P.D.V T. R:

Minha ronda tinha acabada fazia tempo.Estava andando pelo corredores depois da nossa reunião, olhando cada mísero detalhe do teto que me fizesse concentrar no que discutimos hoje, e não naqueles lindos olhos castanho-chocolate . Eu tinha que decidir o que fazer com os sangues-ruins que deveriam ser eliminados, assim a minha vingança começaria a ser posta em prática.Eles pagariam pelo que me fizeram passar.

A noite parecia mais escura do que o normal, não que a escuridão me abalasse, pelo contrário , ela era o abrigo que muitas vezes fazia-me sentir bem. Era lá no escuro que eu conseguia pensar melhor, a luz me atrapalhava, me mostrava um mundo que eu não queria viver. A noite sem estrelas e com muito pouca iluminação partida da pequena lua minguante, claridade do local tornara-se ainda mais precária, sendo realizada pelos raros e poucos lampiões espalhados pelos corredores.

Uma sensação acometeu-me, não uma daquelas que te fazem sentir-se bem, mas aquela que gera um aperto em seu peito sem nenhum tipo de explicação.Ignorei-a completamente, balancei fortemente minha cabeça decidi espantar esses pensamentos, um bruxo como eu não era levado pelos sentimentos, pelas emoções advindas do nada e apressei o passo.Uma boa noite de sono faria tudo melhorar, faria com que eu pensasse claramente de novo.
Minha preocupação, mesmo esquecida no fundo de minha mente, fazia-me imaginar os corredores ainda mais longos e tenebrosos.Meu instinto de proteção gritava, não por mim mesmo, mas por outra pessoa, e quem seria essa pessoa?

Eu nunca me importei com outros além de mim. Por que agora a masmorras pareciam grandes armadilhas para aqueles que não conheciam Hogwarts tão bem como eu, e assim apenas uma mulher me vinha na mente, Hermione, tratei de espantar esses pensamentos, ela não era louca de estar a essa hora fora de seu dormitório.

Barulhos de passos apressados podiam ser ouvidos, porém gradativamente foram tornando-se mais e mais fortes transformando-se em uma espécie de corrida desesperada. Alguém estava em apuros e ganharia uma bela advertência se fosse encontrado a essa hora vagando longe de sua cama, uma que eu mesmo teria prazer em aplicar.

Indagando pra mim mesmo sobre quem diabos estaria a essa hora passeando pelos corredores de Hogwarts, notei sua presença.Era ela quem corria de maneira desesperada, seus belos olhos castanho-chocolate, encobertos por longos cabelos que batiam em suas costas em um ritmo idêntico ao que ela corria, impediam-me de perder-me em suas profundezas, sua bela pele cor de pêssego adquiriu um tom tão pálido quanto o próprio branco, ou até pior, quase que um rosto sem vida. Ela tentava fixar sua atenção ao chão, identificando qualquer empecilho que a atrapalhasse sua “fuga“.

–AHHHHHHHHHHHH!!! - gritou quando a segurei para que não fosse de encontro a mim.Ela estava gelada e trêmula, agora mais perto pude perceber que sua pele não estava branca como eu pensava e sim, tão pálida quanto um cadáver.Seu estado começava a me preocupar, mas eu não me renderia a esse sentimento, não por uma menina que mal conhecera, mesmo que essa menina fosse...ela. -Solte-me por favor...- implorou com a respiração ofegante fazendo sua voz fraca ir morrendo aos poucos.Uma voz tão fraca quanto ela mesma parecia estar, parecia que alguém tinha-lhe arrancado todas as suas forças, e pior, aquele sorriso irônico e ao mesmo tempo doce que ficou gravado em minha memória.

–De novo não, por favor, não...- “como assim de novo não?”Pensei irritado.”O que podia ter acontecido para deixá-La assim?Ou melhor, quem teria acontecido?” Aquele resposta com muita certeza deixaria alguém gravemente ferido, isso eu podia afirmar.Continuei segurando-a, pois tinha certeza que se a soltasse iria rapidamente ao chão.Sem querer a tensão , que pairava no ar, deixou-me ainda mais preocupado, com isso meu corpo respondeu trazendo-a para mais perto e apertando-a mais do que inicialmente.Um abraço de ferro de qual ninguém a tiraria, ninguém a machucaria ou violaria.

Ela continuava inerte em meus braços, parecia sem forças até para falar. -Acalme-se, está tudo bem...- tentei tranquilizá-La , o que pareceu funcionar, deixando-me surpreso, pelo menos eu achava que seria o último na lista de pessoas habilitadas a consolar Hermione Scott. - Shhhhh!Eu estou aqui, já passou....eu vou te proteger...- prometi completamente confuso, porque diabos eu disse isso?Eu deveria estar louco, porque eu realmente queria dizer isso, queria protegê-La o quanto eu pudesse.

Deslizei minha mão por suas costas numa tentativa de deixá-La mais calma . Parecia que meu toque tinha a despertado, já que a mesma começou a chorar , copiosa e desesperadamente, agarrando-se a mim, cravando sua unhas nas minhas vestes, como se fosse sua tábua de salvação.Curiosamente senti-me mal por ela, era como se sua dor passasse para mim, e aquilo deixava-me ainda mais nervoso, pois nenhum ser já havia conseguido isso, nem mesmo os sangues-ruins que eu torturava e que imploravam por suas vidas.Um desejo assassino tomava-me enquanto eu pensava ; “Eu pegarei o desgraçado que ousou mexer com ela, e o matarei somente depois de fazê-lo sofrer tanto que ele implorará pela própria morte como sua salvação”.

Puxei-a para o meu colo e decidi levá-La para o meu quarto, ela não estava em condições de passar essa noite sozinha e, afinal a torre dos monitores era só minha.Descansando sua cabeça em meu peito, nunca deixava de apertar suas mãos em minha veste, era como se em algum momento pensasse que eu iria desaparecer e ela voltaria para o pesadelo que acabara de viver, ficando apenas sozinha. Eu de alguma forma inimaginável conseguia acamá-La, um feito inacreditável quando se considera que o “ela” seja Hermione Scott, a garota que eu mal conhecera e que já havia começado a me provocar completamente.
Esgotada pelo que acontecera, a bela castanha desmaiara em meus braços, pendendo sua cabeça para trás já sem forças.Fazendo com que aqueles belos olhos chocolates se fechassem, e por um momento eu tive medo de que eles nunca voltassem a se abrir.Por mais que eu a chamasse desesperado, ela não acordava.Sua face nunca deixara de demonstrar a dor e o medo que ainda sentia, nem mesmo na inconsciência.Seu corpo ainda gelado, não só pelo susto, mais também pelo suor que molhara suas vestes.

A torre dos monitores não ficava muito longe de onde estávamos, alguns poucos minutos depois estava colocando-a em minha cama. Ver sua face pálida e angustiada me fazia pensar em inúmeras formas de deixá-La melhor, mas no final convenci-me de que apenas ela conseguiria fazer isso por si mesma. Depois de deixá-La confortável sentei em uma poltrona perto da minha cama, e peguei-me encarando aquela que em dias conseguiu me fazer sentir muito mais do que eu havia sentido em minha vida toda até agora.Aquela beleza me angustiava e deixava sua marca cada vez mais profundamente em minha memórias, de uma forma que eu não conseguirei tirá-La...