada conseguisse. Mesmo assim, espichou-se, espichou-se e quando estava quase conseguindo, ouviu passos. Seu coração disparou e, por ter se debruçado na bancada da pia, quase veio ao chão.

Antes de olhar para trás, para a porta da cozinha, sabia de quem se tratava pelo perfume adocicado... Soube ainda mais quando braços fortes o acolheram.

— Cuidado.. Pode ser perigoso fazer certas atividades com esse tipo de roupa...

Risinhos.. Aqueles que tanto odiava e tanto adorava ao mesmo tempo.

— Itachi... Obrigado, mas eu não preciso de sua ajuda.

— Tem certeza?

O mais velho o abraçou a cintura e levantou-o, deixando que alcançasse os doces. Naruto nada disse, apenas pegou o que tinha que pegar e deixou-se escorregar até que seus sapatos de grife em vermelho-noite fria tocassem o chão.

Olhou para o mais velho por cima do ombro e murmurou um obrigado mal-humorado. Não estava com saco pra ser taxado de criança por alguém que considerava tanto. Pôde vê-lo escorar-se de costas na mesa e suspirar como se estivesse mortalmente desanimado.

— O que foi?

Sua curiosidade foi grande demais para permanecer apenas em sua boca.

— Nada.. é que.. Sabe, ver todos os adultos ali se divertindo e todos nós pagando de palhaços é meio que.. ruim, sabe? Tem alguma coisa pra gente fazer?

— Vocês podem brincar de esconde-esconde e dar uns amassos.. Quem sabe a raiva não passa?

Ácido como só ficava nessas situações. Oh droga... Naruto sem sorrir e com esse comportamento era um pré-adolescente assustador... Itachi podia jurar que tendências masoquistas e violentas estavam dominando a mente do menor.

— Não queremos... — pensou um pouco em silêncio — Aquele som do porão ainda existe?

— Sim.. Tanto o som, quanto a cama e as bebidas. Só a bagunça não existe mais.

— Está me destratando?

— Sim, estou.

Naruto respondeu. Quando seu corpo começou a mover-se em direção à porta, sentiu-se ter o pulso segurado.

— Que é agora?

— Hey, qual é.. Não fica assim... Porque a gente não junta todo mundo e vai pra baixo ouvir música, beber e jogar alguma coisa?

Naruto apenas o olhou de canto de olho e suspirou, antes de abraçá-lo a cintura e deitar a face contra seu peito.

— Eu estou tão cansado disso tudo... Eu queria tirar metade dessa roupa e me divertir ao menos um pouco...

— Eu entendo.. Olha, porque não faz o seguinte: Junta quantos doces puder numa sacola enquanto eu chamo o pessoal pra gente descer e ouvir umas músicas que eu trouxe?

Naruto o olhou. Aquela cara de desacreditado... Tá, talvez não seria lá essas coisas, mas ao menos não estaria preso ali sem nada pra fazer.

— Hai...

Sussurrou, afastando-se de Itachi. Quando o mais velho saiu da cozinha, ficou absorto em seus pensamentos mais uma vez... Naruto parecia tão frágil, tão... carente de atenção...

— Não se preocupe, eu estou do seu lado...

Sussurrou para si mesmo, como uma forma de apoiar Naruto no que quer que fosse, mesmo que em pensamento.

Na cozinha, o mais novo juntava as coisas também perdido em outro mundo.. Era estranho... Ter Itachi tão perto o fazia sentir-se bem.. Desde sempre... Coração disparar, tentar parecer mais adulto... Tudo isso para que ele o notasse de um modo diferente. Sabia que era apenas um pré-adolescente, mas mesmo com doze anos já sabia o que sentia, o que desejava. E era tão ruim... Queria poder ter a própria inocência de volta só pra não sofrer por algo que talvez jamais fosse acontecer. Era bom estar perto dele, mesmo que como primo, amigo, e não queria perder o que tinha, por isso deixava as coisas quietas... Lhe bastava o amor fraternal do outro.

Terminou de juntar os doces, todos numa sacola como ele havia dito e assentou-se sobre a mesa enquanto degustava um pirulito de framboesa. Era tão bom e ao mesmo tempo tão ruim pensar no que poderia acontecer se ele sentisse o mesmo... Queria chorar. Sabe, pensar em tantas coisas boas assim, fazia ver que a realidade não era um mar de rosas, e sim, um doloroso e revolto mar de espinhos. Só de se martirizar por causa das coisas que sentia...

Na sala, Itachi falava com os outros, aos poucos, discretamente. Se os adultos percebessem a movimentação, decerto impediriam a felicidade dos “pequenos”. E mais do que qualquer um ali, até mais que si mesmo, Itachi queria que Naruto fosse feliz.

Saiu de cena e tomou o caminho da cozinha, escorando-se em uma parede no meio deste, apenas para pensar nas coisas loucas que vinha sofrendo de uns tempos para cá... Andava pensando... Naruto.. Só um garoto... Mas esse era o problema... Era um garoto e provavelmente acabaria com a amizade do mesmo se tomasse a liberdade de falar sobre seus pensamentos, sentimentos com ele...

Respirou fundo e entrou na cozinha... Precisava ao menos de uma indireta que fosse... Naruto precisava saber, ou ao menos achar que escutara algo...

O encontrou displicente, perdido sobre a mesa, uma sacola de doces imensa ao seu lado. Os olhos azuis pareciam ter perdido ao menos metade do brilho, e ele parecia realmente chateado... Por que o fim de ano deixava todos assim? Porque ninguém — não nessa faixa etária — conseguia ficar feliz como as luzes coloridas que insistiam em piscar frente suas vistas? Nunca soube se responder.

— Está tudo pronto?

Perguntou, alcançando uma das mãos dele. Os olhos azuis, lentamente, moveram-se em sua direção, apenas afirmando através de monossílabos enquanto o corpo esguio escorregava da mesa.

— As bebidas estão lá em baixo.

— E todos provavelmente já estão lá... Acho que devemos descer...

— Certo...

Os passos de ambos os guiaram até a porta do porão, a qual fizeram questão de trancar para que os adultos não tivessem livre acesso a área deles.

A escada continuava coberta em carpete marrom, assim como as paredes de madeira escura continuavam brilhantes, e todo o mobiliário ainda permanecia no mesmo local. Haviam vozes, um único abajur aceso e o barulho de um ofurô antigo que ficava instalado num dos cantos escuros, assim como a imensa cama de casal, melhor dizendo, casais, que ficava ao lado da escada, ocupando ao menos quatro metros de largura e três de comprimento. Ainda se lembrava quando seus pais mandaram planejá-la... Seria necessária para abrigar algumas pessoas em caso de tornados ou qualquer coisa do tipo. Dentro de um dos armários alí, havia todo o aparato que precisariam para se cobrir em caso de queda de temperatura, aquecedores, água encanada na pequena cozinha e até um banheiro. Praticamente uma casa. Podia morar alí se quisesse, ou se brigasse com seus pais.

Já haviam pessoas em seus lugares, gente fuçando as coisas e tudo mais. Alguns adolescentes amigos de Itachi já estavam preparando drinques e outros tentando convencer as garotas a entrar no ofurô enquanto outros se entretiam tentando encontrar uma rádio boa o bastante no som que sempre fora dalí. Naruto arrancou seu casaco, sua gravata e seus sapatos. Itachi fez o mesmo. Agora estavam de meias, roupa social bagunçada e preparados para passar a noite de um modo mais agradável do que antes.

Com o tempo, surgiram drinks estranhamente deliciosos preparados pelos garotos, um grupinho jogando verdade ou consequência e um ou dois casais no ofurô, provavelmente desprovidos de roupas. Naruto não estava participando de nada. Nem Itachi. Estavam deitados na grande cama, observando o jogo, atentos, dando opiniões e desmentindo verdades dos outros. Naruto estava tonto, e achava isso muito, muito engraçado. Até que enfim algo bom — além de certos pensamentos — em sua noite.

Estava um pouco frio. Estavam cobertos. Itachi sentia seu coração disparado. A penumbra do ambiente o deixava propício aos pensamentos que gritavam em sua mente, incitando comportamentos, deixando-o cada vez mais nervoso, pilhado, cada vez bebendo mais. As músicas, tudo parecia conspirar contra sua sanidade. Naruto estava alí, agora deitado com as costas contra o colchão, a camisa desabotoada e os olhos semicerrados.

— Está tudo bem?

Perguntou o de cabelos negros, sussurrando, muito próximo ao ouvido do outro.

— Sasuke nunca dormiu com a Sakura...

— Eu sei. Ele só tem doze anos...

— Então porque o deixou mentir?

— Só pra ver a cara dela..

Sussurros e risinhos maliciosos. Não queriam ser ouvidos, não queriam que ninguém percebesse que estavam alí... Tudo estava bem, estavam leves e haviam arrumado o que fazer. Estava interessante agora perder toda a “festa” alí. O mais velho deixou-se alcançar um dos doces que havia colocado sobre a cama. Ah, pirulito... Tão doce... Poderiam entrar, todos ali, em coma diabético com a quantidade de doces trazidos pelo loiro.

Em sua boca agora, o gosto forte do álcool era substituído pelo tão delicioso da framboesa.. Malditos doces... estava viciado neles. Pegou Naruto olhando-o de relance. Tirou o pirulito da boca e levou-o até os lábios do outro... Teve aqueles olhos azuis indagadores sobre si... olhos que logo se fecharam quando o doce foi parar ao alcance da língua rosada... Deus, aquela visão em meio a toda a escuridão havia feito Itachi se contorcer mentalmente... Por que Naruto insistia em provar todo e qualquer doce, de início, com a ponta da língua? Nunca conseguira entender o motivo, mas nunca desejara que parasse. Era uma visão que sabia ser privilegiado por passar ante seus olhos... Toda a inocência e ele displicentemente provocando sem nem mesmo saber o que causava... Deus, Itachi morreria para provar aqueles lábios, aquela língua agora...

— Muito bom... — Naruto sussurrou ao afastar a mão de Itachi e consequentemente o doce — será como você sente o gosto dele?

— Doce.. E com gosto de framboesa.

— Não... Você não entende... Quero dizer, como é que você sente o gosto dele na sua boca...

— Doce, e com gosto de framboesa...

— Mas não é a mesma coisa...

— Quer provar?

Itachi aproveitou-se. Um sorriso de canto se formou em seus lábios com as idéias que começaram a assombrar não só sua mente, mas também seus sentidos.

Os olhos azuis encontraram-se com os negros. Um sorriso de canto a canto, inundado de malícia, maculou a face do mais novo.

— Você está bêbado, mas acho que sim... Preciso saber como é o gosto.

— Você também está bêbado...

Itachi disse baixinho, enquanto se aproximava, e então, Naruto colocou o pirulito frente aos lábios, os lábios de Itachi contra o doce e então, pouco tempo, e não havia mais nada os separando, o pirulito estava na mão de Naruto, e as bocas coladas, livres, saboreando uma a outra... Era mágico, e de repente, o edredom os cobriu por completo. Estavam escondidos, e aquilo estava tão delicioso, que Naruto não pode deixar de gemer baixinho contra os lábios do outro...

Itachi ardeu, ah, como ardeu... Sentiu o corpo todo arrepiar enquanto o nervosismo que havia tomado conta de seu ser segundos antes esvanecia assim como aumentava a intensidade dos beijos... Porque sim, as bocas já haviam se separado, Itachi mostrando como gostava de provocar, mordiscando o pescoço do mais novo, fazendo-o segurar-se para não gemer, para não chamar a atenção dos outros...

— Conseguiu provar o gosto que queria?

Corados, deixaram-se revelar pelo edredom, sussurrando como se nada tivesse acontecido. O pirulito voltou aos lábios de Itachi, quem olhou de esguelha para Naruto. Sabiam, logo todos estariam bêbados demais pra perceber o que quer que fosse, e logo mais, poderiam firmar a noite mais chata do ano, como a mais divertida... Sentiam isso, assim como sentiam os toques por baixo do pouco que lhes encobria, assim como sentiam a certeza de que as coisas esquentariam mais tarde corroer seus seres por dentro... Assim como a ansiedade.

— Feliz natal, Naru-chan...

— Feliz natal...

Enquanto os outros se preocupavam em beber e ofuscar seus sensos com piadas infames e revelações ainda mais, nem mesmo percebiam o tempo passar, nem mesmo percebiam o quanto estavam bebendo, o que estavam perdendo...

No rádio, toda e qualquer música parecia cair como uma luva naquela situação... Itachi e Naruto bem sabiam disso...

Fim!


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