Una Voce escrita por beetinalr


Capítulo 1
Capítulo Um - Acasos




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Sorriu, sentindo o vento frio bater em seu rosto, agitando ininterruptamente seu cabelo, mais um sinal da velocidade alucinante com que corria; A floresta logo ficando para trás enquanto seus pés descalços percorriam o chão coberto de raízes e folhas secas sem emitir som algum.

Ainda faltavam alguns quilômetros, mas já reconhecia o cheiro característico dos arredores da casa onde residia há pouco mais de seis meses.

Havia partido para uma viagem de caça, dois dias antes, e agora retornava; sua alegria crescendo a cada minuto que se aproximava de seus entes-queridos. O sorriso no rosto pálido da mulher se tornou mais estonteante em reação a ponderação que tivera, e fazendo-a passar a correr com maior rapidez, agradecendo por ser a segunda mais veloz de toda a família.

Estava louca de saudades de seus filhos e, principalmente, de seu marido. Não gostava muito de viajar sozinha, mas daquela vez fora necessário. Todos os outros tinham seus próprios afazeres, e como já haviam se alimentado o bastante, ela tivera que dar “asas” a seus instintos mais perigosos.

Tirou uma mecha escura do rosto, anotando mentalmente que não deveria deixar as preocupações com a reforma dos quartos superar a do controle de sua sede outra vez.

Agora faltava pouco para jogar-se nos braços de sua família, e iria saltar em uma das várias árvores, querendo encurtar ainda mais seu caminho, quando um som estridente e horrendo a atingiu como se, seja lá sua causa, tivesse ocorrido a míseros passos de sua localização.

Alarmada, cessou sua corrida a tempo de ver uma bola de fogo subir aos céus, encadeando a imensidão coberta de nuvens espessas, e tornar a cair velozmente, provocando outro estrondo, este bem mais acentuado que o primeiro.

Sufocou um grito de horror levando ambas as mãos a boca, e sem conter a curiosidade, partiu em direção a explosão, tomando cuidado para não ser vista, pois começara a deixar a cobertura das árvores.

Não pode deixar de arregalar os olhos dourados, tão reluzentes quanto ouro líquido, e exclamar um longo “Oh” abismado ao ver o que havia se passado. Confirmando suas suspeitas, fora de fato um acidente, uma batida, sendo mais precisa. E um aglomerado de curiosos se formava perto de onde um carro de porte médio se encontrava com a parte dianteira totalmente enterrada no que outrora fora o motor de um caminhão, ambos estavam em chamas.

Pessoas gritavam pedindo ajuda ou ordenando a outras que descem espaço, o calor estava aumentando e o risco de mais explosões era grande. De certo a vida daqueles dentro do automóvel menor já findara, por isso os primeiros esforços feitos estavam no homem ainda com vida, preso nas ferragens do caminhão.

Por sentir pena deles, Esme ignorou o cheiro forte de sangue que impregnava o ar, ficando a observar a movimentação um pouco mais, antes de decidir seguir seu próprio caminho. Ela não tinha nada a fazer ali.

Foi então que um ruído diferenciado dos sons predominantes fez seu coração congelado há quase sessenta anos apertar: era um choro de criança. Alto o suficiente para sua audição apurada, mas inaudível a dos humanos.

E vinha de dentro do carro.

A vampira congelou no lugar, ouvindo o som crescer dentro dela, atingindo-a como um doloroso soco no ventre, lhe trazendo recordações desfocadas – alegres e tristes – de sua vida como humana...

Ela quase podia sentir, de novo, a sensação sublime de ter nos braços um bebê. Seu bebê.

Sem pensar duas vezes, disparou até o veículo praticamente destruído. Sabia que ninguém dali podia vê-la, era rápida demais para seus olhos fracos e havia fumaça o suficiente para ocultá-la mesmo sem a total necessidade. Estando ali, seguia seu instinto mais puro, atendendo aquele chamado de socorro; Fato que a fez arrebentar a porta de traseira do carro e adentrá-lo, tentando achar sua criança.

O odor doce de sangue era quase insuportavelmente mais forte lá dentro, mas ela já havia se fartado de vários animais há algumas horas, de modo que ficara até um tanto desconfortável; devido a isso, sua garganta não queimava tanto, mesmo sendo sangue humano.

Todavia, ainda havia a fumaça densa, a qual a forçou a prender a respiração enquanto vasculhava o banco de trás. O motorista estava morto, assim como a mulher no bando do passageiro. Não se deu ao trabalho de encarar seus rostos, tanto por que eles deveriam estar irreconhecíveis -, seus corações não batiam mais, ao contrário daquele que buscava como se sua existência dependesse disso.

E, de fato, dependia.

Foi então que, depois de afastar uma mala queimada, viu o que tanto buscava.

Embrulhada num monte de panos rosados chamuscados, uma criança de, provavelmente, poucos dias, chorava a plenos pulmões; sacudindo suas mãozinhas fechadas em punhos no ar, assim como suas miúdas pernas, tentando livrar-se do que a prendia. Uma grossa camada de sangue cobria a lateral de sua cabeça recoberta por bonitos cachinhos castanhos, e isso, mais que qualquer outra coisa, fez Esme entrar em pânico e se apressar para fugir com o bebê dali.

Do mesmo jeito que saíra, retornara as árvores, não parando dessa vez. Agora tudo o que queria era chegar a sua casa. A criança segura em seus braços ainda chorava, por isso, numa voz rouca de emoção, começou a cantar, sussurrando, na tentativa de acalmá-la. De dizer que tudo ficaria bem, que ela estava salva consigo. Para sempre.

Não conseguia tirar os olhos do rostinho gorducho da pequena humana, ela era tão linda, tão meiga, tão frágil. E era dela.

Já a poucos metros de casa, jurou que nada, nem ninguém, a separaria de sua menina. 

Com um último pulo, adentrou a cozinha intocada que mesmo decorara com afinco, chamando, pondo-se a chamar aquele que precisava desesperadamente ver.

- Carlisle! 


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Notas finais do capítulo

N/A: Depois de muito tempo, começo a postar a fic aqui. Espero que gostem! E obrigada a Thay por ficar responsável pelas postagens.

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