Réquiem escrita por Lady May, Babs


Capítulo 1
Prefácio




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No princípio, todos os vampiros viviam em harmonia sob as ordens do Pai de todos, Caim. Mas quando o rei anunciou sua partida, seus filhos iniciaram uma disputa pelo poder que resultou no surgimento de treze clãs vampíricos, dentre os quais apenas seis fazem parte da Camarilla e são responsáveis pela ordem e pelo segredo de sua existência. Cada um dos clãs possui uma disciplina única e imutável e costumes conhecidos apenas por seus membros.

Esta história começa justamente porque a vontade de um vampiro não pode ser ignorada.

 

Tudo teve início em Avignon[1], no ano de 1317. Elliot era um camponês de cabelos pretos na altura dos ombros que, constantemente, eram mantidos presos por uma tira de couro, mantinha sempre um sorriso no rosto de traços marcantes e expressivos, mas eram seus fundos olhos castanhos que brilhavam quando ele via Catharina, sua futura esposa.

 

O rapaz era perdidamente apaixonado pela moça desde que se tornara homem. O que, de certa forma, era normal, já que ninguém conseguia ignorar beleza insólita e a delicadeza incomum da jovem.

 

Havia uma semana que Elliot a pedira em casamento e tudo corria normalmente, quando uma guinada no destino mudou suas vidas para sempre.

 

A cada seis meses, em Provença[2], acontecia uma feira onde o excedente de produção dos feudos podia ser vendido ou trocado por outras mercadorias. Com o inverno se aproximando, Elliot fora mandado à cidade para trocar sacas de trigo por centeio[3], já que os que plantaram em Avignon não renderam tanto quando o esperado, ao contrário do trigo.

 

Já em Provença, o camponês encantara-se com a movimentação de mercadores, assustou-se com o mar, gelado naquela época do ano, fascinou-se com os trovadores e até decorou alguns versos de uma cantiga que ele recitaria à noiva quando voltasse.

 

Depois de jantar um pedaço de pão e uma caneca de vinho, Elliot voltava para a companhia de sua carroça, quando se chocou com uma mulher que, por suas vestes, pertencia à nobreza.

 

- Perdoai-me, minha senhora, estava distraído. – era clara a aflição do jovem. Poderia ser castigado por tê-la derrubado de forma tão grosseira.

 

- Pois então, deves prestar mais atenção. – irritou-se a dama ajeitando seu vestido de seda coberto por pele de urso[4] e botões de pedras preciosas. Com certeza, uma mulher extremamente rica e poderosa.

 

- Não se repetirá, minha senhora. – disse Elliot reverenciando-a respeitosamente.

 

- Olha para mim, rapaz. Quero ter a certeza de que o próximo a me tocar não serás tu. – ordenou.

 

Antes não o tivesse feito. Da mesma maneira que Elliot espantou-se com os atributos da moça, ela encantou-se com a virilidade e beleza do rapaz.

 

- Como te chamas? – perguntou a dama.

 

- Elliot, senhora. – contou prontamente.

 

- Tu és desta cidade, Elliot?

 

- Não, senhora, sou de Avignon. Vim para trocar algumas mercadorias.

 

- Pretendes ficar muito tempo? – Era óbvio o interesse da moça no camponês e o poder que ela já exercia sobre ele também, pois apenas Elliot não percebia que a dama lhe tiraria quantas informações ela assim desejasse. Aqueles olhos verdes eram perigosamente hipnotizantes.

 

- Volto ao amanhecer. – informou.

 

- Que triste. Achei que poderíamos nos conhecer melhor. – sorriu a senhora tocando sedutoramente o peito do rapaz.

 

- Perdão, senhora, mas minha noiva me espera. – disse Elliot na esperança de desestimular a mulher.

 

- Estás noivo? Tão jovem?

 

- Casaremos o quanto antes. – continuou confiante.

 

- Desejo-lhes felicidades, então. – a dama aparentava contrariedade, mas não disse mais nada e se retirou.

 

- Ouviste isso, Vadette, o jovem tem uma noiva. – riu Laila ao se encontrar com seu criado já longe dos ouvidos do camponês.

 

Vadette era o mais fiel criado de Laila, alto, corpulento, rosto redondo e perigoso.

 

- Quer que eu o traga para a senhora? – sugeriu o homem.

 

- Não. – replicou firmemente – Sabes que aprecio um desafio.

 

- Vais abraçá-lo, minha senhora? – indagou Vadette.

 

- Há tempo não encontrava um homem que valesse a pena... sim, vou transformá-lo. – riu sedutora – Creio que terei de visitar Sua Santidade, o papa, em Avignon.

 

====== * * * ======

 

A viagem de volta a Avignon durou cinco dias[5]. Não que a distância fosse longa, mas o relevo acidentado obrigava os viajantes a seguirem com cautela.

 

Elliot chegou depois do anoitecer. Reviu seu pai e sua noiva e, em seguida, levou as mercadorias ao depósito do castelo.

 

Retornava sozinho quando avistou uma mulher saindo em companhia de um padre de dentro da fortaleza, os mesmos cabelos lisos castanhos, o mesmos olhos verdes e nariz fino. Não era possível que aquela mulher estivesse em Avignon. Mas estava.

 

- Ali está ele, reverendíssimo. – comentou Laila vendo Elliot.

 

Entendendo que a senhora gostaria de ficar sozinha com o camponês, o padre se retirou depois de receber um beijo na mão da mulher.

 

- Minha senhora, perdoai meu atrevimento, mas o que fazeis aqui?

 

- Naquela ocasião, eu não disse que havia perdoado-o. Dessa forma, vim pedir a sua santidade que permita sua partida de volta para Provença como castigo.

 

- Minha senhora, por favor, não façais isso. Tenho família aqui. Minha noiva. – o camponês não conseguia esconder seu pânico.

 

- Asseguro-lhe, rapaz, que o que tenho a oferecer-te, tua noiva não o tem.

 

- O que quereis dizer com isso?

 

- Posso dar-te o que desejar e o que peço em troca é a tua companhia.

 

- Não posso oferecer-vos mais que minha sincera amizade, pois meu coração pertence à Catharina.

 

- Entenderás, rapaz, que Laila Ventrue não aceita ser contrariada. – podia ser impressão, mas Elliot viu uma sombra sobrenatural nos olhos da mulher, que lhe causou arrepios – Considerei que ignorarias minha proposta, então tomei precauções. Espero que tenhas tempo de despedir-te de tua noiva. – Assustado, Elliot iniciou corrida até a casa de Catharina, deixando Laila rindo loucamente atrás de si.

 

Chegou à casa da noiva completamente sem ar. Dentro não havia nada além se sinais de luta e dois corpos disformes no chão; seu futuro sogro e o irmão mais novo da jovem.

 

Saiu virando o rosto com violência, tentando descobrir um caminho a percorrer.

 

-Senhor Elliot, procura Catharina? – questionou uma senhora idosa que vizinhava com a moça. Ela estava perturbada e quando Elliot se aproximou, pode ver que ela tremia. – Ela foi levada por um homem alto. Seguiram em direção ao rio.

 

O camponês esqueceu-se até de agradecer. Correu até as margens do Ródano onde encontrou Vadette segurando a garota e Laila curvada sobre seu pescoço.

 

Ao perceber a presença do rapaz, a dama afastou-se de sua vítima e mostrou sua verdadeira forma ao camponês.

 

- Não te assustes – ria Laila ainda com os olhos vermelhos e os caninos tocando-lhe os lábios – Não sou o demônio como tu pensas. Sou apenas obstinada.

 

- Se não és o demônio, o que és? – gritava Elliot.

 

- Sou uma criatura da noite.

 

Elliot não conseguia associar isso a vampiro, mas sabia que qualquer coisa do mal não poderia atacar uma cidade santa como era Avignon, a cidade do Papa.

 

- Consigo caminhar por Avignon e até beijar uma cruz se quiseres. E isso é possível porque teus padres não têm fé e são tão pecadores quanto qualquer mortal. – contou Laila lendo os pensamentos do rapaz – mas vamos deixar esses assuntos para mais tarde e voltar ao que interessa: tem apenas uma escolha, Elliot, acompanhar-me.

 

- Por que fazeis isto? – perguntava Elliot contendo as lágrimas ao ver a vida de Catharina se escorrer como o sangue em seu ombro.

 

- Porque te quero. – respondeu simplesmente

 

- Nunca serei teu. – afirmou o camponês amargurado.

 

- Vadette, mate-a. – ordenou Laila com um sorriso cínico.

 

O serviçal, que até agora não emitira som algum, riu mortalmente. Sem escrúpulos, lambeu a ferida aberta por Laila para, em seguida, sugar o resto de sangue que a moça ainda possuía.

 

Elliot tentou detê-lo, mas foi impedido pela força descomunal de Laila, que o jogou ao chão e lhe mordeu a jugular. O silêncio era tão profundo, que Elliot fora capaz de ouvir os dentes da mulher enterrando-se em sua carne.

 

Antes de perder os sentidos, o camponês ouviu um último chamado de sua amada antes do corpo cair na água do rio.

 

====== * * * ======

 

Elliot acordou assustado e arfante. Piscou os olhos quando percebeu que não era um pesadelo. Estava preso com correntes sobre uma mesa de madeira. Laila estava ao seu lado olhando-o com um misto de sadismo e luxúria.

 

- Mata-me logo de uma vez! – pedia em tom de súplica.

 

A mulher o ignorou. Os olhos, amarelados pelo fogo, continuavam fixos no moribundo deitado a sua frente e sua face transmitia o prazer que sentia em ver o líquido escarlate manchar o chão da cripta. Instintivamente seus dedos dançavam sobre o peito nu do rapaz aumentando o desejo que sentia.

 

- Matar-te? Não... És belo demais para definhar como um humano. – dizia a dama – Diga-me, por que me rejeitas? Dar-te-ei o mundo, a imortalidade e preferes a morte?

 

- Prefiro a morte a passar a eternidade sem Catharina.

 

- A donzela agora faz parte do passado, como as águas do Ródano que levaram seu belo corpo. – a mulher sorriu falsamente, o que fez Elliot enfurecer-se.

 

- Demônio em forma de mulher! – gritou – Mata-me agora ou nunca terás paz!

 

- Quando te tornares o que sou, não haverá alma no mundo que te compreenda. – Laila acariciava o rosto do rapaz fingindo piedade – Terás de te habituar comigo. E garanto-te que sou melhor amante que tua inexperiente Catharina.

 

Os olhos femininos tornaram-se rubros e caninos tornaram a aparecer, causando um medo inexplicável e uma dor lancinante quando este tocou novamente o pescoço do rapaz.

 

Aquela seria a última lembrança do mundo mortal que Elliot teria. Uma dama usando um casaco longo de pele de raposa amarela e vermelha, uma linda jovem, cujos cabelos castanhos brilham delicadamente dentro da sombra de seu capuz forrado de pele.

 

Sentindo sua vida se esvair, o camponês sentia-se feliz por morrer, assim encontraria Catharina e poderiam viver no céu a vida que lhes foi tirada na Terra. Entretanto, infelizmente para ele, Laila tinha outros planos. Com o rapaz inconsciente, a vampira mordeu seu lábio deixando escorrer seu sangue amaldiçoado com o qual ela transformaria Elliot num igual através de um beijo.

 

O rapaz nunca mais encontraria Catharina, pois o descanso eterno lhe fora negado quando o transformaram num maldito. Daquele dia em diante deveria se acostumar a sobreviver sem seu amor, longe da família e amigos e sob a guarda da mulher que mais odiava, Laila Ventrue.

 

====== * * * ======

 

A transformação de alguém num vampiro provoca muita dor, resultando em demora para despertar ou, em alguns casos, apatia perpétua.

 

Elliot dormira por dois dias e assim que despertou, não conseguiu ignorar a queimação irritante no estômago e uma sede avassaladora. Estava num quarto amplo, deitado sobre lençóis de seda chinesa numa cama de cedro.

 

- Demoraste muito para acordar, meu querido. – comentou Laila que, deitada ao lado do novo vampiro, vestia uma camisola de renda branca. – Como te sentes?

 

- Como queres que me sinta? – retorquiu amargurado enquanto desviava o olhar do rosto da mulher.

 

Laila não respondeu. Não por falta de palavras, mas porque não queria iniciar nova discussão, mas o atrevimento de Elliot lhe custaria mais algumas noites de fome e sede. Deixou os aposentos trancando a porta atrás de si.

 

Mais dois dias se passaram, acendendo em Elliot mal estar indescritível. A vampira, sabendo disso, aproveitaria essa oportunidade para mostrar ao rapaz o que ele se tornara. Laila levou ao quarto uma bela criada que fora prontamente atacada pelo camponês assim que cruzou a soleira da porta.

 

Elliot sentiu-se culpado depois de ver o que fizera, mas não conseguiu controlar seus instintos. Nem mesmo pensava quando tudo aconteceu, pois só o que sabia é que precisava daquilo que corria nas veias da criada para continuar vivo e ciente.

 

A dama, ao contrário, ficou extasiada ao ver a ferocidade com que o novo vampiro sugava o sangue de sua vítima.

 

- Viste? Tu já te tornaste o que sou. Agora posso dizer que estás pronto para deixar este cômodo. – riu Laila – Vista-te e venha à mesa. – continuou em tom de ordem já deixando o aposento – Vou apresenta-te para tua nova família.

 

Elliot não queria uma nova família. Pelo menos não nenhuma que tivesse Laila como membro. Aproveitando a oportunidade de ter a porta destrancada, o rapaz vestiu-se e deixou o castelo. Por sorte descobriu-se em Provença, o que lhe deu ânimo, já que sabia o caminho a seguir.

 

Apesar de improvável, mas ainda com esperanças de encontrar a amada, Elliot subiu o rio Ródano sem perceber que sua velocidade, incentivada pelo desespero, era tanta ao ponto de não passar de um borrão aos olhos mortais.

 

Então ele a encontrou, aproximadamente a 20 km de Avignon, o corpo de Catharina abandonado na margem. Nunca dor tão grande fora sentida e aquela cena jamais lhe abandonaria a mente.

 

O corpo estava em estágio avançado de decomposição, mas o rapaz pareceu não se importar. Cuidadosamente pegou-a nos braços e encontrou, no meio das árvores, um lugar para enterrá-la. Depositou-a no chão e cobriu o corpo com terra, folhas e pedras fazendo um túmulo que, com certeza, não era digno de alguém como Catharina.

 

Ajoelhado e de olhos fechados, Elliot tentava preservar as imagens da donzela ainda viva. Seus longos cabelos castanho-claros presos numa trança que lhe tocava a cintura, expressivos olhos cor de mel, rosto delicado sempre com um sorriso e dona de uma generosidade nunca vista igual.

 

O camponês não sabia se Deus escutaria suas preces, mas pediu para que o criador cuidasse bem da moça e que o perdoasse por não tê-la protegido.

 

- Requiescat in pace[6], Catharina. – disse tocando as pedras.

 

Elliot recomeçou a andar, embora não soubesse onde ir. Precisava de ajuda, mas não conhecia nada do mundo nem de vampiros. Tudo que sabia era que deveria ficar longe do nome Ventrue.

Sem opções, tomou a estrada para Paris.

 

====== * * * ======

 

- Eu mandei vigiá-lo, Vadette. – bradava Laila enfurecida.

 

- Nenhum dos criados o viu sair, minha senhora – replicou Vadette.

 

- Tu não és apenas um humano estúpido, carniçal incompetente! Deverias saber até quando ele se move.

 

- Vou trazê-lo de volta, senhora. – prometeu a criatura.

 

- E não te atrevas a aparecer sem ele! – ordenou.

 

====== * * * ======

 

Uma palavra para definir Paris: nojenta. Esgoto a céu aberto e ratos dividindo espaço com pessoas morrendo de inanição eram apenas algumas características da capital francesa no sec. XIV.

 

Elliot passara os dias escondidos em qualquer lugar e à noite saia tentando encontrar um porto seguro.

 

Demorou mais do que ele gostaria, mas Vadette logo descobriu que o novo brinquedo de sua senhora estava em Paris, embora ainda estivesse em dificuldade para encontrá-lo. Andava sem medo pelas vielas estreitas da cidade começando a se irritar pela falta de resultados. Subitamente percebeu aquela que faria sua noite mais feliz e seus olhos amarelados revelaram a maldade de suas intenções.

 

Tiffany Toreador era o que existia de mais belo entre os vampiros, sempre elegante e bem vestida, possuía rosto gracioso, olhos pequenos de cor castanha, nariz fino e lábios bem desenhados, cabelos pretos no meio das costas com algumas ondas nas pontas, dando ar despojado em seus fios lisos e, para o vassalo de Laila, a dama também era portadora de um sangue delicioso.

 

A moça andava em direção à futura Catedral de Notre-Dame, no centro de Paris. Completamente absorta em pensamentos, não percebeu o olhar em sua direção.

 

Adicionada à falta de espaço, as ruas também não possuíam iluminação, mas Elliot não se importava com este detalhe, até gostava daquela descrição e suas habilidades recém-adquiridas tornavam andar por ali muito mais fácil.

 

Então ele ouviu um grito. O vampiro podia não ter nada a ver com aquilo, mas se alguém precisava de ajuda, socorrer era uma maneira de aliviar o sentimento de pecado que ele possuía.

 

Seguindo as vozes, o novo vampiro reconheceu Vadette atacando Tiffany, que tentava desesperadamente livrar seu pescoço dos dentes de seu agressor. Sem pensar duas vezes, Elliot lançou-se contra a criatura que, depois de uma luta desigual e injusta, acabou inconsciente após levar uma pancada da vampira.

 

- Obrigada, senhor. – agradeceu Tiffany recolocando o pedaço de pau que abatera Vadette no chão. Logo depois observou bem seu salvador, reconhecendo imediatamente que se tratava de um vampiro.

 

- Não fiz mais do que deveria. – respondeu educado também reparando que existia algo de diferente na moça.

 

- Tiffany, por que a demora? Deixou-me preocupado. – repreendeu um terceiro vampiro surgindo na escuridão.

 

- Matheus! – exclamou a dama abraçando o homem – Fui atacada.

 

Matheus era um vampiro antigo e poderoso, além de um símbolo inglês genuíno com seu humor comedido e excesso de bons modos. Possuía rosto retangular expressivo, olhos fundos de cor azul e lisos cabelos loiros na altura dos ombros presos por uma fita de cetim preta.

 

- Malditos Ventrue. – praguejou o vampiro ao ver Vadette caído – Laila se arrependerá por ter-te atacado. – acariciou os cabelos da mulher para depois reparar em Elliot – E quem és tu?

 

- Foi ele quem me salvou. – contou a vampira antes que Matheus tirasse suas próprias conclusões.

 

- Enfrentaste um carniçal?

 

- Carniçal? – repetiu Elliot.

 

- És um vampiro e desconhece os carniçais? – estranhou Tiffany.

 

- Carniçal é um humano que se vendeu a um vampiro em troca de sangue e vida longa. Sofrem dos mesmos impulsos que nos acomete, mas eles preferem o sangue dos vampiros, ao contrário da maioria de nós. – resumiu Matheus – Diga-me, qual a tua família?

 

- Não tenho família, mas se queres saber quem me rogou esta maldição, foi Laila Ventrue. – disse Elliot angustiado.

 

- Logo vi que tinha algo dos Ventrue em ti. – comentou o loiro.

 

- Não entendo. Se foste abraçado por um Ventrue, por que lutaste contra Vadette? – indagou Tiffany.

 

- É uma longa história. – entristeceu-se Elliot.

 

- Temos a eternidade para ouvi-la. – sentenciou Matheus.

 

- Não fales dessa maneira, Matheus. – repreendeu a vampira – O rapaz parece sem rumo. Precisamos ajudá-lo.

 

- Não posso levar um Ventrue, minha querida, sabes disso.

 

- Não sou um Ventrue. – irritou-se Elliot para depois pedir desesperado por ajuda – Por favor, não quero voltar para Laila. Por favor!

 

- Matheus, ele enfrentou Vadette, salvou-me. É o mínimo que podemos fazer para retribuir. – tentou Tiffany.

 

- Se estás disposto a deixar os Ventrue para trás, posso ajudar-te. – concordou Matheus compadecido pelo sofrimento do rapaz. Estava claro que Elliot fora abraçado à força e que sofria por isso.

 

- Serei grato, senhor. – aliviou-se o moreno.

 

- Chama-me de Matheus – pediu num meio sorriso estendendo a mão para o outro – Afinal seremos do mesmo clã.

 

- Sou Tiffany, do clã Toreador. – apresentou-se a moça – Ainda não disseste teu nome.

 

- Elliot. – respondeu o rapaz apertando a mão a sua frente.

 

- Bem vindo ao clã Tremere, Elliot. – disse Matheus – Agora conta tua história que o caminho é longo.

 

Enquanto o trio caminhava rumo às instalações dos Tremere, Elliot contava suas aflições e assim perdurou até o fim da noite, quando os três já eram praticamente amigos.

 

Havia muito que aprender, mas o novato agora compreendia sua condição e tudo mudaria já que tinha ajuda e talvez não demorasse muito para que pudesse vingar a morte de Catharina.

 

Mas o que Elliot não entenderia a princípio é que sua entrada para o clã Tremere causaria desavenças com os Ventrue além do fato de Tiffany, alguém intimamente ligada a um Tremere, ter sido atacada sem motivo algum. Podendo assim, iniciar um confronto entre famílias em que a Camarilla não poderia intervir.

 

______ * Fim * ______

 



[1] Avignon é uma cidade no sul da França, cerca de 80 km a noroeste de Marselha. Contudo, a cidade não era território Frances, na época, mas um feudo pertencente ao rei da Sicília, Carlos II. Possui um nome em português, mas preferi manter a escrita francesa.

[2] atual região de Marselha.

[3] A alimentação na Idade Média consistia basicamente de cereais, raízes e legumes para substituir a carne.

[4] Não é legal usar peles de animais, mas como fazia parte da vestimenta da elite...

[5] Google Maps, hoje com todas as facilidades, informou que De Avignon a Marselha são 20 horas a pé. Como as coisas na idade média eram meio complicadas, exagerei para cinco dias.

[6] Descanse em paz, em latim.


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Notas finais do capítulo

Agradecimentos a todos que lerem e, principalmente, deixarem reviews, o que deixaria duas autoras muito felizes.
E à Nefertari que me convidou para fazer parte dessa história e me confiou seu prólogo.