Por Você Vale a Pena Viver: Novamente! escrita por Automatic


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

Oi povoo *-*Eu achei que não ia conseguir Ç_Ç'Mais aqui está meu especial de Natal prometido =3Espero que esta agrade tanto quanto a outra ....Esse é meu presente de Natal para os meus lindos leitores...Gente eu desejo a todos....Tudo de bom, muita paz, felicidades e todas as demais breguices :BEnfim.....FELIZ NATAL PARA TODOS....AMO VC'S ♥



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Vinte e quatro de Dezembro. Eram exatamente 11:30 da noite quando cheguei à aquele imenso jardim. Caminhei para seu interior e parei diante da fonte iluminada que estava em funcionamento. A observei em silêncio por um longo tempo, enquanto mantinha as mãos dentro dos bolsos de meu casaco.

Tirei uma das mãos do bolso, trazendo com esta o maço de cigarro. Retirei um e o levei aos lábios. Em seguida, guardei o maço e retirei o isqueiro do mesmo bolso, levando-o à ponta do cigarro e assim, o ascendi. Dei uma longa tragada, enquanto depositava o isqueiro de qualquer jeito de volta ao seu lugar.

Fitei a fonte jorrando jatos coloridos de água, enquanto me lembrava do porquê de eu estar ali.

Eu não gostava do Natal. Nunca acreditei nele. Desde pequeno eu pedia - ao que as crianças chamam de papai Noel - que me desse a visão. E adivinhem? Eu nunca fui atendido.

Sorri com meu pensamento, dando outra tragada em meu cigarro.

Dezembro também não é meu mês favorito, pois este foi o mês em que perdi a pessoa que mais me importava. Ele não morreu exatamente no Natal, mas eu passei a data comemorativa daquele ano trancado em meu quarto. Chorando sua morte. Desde então, se pudesse, eu teria pulado essa data por toda vida.

Mas o que eu estou fazendo aqui então? Parado diante de uma fonte, no meio de um jardim todo decorado para o Natal?

Bom, a resposta é simples: Estou aqui para mais um ato repetitivo que venho estendendo por nove longos anos, desde o dia em que passei a acreditar no Natal.

Tirei as mãos dos bolsos, trazendo em uma delas uma moeda dourada. Enquanto fitava a fonte, - revisando memórias de momentos em que passei alí -, brinquei com a moeda em minhas mãos. A lançava para cima, pegando-a novamente. Repeti os atos muitas vezes.

Dez anos se passaram desde a morte de Dimmy. Nove, desde o dia em que ele me fez realmente abrir os olhos e enxergar a vida de verdade, pela primeira vez. E esta é a verdadeira razão de eu estar aqui.

[FLASH BACK ON]

“Do seu amigo que não lhe deixará nem depois de morto : Dimy”

Li o final daquela carta que eu já havia decorado. Eu a relia todos os dias. Não uma mas duas, três vezes.

Deixei a cabeça pender-se para trás, apoiando-se no tronco do Ipê, amarrotando as bordas do papel em minhas mãos.

– Mentiroso. - Sussurrei entre as lágrimas que corriam pesadas e silenciosas por minha face.

Já estávamos no dia vinte e três de Dezembro e hoje completava-se um ano desde que Dimmy tinha morrido e, de alguma forma, me levado com ele. Embora eu tivesse a impressão de sentí-lo ao meu lado, as vezes, eu olhava em volta e tudo que era capaz de ver era a minha imagem, penosa e decadente. Como eu nunca me sentira antes.

Mais um dia e aqui eu estava novamente. Sentado debaixo do Ipê, relendo sua carta e chorando sua morte. Como se isso fosse trazê-lo de volta.

Mantinha minhas costas e a cabeça apoiadas no tronco da árvore enquanto olhava para a copa desta, observando as flores caírem lentamente. Algumas iam para longe, com o vento.

Assim eu via meu coração. Como se ele fosse se despedaçando, lentamente, a cada dia.

As minhas lágrimas já não paravam mais de cair e eu já não sentia qualquer alivio. Tudo o que sentia era uma imensa vontade de morrer. Mas com o passar do tempo, fui me tornando covarde. Havia tentado diversas vezes, de diversas maneiras, me matar. Mas nunca fui capaz de puxar o gatilho, deslizar a lâmina sobre os pulsos ou soltar meu corpo ao nada, para seguir de encontro ao chão.

A realidade era essa: eu estava tão deprimente que nem mesmo me matar eu conseguia. Realmente quis acreditar que Dimmy estaria ao meu lado para sempre. Mas esta carta não foi nada mais do que uma tentativa de consolo, que, óbviamente, não funcionou.

Levantei-me do chão, ficando ante ao desenho feito por Dimmy no tronco daquele Ipê.

– Não importa de que modo eu veja, Dimmy. Você não está aqui. - Desviei os olhos do tronco da árvore, dobrei o papel e o coloquei no bolso.

Rumei de volta para casa. Meus passos eram automáticos, como se eu não tivesse mais controle de minhas ações. Aquilo já havia se tornado um hábito. Todos os dias eu me levantava e ia para o parque, chorar debaixo do Ipê.

Estava alheio a realidade, como se quisesse me esconder do mundo lá fora. Parei no pequeno portão de minha casa, observando a guirlanda de Natal posta à porta. Eu nem havia me dado conta, estávamos a dois dias do Natal! Mas isto também já não me importava. Eu havia começado a odiar o Natal.

Abri o portão num movimento automático, e adentrei a casa devagar. Passei pela porta da frente e adentrei na sala, batendo a porta atrás de mim.

– Seja bem vindo Léo! - Sofia me olhou, ostentando um largo sorriso nos lábios. A olhei sem nada dizer.

Ela me lembrava ele. Não digo fisicamente, pois não o conheci. E também nunca visitei seu túmulo para ver a foto dele sorrindo. Eu não sei ao certo em quê, mas ela apenas me lembrava ele. Talvez fosse devido ao fato de serem irmãos...

Fechei meus olhos, os desviando dela. Abri-os novamente, olhando calmamente em volta, vendo minha mãe colocar as meias, penduradas, na lareira. Eu apenas observava sem expressão e em silêncio.

– Leonardo! Que bom que voltou, filho. - Minha mãe caminhou até mim com um sorriso e me abraçou. Mas eu parecia não ter forças para retribuir-lhe o ato carinhoso.

Ela se afastou de mim, segurando minhas mãos e olhando em meu rosto.

– Está maravilhoso, não está? - A olhei e não respondi.

Voltei a colocar as mãos no bolso do casaco. Estava frio. Na verdade, tudo em mim estava frio. Minha alma estava congelada. Minha vida estava congelada no dia em que Dimmy se foi. Eu imagino que minha mãe estava preocupada. Dava pra contar nos dedos quantas vezes eu havia falado desde que ele morrera.

– Léo... Sua treinadora ligou. – Ela abaixou a cabeça, sem saber como continuar. Sabia que aquele assunto me irritava.

– O que ela queria? - Perguntei sem o mínimo interesse, fitando com desdém a arvore de Natal enfeitada, posta ao meio da sala.

– Conversar com você. - Seu tom de voz parecia preocupado.

– Já disse à você e à ela. Não vou voltar a patinar. - Disse calmo.

Soltei o ar desanimadamente. Assim como tudo o que eu fazia, fazia por obrigação. Respirava por obrigação. Comia por obrigação. Vivia por obrigação.

– Léo, apenas... converse. - Lancei-lhe um olhar reprovador. Os olhos semi-cerrados, indicando o meu desagrado com o rumo da conversa.

– Léo... - A voz de Sofia soou receosa atrás de mim. - Meu irmão gostava de te ver patinar. - Senti meu coração ser esmagado em meu peito. Por que ela tinha de lembrar...?

Voltei-me para ela, encarando-a com a expressão vazia. A observei apertar o enfeite de natal nas mãos, enquanto mantinha a cabeça baixa.

– Seu irmão não está aqui, está Sofia? - A ironia foi um defeito que a raiva do mundo me ajudou a adquirir com o passar do tempo.

Ela levantou os olhos para mim.

– Eu sei, mas... - Abaixou a cabeça. Certamente não sabia o que dizer.

– Mas? - Cruzei os braços, parando à sua frente.

Queria que ela enxergasse que não existia “mas” e nem “porquê”. Era simplesmente a ausência dele.

– Na noite em que morreu, ele jurou que sempre estaria ao meu lado e eu nunca lí, mas sei que ele deve ter-lhe feito a mesma promessa na carta que lhe entreguei. - Lágrimas pesadas abandonavam seus olhos tristes, enquanto esses olhavam diretamente pra mim.

– Eu posso recitar-lhe palavra por palavra daquela carta, pois eu a decorei. Cada acento, cada virgula, eu as tenho intactas em minha mente. Mas aquilo nada mais foi do que uma tentativa falha de consolo. Confesso que, de ínicio, funcionou. Mas e agora? – Eu falava pausadamente, olhando dentro de seus olhos. – Agora, não importa de que maneira eu veja, ele não está aqui. Deixe de ser uma idiota sonhadora.

– Posso ser idiota, mas eu estou ao menos tentando. É você quem está fazendo um papel ridículo. - Ela me olhou também com raiva.

Ela tinha razão. Eu não estava nem ao menos tentando. Quando notei que seria impossível viver sem ele, eu simplesmente desisti de tentar.

– Você não está tentando. Você está se enganando porque você tem medo. Medo de assumir que está sozinha. Que ele não está mais ao seu lado. - Eu disse cada palavra friamente, sem me importar em tê-las dito para uma criança de 14 anos.

– Pare... - Ela abaixou a cabeça a medida que as lágrimas deixavam seus olhos. Eu precisava fazer-lhe entender.

Eu não conseguia entender a necessidade que sentia de arrastar outros para o fundo do poço junto comigo.

– Não importa o que ele lhe tenha dito, isso não muda o fato de que ele está morto e nós dois estamos sozinhos. - Minha frieza transparecia a cada palavra.

– PARE! - Senti a mão espalmada chocar-se contra meu rosto com tanta força que não pude evitar virar a face.

Voltei meu rosto para ela num movimento mecânico, lento. Eu já não sentia dor alguma. Encarei seus olhos encharcados pelas lágrimas e carregados da mais pura e transparente ira.

– Meu irmão ficaria decepcionado com sua falta de fé. – Ela disse calmamente, com a voz tremula pelo choro. – Se você não acredita, não zombe de mim por acreditar. Eu conheço meu irmão a mais tempo que você! Ele podia ser cheio de defeitos, mas... Ele sempre cumpriu todas as promessas que me fez! Então, se ele me disse que sempre estaria ao meu lado, por que eu duvidaria? Porque uma pessoa fraca, covarde e que não sabe lidar com perdas, me disse para não acreditar? - Aquelas palavras cravaram meu coração como uma estaca.

Fiquei um grande tempo sem reação alguma.

– Isso não me surpreende vindo de uma pessoa que acredita em Papai Noel, duende e “magia do natal”. - Fiz sinal de aspas, adquirindo novamente o tom irônico.

– Pelo menos isto evita que eu me torne uma morta viva, desacreditada na vida assim como você. - Seus olhos tristes se cruzavam com meu olhar frio. Não havia razão para continuar a discussão.

– Acredite no quiser. - Dei um passo e parei ao seu lado, os ombros colados.

Ela olhava para o chão enquanto eu fitava as escadas a minha frente.

– Isso não vai mudar realidade. Isso não pode trazê-lo de volta, não é mesmo? - Continuei parado esperando sua resposta.

– Não! - Ela abaixou a cabeça, soltando o primeiro soluço.

Eu apenas sorri amargamente, constatando a vitória que eu não gostaria de ter.

– Mãe, avise a Aurora que eu aceito conversar com ela. Mas que será uma perda de tempo, porque eu não mudarei de idéia. - Encarei minha mãe por sobre os ombros e a vi acenar com a cabeça. Voltei meus olhos para Sofia e seus soluços quase inaudíveis.

Não pude deixar de me sentir culpado, mas esta era a dura realidade. Estava na hora de aprender a conviver com ela.

Subi as escadas calado e por um segundo vi minha mãe aconchegar Sofia nos braços, enquanto esta soluçava desesperadamente. Ouvi minha mãe se desculpar. Abri a porta de meu quarto num movimento longo e irritante. A fechei com rapidez e logo adentrei o cômodo rodeado por desenhos feitos por Dimmy. Um cenário cômico, cheio de recordações que eu não queria ter, mas das quais não conseguia me livrar.


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