Dê-me Seus Olhos escrita por TaediBear


Capítulo 1
Dê-me Seus Olhos


Notas iniciais do capítulo

Bem, bem, outro conto da morte. Espero que gostem! *-*'
Boa leitura!



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Dê-me seus olhos

A garota de longos cabelos negros andava pelo bosque com um sorriso estampado em sua face. Sua mãe finalmente a deixara passear por entre aquelas árvores tão belas. Estava extremamente feliz. Observava o sol esconder-se atrás das nuvens e ir em direção a oeste. Estava ali havia horas e horas, mas não conseguia achar nenhum caminho pelo qual já tivesse passado.

Já escurecia quando a garota encontrou uma trilha abandonada, repleta de galhos e folhas secas. Havia buracos, e a relva estava alta e cobria uma boa parte do caminho, escondendo-o de viajantes perdidos. A jovem era curiosa, queria descobrir a que lugar aquela trilha a poderia levar. Não se lembrou dos avisos da mãe sobre a noite naquela floresta quando pôs seus pés cobertos por sapatos pretos sobre a terra do caminho.

Andou, andou, andou. A floresta parecia não ter fim. Quanto mais se aproximava do fim daquela longa trilha, mais as árvores ficavam secas e assustadoras. O luar criava sombras fantasmagóricas por onde a garota passava, fazendo-a ficar assustada e sem coragem de continuar. Mas a curiosidade falava mais alto. Dizia que ela tinha que terminar aquele caminho, tinha que descobrir o que ela acharia ao final. Quem sabe não seria de volta para sua casa já que também não achava o caminho de volta? Quem sabe não era para uma linda cidade arrumada? Ou, então, poderia ser para um mundo mágico, como o de Alice que viajara para o País das Maravilhas. Queria poder descobrir um mundo só seu. E, com esse pensamento, continuou a caminhar.

Ao fim, tudo o que encontrou foi uma plantação de abóboras. Elas pareciam podres, cheiravam mal e davam à garota uma imensa ânsia de vômito. Ela caminhou mais um pouco a fim de saber se não havia mais nada sem ser aquela plantação nojenta. Então, seus olhos verdes correram até uma figura em pé no meio das abóboras estragadas. Primeiramente, achou que era um espantalho que havia cumprido com seu dever, impedindo os pássaros de aproximarem-se e consumirem as abóboras. Mas, então, percebeu que se enganara quando a figura começou a aproximar-se dela. Lentamente, foi distinguindo as partes de aquele ser.

Era uma mulher. Bonita, apesar de não ter o corpo totalmente definido. Os cabelos loiros estavam soltos, e a brisa parecia tentar arrancá-los de sua cabeça de tão forte que balançavam. Os olhos eram grandes e azuis, e o sorriso que trazia no rosto era extremamente gentil. Ela era mais alta que a garota, mas não exageradamente. E usava um vestido negro e uma fita vermelha amarrada na cintura.

— Olá – a mulher disse com uma voz suave. – Está perdida, menininha?

— Ah, bem... Eu queria saber a que lugar aquela trilha me levaria... – a menina respondeu, abaixando seus olhos. Não sabia o porquê, mas estava com medo daquela pessoa.

— Bem – ela começou —, aquela trilha te trouxe a minha plantação de abóboras. Não é linda? – perguntou, levantando seus braços a fim de mostrar todas as abóboras estragadas.

— Mas... Elas estão estragadas... – disse a garota, hesitante.

— Exatamente. Por isso são tão bonitas. Ah, mas, por favor, por favor, me acompanhe em um chá. Minha casa fica logo ali! – exclamou enquanto apontava para uma luzinha fraca que piscava ao longe. — Aquela é a luz da frente. Fica acesa para que eu não me perca. Devo também apresentar você ao meu irmão quando chegarmos lá, não é?

— Não posso. Minha mãe disse que devo voltar logo para casa. Eu... Deveria estar lá antes mesmo de anoitecer, mas...

— Não achou o caminho de volta? – a garota foi interrompida pela voz doce da mulher que, naquele momento, segurava sua mão. — Eu sei como é. Uma vez, quase não achei o caminho para minha casinha depois de vir ver minhas abóboras queridas. No entanto, se não sabe o caminho para casa, durma conosco. Eu e meu irmão ficaremos gratos de você ficar. A propósito – disse a mulher enquanto aproximava-se da garota, abaixando-se até olhá-la nos olhos verdes —, qual é seu nome?

— Meu nome... É... – a menina assustou-se com aquela aproximação e acabou gaguejando as palavras. E, por um momento, esqueceu seu nome. Ficou um bom tempo a olhar aquele rosto estranho, até que ele voltou a sua mente e escapou de seus lábios:

— Alice.

— Alice! Chame-me de tia, sim? Meu nome nem é tão bonito quanto o seu para que seja pronunciado. Agora, vamos para casa! Ele está esperando.

Então a mulher começou a andar apressadamente sobre os saltos baixos que trazia em seu pé. Alice a seguia enquanto tentava não tropeçar nas pedras e não afundar suas sapatilhas na lama que se formava ao longo do caminho.

Ao chegarem ao local de onde a luzinha vinha, a mulher apertou o interruptor e a apagou. Alice deu uma última olhada para trás. O luar banhava aquele lugar com sua luz branca e formava novamente aquelas sombras estranhas. Por um momento, antes de adentrar a pequena casa, Alice pensou ver corpos de pessoas jogados na relva que crescia por ali.

— Onde você está? – a mulher gritou enquanto andava pela sala. — Temos visita, onde você está?

Alice ficou parada em cima do tapete que ficava no centro do lugar. Era bem arrumada a sala. Uma televisão pequena, um sofá cor-de-rosa de dois lugares, as paredes amarelas e uma luz forte no teto decoravam o local.

A garota viu a mulher subir as escadas e a ouviu bater na porta de quase todos os quartos da casa. Eles pareciam ser muitos, pois ela não parava de ouvir o toc-toc dos ossos da mão da mulher batendo na madeira.

Só depois de um bom tempo, Alice ouviu um ranger de uma porta se abrindo e a mulher exclamar:

— Ah, então você está aqui! O que está fazendo? O quê? Aqueles que eu consegui ontem estão com problema? Oh, não. Mas eu tive que fazer tanta coisa para consegui-los! – então, ela fez uma pausa, para logo continuar:

— Preciso conseguir novos, certo? Não tem problema! Coloque esses que eu consegui ontem para que você possa conhecer nossa visitante.

Pouco depois, ela apareceu no topo da escadaria que dava aos quartos, com um sorriso no rosto.

— Oh, eu só estou com um dos seus originais porque assim fica mais bonito! Venha logo! – ela gritou, para depois voltar seu olhar para Alice. — Oh, querida. Desculpe-me essa grosseria. Mas meu irmão não quer vir. Ele não acha... Suas lentes de contato. Ele precisa de novas.

Alice olhou desconfiada para aquela mulher. Lentes de contato? Ela não parecia estar falando de lentes de contato. Aquela casa era estranha, aquela mulher era estranha. Alice não queria ficar ali de jeito nenhum.

— Desculpe, tia, mas eu tenho que ir, realmente! Minha mãe está me esperando, na minha casa. Ela disse para eu não me atrasar – ela tentou escapar, mas a mão daquela mulher segurou seu braço fino com força. Parecia que queria quebrá-lo.

— Vamos tomar chá, Alice – a mulher disse com um sorriso.

A garota engoliu em seco. Seus olhos verdes correram para o topo da escada; as luzes do corredor do segundo andar apagaram-se repentinamente, e Alice teve a impressão de ver alguém passar por ele correndo.

A mulher puxou a menina até uma pequena mesa e disse para ela sentar-se. Ainda que hesitante, Alice sentou-se. Quem sabe assim a mulher a deixaria voltar para casa. Então, a senhora desapareceu na cozinha.

Alice estava com medo. Muito medo. Tudo ali era estranho. A impressão de ver alguém correndo no andar de cima, a impressão de que havia corpos do lado de fora, a insistência da mulher para que ela ficasse para tomar chá, a conversa entre a mulher e seu irmão. Os pensamentos mais horripilantes atravessavam a mente de Alice rapidamente. As mãos suavam frio, o medo tomava conta de si. Lentamente, ela pôs-se de pé a fim de fugir da casa. Porém vozes lhe chamaram a atenção:

— Me dê esses que você está usando – pediu uma voz masculina.

— Não. Quero dar chá para a menina e preciso deles – era a mulher quem falava.

— Só por um instante. Também quero falar com ela.

— Tudo bem... – a mulher suspirou.

Ninguém falou mais nada. E, assim que ouviu passos caminhando em direção ao lugar onde a mulher a havia posto, Alice sentou-se novamente. O medo de ser pega tentando fugir era maior. Imaginava o que fariam com ela.

Quem apareceu na porta era um homem. Era magro e extremamente bonito. Era idêntico à mulher, devia ser seu irmão. E, pelo visto, eles eram gêmeos. O cabelo loiro caía até seus ombros, e ele trajava um terno arrumado com uma gravata vermelha. Um sorriso gentil desenhou-se em seus lábios. Por um momento, Alice perguntou-se por que estava com medo deles.

— Olá, minha querida – ele disse. — Por favor, quero que aceite um presente.

— Presente? – Alice sorriu. Era uma menina, adorava ganhar presentes. Doces e brinquedos eram seus favoritos.

O homem, que escondia algo em suas costas, revelou o objeto que trazia: uma linda boneca de pano que se parecia muito com Alice. A garota sorriu e estendeu suas mãos a fim de agarrar a boneca. O homem lhe entregou, e ela abraçou o brinquedo enquanto sussurrava um “obrigada”.

O irmão da mulher voltou à cozinha. E, algum tempo depois, a mulher apareceu com um sorriso nos lábios.

— É linda! – ela exclamou, referindo-se à boneca.

— É, sim! – ela disse contente.

Alice, então, esqueceu-se de todo o medo que sentia. Eles pareciam agora serem normais – apesar de o homem não ter aparecido nem mais uma vez na sala. A mulher conversava com Alice gentilmente enquanto a garota bebia o chá delicioso que ela lhe havia servido.

Depois de um bom tempo, a mulher levantou-se. Disse que precisava pegar algo e sumiu no segundo andar que ainda estava bastante escuro. Alice ficou a observá-lo

Novamente, a curiosidade lhe cutucou. Ela sussurrou em sua mente: “Vá, Alice! Vá ver o que há lá em cima!”. Prontamente, Alice a obedeceu.

A garota caminhou pela escada, tentando fazer o mínimo de barulho. Ela mordia seu lábio inferior com freqüência. Era uma mania que tinha quando fazia algo que sabia que era errado.

Ela chegou ao segundo andar. Ainda estava escuro.

As paredes eram revestidas por porta-retratos e pinturas. Muitas revelavam os antepassados daqueles dois irmãos, outras mostravam aquelas pessoas. Mas uma chamou bastante a atenção de Alice. Era uma pintura. No desenho, encontravam-se os irmãos com os mesmos belos sorrisos que mostraram a Alice. Porém cada um deles possuía apenas um olho azul. No lugar onde deveria estar o outro havia apenas um buraco negro. Alice engoliu em seco. Por que haviam mandado pintar um quadro assim? Era muito mau-gosto.

Novamente, ela voltou a caminhar, tentando afastar-se rápido daquele quadro horripilante.

Seus pés a levaram para uma porta que estava entreaberta. De dentro dela, irradiava uma luz forte. Alice mordeu seu lábio inferior e aproximou da fresta a fim de observar seu interior. Sua mão segurava a boneca que havia ganhado com força. Um de seus olhos verdes encarou o interior do cômodo. Havia várias bonecas de pano ali... Mas todas tinham os olhos arrancados... Violentamente, ela pôde perceber. Sua íris voltou a se mexer a fim de observar o resto do quarto. Perto de uma pequena janela, havia uma enorme mesa de madeira. Sentado em frente a ela, estava o homem e, ao lado dele, estava a mulher.

Alice mordeu o lábio com mais força.

— Já está fazendo outra? – a loura perguntou. — Não gostou da que eu trouxe?

— Essa é para o caso de o olho dela não funcionar direito... Você sabe que eu não quero pessoas míopes – ele reclamou, puxando uma agulha de onde ela estava espetada.

— Ah, eu sei. Mas tenho quase certeza que ela não é! Vamos, me dê seu olho e deixe-me matá-la – ela pediu estendendo a mão.

O homem virou-se para ela e pôs a mão sobre sua pálpebra, apertando com força. O corpo de Alice arrepiara-se, aquilo parecia doer, apesar de ele não demonstrar nenhum sentimento.

Então, o olho saiu de onde deveria ficar preso ao rosto.

Alice arregalou seus olhos e abriu sua boca. A respiração descompassou-se. Mas continuou a observar, assustada.

A mulher pegou o olho que estava na mão dele e colocou em sua face. Antes, Alice pôde ver o horror: onde deveria estar o olho da mulher, havia um buraco negro; como na pintura.

A mão de Alice soltou sua boneca que ainda possuía olhos e sua voz deixou sua garganta inconscientemente.

Alice gritou.

Os dois irmãos viraram-se para a porta, mas apenas a mulher caminhou até ela; afinal só ela podia ver no momento. Alice assustou-se. Suas pernas estavam paralisadas de medo. Ela precisava correr. Ela precisava fugir.

A mulher puxou a porta.

Alice precisava sair dali.

Com o coração aos pulos, Alice correu assim que a mulher abriu a porta de uma vez para ver o que havia ali. Então, ela viu Alice correndo.

Uma expressão de ódio desfigurou seu belo rosto e ela gritou para seu irmão:

— Jack! Tome esse olho! Temos que pegar aquela ratinha – e ela tirou um de seus olhos e jogou para seu irmão.

O homem o pegou no ar, limpou no terno e colocou no rosto. Rapidamente, ele levantou-se da cadeira e correu em direção à porta. Sua irmã já estava na entrada, trancando a porta da frente antes que Alice tivesse a ideia de correr para fora.

— Alice, meu bem – a mulher cantarolou com uma voz suave —, saia de onde quer que esteja. Nós só queremos seus olhos...

O homem abria as portas dos quartos, olhava os interiores e voltava a fechar. Alice não estava em nenhum. Ele já estava descendo as escadas quando um barulho chamou sua atenção. Vinha do andar de cima.

Ele voltou e caminhou até o último quarto do corredor. Ficava perto da pintura da verdadeira forma dele e de sua irmã. Os buracos nos olhos elegantemente pintados lhe fizeram sorrir.

— Alice – ele começou a falar lentamente —, sabia que esse quadro foi pintado por alguém famoso a pedido da minha irmã? Mas o problema é que tivemos que matá-lo a fim de ter seus olhos. Eram lindos. Azuis e belos. Os seus são lindamente verdes... Será que você pode nos dar?

Alice havia se escondido exatamente no último quarto – que era apenas um armário para guardar vassouras e baldes. Ela havia derrubado uma vassoura. Seu coração pulava em seu peito. Parecia que ele queria fugir dali antes que o homem o encontrasse. Queria fugir e deixar Alice.

Ela apertou suas mãos com força e mordeu seu lábio. Sangrou quando ela pôs os dentes sobre a carne. Maldita mania. Agora, além de sentir medo, sua boca doía. Ela ouviu os passos de Jack aproximando-se e parou de respirar. Tinha medo de ele ouvir sua respiração.

O homem tocou a maçaneta. Um frio subiu pela espinha da garota. A maçaneta girou; Alice afastou-se da porta. O homem começou a abrir a porta lentamente – como se quisesse torturar tudo o que estivesse com medo dele no cômodo; Alice agarrou uma vassoura rapidamente. Então, a porta se abriu.

E Alice bateu na cabeça de Jack com o cabo da vassoura para, logo depois, fugir correndo.

A mulher – da cozinha – viu o vulto de Alice descer as escadas e correr para o outro lado da casa. Ela sorriu.

— Não adianta correr, querida! Eu já lhe vi.

Alice, mesmo assim, correu. E, no fundo da casa, ela achou outra escada que descia. Essa a levaria para o porão.

Sem pensar duas vezes, ela desceu, abriu a porta que havia no final, adentrou o local escuro e fechou a superfície de madeira atrás de si. Alice ouviu passos aproximando-se cada vez mais de si. Ela parou de respirar novamente e correu para mais fundo no porão.

No entanto, seus pés travaram de repente. Seus olhos arregalaram-se e ela tentou gritar. Mas o medo a impediu com suas mãos negras.

Iluminada pela luz da lua que adentrava pela janela, estava a boneca que parecia consigo. Ela sorria assustadoramente para si. Seus olhos haviam sido arrancados – exatamente igual às outras bonecas. Da costura arrebentada de seus olhos, um líquido vermelha escorria e suas mãos também estavam sujas desse líquido.

Parecia que a boneca estava viva e arrancara seus próprios olhos.

Alice deu um passo para trás. Mas travou novamente.

Pois uma voz de criança adentrou seus ouvidos.

— Não finja que não me viu – disse a voz. — Estou bem na sua frente. Por que não pega uma linha e costura meus olhos?

Alice começou a tremer levemente ao perceber que a voz provinha da boneca. Seus lábios trêmulos abriram-se para tentar falar qualquer coisa, mas o único som que saiu foi um falho da voz fina.

— Alice! – a voz começou novamente. — Ei, Alice, costure-me os olhos de volta. Por favor, costure-os...

Alice respirou fundo e balançou a cabeça de um lado para o outro. A boca ainda estava aberta, e os lábios tremiam fortemente.

— Mas, então, Alice, se não quer costurar meus olhos... – a voz parou por um instante. Alice conseguiu dar mais dois passos para trás antes de ouvi-la novamente pronunciar as palavras mais assustadoras que ela já havia ouvido:

— Dê-me seus olhos.

Novamente, a garota tentou gritar e fugir daquele lugar assustador. No entanto, assim que abriu sua boca, sentiu uma forte dor em seu peito. Seus olhos correram para baixo a fim de encontrar a causa daquela dor infernal. Então, ela encontrou aquela faca, aquela faca que atravessava seu peito e que estava coberta de sangue.

Seu sangue.

As lágrimas formaram-se em seus belos olhos verdes. A visão já estava ficando turva. De sua boca, escorria um pouco de sangue. Ele lhe engasgava, fazia tossir. E, assim que o fazia, mais sangue saía de sua boca.

Ela se virou para trás rapidamente. Antes de morrer, ela queria ver quem era o assassino. Não ficou surpresa quando viu um sorriso malicioso desenhado nos lábios daquela mulher.

Alice, então, tossiu mais sangue e caiu no chão.

Estava morta. O ar não mais adentrava seus pequenos pulmões. Os olhos não mais transmitiam mensagens para o cérebro. Seu coração parara de bater.

A mulher apenas riu. Finalmente havia conseguido olhos bons. Todas as outras pessoas que havia matado e empilhado na relva do lado de fora da casa eram míopes, vesgos ou tinham astigmatismo.

Ela levou seus dedos até os olhos ainda abertos da garota e apertou suas pálpebras. Os olhos sacaram de seus respectivos lugares, e a garota parecia ter começado a chorar sangue.

A mulher os arrancou com força. Alice parecia novamente com a boneca de olhos arrancados.

Os saltos da mulher batiam contra a madeira enquanto ela caminhava para o quarto de seu irmão. Ele já estava acordado e bem desperto, apesar de ainda sentir uma forte dor de cabeça.

— Aquela pentelha idiota... – resmungou quando viu que sua irmã adentrava o quarto.

— Não precisa ficar com raiva dela, Jack. Aqui – ela disse enquanto estendia sua mão e mostrava os dois olhos verdes para o homem. — Os olhos dela. Não são magníficos?

Ele sorriu.

— São – concordou.

Então, estendeu sua mão e pegou um deles, colocando em seu devido lugar: no buraco esquerdo que fazia parte de seu rosto. A mulher fez o mesmo, mas o dela fora no lado direito.

— O que faremos agora? – ela indagou para Jack.

— Temos que ter olhos reservas, não acha, Sally?

— Claro, Jack. Vou buscar mais alguma pessoa que se atreve a caminhar pela trilha – ela disse, já deixando o aposento.

Sally fechou a porta atrás de si e desceu as escadas. Primeiro foi ao porão. Pegou o corpo de Alice e o jogou na relva que crescia do lado de fora da casa – onde ficavam os outros corpos fedorentos e em decomposição.

Então, ela começou a caminhar para a plantação de abóboras, postando-se bem no meio dela, observando a trilha abandonada.

Não demorou muito até uma garota loira aparecer atraída pela curiosidade de saber o que havia naquele lugar abandonado.

Sally aproximou-se lentamente e, de seus lábios vermelhos, as palavras que sempre dizia aos visitantes fluíram:

— Olá, querida. Você quer tomar chá?


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado!
Então, então, o que acharam? *-*'
Se vocês comentarem, poderei melhorar em qualquer coisa! *-*'

Obrigada por ler!


Takoyaki ~ Bolinho de Polvo!