Abandono. escrita por AnaBonagamba


Capítulo 1
Abandono.




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XXXII-                      Abandono

Nota: Essa carta foi dada como sonho, em maio de 2010.

Pudera ser somente um sonho,

Pois na realidade eu o renegaria,

Um desejo a cada dia,

Seria ou não seria.

Em meio de escombros e escuridão,

Lembrar dá-me dor no coração,

Tudo quebrado e abandonado,

Andares e andaimes estragados,

O domínio de um gênio humano revoltado.

Caíra sim em minhas mãos,

Um relento de admissão,

Ou somente um sonho pequeno

Que necessita de grande atenção.

Pois por entre as sombras e a tristeza,

Vejo andando com destreza,

Meio metro abaixo do chão

Uma pequena face da discórdia,

Chorando, gritando e chorando,

Chorando cada vez mais e mais,

Com a falta da claridade.

Eu diria que foi pura maldade

Ou somente a foz da realidade,

Que por quem ela chorava

De nada se adiantava.

O que foi feito, abandono eleito,

Nem eu mesma renegava.

Até o seu encontro, fui eu,

Com lanternas iluminando meus passos,

E de mim foi se aproximando,

Deixando de lado fitas e laços.

Em meu colo a coloquei,

Pequena e frágil feito uma boneca,

Pobre menininha no meio daquela dor,

Inventaram feitos para ela,

Sobreviver à aquela emboscada

No frio da longa madrugada,

Enquanto o prédio ao chão despencava.

Não ao abandono que se dava,

Nos meus braços jamais se sentiria abandonada.

Seu choro cessou, coração se acalmou,

E, por fim, mais socorro chegou.

Ao tirarem a menininha de mim,

Meu eu se desintegrou,

E toda a segurança do abandono,

Mais uma vez a abandonou.

Chorava desesperada,

Apontando os dedinhos pra escada,

Onde, ali, um dos pais ficou.

O tamanho da alma que vivera,

Ou meu espírito que tanto retornou,

Aquela cena tão terrível,

Meu coração tão fortemente tocou.

Voltei-a para meus braços,

Mais uma vez o choro cessou.

Levar-me-ei ela embora, eu disse,

Mas a menina pequena não deixou.

Prendeu meu rosto em suas mãozinhas,

E, carinhosamente o empurrou.

Então tive a imagem que se segue,

Dentro de um quarto de loja,

Caída sobre mais angústia,

Estava sua mãe, jazendo morta,

Coberta de jóias e escapulários

Que um dia desejara vender.

Abandono maior que isso

É poder sobreviver.

O socorro incumbido de ajudar,

Mais andares foram avistar,

E mais tristeza, assim, encontrar.

Com o bebê em meus braços,

Fui dando passos leves

Até, na loja, adentrar.

Vendo o corpo inerte da mãe,

Vi a bebê seus olhinhos fechar,

E eu, indo bem devagar,

Por sobre sua morte fui a apegar

Em seu mais lindo tesouro,

Mais lindo do que puro ouro

Que encoberta ela estivera já.

Uma pequena pulseira brilhante

Que em seu pulso avistei

Sem medo a arranquei,

E à menininha entreguei.

Seus olhos se abriram,

Minha alma sorriu.

Por fora do prédio sombrio,

Levei-a, para na luz ficar.

Abandono que se segue,

Não mata e não repele,

Se estiver alguém que ame

A oportunidade de amar.


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