Réquiem escrita por Lady May, Babs


Capítulo 8
Capítulo V - Decisões


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de deixar claro que as autoras não apreciam armas de fogo. Todavia, nossos vampiros são evoluídos e ulitizam desse artifício vez ou outra.



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  "Não há nobreza no tiro de uma arma. É na habilidade de se manejar o fio de uma espada que vive a grandeza de um guerreiro." - Lady May e Nefertari

***

 

 

A imagem estava turva, mas Mirella conseguia observar, ao longe, a paisagem que se expunha. Numa bonita planície recoberta de relva verde, a garota assistia a cena que se desenrolava.

No centro da imagem, encontrou Elliot acompanhado por uma bela garota que muito se parecia com ela. Passeavam de mãos dadas pela planície enquanto riam e se divertiam antes de pararem e o rapaz tomar-lhe os lábios.

Embaçando novamente, a cena moveu-se para o interior de uma casa campestre, simples. Era noite e se reuniam na mesa quatro pessoas. Elliot conversava com outro homem, enquanto a garota servia a seu irmão e se sentava ao lado do homem.

Mirella não foi capaz de ouvir a conversa, mas algo ocorreu como deveria, pois a garota logo estava sorrindo, juntamente com Elliot.

Mirella acordou suando frio. Assustada, levantou-se e se dirigiu à janela, a fim de respirar um pouco de ar fresco.

-O que foi aquilo? – Perguntou-se lembrando do sonho. – Parecia tão real. 

A bailarina vestiu seu hobby e foi para a cozinha. Entrou no aposento, sem sequer acender a luz, e abrindo a geladeira retirou uma jarra de suco, a primeira coisa que encontrou.

Mal colocara a jarra na mesa, notou que não estava só.

-Elliot!? – Assustou-se.

-Desculpe-me, não queria assustá-la – Comentou.

-Eu não o tinha visto. – Respondeu sentando-se na mesa e servindo-se do suco. – O que faz aqui? – perguntou a fim de iniciar uma conversa.

-Hum. – Pensou o rapaz movendo seu olhar para a taça rubra que se encontrava na mesa.

Mirella acompanhou seu olhar, desviando-o assim que Elliot voltou a observá-la.

-Desculpe-me. – Pediu a bailarina. – Não queria te atrapalhar.

-Você nunca me atrapalha. – Corrigiu-a. – Mas, posso saber por que parece tão aflita?– Questionou.

-Perdi o sono. –Mentiu.

Elliot olhou-a com carinho, antes de falar, com os olhos cheios de pesar.

-Sinto muito, de verdade. – Desabafou. – Não deveria ter feito nada sem o seu consentimento, é só que..... eu sei do que a Laila é capaz e não quero vê-la morta ou mesma ferida. Eu sinto muito, não tinha o direito de acabar com a sua vida.

A garota não respondeu. Com algumas lágrimas brotando em seus olhos, colocou sua mão sobre a do rapaz antes de pegar seu suco e voltar ao quarto.

 

______ * * * ______

 

Vesh e os demais anciãos assamitas discutiam o que fariam com Laila quando ouviram o estouro causado por uma arma de fogo e gritos de terror. Imediatamente, levantaram-se de seus tronos com a certeza de que seus pesadelos haviam se realizado: eles estavam em Alamut.

Composto por seis vampiros nomeados pelos anciãos de cada clã, os Justicar eram os olhos, ouvidos e, se necessário, os punhos da Camarilla e, por essa razão, eram respeitados com reverência e temor.

- Não há dúvida. Encontraram nossos espiões. – constatou Tamir, outro ancião – Vesh, temos que tirar a Ventrue daqui. Já teremos problemas demais sem que a encontrem.

- Rya... – o Haqin não precisou dizer mais nada. A vampira acenou positivamente e sumiu pelos corredores escuros.

 

* * *

 

Violentamente, os representantes da Máscara avançavam, deixando a marca da destruição por onde passavam.

- Alina, vamos logo com isso. – repreendeu um vampiro ruivo, aparentemente, o líder do grupo.

A vampira, única mulher, travava uma luta desigual contra um assamita. Sangrando, seu adversário definhava, mas a justicar se recusava a destrui-lo. De forma sádica, ela se divertia.

Cansado de esperar, o ruivo sacou uma Browning HP 35 e disparou um único tiro no peito do inimigo, queimando-o completamente.

- Ei! – reclamou Alina – Não podia fazer isso, Andrei.

- Você demora demais. – explicou indiferente – Os outros estão esperando.

Os dois seguiram por um corredor e chegaram a uma câmara oval onde os outros quatro justicar os esperavam, assim como trinta assamitas desesperados para protegerem seus anciãos.

 

* * *

 

Sem cerimônia alguma, Rya entrou no quarto de Laila.

- Mas o que é isso? – questionou irritada e chocada.

- Sem frescuras, princesa. – retorquiu enquanto a puxava pelo braço – Preciso tirá-la daqui antes que os Justicar a encontrem.

- O quê? – esganiçou – Estão aqui por mim?

- Acha que o mundo gira ao seu redor? – desdenhou – Não é assim tão importante, Ventrue. Provavelmente vieram tirar satisfações sobre algumas coisinhas.

Estavam quase na saída quando encontraram um montinho de cinzas no lugar do vampiro que lutara com Alina. Rya parou.

- Droga! – ela passou o pé, levantando a poeira – Odeio química!

- I-Isso era um de nós? – indagou Laila espantada. Rya confirmou. – Que tipo de arma faz isso?

- Fósforo branco. Com o impacto da bala, o fósforo explode em flocos infamáveis que continuam a queimar a não ser que o ambiente seja privado de oxigênio ou que não haja mais fósforo. – explicou friamente ainda olhando para o chão.

- Que horror. – Laila sentiu-se verdadeiramente comovida. Não sabia que a Camarilla podia ser tão cruel.

- Me pergunto o que aconteceu com a boa e velha prata. – Rya pensou alto enquanto retomava seu caminho com a Ventrue em seu encalço.

No fim da escuridão, quando já era possível ver as estelas, a assamita entregou Laila novamente aos cuidados de Vadette.

- Aqui nos despedimos, princesa.

- Obrigada pela sua ajuda...

- Muitos de nós morreram hoje. – replicou – Vamos cobrar este favor. – Rya olhava carinhosamente para a lâmina de sua adaga. Depois entrou em Alamut para se juntar às linhas de defesa

Laila engoliu em seco e seguiu seu caminho para longe da fortaleza e dos Justicar.

 

* * *

 

Vocês demoraram. – acusou Javier, um justicar inegavelmente de descendência moura.

- Alina.... – respondeu Andrei simplesmente.

- Tudo o que fazemos há anos é vigiar os príncipes e agora que finalmente temos um pouco de ação, vocês acabam com a minha graça?! – irritou-se a pequena vampira

- Agora tem muitos pra você brincar, loirinha. – sorriu Javier.

Andrei virou os olhos com impaciência. – Acabem logo com isso. Quero ir embora antes do amanhecer.

Confiantes, os seis vampiros avançaram contra os assamitas. Ali não se sabia quem estava em desvantagem, pois Alamut tinha número, que não parava de aumentar, mas a Camarilla era força e técnica.

- Vou tirar esse risinho da sua cara. – prometeu o justicar enquanto estudava Karin, seu adversário.

Com seu fiel sabre, Javier investiu contra o assamita, que bloqueou o ataque com uma alabarda de lâmina em meia lua.

Os dois começaram uma luta perigosa e, para o espanto do justicar, a diferença de poderes era gigantesca, fazendo com que, com muita sorte, escapasse se alguns golpes fatais.

Pensando numa estratégia, Javier fora atingido por um golpe tão forte em seu abdômen que o fez cair. Karin continuava sorrindo.

 O justicar, apesar de surpreso, retomou a luta rapidamente, mas, a cada golpe, era notável que não venceria o embate. Com movimentos impecáveis, Karin jogou o sabre do inimigo para longe. Javier, numa reação rápida, sacou uma pistola, mas antes que pudesse atirar, fora atacado mais uma vez.

Javier desviou para a esquerda, contudo a lâmina prateada da alabarda alcançou seu braço direito, momentaneamente esticado.

Depois disso tudo aconteceu como em câmera lenta: os outros cinco justicar ouviram o grito do companheiro e viram o sangue, que escapava de onde antes estivera um braço, manchar o chão.

Tomados pela loucura, os assamitas deixaram a luta e avançaram no justicar. Em fração de segundos, vários deles tomavam seu sangue.

- Diablerie. – sussurrou Andrei não acreditando no que via.

- Impossível! – exclamou Octavio, o Tremere do grupo.

Alina nada disse. Assim que venceu o Haqin que enfrentava, jogou seus punhais no chão, puxou uma Desert Eagle do coldre e abriu fogo na tentativa de livrar o amigo dos assamitas frenéticos.

- FAÇAM ALGUMA COISA, IDIOTAS! – gritou.

Como que saídos de um transe, os justicar restantes recomeçaram a luta. Mas para Javier era tarde: alguns segundos mais tarde, constataram que mais nada o traria de volta.

- Vamos recuar. – mandou Andrei recarregando a Browning – Isso está além da nossa capacidade... o Círculo precisa ser avisado!

- Eu não aceito sair como perdedora! – opinou Alina já descarregando outro pente sobre os assamitas que chegavam na câmara.

- Pense nisso como uma retirada estratégica. – replicou Octavio dando-lhe cobertura enquanto ela sumia pelas passagens escuras. Rapidamente, os vampiros da Camarilla deixaram Alamut.

 

______ * * * ______

 

Laila não conseguia se lembrar qual fora a última vez que correra daquele jeito. Estava agora há quilômetros da fortaleza, em alguma cidadezinha esquecida pelo governo turco.

- O que faremos, milady? – perguntou Vadette alcançando a vampira.

- Está quase amanhecendo... – percebeu – Precisamos de um abrigo antes de pensar em outras coisas.

- Há uma casa mais a frente. – apontou o carniçal com os olhos cheios de maldade.

 

______ * * * ______

 

- IMBECIS! – gritou Vesh perigosamente irritado diante do corpo vazio de Javier – TANTOS ANOS PARA NOS LIVRARMOS DA MALDIÇÃO PARA VOCÊS ARRUINAREM TUDO?!

- Acalme-se, Vesh. Agora só nos resta remediar. – conformou-se Tamir.

- Se a maldita Camarilla vier à nossa porta novamente, TERÃO O MESMO FIM QUE ELE! – apontou para o justicar. Os subordinados que o escutavam encolheram-se de terror – FUI CLARO?!

- Rya, escolha nossos melhores espiões e mande-os a todas as cidades da Camarilla. – ordenou Tamir – Eles não podem ser descobertos... Sem surpresas dessa vez.

- Sim, senhor. – a vampira fez uma longa reverência e foi cumprir as ordens.

 

______ * * * ______

 

O descanso fizera bem à Laila. Assim que abriu seus olhos, já tinha um novo plano.

- Vadette, - começou assim que entrou na sala onde o carniçal a esperava – nós vamos ao Egito.

 

* * *

 

Egito, Cairo. A milenar cidade dos Deuses conservava, mesmo nos dias de hoje, o magnífico segredo dos antepassados, constantemente protegido sob o olhar atento das pirâmides no horizonte.

Mais antigos que aquelas terras, os seguidores de Set reinavam supremos em toda a região africana. Os serpentes, como comumente eram conhecidos no mundo das trevas, encarregavam-se do fornecimento e armazenamento de informações. Adoradores de barganhas e colecionadores de favores, nunca deixavam uma boa oportunidade passar. Por isso, Laila sabia que poderia contar com eles.

- Eu odeio esse lugar! – exasperou-se a Ventrue enquanto caminhava pelas ruas banhadas pelo Sol do vale do Nilo. – Não sei como alguém, mesmo mortal, consegue viver em um lugar tão abafado como esse! Isso aqui é o Inferno! – praguejou.

A vampira trajava calça e blusa de mangas compridas, a fim de proteger-se do astro, assim como óculos de sol e chapéu com abas grossas o bastante para evitarem a luz que se dissipava.

- Já encontrei um lugar onde pode descansar, senhora. – informou Vadette.

- Excelente. – concordou a vampira enquanto seguia o carniçal.

O hotel aparentava simplicidade, mas Laila definitivamente não suportaria muito tempo sob a irritante e constante presença do sol. Alugando uma suíte, a Ventrue ordenou que Vadette encontrasse um setita disposto a cooperar.

Com o cair do poente, a vampira saiu do refúgio improvisado, encontrando o serviçal, do lado de fora da porta, esperando-a.

- Descansou bem, madame? – perguntou cortesmente.

- Já tive dias melhores. – respondeu a contragosto. – E então fez o que ordenei?

- O setita nos espera em sua residência, disse-me que seu mestre está disposto a nos ajudar.

Caminharam pelo subúrbio da cidade, cerca de dez minutos, até se depararem com uma casa simplória ao fundo de uma ruela.

- É aqui? – perguntou a vampira com asco.

- Boa noite. – cumprimentou um homem de vinte anos, cabelos ruivos, roupas de segunda e o pescoço coberto por colares.

- Boa noite. – respondeu Vadette.

Laila apenas acenara com a cabeça.

- Vejo que trouxe sua mestra. – comentou o vampiro. – Bem, por que não entram? – sugeriu.

- Você seria? – questionou Laila, entrando, com repulsa, na pequena residência.

- Sou Tsimhotep, senhora....

- Laila Ventrue. – completou.

- Bem, sintam-se a vontade. Vou apenas finalizar um ritual e já sairemos. – Explicou o setita fechando a porta atrás de si e desaparecendo por um dos cômodos.

O casebre, pouco iluminado, apresentava uma quantidade insuficiente de artefatos de decoração. Laila, acostumada com os requintes das cortes européias, demorou a acostumar-se com a visão e com a pequenez da moradia.

- Podemos ir? – perguntou Tsimhotep.

- Aonde vamos, exatamente? – questionou a Ventrue.

- Bem, meu mestre está no templo e permitiu que a levasse até ele. – explicou – Mas não se preocupe, não é longe daqui.

Saíram da casa em direção ao reino de Seth: o deserto. Meia hora de caminhada pelas dunas traiçoeiras e nada a vista, com exceção de mais e mais areia. Laila começava a desconfiar do serpente e preparava-se para argumentar quando a parada abrupta a surpreendeu.

- O que é isso? – perguntou Vadette, antecipando-se à sua senhora.

- Chegamos. – explicou.

De certo era uma brincadeira de mau gosto, pensou Laila enquanto cansava-se da paisagem monótona do deserto.

Tateando por entre a areia, Tsimhotep desenhou, com a ajuda de um de seus medalhões, hieróglifos no chão arenoso. Quando terminou, um forte estrondo embaixo das inscrições anunciou que aquela era à entrada do templo. A areia, aos poucos, foi desaparecendo, dando lugar a uma escadaria de pedras.

O serpente passou a frente de seus convidados, descendo as escadas. Laila e Vadette seguiram-no pela passagem.

No subterrâneo, a magnitude do tempo assombrou os convidados; Grandes blocos de granito sustentavam o templo, enquanto imagens de cores vivas adornavam o lugar, contando, silenciosamente, a história dos discípulos do grande deus.

Dirigiram-se até a ante-sala do templo. Dentro da escuridão, um homem de cabeça raspada trajava a túnica dos antigos sacerdotes egípcios. Ao se virar, Laila viu também a maquiagem forte e antiga que ele usava.

- Boa noite, Ventrue. – Cumprimentou o homem. – Sou Sahira, o sacerdote e mestre deste templo. Tsimhotep disse-me que precisa de ajuda. – Explicou, virando-se para os convidados.

- Venho lhe pedir um favor, setita. – começou a vampira. – Tenho uma rixa antiga com um Tremere e chegou à hora de me livrar dele, mas devido a incidentes recentes não posso fazê-lo sozinha, nem com a ajuda de minha casa. – Explicou.

- Nós, seguidores de Set não temos desavenças com o clã Tremere, cara princesa; aliás, até os achamos ... interessantes. Logo imagino que tenha um bom motivo para vir até nós.

- De fato. – concordou. – Todos sabem das qualidades dos setitas e eu espero contar com elas para atingir meu objetivo. Quero apenas me livrar de uma determinada pessoa. – explicou com simplicidade forçada.

O sacerdote ponderou por alguns instantes. De fato, ajudar uma Ventrue lhe seria útil no futuro, talvez conseguisse algumas regalias em troca do favor e eliminar um Tremere, não é de todo tão difícil.

- Muito bem. – pronuncio Sahira após um silencio corriqueiro. – Irei ajudá-la, Ventrue, mas que fique claro que lhe cobrarei esse favor no tempo devido. – advertiu-a. Laila consentiu com um aceno.

Com um movimento silencioso, Sahira ordenou que Tsimhotep buscasse os outros seguidores, deixando Laila e Vadette sozinhos na companhia do sacerdote.

Ao retornar, o setita era acompanhado por mais três vampiros, sendo um deles, uma mulher. Os três possuíam a pele morena, olhos de turmalina preta e cabelos ruivos como o fogo – comum entre os setitas.

- Laila – começou o sacerdote. – Estes são Ahmose, o gladiador; Jarha, o carniçal e Amenirdis, a maga. Eles seguirão você em sua jornada. – anunciou o sacerdote.

- Obrigada, setita. – agradeceu Laila.

 

* * *

 

Terceira maior cidade da Espanha, com clima quente, esplêndidos monumentos e exuberante vida noturna, Valencia servia unicamente de isca para manter o rebanho do Sabá sempre cheio de opções. Laila jamais entendeu como a Camarilla permitiu que a linda capital valenciana definhasse sob o controle caótico dos La Sombra.

A Ventrue sabia que, por não se preocuparem em esconder o que eram, os cainitas da cidade atacariam qualquer humano sem cerimônias e, contando com isso, ela esperava ser levada até o governante da cidade.

Não demorou a encontrar um adolescente, de aparentemente 15 anos, drenando despreocupadamente uma turista alemã numa das ruas estreitas da cidade.

Depois de conversarem longamente e de algumas ligações feitas, o neófito concordou em levá-los até a morada de seu mestre.

Por considerar os membros do Sabá infantis e incontroláveis, Laila esperava tudo, menos requinte, do refúgio de um Guardião, por isso ao chegar à mansão de um ancião La Sombra, não conseguiu conter seu espanto.

A ventrue, acompanhada pelos três setitas e Vadette, seguiam o rapaz através dos cômodos ricamente decorados até pararem na frente de uma grande porta de mogno.

- Lady Agnes vai recebê-la. – informou enquanto abria a porta, mostrando um escritório iluminado apenas pela luz da rua.

- Achei que jamais chegaria o dia em que um Sangue Azul viria até mim. – confessou a La Sombra sentada numa grande poltrona de couro preto – No que posso lhe ser útil, Ventrue.

Laila odiava os Guardiões e sua prepotência por se acharem superiores a todos os vampiros e mais nobres que os de seu clã, mas precisava da ajuda do Sabá se quisesse Elliot a seus pés. Engoliu todo o seu orgulho e respondeu com pompa:

- Há muito os Tremere atrapalham os meus planos. Para conseguir o que é meu por direito, devo destruí-los... Contudo, infelizmente, não tenho mais a proteção do meu clã.

- Bateu na porta errada, querida. – os caninos alongados da vampira brilharam quando ela sorriu – São os Tzimisce que nunca aceitaram os Tremere como imortais. Eles ficariam honrados com o seu convite. Nós nunca tivemos grandes problemas com os Feiticeiros.

- Mas têm problemas com a Camarilla. – apostou Laila.

- Oferece-me a Máscara em troca de ajuda? – Agnes levantou-se e foi até a janela, tornando possível ver toda a beleza da vampira – Cuidado para não adquirir mais dívidas do que pode pagar, Ventrue. – ela pensou por alguns instantes – Mas confesso que sua proposta é tentadora.

- Se me ajudar, entrego os segredos da Camarilla, o que pode fazer toda a diferença para o Sabá. – Laila negociava com maestria.

A La Sombra ouvia cada palavra com atenção. Não queria envolver seu clã nesse tipo de situação e correr o risco de enfrentar uma Caçada de Sangue, mas conhecer a fundo a Camarilla não só os firmaria como líderes absolutos do Sabá como os prepararia para possíveis confrontos.

- Conte conosco, Ventrue. – decidiu.

- Obrigada, La Sombra. – Laila estava aliviada.

- Como já lhe disse, fale com os Tzimisce e também com o clã Gangrel. O ódio milenar que sentem pelos Tremere, se bem usado, pode render bons frutos.

- Farei isso. – a vampira se levantou.

- Estaremos lá quando formos necessários... nem um minuto antes. – informou.

 

______ * * * ______

 

Preocupado, Matheus estendeu sua estada na casa do amigo por algumas semanas. Sabendo que a relação do vampiro com a bailarina não andava bem, optou por ficar e de uma maneira ou de outra, mediar o clima constrangedor que pairava pela casa.

Mas, como um dos responsáveis pela punição imposta aos Assamitas, Matheus logo foi informado do incidente que ocorrera na fortaleza; Eficaz como era e disposto a avisar a Camarilla, comunicou Elliot que partiria, com a promessa de mantê-lo a par da situação.

 

            * * *

Duas semanas se passaram desde a fatídica noite em que a vida de Mirella mudara drasticamente. A bailarina aproveitava, em seu quarto, o espetáculo do nascer do sol, já que, novamente, sonhara com aquela estranha garota e Elliot.

-Um hábito – Pensou a garota que formava, em vão, teorias para tanto pesadelo.

Assim que oito horas completaram-s no relógio, a garota vestiu-se e desceu para a sala a fim de tomar seu desjejum. Surpreendeu-se ao encontrar Elliot no sofá da sala, com uma taça em uma das mãos.

-Bom dia. – Cumprimentou-o educadamente.

-Bom dia. – Respondeu.

Como de costume, Mirella tomou seu café-da-manhã desacompanhada e em silêncio. Quando acabou, agradeceu Gaspar e retirou-se do recinto.

-Mirella? – Chamou o vampiro, impedindo-a de subir as escadas.

-Sim? – Respondeu surpresa.

-Poderia me acompanhar? – Pediu, passando a frente da garota.

Obediente, Mirella seguiu-o escada acima. Elliot subiu até o terceiro andar, onde, pelas expectativas da garota, encontrava-se o sótão. Pararam em frente a uma bela porta de mogno trabalhado com uma fechadura de ouro.

O vampiro fez sinal para que Mirella abrisse a porta. Receosa, a garota deu um passo à frente e empurrou a porta de forma que a mesma se abrisse. Surpreendeu-se ao constatar que se encontrava em uma sala de ballet.

Mirella mal sabia o que dizer. Caminhou pelo cômodo, analisando-o.

As paredes do cômodo eram envoltas na cor gelo. Uma vasta janela no formato de arco estendia-se por toda a parede adjacente à porta, amplificando a dimensão do local. A parede oposta, por sua vez, era revestida de ponta a ponta por espelhos.

Uma longa barra de ferro estendia-se, paralela, a um metro da longa fileira de espelho, fixando-se no chão de madeira envernizada.

No canto em frente à janela, um piano de cauda, no mesmo tom do ébano, quebrava a monotonia do branco. Ao lado desse, na parede, erguia-se um armário de mogno, com uma caixa de som em seu topo, seguido por um tampo da mesma rara madeira. Em seu interior, uma vasta coleção de CDs e DVDs. Sobre o tampo, um pequeno aparelho de DVD.

Finalizando, um par de poltronas de couro preto, separadas por uma pequena mesinha de canto, concentravam-se na outra extremidade do ambiente.

-É maravilhoso! – Exaltou a garota.

-Que bom que gostou. – Alegrou-se Elliot, que se encontrava encostado à porta, longe da claridade.

-É... eu não sei o que dizer. – Comentou, envergonhada,

-Bom, ele é seu. – Explicou. – Meu presente de desculpas.

-Não precisava.                                                      

-Eu sei que não, mas queria poder fazê-la feliz e reparar, em algum grau, o erro que cometi. – Disse deixando-a mais encabulada. – Espero que assim, um dia talvez, eu consiga seu perdão. – Desejou, saindo da sala logo em seguida.

-Obrigada. – Agradeceu, sincera, aos sussurros.

Por um instante, Mirella pensou em correr atrás do rapaz, mas não conseguiu se mover. Confusa, caminhou desnorteada pelo aposento, deixando-se afundar na elegante poltrona.

A garota não sabia o que pensar. Era verdade que estava muito chateada com o vampiro pelo que fizera, mas ao mesmo tempo, sabia que ele era bom e que, de alguma forma, algo a impedia de odiá-lo por completo.

 

Continua...

 


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