Mit Dir escrita por Chiisana Hana


Capítulo 30
Capitulo 29 O Rei


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, gente! Obrigada a todos que acompanharam!!



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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

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MIT DIR

Chiisana Hana

Capítulo 29 – O Rei

– E então, doutora? – aflito, Siegfried pergunta a Ann quando ela sai da sala de cirurgia.

– Não havia nada que eu pudesse fazer para salvar o bebê... – ela responde, sem rodeios como lhe é de costume. – Mas a princesa está bem.

Siegfried não esperava esse golpe, tinha fé que Odin salvaria seu filho, mas se essa é a vontade Dele não há nada a fazer.

– Ao menos Hilda está salva – murmura o guerreiro-deus, procurando conformar-se. – Ela já sabe?

– Sim. Você pode ir lá vê-la – Ann diz, antecipando-se.

Acompanhado pela médica, o guerreiro dirige-se ao quarto onde a esposa está. Hilda parece bem, apesar da face pálida e das olheiras escuras. Siegfried aproxima-se e, sorrindo terno, faz um carinho na face dela.

– Está tudo bem – ela diz, resignada. – Eu sei que isso é mais uma provação por tudo que causei.

– Você não teve culpa – ele retruca, com mais firmeza que o necessário. Percebendo que soara incisivo demais, ele logo suaviza o tom: – Foi o anel. Você estava sob o poder maligno dele. Quantas vezes vou ter de dizer que não foi culpa sua?

– Eu devia ter resistido...

– Você não podia fazer nada.

– Eu sei que podia – insiste Hilda.

– Está bem, querida – ele diz, a fim de encerrar o assunto. Hilda jamais admitirá que não podia ter agido de outra forma. – Viemos com pressa, quer que eu mande trazer alguma coisa de casa? Vou mandar alguém lá para avisar a Freya o que aconteceu.

– Não... apenas fique aqui comigo – ela pede, e Siegfried envolve-a em um abraço cálido e protetor, como se ela fosse uma criança precisando de colo.

“Ela é”, pensou ele.

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Três meses passaram-se desde a reconciliação de Judith e Shido e ele cumpriu o que prometeu. Já não fala sobre a origem plebeia dos maridos das princesas, nem que Ann não é mulher para Bado. E, principalmente, parece que o guerreiro finalmente entendeu e aceitou que Judith não será a típica esposa asgardiana, que ficará em casa, cuidando dele e dos filhos que terão.

Ela, aliás, anda tão orgulhosa do comportamento dele que resolve surpreendê-lo. Toma a iniciativa de pedir autorização da princesa para o casamento, porém, a caminho do palácio ela ouve os rumores de que a princesa estaria no hospital. A notícia oficial é que ela sofrera um pequeno acidente doméstico, mas assim que Judith chega a Valhalla, Freya conta-lhe a verdade.

– Ela estava grávida e perdeu o bebê, Judith – confidencia a princesa mais nova, enquanto amamenta Gunther.

– Por Odin, que tristeza! – exclama Judith. – Como a senhora Hilda está?

– Parece que está bem, na medida do possível. Foi de madrugada. Siegfried mandou me avisar há pouco e ainda não pude ir lá vê-la. Vou assim que Gunther acabar de mamar.

Judith oferece-se para acompanhá-la e, pouco depois, numa carruagem a caminho do hospital, as duas conversam sobre outros assuntos. Gunther ficara com o pai, já que o guerreiro-deus ainda não pode sair do palácio em razão da punição pela morte de Grethe.

– E o Shido, como tem se comportado? – Freya pergunta.

– Maravilhosamente! Ele finalmente entendeu que as coisas vão ter que ser do meu jeito.

– Fico feliz por vocês, Jud. Torci muito pra que desse certo, você sabe.

– Eu sei, Freya. Está tudo tão bem que até decidi que quero mesmo me casar com ele – Judith diz, mas resolve não comentar que fora ao palácio exatamente por essa razão.

– Ah, isso me deixa tão feliz, minha amiga!! Você é como se fosse outra irmã pra mim.

Judith sorri um tanto encabulada, mas sabe que Freya é sincera. E o sentimento é obviamente recíproco.

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Depois de muito ponderar, Mime muda-se para a mansão Kümmel, ignorando o falatório das pessoas e, principalmente, dos criados da casa. No dia da mudança dele, Alberich reúne todos os empregados, anuncia que Mime passará a morar com ele como seu companheiro e avisa num tom muito sério que quem não estiver satisfeito deve ir embora. Estava preparado para uma debandada dos criados, mas para seu espanto ninguém foi embora.

Aos poucos todos se acostumaram com a presença elegante de Mime, ou do senhor Folker, como eles chamavam o rapaz. Aprenderam a apreciar ouvi-lo praticar com a harpa e depois de pouco tempo já nem estranham mais os carinhos trocados entre ele e Alberich.

O casal leva uma vida tranquila, Mime dedicando-se à prática da harpa, enquanto Alberich cuida dos negócios. À noite, gostam de ficar juntos, degustando uma boa garrafa de vinho em casa mesmo, ao invés de baterem ponto na taverna. Às vezes, jogam xadrez, mas invariavelmente o Cérebro de Asgard vence as partidas, não importa quanto Mime se esforce. Estão felizes assim, porém nos últimos dias Alberich andava um tanto misterioso.

– Não vai mesmo me dizer o que está acontecendo? – Mime pergunta enquanto toma café da manhã com o amado. – Você anda calado, como se estivesse escondendo algo...

– Eu estava mesmo, mas acho que agora já posso contar... – Alberich fala, pensativo, ajeitando a franja. Mime olha para ele ansioso, procurando sinais em sua expressão que indiquem se a revelação é boa ou ruim. Depois de um pouco de suspense, ele finalmente anuncia: – Fechei negócio num apartamento em Oslo. Pensei em comprar em Narvik, mas depois de tudo que aconteceu lá achei melhor que fosse bem longe.

Mime olha para o namorado sem saber o que dizer.

– Jura? Achei que estava brincando quando falou sobre sair daqui.

– Eu não brinco, meu querido. É um bom apartamento, parcialmente mobiliado. O corretor me mandou umas fotos, eu gostei, comprei. Pensei que podíamos ir lá, passar uns dias na cidade, longe disso aqui. O que acha?

– Mas é claro que eu quero – Mime responde sem hesitar, e abraça o amado.

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– Ele é dez anos mais velho que você! – Ann grita, apontando furiosamente o indicador para Kari assim que ela, de mochila nas costas, informa que vai até a Vila da Baleia Azul.

Desde que se conheceram no hospital, Kari e Thor vinham se aproximando cada dia mais. Sempre que vinha à vila principal ele inventava uma desculpa para passar no hospital. A princípio, a garota sentia-se incomodada pelas visitas, mas em pouco tempo flagrou-se ansiando pela chegada dele, desenhando para ele, esperando ouvir o que ele achava dos desenhos. No entanto, as visitas tinham cessado repentinamente e, por conta disso, Kari colocara na cabeça a ideia de ir até a vila. Só não esperava a resistência de Ann.

– E daí? – responde a adolescente, com um bico de insatisfação. Não consegue entender por que Ann está tão furiosa. Logo ela que não costuma ser nem um pouco moralista.

– Ele mora lá na puta que pariu – Ann continua.

– E daí? – Kari finalmente ergue o tom da voz e resolve encarar Ann. – Não vem com essa porque, primeiro, você não é minha mãe. Segundo, sei muito bem que você era porra-louca na adolescência e, bom, ainda é! Aí vem me dar lição de moral porque eu quero namorar um cara mais velho? Me poupe!

– Você não vai falar nada, Bado? – Ann volta-se para ele e pergunta.

– Que tal um ‘faça boa viagem, Kari’?

– Tigre!? Não incentiva essa loucura!!

– O que foi? Ela veio sozinha para cá, Ann. Vai conseguir chegar lá na vila. Vai dar tudo certo.

– Ela não vai a lugar nenhum!

– Vou, sim! Já falei que você não é minha mãe!

Enquanto as duas continuam brigando, alguém bate à porta. Bado vai atender.

– Kari, a visita é pra você – ele anuncia ao ver quem é. As duas irmãs viram-se para ver. Thor está parado na frente da casa, ligeiramente abaixado por ser maior que a porta, olhando apreensivo para dentro. Kari abre um sorriso e só então ele sorri de volta, ainda que um tanto envergonhado.

– Desculpa ter vindo sem avisar – ele murmura.

– Tudo bem – Bado diz e convida o amigo para entrar, o que ele aceita meio desconfiado. – Ainda bem que o pé-direito da casa é alto. Senão você bateria a cabeça no teto.

Thor relaxa um pouco com a brincadeira, mas mantém o olhar fixo em Ann e Kari. Percebe o encantamento da irmã mais nova e a fúria da mais velha.

– Eu estava me perguntando por que raios você não veio mais... – Kari diz, aproximando-se dele.

– Eu precisei de um tempo pra pensar, Kari... – ele começa e é interrompido por Ann:

– Ela é uma criança!

– Criança nada, sua louca – Kari grita de volta. – Eu vou fazer dezessete anos!

– Vem, Ann, vamos deixar os dois conversarem – Bado diz, puxando a esposa para fora de casa. Ela resiste.

– De jeito nenhum!

– Vem, Ann – ele repete de um jeito mais incisivo, e consegue tirá-la da casa.

Sozinhos, Kari e Thor sentem-se mais à vontade para falar.

– Bom, eu não tinha certeza se devia continuar te vendo – ele começa novamente –, por isso parei de aparecer no hospital.

– Eu senti sua falta. Senti muito. Tanto que já estava quase indo à vila.

– Sério que você ia? – ele indaga e só então nota a mochila nas costas dela.

– Sim. Eu queria muito saber...

– Saber...?

– Se você sente a mesma coisa que eu sinto... porque eu não consigo parar de pensar em você. Eu o amo tanto, Thor.

– Eu também a amo – ele declara. – Desde aquele primeiro dia no hospital. Quando eu a vi, o vazio que eu sentia deixou de existir. Tudo foi preenchido por você. E isso me assustou...

– No começo eu não entendia, mas agora eu sinto o mesmo. E eu não quero ficar longe de você.

– Eu também não quero, mas temos que pensar direito nas coisas. A sua família precisa aprovar que a gente...

– A Ann não tem que se meter porque não é minha mãe – ela interrompe. – Meus pais estão em Drammen e depois eu me entendo com eles.

– Kari, aqui em Asgard é comum as meninas casarem-se jovens, algumas até mais novas que você, mas eu sei que no continente as coisas não são assim.

– Agora eu moro aqui, não moro? – ela diz, jogando a mochila no chão e colocando as mãos na cintura. – Sou praticamente uma asgardiana.

Thor ri, surpreso e feliz com a firmeza das palavras de Kari. No caminho até a casa de Bado, imaginara diversas possibilidades: ser enxotado por ela, levar um tiro de Ann, até mesmo, na melhor hipótese, ser correspondido de alguma forma. Mas não esperava que Kari o aceitasse assim, de coração aberto, sem medo algum. Bado tinha razão, ela era parecida com a irmã. Diante disso, ele resolve ir em frente e ergue-a nos braços para beijá-la.

– O meu pescoço já estava mesmo doendo de olhar pra cima – brinca Kari, enquanto acaricia a barba do homenzarrão. Um arrepio percorre o corpo da garota e eriça seus pelos porque ela finalmente vai beijá-lo como já havia imaginado e desenhado tantas vezes. Tinha beijado uns moleques espinhentos antes, mas agora é diferente, muito diferente. Ela pousa os lábios sobre os dele devagar, sentindo a textura, o calor, o cavanhaque espetando-lhe o queixo. Abre a boca lentamente e deixa a língua procurar a dele. Impelido por ela, Thor também explora a boca macia, sentindo algo cálido espalhar-se por seu corpo. Ansiara tanto pelo beijo de Kari... Ansiara por um beijo onde houvesse amor envolvido e finalmente encontrara isso na irmã de Ann.

– Ele tá beijando a Kari! – Ann grita, ainda do lado de fora, enquanto espia pela janela.

– Deixa os dois, Ann – Bado diz, puxando-a. – Aliás, por que está tão irritada? Ainda não entendi.

– Ele é um barbudo de vinte e sete anos, com mais de dois metros de altura e um pau enorme, enquanto ela só tem dezesseis anos!

Bado não consegue segurar a risada diante da explicação de Ann.

– Se quer minha opinião – ele diz, ainda rindo –, ela parece saber muito bem o que quer. E, conhecendo o meu colega, eu diria que ele vai esperar bastante para apresentar o grandão a sua irmã. Provavelmente até depois do casamento.

– Que casamento, Bado? Tá louco? Ela é muito nova pra casar!

– Bom, se levarmos em conta que estamos em Asgard, ela já está na idade de casar. As meninas daqui casam-se até mais novas que ela.

Ann revira os olhos e faz um bico de insatisfação.

– Hum... Às vezes eu esqueço que isso aqui parou na Idade Média.

– Ele é um bom homem, Ann – Bado continua, em tom apaziguador.

– Meu pai vai ficar furioso – ela confessa, sentando-se na soleira. – Duas filhas malucas... Acho que vai ser demais pra ele. E a mãe dela, que já me odeia, vai dizer que é tudo culpa minha.

– Então é isso? – Bado indaga, sentando-se ao lado dela e abraçando-a. – Foi por isso que você teve esse surto psicótico? Por causa do seu pai?

– Eu sou a ovelha desgarrada, Bado – ela diz, frisando o “eu”. – Não era para ser assim. Ela tinha que estar em casa, não aqui, querendo namorar um gigante mais velho...

– Acho que foi ela quem decidiu o que quer da vida, né? Igual à irmã que saiu de casa com a mesma idade e foi para o mundo, não é? E que acabou indo parar em Narvik... Ela só foi um pouco mais longe.

– Pois é... – Ann admite, vencida. Bado está certo. Ela não tem uma irmã, tem uma cópia.

Lá dentro, Thor e Kari olham-se encantados, ela ainda nos braços dele. A garota observa que ele a segura sem nenhum esforço, como se não pesasse nada.

– Como seus pais não estão aqui, vou pedir permissão à sua irmã – ele anuncia solenemente. Kari ri.

– Vai pedir permissão para me namorar, é?

– Vou, sim. Não fique rindo. As coisas devem ser feitas do modo certo.

– Do modo certo – ela repete imitando Thor, ainda rindo. – Que seja. O importante é ficarmos juntos. Você vai vir me ver sempre, não é?

– Toda semana.

– Deve dar para o gasto. E se não der, vou até a vila. Você sabe que eu vou.

– É, eu sei – ele diz, sorrindo.

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Mime e Alberich desembarcam em Oslo depois de uma longa viagem que começara na barca de Asgard a Narvik e terminara no longo vôo que os levou de lá até a capital.

O apartamento comprado por Alberich é amplo e claro. A sala abre-se para uma enorme varanda e, por enquanto, tem apenas a mobília básica: uma estante e um sofá em tons de branco e azul.

– Isso é incrível – encanta-se Mime. O palacete de Alberich em Asgard era muito maior e mais luxuoso, mas o apartamento significa proximidade com um mundo que ele anseia conhecer.

– O teatro fica do outro lado do quarteirão – Alberich anuncia, abraçando Mime. – E eu soube que tem uma ópera em cartaz, então comprei dois ingressos.

– Vida cultural! – exclama Mime, sorrindo encantado. – Nem acredito que vou ter isso!

–Em breve você fará parte disso! Um dia quero vê-lo tocando nesse teatro. E eu vou estar lá na primeira fila.

– Não sonhe tão alto, Albie.

– O céu é o limite! – responde o nobre, com uma risada, e vai mostrar ao amado o resto do apartamento, terminando pelo quarto, onde a cama parece convidá-los a estreá-la.

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Cinco meses depois.

Liselotte entra em trabalho de parto e, auxiliada por Ann, prepara-se para dar à luz seu primeiro filho. Enquanto isso, no andar de baixo, Bado procura acalmar Fenrir, que anda de um lado para o outro, puxando a perna defeituosa.

– Vai dar tudo certo, homem – Bado diz, sentado no sofá. – Fique calmo.

– Mas por que está demorando tanto?

– Porque essas coisas demoram mesmo... Senta um pouco. Ainda vai levar algum tempo. A Kari está lá, quando nascer ela vem avisar.

Ele não dá ouvidos ao amigo e continua sua marcha manca pela casa. Ensom percebe a inquietação do dono e também fica num ir e vir sem fim, sobe a escada, late em frente ao quarto onde Lise está, desce, lambe Fenrir, sobe de novo.

Depois de horas, quando Fenrir e Ensom já tinham se rendido ao cansaço, ecoa pela casa um choro alto e firme. Fenrir dá um salto da poltrona.

– Nasceu! Nasceu! – ele grita. Bado abraça e parabeniza o amigo, enquanto Ensom saltita ao redor deles.

Lá em cima, Ann limpa e examina o bebê sob o olhar emocionado de Liselotte. O menino é pequeno mas saudável e chora com força. Só se acalma quando é posto no colo da mãe.

Enquanto Ann termina os procedimentos com Lise, Kari leva o bebê para Fenrir ver.

– É um menininho – ela diz, entregando o bebê ao pai, que o segura meio desajeitado.

– Meu filho – ele murmura emocionado, e relembra os pais amorosos que teve, ainda que por pouco tempo. Nas últimas semanas, ele vinha se perguntando se realmente conseguiria um bom pai e chegou a ter medo de não saber o que fazer, mas agora, com o filho finalmente nos braços, Fenrir sente-se capaz de fazer tudo por ele. O macho alfa e seu filhote. Ele cuidaria da cria, ensinaria tudo ao menino, faria dele um grande homem.

Bado aproxima-se dele e dá um tapinha nas costas.

– Parabéns, meu amigo – cumprimenta. – Seu filho está no mundo.

– Obrigado – Fenrir agradece. – Espero que você logo tenha o seu.

– Isso aí vai ser meio difícil. A Ann não quer...

– Espero que isso mude e você possa experimentar o que estou sentindo agora com meu Wilhelm.

– Tomara, meu amigo. Eu adoraria.

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Alguns dias depois do nascimento de Wilhelm, a sociedade asgardiana reúne-se na mansão Engedahl para o casamento de Shido e Judith. Hilda abrira uma exceção para a fiel criada e aceitara realizar o enlace na casa do noivo, onde também será a festa.

No andar de cima, Judith olha-se no espelho e admira-se vestida de noiva. O vestido escolhido é uma mistura do estilo tradicional de Asgard com o que se veste no continente. A parte de cima é bem ajustada ao corpo, com ombros à mostra e mangas longas de tecido fino que começam ajustadas e vão se alargando e abrindo nas mãos. A saia volumosa é coberta por uma camada do mesmo tecido delicado das mangas.

Seu cabelo loiro está preso de forma simples, num arranjo frouxo, com algumas mechas caindo de propósito, e uma tiara de pedras preciosas arrematando o penteado. Ela olha bem para a joia de ouro, presente de Shido, encomendada a um joalheiro local. Tinha delicadas flores ornadas com diamantes e topázios.

Judith sorri para o espelho sentindo-se gloriosa. Há pouco tempo era uma criada de quarto, sem perspectiva nenhuma além de servir no palácio até morrer. Talvez se casasse com outro criado, ou um camponês, na melhor hipótese seria esposa de algum soldado raso e iria morar numa casinha em algum vilarejo distante. Agora está prestes a tornar-se esposa do homem a quem sempre amou, um nobre, usando joias caras e o vestido dos sonhos. Tudo isso começou com a ida a Narvik. Com a simples decisão de não deixar que um estranho levasse os pertencem das princesas sem sua supervisão. Aquela fração de segundo que desencadeou toda a mudança em sua vida. Se não tivesse decidido ir junto, ainda estaria no mesmo lugar de sempre.

“Eu disse que seria esposa dele”, ela pensa, recordando-se da breve conversa que tivera com a mãe quando viera de Narvik buscar roupas para os guerreiros-deuses. “E a minha mãe duvidou. Agora ela está lá embaixo, junto com nossos amigos e parentes, orgulhosa por ver que eu consegui”.

Judith pega seu buquê e sai do quarto. Do topo da escada, ela vê Shido, impecável em seu fardão de guerreiro-deus, e o olhar de enlevo dele diz tudo: está absolutamente feliz, quase eufórico.

Os olhos dela vão do futuro marido para a própria mãe, embrulhada em um vestido amarelo volumoso, cheio de babados, extravagante demais para o gosto da filha. O semblante de orgulho e satisfação que ela exibe encanta Judith. É quase a mesma expressão de Freya, que desde o começo acreditara e apoiara o casal, mesmo quando Judith ainda era uma criada comum.

Os pais de Shido e Bado já são falecidos, mas os tios e outros parentes compareceram à cerimônia. A maioria conheceu Bado agora. Sabiam da existência do gêmeo que fora abandonado, mas foram surpreendidos pela notícia de que ele tinha aparecido durante a guerra. Depois vieram os boatos sobre o casamento do sobrinho perdido com uma médica que ele trouxera do continente, mas não estavam preparados para conhecê-la. Ann ousara ir à festa com um vestido preto de couro, de mangas compridas, porém justo e curto, e com suas tradicionais botas vermelhas de caubói. Os parentes acham o visual dela totalmente inadequado, mas pensam que é isso que se pode esperar da esposa do “bastardo”.

A irmã dela também está na festa, acompanhando Thor. Ao vê-los, Judith lembra que ficou feliz quando soube do namoro. Há um coração de menino naquele corpo gigante e certamente é do frescor de Kari que ele precisa.

Dos outros guerreiros-deuses, apenas Siegfried comparece ao enlace. Hagen ainda não pode sair do palácio, e Fenrir quis ficar em casa com a esposa e o filho recém-nascido. Alberich e Mime mandaram um belo presente e justificaram a ausência com as aulas que Mime vinha tendo no conservatório de música. Judith sabe que a verdade é que Alberich não se daria ao trabalho de vir de tão longe para o casamento de Shido com uma mulher que fora criada. Tudo bem, ela não se importa mesmo com ele. Não fará falta. As pessoas com quem ela realmente se importa estão todas ali, felizes por ela e por Shido.

Ela dirige um último olhar para o futuro marido e começa a descer. Hilda aguarda usando sua túnica cerimonial. Judith olha diretamente nos olhos da princesa e sacerdotisa e vê neles cumplicidade e gratidão. Ao final da escada, ela oferece a mão a Shido, que a beija e segura ternamente, conduzindo-a até Hilda. A sacerdotisa começa a cerimônia. Judith tenta prestar atenção nas palavras dela, mas sente-se extasiada e sua mente viaja imaginando os próximos dias. Só volta a si quando ouve a voz de Shido dizendo que aceita ser seu marido. Então Hilda pergunta-lhe se aceita casar-se com o nobre guerreiro-deus de Mizar.

– Sim, eu aceito – Judith responde com firmeza, e Hilda os declara casados.

“Não é mais um sonho”, Judith pensa, enquanto Shido coloca a aliança em seu dedo.

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Sete anos depois...

Asgard passara por mudanças inimagináveis nesses últimos anos. Ainda é uma monarquia, mas Hilda alterou a lei que a impedia de exercer plenamente sua função e usar o título de “rainha”. Subiu ao trono como princesa regente por não haver outra pessoa que pudesse fazê-lo na época, o que teoricamente limitava seu poder. Na prática, ela assumiu todos os encargos sozinha. A mudança no título não faz diferença para ela, mas permite que seu sucessor seja do sexo feminino e assuma o trono plenamente, independente de qualquer artifício.

Hilda também abrira as portas de Asgard para o mundo. Apesar do clima um tanto desfavorável, pessoas novas chegam todos os dias para trabalhar nas várias obras em curso, que incluem escolas, estradas melhores para as vilas mais distantes, instalação de energia elétrica na vila principal, com planos de expandir às outras vilas, inclusive até as mais distantes, como a de Thor. Outra novidade é a chegada do telefone. Por enquanto, apenas os ricos podem ter uma linha e o aparelho, mas é um avanço que nem mesmo eles sonhavam.

Asgard passara a exportar seus produtos, especialmente carvão, minério, pescados e couro beneficiado, o que fora excelente para os negócios de Alberich e dos gêmeos, além de ouro e pedras preciosas.

Com as preces constantes da rainha, o tempo permanece estável e mesmo os invernos não são muito rigorosos, permitindo o cultivo de alimentos e flores, que são consumidos ali mesmo e exportados para o continente.

O hospital fora totalmente reformado e equipado com o que havia de mais moderno. Outros profissionais foram contratados, deixando Ann apenas com o que ela faz de melhor: cuidar do pronto-socorro.

Anos atrás, Thor construiu uma casa vizinha à de Bado e casou-se com Kari assim que a moradia ficou pronta. Ainda mantém responsabilidades com a Vila da Baleia Azul e é a voz do povo de lá junto a Hilda, mas agora passa mais tempo na vila principal com a esposa. Kari foi formalmente contratada como recepcionista do hospital e, nas horas vagas, pinta quadros que vende aos moradores. Agora, porém, sua única tarefa é cuidar da filha Emma, nascida há dois meses.

Como eles, Shido e Judith também resolveram esperar para ter filhos. Por ele até teriam vindo logo, mas Judith queria dedicar-se somente ao trabalho. Apenas no último ano sentira vontade de ser mãe, o que se realizou com a chegada de Noora, há cinco meses. Agora Shido desfila orgulhoso pela cidade com ela. Judith acha que ele mima demais a menina e pretende ficar de olho nele pra evitar que ela se torne numa garota esnobe.

Já a casa de Fenrir é mais movimentada. Além de Wilhelm, ele e Liselotte tiveram mais dois meninos, Tristan e Etzel. O guerreiro-deus também passou a resgatar animais feridos ou abandonados. Por conta disso, Ensom agora tem a companhia de vários outros cachorros, de alguns gatos e até de um cavalo que está abrigado no quintal.

Alberich e Mime mudaram-se para Oslo definitivamente. O guerreiro-deus de Megrez vem a Asgard periodicamente apenas para cuidar dos negócios. Além do carvão, resolvera investir em joias. Comprara uma ourivesaria em Oslo e levava pedras preciosas de Asgard, especialmente ametistas, que deixavam seus funcionários encantados com o tamanho e a qualidade das pedras. Todos querem saber o “segredo” da fonte inesgotável de pedras perfeitas, mas ele jamais revelará. Ao contrário do namorado, Mime não voltou mais para Asgard. Estudou com afinco e tornou-se músico profissional. Ultimamente vinha compondo e cantando suas próprias canções. Com isso, tinha começado a se destacar no cenário musical e já tinha se apresentado em várias cidades da Noruega. A agenda para os próximos meses também já está cheia, com concertos até mesmo em países vizinhos, e ele se prepara para gravar seu primeiro disco.

A pequena família real de Asgard já não é mais tão pequena. Freya acaba de ter seu terceiro filho, Friedrich. Antes dele tivera a princesa Corinne, uma esperta garotinha com cabelos volumosos como os da mãe. A punição de Hagen acabou e ele pode circular livremente por Asgard. Ninguém mais se lembra de Grethe, de Linus ou do anel e da guerra contra Athena. Tudo ficou no passado.

Ao contrário da irmã, Hilda não conseguia ter filhos. Engravidou mais duas vezes, mas sofreu abortos espontâneos em ambas antes de completar o primeiro trimestre. Na tentativa seguinte, conseguiu chegar ao sexto mês, mas deu à luz um feto morto. Agora está entrando no terceiro mês de sua quinta gravidez, mas para isso tem ficado de repouso, recolhida em seus aposentos quase o tempo inteiro, sob o cuidado amoroso de Siegfried e Freya, e as breves visitas alegres dos sobrinhos.

A rainha continua atribuindo suas perdas a um castigo divino por conta da guerra contra Athena e vem aceitando resignada, mas como deseja muito ser mãe, ela espera que a perda de quatro filhos seja o suficiente e que esse quinto vingue. De qualquer forma, está decidida: essa será a última tentativa. Se o bebê morrer, não tentará outra vez. Aceitará seu destino e pronto. Siegfried vai ter que acabar se conformando.

Outra grávida também está em seu terceiro mês: aos quarenta anos, Ann finalmente resolveu ter um filho com Bado. Ele já tinha até desistido quando recebeu a notícia. Saiu correndo de casa, gritando que ia ser pai e foi assim até a casa de Shido, onde os dois beberam até não conseguirem mais ficar de pé.

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Seis meses depois, no hospital de Asgard, nasce o menino de Ann e Bado.

– Que coisinha mais linda – Bado diz, emocionado, admirando seu filho. Tinha sido um parto normal tranquilo e agora mãe e filho estão em um quarto.

– É, ele é lindo – Ann concorda, sorrindo ternamente enquanto olha para o menino loirinho de cabelinho arrepiado. Mal pode acreditar que colocara uma pessoa no mundo e está profundamente agradecida por ele ter nascido com saúde. Vinha acompanhando as perdas de Hilda e desde que engravidara sentia um medo terrível de passar pelo mesmo.

– Eu estou tão feliz, Ann – Bado diz.

– Quero ver se você vai ficar feliz trocando fralda! – ela brinca, mas se sente da mesma forma.

– Eu troco. Já falei que troco, né, Bruce?

Ann sorri. Tinha sido uma batalha entre eles a escolha do nome do bebê, mas ela não abriu mão de Bruce caso fosse menino e Bado teve que ceder.

– Agora vou poder andar com Bruce pendurado nas tetas! – ela constata, rindo.

– Você não tem jeito mesmo – ele comenta, rindo. – A parte boa é que ele vai ter uma família grande, vai crescer com as primas. Vai ser muito emocionante ver ele ter tudo que eu não tive.

Mal Bado acaba de falar, Kari entra trazendo Emma nos braços.

– Como está esse arrepiadinho? – ela pergunta. Tinha acompanhado o parto da irmã e agora voltara para visitar o sobrinho trazendo a filha.

– Está muito bem, Kari – Ann responde.

– Acabei de ligar para nosso pai e avisar que ele nasceu. O coroa está vindo para Asgard no fim de semana.

– De novo? Ele acabou de vir ver a Emma.

– Pois é, mas ele quer conhecer logo o outro netinho.

– Ele nunca imaginou que eu teria um filho! – ri Ann.

– Ninguém imaginou, Ann. Nem você mesma.

– Bom, isso é verdade.

– Aliás, ele escolheu nascer no mesmo dia do filho da rainha. Bem metidinho esse arrepiadinho aí!

– O dela que escolheu o mesmo dia do meu!! – protesta Ann e todos caem na risada. Enquanto ri, Ann pensa em como seria sua vida agora se os asgardianos não tivessem ido parar em Narvik. Não conseguiu se imaginar sem Bado e Bruce, sem Kari e Emma. Definitivamente está escrito em algum lugar que aquela guerra aconteceria, que os guerreiros iriam para Narvik e ela conheceria Bado, porque só assim seria feliz, com ele e agora com seu pequeno Bruce, na casa de pedra, com a charrete no lugar do conversível.

No quarto ao lado, Hilda amamenta seu primeiro filho que também acaba de nascer. Uma equipe de obstetras tinha vindo do continente há semanas especialmente para acompanhar o final da gravidez e realizar o parto da princesa. Fizeram uma cesariana e, ainda na sala de parto, depois de ouvir dos médicos que o bebê nasceu saudável, Hilda agradeceu a Odin. Acreditava que finalmente Ele a tinha perdoado e permitido essa graça. Agora, já no quarto, ela repete a prece enquanto amamenta o filho.

– Ele é perfeito – Siegfried baba enquanto observa o menino mamar. Tinha feito uma cirurgia há um ano e recuperara parte da audição. Com o auxílio de um aparelho auditivo, ele agora pode ouvir o choro do filho. – Chorou forte, tem bons pulmões.

– Ele se parece tanto com você – Hilda murmura encantada com o bebezinho loiro. Depois de tantas perdas, ela mal pode acreditar que finalmente seu bebê nascera.

– É, parece, sim, não é Siegmund?

– Príncipe Siegmund Njord Aegir Nielssen Odegaard Bendiksen – Hilda completa, olhando para o marido e para o filho. – E um dia será rei. Será o melhor rei que Asgard já teve.

– Só quero que ele seja um bom homem – Siegfried declara. – Um homem justo, honrado, que respeite as pessoas e, principalmente, que tenha amor por nossa terra e por nosso povo.

– Com um pai como você, tenho certeza de que ele vai ser tudo isso.

– Com pais como nós – corrige Siegfried, e beija a esposa.

FIM

Acabou! Depois de oito anos! O_O

No começo eu publicava quinzenalmente, lembram? Depois a vida foi se complicando... Agora finalmente consegui terminar essa fic. Se quisesse, acho que ainda dava para esticar um pouco mais, mas resolvi que já tinha passado da hora de terminar. Isso não quer dizer que eu vou deixar Ann e Kari para trás. Já comentei que ando com vontade de fazer uma fic só da Ann, né? E também tô querendo desenvolver umas historinhas curtas sobre os guerreiros-deuses... Bom, mas isso fica pra depois. Beeeem depois.

E o Siegmund nasceu! Eu tinha escolhido esse nome há muito tempo. Mas aí veio o Soul of Gold e esse é também o nome do irmão do Siegfried! Pensei em mudar, mas no final das contas resolvi manter o que tinha decidido há muito tempo. O meu Siegmund (ainda) não tem aquela voz sexy, mas é Siegmund Njord Aegir e vai ser rei! ;)

Muitíssimo obrigada a todos que acompanharam essa fic, principalmente aqueles que estão desde o comecinho, como a Hypnos Black, e a todos os que riram com a Ann, torceram por ela, ou pela Judith ou até mesmo pela Grethe. Vocês são demais!!

Agradecimentos especiais a Madwolve, que além de acompanhar e torcer, me presenteou com as fanarts mais fofuchas do mundo, incluindo uma de Ann e Bado! Sério, não canso de olhar!! Muito, muito obrigada!! *_*

É isso!!!

A fic acaba no segundo dia de 2016, então Feliz Ano Novo, people!!

Um cheirooooooooooooooooooo enorme e até a próxima! ;P

Chiizin


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