You Are Not Alone escrita por YouAreNotAlone


Capítulo 6
Depoimento de ditte_glabes




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Bem, vou começar me apresentando. Meu nome é Amanda, tenho 14 anos e moro no Rio Grande do Sul. Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que tudo que vou dizer aconteceu comigo.

Primeiro: O Bullying. Sofro de bullying desde que me conheço por gente. Desde a pré-escola, até agora no Ensino Médio. No inicio eu não ligava, porque nenhuma criança liga, na verdade. Eram muitos, ainda posso me lembrar como surgiu.

Na 1ª série, os alunos da 2ª tinham criado um “clubinho” em um canto da escola, e a nossa turma queria entrar. Por isso me elegeram como “Olívia Palito” porque eu era muito magrinha. Meu papel era entrar no clubinho, passando pelos alunos mais velhos enquanto eles eram “distraídos”.

Depois disso, os apelidos continuaram. Até a 4ª série eram Amanda Palito, Amanda Fio-Dental (porque em uma brincadeira de passar por baixo da corda, fui a única que conseguiu sem tocar). Mas principalmente de “nerd” porque eu sempre estudava muito e tirava notas altas.

Na 3ª série, entraram dois alunos novos. O P. de quem eu vou falar mais tarde, e a C. No inicio a C. era muito minha amiga, contávamos tudo uma pra outra, eu até deixei de lado minha melhor amiga, a S. para ser amiga “dela”. Estava tudo bem, até a 5ª série.

Descobri que meus pais e os pais dela tinham certos “empecilhos” que aconteceram antes de nós nascermos. Financeiros. Já viu, certo?! Bem, depois daquilo, ela nunca mais foi a mesma comigo. Pra mim, falava mal dos outros, mas logo em seguida, ficava com eles e falava mal de mim e de uma outra colega nossa, a A. Nesse verão, ela voltou a tentar falar comigo. Mas eu disse a mim mesma que aquilo não ia acontecer de novo.

Por causa dela, surgiram meus apelidos. Tábua, principalmente porque eu não tinha seios naquela época. Na 5ª série. Eu sou muito orgulhosa de dizer que eu não me importava com aquilo.

Mas daí começaram as provocações. Principalmente porque eu e o P. éramos muito amigos. Ainda somos. Íamos na casa um do outro, íamos assistir filmes no cinema, principalmente a Saga Harry Potter, porque foi isso que nos uniu e nosso gosto pela leitura. Até hoje nos emprestamos livros.

Todos dizíamos que gostávamos um do outro. Eu não gostava disso, porque ninguém deve julgar os outros e muito menos os sentimentos. Por isso eu sempre respondia aos meus colegas, principalmente os garotos. O bullying diminuiu na 8ª série, mas só depois de contar para a coordenadora da escola sobre o que estava acontecendo. Aquilo foi a famosa gota d’agua pra mim.

Eu e uma amiga estávamos jogando taco como uma equipe, e teve duas vezes seguidas que não consegui rebater a bola, por isso começaram a dizer: “Sai daí, deixa alguém que sabe jogar”. Eu ignorava, mas aquilo doía por dentro, porque eu conhecia o garoto desde a 1ª série e teve um tempo que nós éramos amigos. Até brincávamos de “polly” juntos! Eu me irritei, então continuaram a me xingar, até que joguei o taco neles e fui contar para a coordenadora.

Se isso tudo acontecia na escola, em casa era pior. Era só eu tirar uma nota um pouco abaixo do que minha mãe esperava, que era me xingava. Dizia que eu tinha que melhorar e prestar mais atenção na aula. Uma vez ela me deu um tapa no rosto porque disse que eu tava me esforçando bastante e não sabia porque ela não ficava feliz com aquilo.

Esse é um problema. Nós supostamente devemos confiar nos pais, ter respeito por eles, não é?! Comigo não é assim. Eu tenho medo dos meus pais. Medo do que eles vão dizer quando eu conto alguma coisa. Por essa razão que quando dei meu primeiro “selinho” aos 10 anos, e ainda não contei pra minha mãe.

Ano passado, comecei a brigar muito com meus pais. Brigávamos por tudo. Mas principalmente por causa do computador. Em 2009 eu sofri tanto por causa de uma coisa que aconteceu na internet, que eu não vou falar mas vocês devem imaginar, que tinha vezes que eu ficava duas semanas sem ligar o computador. Excluí meu orkut, Myspace, não entrei mais no MSN. Sumi, na verdade.

Então os problemas começaram novamente. Em fevereiro do ano passado, fiz o segundo furo na orelha. Minha mãe não queria deixar, mas eu convenci ela. Em dezembro passado, fiz o terceiro. Ela ficou brava quando meu pai concordou, porque só queria que eu fizesse aquele furo aos 15. E eu tinha 13, quase 14.  Agora ficou pior, porque meu pai me deixou fazer o quarto furo, na cartilagem, sabe?! Ela diz que vai doer demais, e que eu vou me arrepender.

E sobre o piercing. Bem, eu quero por um piercing no nariz. No inicio ela disse que uma pedra tudo bem, mas eu quero a argola. Eu discuti com ela, dizendo que a vida era minha, e não dela. Ela disse: “Até os 18, vai fazer tudo que eu mandar”, “E tu acha que vou esperar até os 18 pra fazer um piercing? Sonha”. Com isso, ela me xingou mais ainda.

E ainda tem sobre tudo que nós discordamos. Eu não como carne, ela diz que eu tenho que comer e me força a comer. Eu acho nojento. Não tomo refrigerante, ela diz que pelo menos algo de bom eu faço pra minha saúde. Ela não entende como eu tenho uma “fixação” por piercings e furos. Ela acha que todos que tem piercings, tatuagens e que andam de skate são maconheiros. Minha mãe é muito preconceitosa, tanto com negros, gays, lésbicas e bissexuais. Eu não vejo problema nisso, porque amor não tem fronteiras, mas ela é tipo uma “Adolf Hitler” feminina. E sobre Deus. Eu na verdade, não acredito em Deus. Mas ela fica me perguntando como eu posso dizer isso, se não tem outro jeito de existir.

Afinal,na minha opinião, eu não fui criada a partir de uma costela ou de barro.

Segundo: A bulimia e a anorexia.

Esses são os piores, eu acho. No inicio do ano passado, em 2010, eu fiz exames de sangue e vi que tinha o colesterol (gordura) e triglicerídeos (açúcar) muito altos no sangue. Minha mãe culpou minha alimentação, mas não tinha muito haver porque eu sempre comi bem e certinho. Notem que naquela época eu tinha 1,58 e 47 quilos. Fui em uma nutricionista e ela me deu uma dieta. Era horrível. Tudo que eu gostava, cortaram, tive que comer coisas nojentas que eu odiava. Depois de seis meses, eu parei de crescer, eu tinha 1,63, até agora tenho. Nesse tempo, eu engordei mais de dez quilos. Eu tinha 58.

Mudei de nutricionista, ele me ajudou bastante, mudou a dieta e o meu colesterol bom que antes da primeira estava em 77 tinha ido pra 36 ( na zona de risco) mas com ele, voltou a 43, ainda bem. Meu colesterol baixou um pouco, como o açúcar, mas continuavam altos. Emagreci dois quilos. Na praia engordei de novo, então comecei a vomitar tudo o que eu comia.

Vou dar um exemplo do meu dia: Café da manhã em casa = nada. Escola = nada. Almoço = eu fingia que estava com sono e que comeria depois. Lanche da tarde = uma torrada, que eu logo vomitava. Janta = disse que comi muito a tarde.

Foi assim por bastante tempo, até que emagreci aqueles dois quilos de novo. Estou tentando parar, mas ainda tenho recaídas. Fiquei três dias sem vomitar, no máximo, nunca consigo ficar mais. Me sinto horrível, um lixo.

Já cheguei a cortar a mim mesma.

Primeiro a cima do pulso, na parte inferior da mão. Minha mãe notou, e me perguntou sobre aquilo. Decidi parar, mas cortei minha barriga da ultima vez. Doeu e saiu muito sangue, mas eu continuava passando a gilete por cima do machucado. Eu me sinto horrível com isso.

Já pensei em me matar. Muitas vezes, mas eu tenho medo, tenho medo de morrer, tenho medo de perder o que eu ainda poderia viver. Acho que todos temos medo de morrer, mas principalmente de deixar de existir.

Terceiro: Alcoolismo. Pode parecer “Oh, como uma garota de 14 anos de idade já bebe?”. Sim, eu já bebi.

Começou em uma festa de encerramento dos meus pais, eu tive que ir junto, e lá fizeram caipirinha. Tomei dois goles e fiquei com uma dor de cabeça horrível, mas que parecia bloquear meus pensamentos ruins. Em casa, eu pegava vinho e bebia, então ficava com sono, dormia e acordava com a dor de cabeça “bloqueadora” de pensamentos. Isso aconteceu várias vezes.

Quando eu criei o meu perfil no Nyah, eu nem esperava encontrar pessoas maravilhosas aqui que poderiam me ajudar. Tem algumas que não falo mais mais, como a L., mas consegui amigas maravilhosas aqui como a Carol, a Rayssa (Thalia_Grace)  e a Milena (HeySweet).

Elas me ajudaram muito. Foram minhas amigas.

A Ray, me ajudou muito porque ela sempre fica sempre me incentivando a parar. Temos idéias loucas, conversamos sobre coisas absurdas, mas coisas que sempre me fazem rir.

E a Mi, ela é um raio de sol na minha vida. Toda a vez que conto pra ela sobre a bulimia, ou sobre me cortar, ela me diz que eu sou forte, que eu vou conseguir me livrar disso e fica me enchendo de elogios sempre que estou triste.

E a Carol, sem comentários! 

Eu tenho a esperança de que vou conseguir parar com isso, e eu vou.

Mais uma coisa, que realmente me fez pensar. Na aula de literatura ontem, o professor pediu para escrevermos dois textos. Um literário (ficção) e um literário (realidade). No literário, escrevi sobre os perigos da internet, porque realmente, é algo horrível e que ninguém merece. E não escrevi uma ficção. Na verdade, aquilo que escrevi foi só a minha opinião sobre o que garotas fazem para ficarem bonitas. Não me importo que fique errado, apenas me senti melhor escrevendo aquilo, desabafando sem ninguém saber.

Só mais uma, uma vez eu pensei antes de comer. Que se f*da meu peso, alguém vai gostar de mim do jeito que sou, não da minha aparência. Claro que aquilo só durou por aquele jantar, mas espero que seja assim sempre.

Isso foi o que aconteceu comigo.


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