Você é o Meu Destino. escrita por Kizuna


Capítulo 4
Final.




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ㅤㅤPassei horas na fila para comprar um passaporte, depois uma hora na fila para o embarque... Aquilo me cansou demais. Mas, para minha sorte, eu poderia dormir bem na viagem até Hokkaido, já que era tão longe.

 ㅤㅤEu não acho necessário contar sobre os momentos da viagem dentro do avião, porque foi realmente tedioso e eu dormi a maior parte dela.

 ㅤㅤEntão, quando o avião enfim pousou no aeroporto de Sapporo, eu já estava acordado. Era tarde do quarto dia. Eu precisava ser muito rápido!
 ㅤㅤPeguei minha mochila no desembarque, e segui meu caminho para o bairro onde Tegoshi provavelmente estava. Céus, eu ia encontrá-lo!


ㅤㅤ Neve. Muita neve. Muitas luzes natalinas. Poucas pessoas circulando pela rua. Um frio imenso.
 ㅤㅤEssa é uma boa descrição daquela cidade naquele fim de tarde.

 ㅤ ㅤEu estava nervoso, ansioso, e até emocionado por estar tão perto de encontrar Tegoshi. Esses sentimentos eram tão fortes que eu nem sentia fome.

 ㅤㅤMas, eu havia me esquecido o endereço, então precisaria ter o papel em mãos para me orientar e até me informar com pessoas se fosse necessário.
ㅤㅤ Parei de andar e me sentei em um banco da praça, abri minha mochila e comecei a procurar. Onde mesmo eu havia deixado?

 ㅤ ㅤProcurei, procurei, e procurei. Eram seis bolsos ao total naquela mochila, e o endereço não estava em nenhum deles. Não, eu não podia ter perdido...
ㅤㅤ Procurei outra vez, desesperado, até algo voltar subitamente em minha mente: – "Vai se arrepender de ter tirado minha paciência dessa forma."

 ㅤ ㅤEu gelei de tal forma que meu coração falhou uma batida. Não podia acreditar naquilo... Ele foi mesmo capaz de... Pegar o endereço?! Após pensar nisso, percebi que o documento danificado também não estava ali.
 ㅤㅤMaldito... Maldito! Por que ele fez isso comigo? Eu nunca quis nada com Taguchi...

 ㅤ ㅤEu estava com tanta raiva, tão frustrado que perdi totalmente a esperança de achar Tegoshi. Estava tão perto, mas tão distante... Logo seria o quinto dia, eu não tinha tempo de procurá-lo naquela cidade enorme. Era o fim.


ㅤㅤ Nada mais tinha graça, nada mais me interessava. Com meu rosto sem expressão, parecendo totalmente vazio por dentro, comecei a andar para qualquer lugar que fosse.
 ㅤㅤ Eu só queria andar, se ficasse parado cairia no choro até desidratar. Nem ligar para Koki e avisar que estava voltando em pouco tempo eu tive vontade.


 ㅤㅤAlgumas horas mais tarde já era noite, e eu já estava em uma parte da cidade sem prédios, era uma outra praça com casas. Estava tudo tão bem enfeitado, mas eu não conseguia achar nada lindo.

 ㅤㅤ– “Por que... POR QUÊ?!” – Berrei inconformado com o que tinha acontecido, assim quebrando aquele silêncio angustiante do lugar. – “Eu só queria ver ele mais uma vez... Por que isso foi acontecer? Depois de tudo...” – As lágrimas de frustração escorriam em abundância por meu rosto gelado. – “Eu tive tanto azar, mas esse foi o maior de todos! Inferno... Inferno!” – Eu, realmente, estava muito inconformado.

 ㅤㅤContinuei caminhando enquanto chorava, até parar perto de um banco. Havia algumas colunas de cada lado dele, mas sem telhado, talvez ainda estivessem em construção... Ah! Aquilo não me interessava, assim como o resto do mundo.
 ㅤㅤSentei no chão daquele local e abracei minhas pernas dobradas, e escondi o rosto ali. Estava frio demais, e as lágrimas faziam meu rosto gelar mais.

ㅤㅤ Mesmo eu não estando prestando atenção em nada, pude notar que havia uma pessoa sentada de costas para mim naquele banco. Ele era loiro, cabelos curtos e usava fones de ouvido grandes.
 ㅤㅤEu e aquele rapaz passamos um bom tempo em silêncio, fingindo não notar um ao outro. Até que, de repente, ele se levantou e veio em minha direção. Eu não vi isso, mas pude ouvir seus passos pesados naquele chão frio de cimento.

ㅤㅤ – “Hey, o que você tem?” – Sua voz doce indagou tal coisa quando ele já estava agachado ao meu lado.
 ㅤㅤ– “Não é nada...” – Respondi sem me mover.
ㅤㅤ – “Como “nada”? Está chorando e parece perdido.” – Ele sentou-se ao meu lado.
 ㅤ ㅤEu, enfim, levantei a cabeça, mas não virei o rosto para olhar a face daquele curioso. – “Eu perdi o endereço da pessoa que estou procurando há dias, agora não poderei encontrá-la.”
ㅤㅤ – “Que pena... Daqui a uma semana é Natal, estava querendo passar a data com ela?”
 ㅤㅤApenas assenti em resposta, sem ânimo algum nisso.
 ㅤ ㅤ– “Entendi... Ah! Eu posso te ajudar a encontrá-la, se quiser... Se for um turista, conheço um lugar que provavelmente essa pessoa estará.” – O tom gentil transbordava por aquelas palavras.
 ㅤㅤSuspirei, e então virei o rosto para olhar aquele garoto.

 ㅤ ㅤNão sei explicar o que senti ao ver aquela face. Surpresa, espanto, dúvida... Talvez um misto de tudo isso com meu coração querendo saltar da boca. A sensação foi tão grande que fiquei pálido e com as mãos trêmulas.

 ㅤㅤ– “Tegoshi?” – Indaguei hesitante.
 ㅤㅤO rapaz juntou as sobrancelhas, parecendo surpreso com aquilo. – “Você me conhece?”

 ㅤ ㅤCÉUS! ERA ELE! Eu passei dias imaginando vários tipos de encontros e reações que eu teria, mas nada como a que realmente aconteceu: eu não sabia o que fazer, nem o que dizer.

ㅤㅤ Por um acaso do destino eu o vi pela primeira vez naquele ponto de ônibus, e novamente o destino me pôs por vontade própria ao lado dele.
ㅤㅤ Mas... Ele havia tingido o cabelo e o deixado levemente cacheado. Talvez por isso eu não o reconheci de primeira.

 ㅤ ㅤ– “E-e-e... Eu... – Droga! Saiam, palavras!” – “Nós... Eu te vi em Edogawa.” – Aquilo não era o que eu pretendia dizer, mas foi o que eu consegui colocar para fora.
 ㅤㅤ– “Ah! Agora me lembro de você. É o menino molhado do ponto de ônibus... Mas, como sabe meu sobrenome?”

 ㅤㅤO nervosismo me impediu de perceber que aquela frase mostrava que ele não se lembrava de mim até aquele momento.

 ㅤㅤ– “Você deixou cair um documento.” – Eu não conseguia mais fitá-lo diretamente.
 ㅤㅤ– “Foi meu passe-livre do ônibus. Eu tive que pagar por causa disso, sabia?” – Ele riu divertido.

ㅤ ㅤ Eu estava nervoso demais. Demais! Queria dizer que... Que eu o amo! Mas isso seria absurdo demais para ele, apenas serviria para assustá-lo. Mas, uma hora eu teria que contar a verdade.
 ㅤㅤ Entretanto, eu não consegui segurar mais a emoção. Eu precisava fazer uma coisa: em um movimento quase instintivo, eu me aproximei com pressa dele e o abracei com bastante força. E poder, finalmente, ter em meus braços aquele eu tanto procurei, depois de ter passado por tantas coisas ruins, me fez sentir realizado.
 ㅤㅤAh... Aquele corpo tão quentinho. Seu cheiro era tão bom, mas muito suave, por isso respirei fundo com o nariz afundado no ombro dele, assim consegui inalar bem aquele aroma. Isso me fez um bem tão grande, você não imagina! Enquanto isso meu coração batia em um ritmo louco de nervosismo e emoção. Eu estava com Tegoshi!!
 ㅤㅤO garoto parecia assustado, mas, surpreendentemente, ele também me abraçou. Talvez fosse apenas por eu ter me mostrado triste antes e ele quisesse me consolar, mas isso não importava para mim, ele me abraçou!

 ㅤㅤE assim ficamos por um longo tempo, em silêncio. Eu pude aproveitar bem aquela ‘recompensa’ até ele desfazer o abraço, e com um ar gentil, indagou-me: – “Mas, então, ainda quer ajuda sobre a tal pessoa?”.
 ㅤㅤ– “Não...” – Hesitei bastante em prosseguir. O receio também fazia parte daquela mistura de sentimentos intensos. – “Acabei de encontrá-la.”

 ㅤㅤTegoshi parecia muito surpreso após ouvir aquilo. Surpreso até demais, eu diria.

 ㅤㅤ– “Estava me procurando? Por quê?” – Seu tom era de desconfiança. E eu não sabia o que responder!
ㅤ ㅤ – “Eu... Queria te devolver seu documento, mas o tiraram de mim.” – Ótimo, seu idiota, ele vai acreditar muito nisso. Ir de Edogawa para Hokkaido só para devolver um documento, que por sinal nem seria mais útil por estar danificado, é uma coisa totalmente normal.
 ㅤㅤTegoshi gargalhou com vontade, e ao terminar, se levantou. – “Certo. Vamos dar uma volta, e você me conta como foi sua viagem até aqui.”
 ㅤㅤ Levantei-me e enxuguei meu rosto ainda molhado de lágrimas. Estranhei aquela atitude, mas preferi apenas concordar. – “Vamos.” – Eu parecia sério por fora, mas vibrava por dentro por, finalmente, encontrá-lo. Se era um sonho eu rezava para não acordar.

 ㅤㅤAndávamos lentamente pela rua deserta daquela cidade.
 ㅤ ㅤTegoshi prestava bastante atenção em tudo que eu contava; às vezes ele reagia com surpresa, outras ele ria como se o que eu falava o agradasse muito, e até se revoltava pelas injustiças cometidas contra mim.

 ㅤ ㅤ– “Você passou por muitas coisas!” – Ele riu baixinho, e baixou a cabeça. – “Eu queria muito estar no seu lugar, mesmo com esses bandidos todos!”
 ㅤㅤFranzi as sobrancelhas, sem entender o motivo daquilo. – “Por que diz disso?”
 ㅤ ㅤEle hesitou. – “Esse último mês tem sido péssimo para mim.” – Sua expressão havia mudado radicalmente. Parecia triste, preocupado... Ele levantou a cabeça, e voltou a me olhar.
 ㅤㅤ– “Desculpe te ignorar no ponto de ônibus, mas eu estava tão sem atenção...” – Ele voltou a olhar o caminho. – “Tinha discutido com meu namorado.”

 ㅤㅤO mundo parou de rodar no instante em que aquelas palavras foram ditas. Meu estômago se revirou pelo impacto gigantesco daquela notícia, enquanto minha cabeça pesava. Ele... Era comprometido. Parei de andar imediatamente.
 ㅤㅤTegoshi ainda continuou caminhando por alguns segundos, mas percebeu que eu não estava mais ao seu lado. Virou-se.

 ㅤㅤ– “O que houve?” – Ele começou a vir em minha direção.

 ㅤㅤInstintivamente, eu recuei, dando passos para trás, e parei de fazê-lo assim que ele interrompeu os próprios.

ㅤㅤ – “O que foi?” – Insistiu, parecendo perdido no que estava acontecendo ali.

 ㅤ ㅤEu estava sério, segurando a vontade de chorar. Meu olhar se fixou ao de Tegoshi, e ele expressava tudo que eu sentia naquele momento. Dor, desilusão... Eu criei expectativas além do limite sobre aquele rapaz de cabelos claros, e agora estava pagando caro por isso. Não precisei de palavras para fazer com que ele entendesse o que se passava. Apenas aquele olhar decepcionado bastou para isso acontecer.

 ㅤㅤTegoshi baixou a cabeça, e mordeu o lábio inferior. Estava sem ação.

 ㅤㅤ– “Eu sinto muito...” – Aquelas palavras baixas só serviram para abrir mais a ferida profunda do meu coração.
 ㅤ ㅤ– “Eu não quero perder mais nada em vão. Vou voltar para Edogawa...” – Minha voz saíra totalmente rouca e falha. Logo as lágrimas voltaram a banhar minha face. – “Eu... Eu queria te encontrar uma segunda vez... No começo era só para saciar minha curiosidade. Curiosidade que me impedia de enxergar o real motivo de eu querer te ver... E o percebi nessa viagem... Eu percebi que me apaixonei por um desconhecido, e a ilusão que meu coração receoso criou para se acalmar se tornou a pior dor de todas. Eu só te encontrei, Tegoshi, só isso. E agora preciso voltar para casa.” – Desabafei, soltei o ar após aquilo e me virei para ir embora.

 ㅤㅤTegoshi parecia abalado demais pelo que ouviu. Tanto que não se mexeu de onde estava, não disse nada. Acho que foi melhor assim para nós dois.

 ㅤㅤJá estava bem longe daquele rapaz quando peguei o celular. Liguei para Koki.
 ㅤ ㅤEm um tom totalmente desolado e decepcionado, pedi para ele me encontrar no aeroporto. Eu comprei passagens de ida e volta, mas não imaginava que as usaria em tão pouco tempo e em momentos tão próximos.

 ㅤ ㅤToda aquela ansiedade, aventura e perigoso teve um único final: eu estava voltando para casa sozinho, arrasado e arrependido de ter começado aquilo tudo.


 ㅤㅤAo chegar a Edogawa, Koki estava a minha espera. Ele parecia triste por mim.
 ㅤ ㅤEu não pensei duas vezes em correr até ele e abraçá-lo, e fui prontamente retribuído. Ele me envolveu com os braços de forma apertada, me acolhendo carinhosamente enquanto eu desabava em choro.
 ㅤㅤDoía demais...
 ㅤ ㅤTanaka não disse uma só palavra negativa sobre aquilo. Eu tinha conseguido completar minha missão, mesmo o principal tendo sido um desastre. Ele apenas tratou de me consolar.

~

 ㅤㅤHavia se completado uma semana desde que Kamenashi me encontrara. Até então eu não conseguia parar de pensar nele.

 ㅤ ㅤMeu namoro, que já ia de mal a pior, se tornou insuportável depois de descobrir que aquele rapaz estava apaixonado por mim. E aquele abraço, ah... Eu me arrisco a dizer que meu coração nunca bateu tão rápido e intensamente como quando fui envolvido por aqueles braços esguios e mãos trêmulas. Senti-me bem com aquilo, e por isso não resisti retribuir. Kamenashi é uma pessoa valente, determinada, e ainda assim fofa.
 ㅤㅤPor outro lado, Yamashita me tratava cada vez pior, mesmo eu não tendo contado a ele sobre o ocorrido, e eu também já não o agüentava mais.
ㅤㅤ Meu Natal seria péssimo... Não tinha ânimo para nada. E estava tão aborrecido com isso que demorei a reconhecer aquele rapaz que me procurou.

 ㅤㅤTambém havia algo me incomodando: eu, realmente, não conseguia parar de pensar em Kamenashi. Por que ele tinha que aparecer de novo? Eu tive tanto trabalho em esquecer aquele encontro por causa de Yamashita, agora isso se mostrou inútil...
 ㅤㅤE por que eu não consegui dizer a ele que eu estava mexido desde aquele primeiro encontro? Eu acho que fiquei tão nervoso em vê-lo novamente que ‘travei’, agi de forma totalmente contrária ao que acontecia comigo naquele momento. Ainda mais depois de saber que ele passou por aquilo tudo só para me ver! Como fui idiota... Eu o magoei por isso.

 ㅤㅤ– “O que houve, Tego?” – Yamashita indagou, atrapalhando meus pensamentos.
 ㅤ ㅤ– “Eh? Não é nada...” – Respondi desanimado, e bebi um pouco mais do chocolate quente que havia em minha xícara. Estávamos em um café.
 ㅤㅤ– “Está pensativo desde que saímos de casa. Tem certeza que não é nada?” – Insistiu.
 ㅤㅤEu apenas mexi a cabeça de forma positiva como resposta.

ㅤ ㅤ Minha família veio para Hokkaido porque têm parentes aqui, e todo ano passamos o Natal juntos. Não tinha muito tempo que Yamashita viajava comigo, talvez uns dois Natais desde que começamos a namorar.
ㅤ ㅤ Porém, nossa convivência não estava dando muito certo ultimamente. Nós quase nunca concordávamos com as escolhas, e a grande maioria das vezes era a vontade dele que seria feita. Eu não me sentia mais um namorado para ele, isso me chateava. E quanto ao amor, eu não sei se ele realmente existiu um dia. Mas, eu não podia terminar tudo antes do Natal, seria pior ainda para nós dois e envolveríamos nossas famílias - a dele também veio para Hokkaido dessa vez.

 ㅤㅤEu estava decidido a esperar pelo Ano Novo, mas depois de ver Kamenashi... Eu não sei se agüentaria mais um dia sequer! Também havia me apaixonado por um desconhecido, mas não tive a mesma coragem dele de enfrentar perigos e me declarar. Será que eu o merecia?

ㅤ ㅤ Era noite de quarta-feira, dia 23. Eu e meu dito namorado voltávamos para a casa onde nossas famílias se hospedaram, totalmente em silêncio e sem mesmo encostarmos um no outro.
 ㅤㅤNormalmente eu me incomodaria por isso, mas naquela noite meu pensamento estava tão longe... Para ser específico, em Edogawa. O que Kamenashi estava fazendo?

ㅤㅤ Chegamos a casa, e Yamashita me deu um leve selinho nos lábios antes de subir para o quarto. Suspirei, e fui para o sofá me jogar nele. Não levantaria dali tão cedo.
ㅤㅤ Eu estava tão arrependido...


ㅤ ㅤO dia seguinte era véspera de Natal. Todos nós ajudamos em casa, cada um fazendo e preparando alguma coisa. Tudo só ficou pronto à noite.
 ㅤ ㅤA casa estava cheia de luzes pisca-pisca, uma árvore de Natal enorme e bem enfeitada no canto da sala, e muita neve do lado de fora!
 ㅤㅤEu e mais algumas crianças fomos para o quintal e começamos a fazer um boneco de neve gigante. E ficou tão bonito! No fim eu enrolei um cachecol xadrez roxo e preto no ‘pescoço’ dele.

 ㅤㅤ– “Tegoshi-chan, eu acho que...” – Uma das crianças chamou minha atenção com aquela frase inacabada.

 ㅤ ㅤEla apontara para a janela da cozinha; eu olhei imediatamente para lá, e acabei encontrando Yamashita do ladro de dentro, bebendo como se o mundo fosse acabar.
ㅤㅤ Suspirei longamente. O que ele estava pretendendo com aquilo? Eu não ia aturar um bêbado com grosserias para mim! Mas, se eu não fosse lá, alguém da minha família brigaria comigo.
ㅤㅤ Tomei fôlego puxando bastante ar para os pulmões, expirei tranquilamente, e dei início a uma caminhada até a cozinha.

 ㅤㅤ– “Hey! O que acha que está fazendo?” – Tomei a garrafa de vinho das mãos dele abruptamente.
 ㅤㅤEle me olhou com os olhos semicerrados franziu o cenho. – “Me devolva isso, baka! Eu já não agüento mais essa vida...”
ㅤ ㅤ – “Eu não tenho culpa disso, então não precisa falar comigo assim.” – Bufei. Estava chateado com aquele tratamento dado por ele.
 ㅤㅤ– “Quer saber? Eu não preciso disso.” – Ele estava muito alterado pela bebida. – “Eu não preciso de você.” – Passou a me encarar com desdém, e continuou: – “Você é muito sem sal. Um dia eu vou encontrar alguém que saiba me satisfazer e não seja um fresco.”
 ㅤㅤAquelas palavras foram a última gota para mim. Empurrei aquela garrafa contra o corpo dele, e retruquei em voz alta e em tom notavelmente aborrecido: – “Vá para o inferno, Yamashita!” – Ao terminar, me virei e fui para o meu quarto, pisando com raiva no chão até chegar lá.
 ㅤㅤEle me seguira. – “O que vai fazer?!”
 ㅤ ㅤ– “Isso não é da sua conta.” – Eu estava colocando algumas roupas dentro de uma mochila. Ao terminar, a fechei e fui pegar dinheiro para colocar dentro da carteira. – “Eu não quero passar mais um minuto ao seu lado.” – Terminei, e sai daquele cômodo.

 ㅤㅤEu não sei o que ele achava disso, e também não me interessava nem um pouco.


 ㅤ ㅤEu ainda estava muito dolorido pelo que aconteceu em Sapporo, e minha tristeza era notada por todos os meus colegas de trabalho, principalmente Tanaka.

ㅤㅤ Todos nós decidimos fazer a ceia de Natal dentro da lanchonete. Tiramos todas as cadeiras, arrumamos as mesas no centro do salão formando uma única; cada um contribuiu com alguma coisa, e fechamos o local apenas para quem trabalhava ali e suas respectivas famílias.
 ㅤㅤSeria muito divertido se eu não estivesse deprimido. E, mesmo eu me esforçando para fingir estar animado, eu não conseguia demonstrar nada além de minha tristeza.

 ㅤㅤJá era noite, então todos estavam lá. Koki parecia bem animado e dava atenção a todos. Mas hora sim, hora não ele vinha até eu perguntar se me sentia bem e coisas do tipo. Eu respondia que sim, é claro. Não queria preocupá-lo e estragar sua festa.
 ㅤㅤMas, eu não agüentava mais aquela atmosfera natalina e feliz. Eu precisava tomar um ar!
 ㅤㅤDiscretamente, fui saindo até estar do lado de fora da lanchonete.

 ㅤ ㅤNão havia ninguém nas ruas, e o frio reinava com sucesso ali. Comecei a caminhar pela calçada branca pela neve, fitando o chão.

 ㅤㅤ Provavelmente, naquela hora da noite, Tegoshi estaria se divertindo com sua família e namorado. Deviam estar felizes, se abraçando, se beijando... Ah! Eu não queria pensar nessas coisas! Só serviam para abrir a ferida de meu coração e fazê-lo doer cada vez mais. Porém, era inevitável...

 ㅤㅤOlhei para o céu. Estava escuro, muito escuro, e não havia uma estrela sequer, muita menos a lua.
 ㅤㅤSuspirei longamente. Sentia-me sozinho. Por isso, resolvi voltar para a festa.

 ㅤ ㅤAté que eu consegui me divertir um pouco. Tanaka me obrigou fazer muitas coisas aparentemente divertidas, e sou grato por isso. Meu Natal não estaria cem por cento perdido, e ainda havia o dia 25 para ser melhor ainda! Eu desejava muito que fosse assim.


ㅤㅤ Na virada, todos fomos para a rua apreciar os fogos de artifícios lançados no céu, dando àquele tom obscuro cores diferentes e alegria para as pessoas.
ㅤㅤ Foi, realmente, muito bom.



 ㅤㅤNo dia seguinte também nos reunimos na lanchonete para almoçar. Minha família estava lá também, isso me deixou feliz. Eu não havia contado aos meus pais sobre a loucura que fiz semana passada, era melhor esquecer aquilo.

 ㅤ ㅤEu desejava que Nakamaru estivesse passando um Natal maravilhoso. Eu sentia falta dele. Também queria que Taguchi estivesse bem, mesmo com aquele desgraçado que ele escolhera como companheiro.

 ㅤㅤ– “Kame-chan! Poderia me fazer um favor?” – Tanaka indagou com um sorriso maroto na face.
 ㅤㅤ– “Claro. O que é?”
 ㅤ ㅤ– “Sabe aquela padaria que sempre te atende mesmo estando fechada? Compra meia dúzia de pão e o mesmo de ovos, eu esqueci.” – Ele coçou a nuca ao terminar.
 ㅤㅤSuspirei. – “Vou lá.” – Estendi a mão para ele, pedindo dinheiro.
 ㅤ ㅤ– “Obrigado.” – Ele pegou a carteira de dentro do bolso traseiro de sua calça e retirou dali a quantidade exata para que eu comprasse aquelas coisas. – “E se anime!”
 ㅤㅤEu apenas sorri. Então, peguei o dinheiro e saí.


 ㅤㅤComo estava frio... Mas, eu não ligava para isso. Na verdade, nada me importava. Eu ainda estava deprimido.
ㅤ ㅤ Cabisbaixo, segui meu caminho até a padaria. Mas, algum tempo depois, me deparei com aquele ponto de ônibus onde encontrei Tegoshi pela primeira vez.
 ㅤㅤA vontade de chorar logo me invadiu, mas consegui segurar. Eu não queria mais sofrer por causa dele, mesmo parecendo impossível esquecê-lo. Ignorei aquele local, e continuei andando.

 ㅤㅤFiquei um bom tempo na padaria, pois o dono demorou a me atender.
 ㅤ ㅤFicamos conversando por minutos e minutos, até eu me lembrar que Tanaka precisava daqueles pães e ovos! Despedi-me desejando Feliz Natal, e retomei o mesmo caminho, agora indo para a lanchonete.

 ㅤ ㅤMinha mente estava vazia, e eu estava totalmente alheio ao meu redor, até que vi algo diferente: naquele mesmo ponto de ônibus havia uma pessoa de mochila, uma mochila familiar, e portava cabelos loiros quase cacheados. Não podia ser...

 ㅤㅤ– “Tegoshi?” – Indaguei totalmente hesitante e incrédulo.
 ㅤ ㅤPorém, aquela pessoa virou-se em minha direção - estava de costas antes -, sorrindo de canto a canto dos lábios. – “Merry Christmas!” – Me desejou animado.

 ㅤㅤEu não podia acreditar no que meus olhos viam... O que ele estava fazendo em Edogawa?! Meu coração batia muito forte enquanto minhas pernas estavam tremendo.
ㅤㅤ Tegoshi se aproximou de mim com um sorriso nos lábios, e parou bem perto, me encarando.

 ㅤㅤ– “O que está fazendo aqui?”
ㅤ ㅤ – “Eu...” – Ele hesitou. – “Vim te desejar Feliz Natal.” – Um sorriso cínico esboçou-se por aqueles lábios fartos e avermelhados, como se ele quisesse dar o troco de alguma resposta tola dita antes por mim.
ㅤㅤ Ri baixo. – “Não devia estar aqui. E seu namorado? Sua família?”
ㅤ ㅤ – “Minha família entendeu meu motivo. E quanto a meu namorado...” – Ele fez uma breve pausa, torcendo os lábios. – “Eu não tenho mais um.”
 ㅤㅤLevantei as sobrancelhas, aquilo me pegou de surpresa. – “Eh?” – Nada mais saiu de mim além daquilo.
 ㅤㅤO garoto riu. – “Eu posso passar o Natal com você?”

ㅤㅤ Novamente, fiquei surpreso, talvez mais ainda do que anteriormente. Ele... Queria passar o Natal comigo?!

 ㅤ ㅤ– “Etto... Claro! Mas, estou com meus amigos e familiares na lanchonete onde eu trabalho. Resolvemos fazer a ceia lá. Importa-se?” – Eu estava nervoso demais para pensar detalhadamente no que falar.
 ㅤㅤ– “Parece muito divertido!” – Tegoshi sorriu abertamente, e deu alguns passos até estar ao meu lado.

 ㅤㅤEu sorri para ele. Meu rosto estava quente e eu provavelmente estava corado. Droga! Que vergonha...

 ㅤ ㅤ– “Então vamos.” – Eu disse animado, e comecei a caminhar de volta para onde os outros estavam. – “Todos já te conhecem por nome, então vão ficar felizes em te ver pessoalmente.”
 ㅤㅤO loiro riu com vontade. Ele achava graça nas coisas que eu dizia. Isso era bom! – “Que ótimo! Prevejo um Natal inesquecível.”

ㅤㅤ De repente, Tegoshi levou uma mão até a minha livre e a segurou.
 ㅤ ㅤEu olhei para aquilo, e logo em seguida para ele. Mas, não disse nada por medo de fazê-lo se afastar. O garoto sorriu serenamente para mim, com um ar tímido, e baixou brevemente a cabeça.
 ㅤㅤEu segurei também aquela mão, entrelaçando nossos dedos, e segui com passos lentos em direção à lanchonete. O silêncio tomou conta de nós, mas aquele toque de mãos estava firme e podia significar muito mais que qualquer frase.

 ㅤ ㅤNão precisávamos de palavras. Apenas nossos atos demonstravam perfeitamente o que estava acontecendo ali. Eu não viajaria tanto à toa, e nem ele deixaria seu Natal em família à toa.
 ㅤㅤDe repente o pensamento de que meu dia seria ruim logo deu lugar ao de realização, felicidade e, acima de tudo, a sensação de ter um amor correspondido.


 ㅤ ㅤO destino trabalhou sozinho para nós dois, e o mínimo que podíamos fazer em agradecimento era aproveitar esse novo sentimento que havia nascido entre nós. E, diga-se de passagem, era firme e forte.





FIM.


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Notas finais do capítulo

Obrigada quem leu! n_n



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