Mit Dir escrita por Chiisana Hana


Capítulo 3
Capítulo 2 - Asgard existe




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MIT DIR

Chiisana Hana

Beta-reader: Nina Neviani

Consultoria para assuntos asgardianos, dramáticos e geográficos: Fiat Noctum

Capítulo 2 – Asgard Existe

Dra. Ann Dagsland retorna à lanchonete do hospital quando Hilda e Freya já estão devorando o segundo sanduíche cada uma. Mesmo famintas, as princesas de Asgard não perdem a classe e comem pausadamente.

– Falei com o prefeito da cidade – Ann diz. – Mais tarde ele virá pessoalmente conversar com vocês e dará um jeito nessa situação.

– Obrigada, doutora – Hilda agradece.

– E, no final das contas Asgard existe mesmo. O senhor prefeito disse que conhece o lugar.

– Conhece? – indaga Hilda.

– Sim. Ele disse que conhece o tal reino de onde você é princesa e não me deu mais detalhes.

– Que bom que ele conhece. Agora você sabe que estamos falando a verdade.

– O fato de Asgard existir ou não é indiferente para mim, não muda a minha vida em absolutamente nada.

– Uma pena – Hilda diz, sorrindo satisfeita. – Você devia abrir a sua mente para as coisas misteriosas do mundo.

Ann nada responde, apenas sai irritada e diz ao atendente da lanchonete:

– Põe na minha conta.

-M -I -T -D -I -R -

Pouco tempo depois, o prefeito de Narvik chega ao hospital. As princesas de Asgard já estão na sala de espera outra vez, agora com os estômagos forrados.

– Bom dia, altezas – o homem diz, curvando-se.

– Bom dia, senhor – respondem as irmãs asgardianas. Hilda olha a face do homem atentamente. Sabe que é alguém conhecido, entretanto não consegue recordar de quem se trata.

– Natural que não se recorde de mim, princesa Hilda – ele diz, ao perceber o olhar perscrutador da princesa. – Quando saí de Asgard a senhorita ainda era uma criança e a princesa Freiya, um bebê. Linus Jensen, seu criado.

– Jensen? Filho de Bjorn Jensen?

– Exatamente, alteza.

– Oh, meu Deus! Realmente eu era criança, mas me lembro bem do seu pai, aliás o senhor se parece muito com ele. Freqüentava o palácio, quando meu pai ainda era o rei.

– Sim, isso mesmo.

– Fico feliz por revê-lo, senhor Linus.

– Eu que me sinto honrado por ter as princesas da minha terra natal na cidade onde moro, ainda que não seja por uma razão alegre.

– É verdade – Hilda diz, com pesar.

– Doutora Ann contou-me sobre oito rapazes feridos oriundos de Asgard. São os sagrados Guerreiros-Deuses, não são?

– Sim. Todos eles.

– O que houve, alteza? Não consigo vislumbrar razão para tantos feridos.

– É uma história muito longa e dolorosa, senhor Linus.

– Estou pronto para ouvir quando quiserem, altezas. Aliás, gostaria de convidá-las para um jantar em minha casa. Eu e minha esposa ficaríamos muito honrados.

– Nós aceitamos o convite. Acho que precisamos mesmo espairecer.

– Excelente! Bom, a doutora Ann também me contou que as senhoritas estão aqui na sala de espera desde que chegaram de Asgard. Em que posso ajudá-las?

– Viemos às pressas, não trouxemos roupas, nem dinheiro – Hilda explica. – Gostaríamos apenas de mandar alguém a Asgard para buscar ambas as coisas.

– Ainda hoje mandarei alguém até Asgard. Quanto à hospedagem das senhoritas em Narvik, por favor, faço questão de que fiquem em minha casa!

– Muitíssimo obrigada pela gentileza, mas não podemos aceitar. Certamente passaremos muito tempo aqui na cidade e visitas longas demais acabam virando estorvo. Parece-nos bastante que indique um bom hotel onde possamos ficar.

– Bom, se assim desejam, tem um hotel muito bom aqui perto. Podem ficar lá. É por minha conta!

– Obrigada, senhor Linus, mas não precisa. Quando o seu enviado voltar de Asgard, poderemos pagar o hotel.

– Eu faço questão, princesa Hilda.

– Está bem. Escreverei uma carta para as nossas criadas pessoais, para que elas recebam seu enviado no palácio Valhalla.

– Claro. Agora não gostariam de ir para o hotel?

– Sim – Hilda diz, depois completa: – Mas antes eu gostaria de dar uma olhada nos guerreiros.

– Ah, eu também gostaria – o prefeito diz, empolgado.

As princesas e o prefeito de Narvik dirigem-se à UTI. Ann Dagsland está no corredor da unidade intensiva, com uma prancheta nas mãos e cara de poucos amigos.

– Como eles estão, Ann? – o prefeito pergunta, demonstrando ter alguma intimidade com a médica.

– Pelo menos ainda não morreram – ela responde seca, sem olhar para Linus.

– Não seja tão dura, mulher! – ele exclama, rindo.

– Não é do meu feitio ser boazinha, senhor – ela diz, ainda sem olhar para o homem.

– Soube que não acreditou que Asgard existe – ele zomba.

– Pois é, como eu ia adivinhar que esse troço existia?

– Eu sou nativo de Asgard, doutora Ann.

– Ah, é? Sorte sua. O que vocês vieram fazer aqui?

– Queremos saber dos pacientes.

– Estão do mesmo jeito – Ann diz, acenando para uma enfermeira se aproximar. Quando a moça está perto, Ann entrega-lhe a prancheta que segurava e diz: – Explica pra eles o estado dos pacientes. Eu tenho mais o que fazer.

– Claro, doutora – diz a enfermeira. Já estava acostumada com o mau humor crônico de Ann, mas nos últimos dias ela estava intragável.

A moça vai explicando o estado dos guerreiros-deuses um a um, praticamente a mesma explicação que Ann dera a Hilda e Freya no dia anterior. Depois, o prefeito leva Hilda e Freya ao hotel, onde elas se hospedam na melhor suíte.

– Pronto, altezas – Linus diz, já saindo do quarto. – Fiquem à vontade. Já dei recomendações para que as tratem da melhor forma possível. Mandarei alguém trazer algumas roupas para as senhoritas, enquanto as suas próprias não chegam. Deixarei um motorista da prefeitura à disposição das senhoritas. E as aguardo em minha casa para o jantar.

– Muito obrigada, senhor Linus! – Freya diz.

– Que Odin o abençoe – Hilda também diz.

– Obrigado, altezas.

Assim que Linus sai, Hilda e Freiya vão tomar banho.

– Ah, como é bom tomar um banho! – exclama Freiya.

– É, eu já estava me sentindo uma porca – Hilda diz, fazendo Freya sorrir.

– Depois me ajuda com meu cabelo? Não estou acostumada a penteá-lo sozinha. Sempre tivemos as criadas por perto.

– Claro, Freya. Somos irmãs, não somos?

Depois do banho, as duas se jogam na enorme cama da suíte.

– Hilda, eu gostaria de estar lá no hospital, mas não agüento mais. Preciso dormir de verdade! Só cochilar na sala de espera não está mais adiantando.

– Durma, querida. Eu também vou dormir. Com eles na UTI não tem necessidade de ficarmos lá o tempo todo. Mas quando estiverem na enfermaria...

– Vão precisar de nós.

– É...

– Aquele negócio de ajudá-los a fazer... xixi... é sério?

– Parece que sim, querida.

– Ai, por Odin! Vai ser muito constrangedor!

– Eu sei, mas na hora da doença não há que se pensar nesses pudores, querida.

– É... – Freya diz, enquanto a irmã fazia-lhe uma trança nos longos cabelos.

– Sabe, quando eu era criança, pensava em ser enfermeira. E quando eu disse isso para mamãe, ela respondeu: "Querida, você vai ser princesa! Princesas não viram enfermeiras".

– Agora vai ter que ser enfermeira mesmo sem querer.

– É. Não é irônico? Pronto, terminei sua trança. Amanhã seus cabelos vão estar menos rebeldes. Não vai dormir?

– Sim. E você?

– Antes vou rezar pelos guerreiros-deuses e por nossa terra. Não posso deixar algo tão importante de lado.

– Então eu vou rezar com você. Depois dormiremos juntas.

– Certo. Vou pedir para nos acordarem às seis. Cansadas do jeito que estamos, poderíamos perder o jantar na casa do prefeito.

Hilda e Freya dormem muitas horas seguidas, um sono pesado e sem sonhos. Às seis, a recepcionista do hotel telefona para acordá-las. Hilda agradece. A moça diz que deixaram um embrulho na recepção. Pouco depois, um rapaz traz o embrulho. Há um cartão do prefeito.

"Alteza, algumas roupas para melhor conforto da senhorita e de sua irmã, enquanto as vossas não chegam."

As duas se arrumam. Sentem-se um pouco estranhas de calças jeans e camisas de botão.

– As roupas ficaram um pouco largas em mim – Hilda comenta ao olhar-se no espelho. – E eu nunca tinha vestido uma calça jeans na minha vida!

– Eu também não! Mas até que eu gostei. Parecemos normais vestidas assim.

– Somos normais, querida! Tem casacos também, mas acho que não vamos sentir frio lá fora.

O motorista da prefeitura as esperava na frente do hotel.

– Boa noite, altezas – diz o rapaz, um homem de menos de trinta anos, com penetrantes olhos azuis.

– Boa noite, senhor – Hilda e Freya dizem juntas.

– Para a casa do senhor prefeito, não?

– Exatamente.

Ao chegar à casa de Linus Jensen, uma bela mansão com ar antigo e grandes portas de madeira escura, as duas são recebidas por ele e por sua esposa, uma mulher loira, com pouco mais de trinta anos, que exibia os dentes alvos num enorme sorriso.

– Sejam bem vindas, altezas – Linus diz. – Esta é Grethe, minha esposa.

– Obrigada, senhor Linus. Como vai, senhora?

– Muito bem – Grethe responde sorrindo, porém com o olhar ligeiramente distante.

O jantar na casa de Linus é tranqüilo e agradável. Muitos pratos tipicamente noruegueses são servidos com capricho. Linus aproveita a noite para contar histórias sobre o tempo em que viveu em Asgard. A esposa limita-se a sorrir.

Depois de servida a sobremesa, as duas pedem desculpas e vão direto para o hospital. Uma enfermeira as recebe.

– Senhoritas! Ainda bem que chegaram! – a moça diz, aflita.

– O que houve? – Hilda pergunta, nervosa, imaginando que Siegfried poderia ter piorado.

– O senhor Alberich.

– O que tem ele? – alivia-se Hilda, para logo em seguida censurar-se. "De onde tirei esse egoísmo? Como posso ficar feliz por Alberich ter piorado?"

– Acaba de voltar ao centro cirúrgico, senhorita Hilda. Parece que a hemorragia recomeçou.

– Pobre Alberich – lamenta-se Freya, pensando: "Pelo menos não foi o Hagen."

– Se ele escapar vai ser um milagre.

– Só nos resta rezar... – Hilda diz e completa em pensamento: "... e pedir perdão pelo egoísmo."

-M -I -T -D -I -R -

Centro Cirúrgico do Hospital Municipal de Narvik.

A doutora Ann já está pronta para a cirurgia de emergência. Ela se aproxima da mesa, a instrumentadora lhe passa o bisturi; ela começa a abrir o abdome de Alberich. Na sala de cirurgia só se ouvem os sons intermitentes que vêm dos aparelhos que mantém o guerreiro-deus vivo.
Ann está concentrada, quase não pisca os olhos e só fala quando precisa pedir algum instrumento. Da porta do centro cirúrgico para dentro, outra Ann assumia o controle. Uma Ann que deixava do lado de fora seus comentários ácidos, sua postura indiferente, seu desprezo. Lá dentro, ela se concentrava apenas em salvar a vida do paciente. Gosta de antecipar mentalmente tudo que pode acontecer como se antecipa a movimentação das peças do outro jogador num jogo de xadrez. Assim ela fica preparada para qualquer eventualidade.

Três horas depois, Ann conclui a cirurgia. A médica sorri triunfante enquanto retira os paramentos usados na cirurgia. Alberich sobrevivera. As próximas horas serão decisivas para ele, mas Ann se sente vitoriosa: ele não tinha morrido em suas mãos. Não havia sensação que ela odiasse mais do que perder um paciente.
Ao ultrapassar a porta do centro cirúrgico, Ann conversa com a instrumentadora.

– Esse rosinha está me torrando a paciência – ela diz, batante irritada. – Quem mandou ele piorar, hein? Pensei que hoje o dia seria tranqüilo e esse aí piora só para me estressar.

– Doutora, já decidiu o que vamos fazer com o 07? – uma enfermeira pergunta a Ann.

– O loiro bronzeado, né? Ainda não sei. Só depende dele. Temos que ver se os dedos dele não vão piorar. Humpf... Espero que não piore hoje porque eu não estou boa. Um dos gêmeos está melhor, não?

– Está sim. Logo, logo poderemos transferi-lo para a enfermaria.

– Ótimo. Quando ele acordar, pode tacá-lo na enfermaria. Aquelas duas que se preparem para cuidar dele. Se bem que esse está inteiro, não vai precisar de ajuda para o pipi.

– Elas são princesas de verdade! – a enfermeira diz, maravilhada.

– São – Ann responde, sem nenhuma empolgação.

– Eu nunca tinha visto uma princesa!

– Não seja idiota. Princesas são retardadas que tiveram a sorte de nascerem da barriga de uma rainha. Fora isso, são iguaizinhas a nós. Ou até piores. Cadê a ficha do 08?

– Aqui, doutora. Senhor Siegfried Bendiksen.

– Mal, muito mal. Coitado. Mas pelo menos é educado, não me deu trabalho voltando ao centro cirúrgico como o rosinha. O grandão também já melhorou um pouco.

– É... – a enfermeira disse e corou. – A senhora já viu ele despido?

– Já – responde Ann, sorrindo pela primeira vez. – Não sei se digo "parabéns" ou "coitado" porque, né? É um monstro.

Quando Ann sai do corredor da UTI, Hilda e Freya interpelam-na.

– Então, doutora, como está o Alberich? – Hilda pergunta.

– Tive que abri-lo de novo. As próximas vinte e quatro horas serão decisivas para o rosinha. Amanhã digo algo mais concreto. Agora, tchau. Também preciso descansar.

– Que bom humor – Hilda ironiza. – Freya, querida, vá para o hotel. Essa noite eu fico aqui.

– Não vou deixá-la sozinha, Hilda. É melhor você ir para o hotel comigo, de nada adianta ficarmos aqui.

– É, você tem razão. Vamos. Amanhã cedo voltamos juntas.

-M -I -T -D -I -R -

Madrugada.

Ann Dagsland está em sua casa, deitada em sua cama, totalmente despida.

– Linus, seu infeliz, por que não me contou que era de Asgard? – ela pergunta, sorvendo um gole de vinho diretamente da garrafa.

– Porque não vi necessidade de contar, ora essa – responde o prefeito de Narvik, também despido, sentado numa poltrona.

– Nunca pensei que essa droga existisse. Se Narvik já é um congelador, Asgard deve ser o inferno gelado.

– Não é tão ruim assim.

– Ah, não? E por que sua família saiu de lá?

– Porque lá eu não poderia ser prefeito, já que Asgard é uma monarquia.

– Poderia ser príncipe, não?

– A princesa Hilda não faz meu estilo – ele diz, mas Ann nota certa ironia em seu tom.

– Ah, não? Você é ambicioso, Linus. Sei que se a oportunidade surgir você vai agarrá-la. Você é um sem vergonha. Só a sua mulher que não sabe disso.

– Grethe é uma santa. Por isso não é boa de cama como você, Ann.

– Hummm... você sabe que eu adoro elogios.

Continua...



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