Always a Chance - não é tarde Demais escrita por Lara Boger


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Não consegui ajeitar o texto de forma confortável dessa vez. Desculpem ^^



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   Kimberly acordou sem a mínima vontade naquela manhã. Abriu os olhos e ficou olhando para o teto enquanto o despertador tocava, na esperança de aquilo ser apenas uma crise de insônia e de um despertador com as pilhas fracas

   Quando se convenceu de que não era um sonho acabou levantando. Foi até a janela e olhou a paisagem. O tempo estava péssimo, o céu cheio de nuvens escuras. Um dia não prometia nada. Mais um.

    “Ah... mas que beleza de dia...”  pensou irônica e desanimada. Fez como fazia em toda manhã: enfiou-se debaixo de uma ducha fria para acordar.

   Olhou-se no espelho. Viu no seu reflexo uma completa desconhecida. Nunca havia estranhado as mudanças que sofrera até o seu encontro com Trini. “Céus! Essa não pode ser eu!”.

   Lembrou-se de tempos anteriores, quando morava em Alameda dos Anjos... mais precisamente antes da partida de Trini, Jason e Zack.  Quando era feliz e não sabia. Trini a conhecia melhor que qualquer pessoa sem ser seus pais, mas talvez mais que Tommy. Só pôde perceber sua próprias mudanças quando reparou nas dela. Trini tinha evoluído tanto... enquanto ela mesma...

   “Já está quase na hora. Não posso me atrasar”.

    Começou a se arrumar. Manteve os olhos fixos no espelho apenas o estritamente necessário. Não poderia ter certos pensamentos naquela hora.

   Primeiro iria a aula, depois voltariam para o treinamento. Ainda seria assim por mais uma semana, e depois o verão. Mas agora o verão não significava folga. Pelo contrário: sua rotina ficaria ainda pior.

   Ao contrário dos velhos tempos em Alameda dos Anjos, estava saindo totalmente básica, sem qualquer vestígio de maquiagem ou vaidade. Nem mesmo um batom.

Ouviu baterem na porta.

- Kimberly! Cinco minutos!

- Já estou indo, Baby!

   Prendeu rápido os cabelos, num rabo de cavalo desajeitado e pegou suas coisas: sua bolsa, o fichário e dois livros que estavam sobre a mesa. Saiu do quarto e passou apressada pelo corredor.

- Menina! Vai se atrasar!

- Não vou, não - passou correndo pela senhora - Pronto, pronto... tchauzinho...

- Olha por onde anda! Cuidado!

    Kimberly correu para uma van que tinha outras meninas. Entrou e logo depois o veículo partiu.

 - Ah, essa garota... - Baby saiu de trás da mesa que ocupava a maior parte do dia e colocou as mãos na cintura - Pobrezinha... 

    Já estava voltando para seu posto quando viu um envelope no chão.

 - Ora, ora... mas o que é isso?

    Abaixou-se e pegou o envelope. Conferiu o remetente: Kimberly Anne Hart.

 - Não estou dizendo? Só não esquece a cabeça porque está pregada no pescoço.

    Viu que estava fechada e com selos, pronta pra ser colocada no correio.

 - Se não acordasse atrasada podia ter me pedido pra enviar antes de sair.

    Colocou o envelope junto com outros que seriam colocados no correio naquele dia dali há algumas horas.

   Na sala de aula Kimberly se portou como sempre: quieta, praticamente muda, prestando atenção na aula. Sentava-se nas carteiras do meio e agia como uma cdf, embora não perguntasse nada aos professores. Não perguntava, nem atrapalhava, e em troca eles a deixavam sossegada. Algo comum para as atletas que estudavam ali. Elas também não se envolviam com os estudantes comuns, criando um grupinho fechado onde havia um mundo praticamente impenetrável.

   As horas passaram ainda mais lentas que o de costume. Sua cabeça estava em outro lugar: mais precisamente em Alameda dos Anjos, quase dois anos. Se antes sentia saudades, agora o sentimento pareceu muito maior. Começou a desenhar nas folhas enquanto um homem de meia idade, careca e com voz entediante tentava falar aos alunos sobre a vida na idade média. Aulas de história normalmente lhe despertavam algum interesse, mas naquele momento era esperar demais.

   Abriu seu livro na página 105, como o professor havia mandado. O livro em que deveria estar a carta escrita há um dia atrás para Tommy.

- O quê? Onde...?!

- Senhorita Hart... por acaso esse grito foi para manifestar alguma dúvida quanto a minha matéria?

Viu todos os olhares voltados para si. Pudera, afinal mal ouviam sua voz.

- Desculpe, Sr. Peann.

   A saia-justa não parou por aí. Por ter interrompido bruscamente a aula teve de responder a uma série de perguntas relativas a aula. O professor Walter Peann era um homem muito sistemático e que não admitia quebrar certas regras. Sua sorte era seu desinteresse não ter se manifestado em outros dias.

   Após o pequeno contratempo passou todo o caminho de volta pensando onde fora parar aquele envelope.

   Ao chegar ao ginásio correu até a mesa de Baby.

- Baby... por favor... - estava ofegante.

- Nossa, menina... o que houve? Só vive correndo agora...

- Por acaso viu um envelope branco por aí? Estava dentro de um livro meu... e acho que devo ter deixado cair em algum lugar...

- Envelope...? Ah, sim! Tinha um envelope aí em cima da minha mesa... coloquei junto com a correspondência.

    “ Junto com a correspondência?” foi o suficiente para deixar Kimberly assustada.

- E a correspondência...?

- Foi enviada há umas duas horas atrás - respondeu olhando seu relógio de pulso. - Mas por que a pergunta?

- Por nada, Baby... - mentiu - Eu achei que tivesse deixado cair no meio da rua.

- Agora vá se arrumar, ou então o Sr. Schimdt já vai começar a dar os gritos.

- Certo.

   Sentiu-se mal subitamente. A carta que continha tantas revelações tinha sido enviada! Parou no caminho alguns instantes. Precisava raciocinar: o que aconteceria quando Tommy recebesse? Havia escrito a carta, mas não tinha intenção de enviá-la naquele momento... ou pelo menos nem tão cedo. O pensamento de que a verdade iria aparecer numa questão de apenas dias pareceu sufocar-lhe. Não estava preparada para lidar com as conseqüências que iriam se seguir.  

“Droga! Por que eu fui escrever aquilo?! Como pude ser tão idiota?!”

-  Kimberly? Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?

   Imaginou que sua fisionomia estivesse muito alterada. Leslie Reynolds, sua companheira de treino e agora de quarto,  não era das pessoas mais atentas.

 - Ah, nada... acho que estou cansada.

- Cansada? Mas o dia ainda nem começou.

- Pra mim já. Tive que agüentar o Sr. Peann me amolando o dia todo.

- Uffffff... aquele homem é um mala mesmo. – revirou os olhos azuis, fazendo uma careta - Ainda bem que me livrei dele. Consegue acabar com o dia de qualquer um.

   Nem passou pela cabeça contar a Leslie o que estava acontecendo, embora precisasse desabafar com alguém. Teria que responder a muitas perguntas, explicar toda a história... e realmente não estava a fim de fazer isso.

- Agora, vamos pro refeitório, ou então já sabe como vai ser...

   Kimberly não almoçou direito. Mal mexeu a comida. Já não era a coisa mais agradável do mundo. Comeu o estritamente necessário para se manter de pé.

   Em seguida, prepararam-se para mais uma etapa do longo dia. Na verdade, a principal. Vestiram-se, prenderam o cabelo, algumas fizeram mais. Um dos momentos em que Kimberly tentava fugir, mas parecia impossível: por mais que fizesse de vez em quando achava algo nojento. Ter que ouvir isso ainda por cima depois do almoço...

   Olhou discretamente para as meninas que estavam junto no vestiário. Queria muito contar para alguém qual era o seu problema, afinal Baby e Leslie não foram as únicas que perguntaram. Mas nenhuma delas pareciam estar realmente interessadas em assuntos desse tipo e de qualquer forma poucas poderiam ajudar. Deveriam estar como Leslie: totalmente focadas para os treinos e as competições. Do mesmo jeito que deveria estar se não fosse a incrível idiotice que fizera...

- Vamos, garotas! Está na hora!

   Saíram do vestiário. Kimberly tentou parecer bem disposta mas não era tão fácil. E como atleta não era fácil dissimular.

   Primeiro um alongamento e um aquecimento longos e rigorosos. Vários exercícios antes de começarem realmente a treinar: correram, pularam e se esticaram, com fundamentos até mesmo de balé. Quando finalmente Schimdt se deu por satisfeito deu ordens para seus auxiliares e as ginastas.

- Kimberly e Leslie, para as barras – mandou em alto e bom tom – Quero oito rotinas completas. Não contem as que perderem.

   Foram até as barras e se prepararam para iniciar os exercícios.

- Pronta? - perguntou Leslie, com uma expressão que era toda de concentração.

- Pronta.

   Iniciaram. As duas fizeram as entradas no aparelho praticamente ao mesmo tempo, mas seus resultados estavam sendo bem diversos: Leslie executava sua série com precisão e errando pouco, girando e voando no aparelho como se tivesse nascido para isso, como se fosse uma brincadeira de criança. Já Kimberly, sem concentração cometeu erros nos movimentos mais simples e caiu várias vezes .

- Droga! – Kimberly bateu no alcochoado, irritada.  Tinha caído mais uma vez.

- Nossa... tá difícil, hein?

- Acho que hoje não é o meu dia. - levantou, tirou os protetores dos pulsos e pegou sua garrafa dágua.

- Calma, respira fundo e tenta de novo. – Leslie disse, tentando acalmá-la. Já estava acostumada com essas crises de raiva.

- Ei?! Por que estão paradas aí?! Algum problema?! - a voz forte de Schimdt interrompeu-as.

- Não senhor.

- Já terminaram?

- Eu ainda não acabei.

- Quantas faltam?

   Kimberly sentiu constrangimento em responder.

- Quatro.

 - Quatro? E o que está fazendo aí parada?

- Estava só tomando água.

- E você, Leslie?

- Já acabei.

- Então vá para o cavalo e treine com Mary.

- Quantas?

- Ela lhe dará as instruções.

    Leslie afastou-se deles. Schimidt olhava fixamente para os olhos da jovem aluna. Kimberly sabia que iria ouvir uma bronca. Outra coisa da qual não poderia fugir.

- Olhe essas meninas. Olhe para Leslie. Sabe porque elas atingiram esse nível? Elas não desistem. Se caem tentam novamente uma, duas, dez, cem vezes até conseguirem. – fez uma pausa, ameaçadora - É assim que pretende vencer? Desistindo? É assim que quer ser uma atleta de elite?

   Kimberly respirou fundo e tomou um último gole de água, recolocou os protetores para voltar as barras.

   Schimidt ficou para acompanhar o desempenho. Algo que fez seu dia piorar consideravelmente. Acabou demorando mais tempo do que deveria e gostaria

   Seu humor estava piorando e sua paciência indo para o mesmo lado. Kimberly não gostava das barras. Odiava treinar nelas. Sempre que estava treinando lá havia alguém para olhá-la torto e insinuar a respeito de seu peso. Não faltava quem fizesse isso. Foi desse jeito que ouvira pela primeira vez depois da pesagem que estava gorda.

   Treinou em todos os aparelhos, mas logo foi novamente levada até elas, onde chegou a exaustão.

   Quando finalmente o treino terminou, não sentiu a menor vontade de comer. Cairia na cama ou onde estava mesmo. Sentia muito cansaço. Depois do banho o tempo pareceu correr diferente para ela.

- Ai... pensei que esse corredor não tivesse mais fim...

- Puxa! Está realmente cansada.

- É... - respondeu, quase dormindo.

- Espero que acorde melhor amanhã. Se continuar nesse ritmo vai ser difícil competir.

- Não se preocupe, Leslie... vou melhorar... depois desse sono vou acordar nova em folha... - a voz foi enfraquecendo.

- Tomara.

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   Manhã seguinte.

   Kimberly acordou com a movimentação de Leslie pelo quarto.

- Hã? Que horas são?

- Hora de acordar.        

   Leslie já estava se preparando para o treino. Kimberly estranhou.

- Por que está se vestindo assim? Temos que ir para a aula!

- Que aula? Pelo jeito não prestou atenção no que o treinador disse ontem.

- E o que ele disse?

- Não vamos mais para o colégio. Não precisamos mais assistir aula.

- Como vai ser?

- Como vai ser? Em que mundo você vive? Vamos ficar no ginásio o dia praticamente todo!

- Ah, não...

- Agora vamos entrar no ritmo das competições. Se antes saíamos pouco, agora vai ser quase nunca.

Kimberly saltou da cama e começou a se arrumar. Não queria repetir as façanhas do time anterior.

- Mas por que não me avisou?

- Pensei que tivesse ouvido o treinador. Ainda repeti quando chegamos aqui, mas você já estava dormindo.

Desceram, tomaram o café e foram para o tablado. Fizeram todo o procedimento normal até receberem as primeiras instruções.

- Leslie, vá para o solo. Kimberly, vamos a trave.

   Decidiu colocar todo o seu foco naqueles aparelhos. Percebeu que   aquele dia tinha tudo para ser igual ou pior que o anterior. Schimdt ficaria perto o tempo todo.

   Ao contrário da maioria, preferia a trave. Pelo menos quando estava em Alameda dos Anjos, onde tudo era mais fácil, quando não sofria tantas pressões. Lá sentia-se pouco a vontade nos aparelhos. Antes estava em sua casa. Lá estava longe de tudo e todos. Estava treinando ali há mais de dois anos e ainda não considerava aquele seu lugar.

- Certo, vamos treinar as saídas.

Subiu no aparelho e foi para a ponta. Preparou-se para executar a primeira saída.

- Já!

Ficou parada, não conseguiu obedecer a ordem.

- Já! - repetiu.

Continuou, sem reação.

- Já! Já! Já! - falava alto e batia as palmas.

   Kimberly executou a saída, aterrissou e fez a posição final. Em seguida olhou para Schimdt buscando algum sinal de aprovação.

   Ele limitou-se a se aproximar do aparelho e lançar um olhar reprovador.

- Acha que isso foi bom?

   O tom foi ameaçador. Não que provocasse medo  ou ele fosse um monstro. Simplesmente provocou-lhe receio. Ficou muda.

- Se quiser ser parte da elite vai ter que mudar muito. Vai ter que aprender muito. Pensei que esse tempo aqui tivesse servido pra alguma coisa.

   Não teve coragem de responder. Abaixou a cabeça.

- Se quer chegar ao topo tem que ser ousada, pensar rápido, estar sempre atenta, concentrada no que vai fazer. Mas não é isso o que estou vendo.

   Respirou fundo, supondo que não iria terminar por ali.

- Se estivesse numa competição teria perdido pontos vitais por ter extrapolado o tempo da rotina, e mais pontos ainda porque essa saída não chegou nem perto do ideal.

- Desculpe. - disse, sentida – Estou cansada.

- Sente-se um pouco. Depois volte a treinar.

Ao fim do dia, Kimberly nunca tinha se sentido tão cansada.

- Kim, você não está bem. Por que não me diz o que está acontecendo?

- Não há nada, Leslie.

- Tudo bem. Quando dizer falar, sabe que pode contar comigo.

   Não conseguiu dormir naquela noite. Estava muito cansada para relaxar. Tensa também. A cada vez que tentava relaxar vinham-lhe um monte de lembranças e pensamentos.

   Tommy e Kat eram frequentes. Eles estavam namorando, tinham um relacionamento sério. Ainda gostava de Tommy, mas não tinha sequer o direito de acusá-lo de traição.  Afinal, quem havia terminado o namoro? Pior é que também não conseguia sentir raiva de Kat. Ela tinha sido vítima das circunstâncias. Kat não tinha pêga por Rita por vontade própria, nem pedido para ser uma ranger, muito menos roubara seu namorado. Tinha terminado com ele com uma explicação pífia. Era natural que Tommy saísse com outras garotas depois disso... mais natural ainda que fosse com Kat. E ela era tão legal... ajudando a tanto quanto teve de superar o medo e voltar a competir depois do acidente da queda na trave. Ajudou superando seus próprios medos e fantasmas. De certa forma, devia-lhe por estar treinando com Gunthar Schimdt.

“O que foi que eu fiz? O que vai acontecer quando essa carta chegar?”

   Não conseguiu controlar as lágrimas. Chorou em silêncio. Precisava falar com alguém. Precisava de um conselho. Onde estaria Trini a essa hora? Provavelmente aproveitando suas férias em Alameda dos Anjos junto com seus pais e com a velha-nova turma. Afinal, os rangers agora eram outros, e ela não conhecia os outros com exceção de Adam e Rocky. Trini precisava descansar e devia se divertir. Não era certo incomodar.

   “Assuma as escolhas que faz”. Foi um dos pensamentos típicos de Trini que lhe vieram a cabeça. “Mas a verdade continua sendo o melhor caminho”.

    A verdade... vai prejudicar muita gente... ela não está no meu lugar... ela não entende...”

   De repente as luzes se acenderam.

- Kimberly, desse jeito fica difícil. Por que não me diz o que está acontecendo? Vai te fazer bem.

- Não está acontecendo nada.

- Me engana que eu gosto... - pausa – Desde que fomos chamadas de novo está desse jeito – sentou-se na cama – Isso está prejudicando seu  desempenho nos treinos. E isso pode acabar com suas chances.

   Não resistiu: contou o que acontecera com Tommy, omitindo apenas o fato de serem rangers. Isso nunca poderia ser revelado. Não era esse tipo de mídia que queria.

- Não é tão diferente do que eu passei.

- Você já teve um namorado?

- Kim... o que acha que eu sou? Eu já tive uma vida normal... ou quem sabe uma coisa parecida com isso. Já namorei. Eu terminei um namoro pra estar aqui.

- Terminou?

- Na verdade, nós terminamos. Não houve brigas e nem traumas desse gênero.

- E como foi?

 - Eu já tinha uma certa fama na minha cidade... no estado... até o dia em que Schimdt me chamou, e disse que queria realmente investir no meu treinamento. Quando me chamou e eu vim pra cá ficamos juntos por um tempo.

- E?

- Um dia eu voltei pra casa pra fazer uma visita pra minha família e conversamos: chegamos a conclusão de que eu não teria tempo suficiente para treinar e dar atenção a Rick... eu precisei abrir mão de alguma coisa. Preferi que fosse o namoro.

- E ele?

- Ficou sentido, mas entendeu. Ele sabia que era o meu sonho e não se opôs. Disse que gostava muito de mim para me pôr contra a parede e me fazer escolher. Não houve brigas, e nem gritos...

- E o que eu faço, Leslie? - perguntou, como se fosse uma súplica.

- A sua amiga tem razão. Seria muito melhor se tivesse dito a verdade desde o início. Mas agora que a coisa está para estourar, simplesmente assuma suas escolhas.

- Hâ?

- Fez desse jeito. Não vai poder fazer mais nada pra mudar. O jeito é admitir as escolhas que fez. Terminou com seu namorado? Com uma mentira? Assume!

- E se ele voltar?

- Vai ter que decidir sua vida. Vai ter que sentar e conversar. Não pode é ficar fugindo para sempre. Se o que quer é chegar ao topo precisa se dedicar. Não pode ficar se lamentando. Precisa se concentrar.

- Eu não sou boa  o suficiente para chegar a tanto.

- Kimberly! Acorda! Você tem talento! Se fosse o contrário não estaria aqui! O treinador só pega no pé de quem realmente acredita que possa chegar a algum lugar!

- Você não passou pela fossa?

- Passei, mas superei. - fez uma pausa muito séria, mas num tom calmo – No início é assim: a gente acha que não vai aguentar... mas acabei superando.

- Como?

- Me dediquei aos treinos, afinal foi por isso que eu terminei o namoro. Seria decepcionante ter feito tudo aquilo por nada.

   Leslie Reynolds era considerada um dos nomes da ginástica daquela geração. Muitas meninas aspirantes ao estrelato queriam ser como ela. Ela mesma tinha essa ambição. Claro que antes não a conhecia. A imagem do glamour desapareceu completamente após conhecê-la pessoalmente.

 - Encontrou-se com ele depois?

- Sim... sempre que volto pra ver minha família, mas nunca aconteceu nada. Ele não me pressiona e eu também não. - pausa – Ouça, mesmo que seu namorado, ou ex namorado apareça vai ter que assumir e viver de acordo com suas escolhas. - outra pausa para uma pergunta mais séria – Você gosta dele? 

- Gosto, e muito. 

- Então se quiser continuar aqui faça com que seu sacrifício não tenha sido a tôa.

    Aquilo despertou algo em Kimberly. Novamente viu o quanto seu pensamento era equivocado: do mesmo modo que vira Trini, um dia vira  Leslie como uma criatura assexuada. Agora percebeu o quanto estava errada. Tinha considerado-a um mito, assim como fizera com a amiga de infância. E era tudo o que Leslie não queria ser.

   Dormiram algum tempo depois. Estranhou porque só agora estava conhecendo melhor sua companheira de treinos. De ídolo se transformara em um ombro amigo. Estranhou no início porque era bem diferente de Trini, sua confidente costumeira e melhor amiga. Leslie era calejada por experiências de dor e confinamento. Eram diferentes.

    A noite, antes turbulenta, passou tranquila.


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Notas finais do capítulo

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