Mit Dir escrita por Chiisana Hana
Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.
–M -I -T -D–I -R –
MIT DIR
Chiisana Hana
Capítulo 16 – Incerto e Não Sabido
– Acorda, tigre – Ann diz, acariciando os cabelos claros de Bado. Ele abre os olhos lentamente, acostumando-os à luz que entra pela janela aberta. A médica já está vestida e penteada, e exala um leve perfume amadeirado. Bado abre os olhos e boceja longamente. – Hora de ir para o hospital.
– Nossa, nem pretendia dormir aqui... – ele diz, espreguiçando-se.
– Agora já era. Vamos lá? Vista-se rápido. Tenho que ir logo para o hospital.
Ele segura a mão da médica, puxando-a gentilmente para perto de si, e pergunta:
– Você está bem mesmo?
– Minha coxa está meio dolorida, mas tudo bem, eu não quebro fácil. Não se preocupe. Agora levanta daí, seu preguiçoso.
Bado abre um sorriso delicioso e se espreguiça mais uma vez. Depois, toma um banho rápido e se veste. Quando Ann o chama, ele desce e os dois partem no conversível vermelho da médica.
– Usar um carro conversível nesse frio é bem ousado – Bado constata ao sentir o vento gelado batendo em sua face.
– Eu adoro o sentir o vento nos cabelos.
– Então acho que você gostaria de Asgard – ele falou, um tanto hesitante.
– Ah, é? Vocês andam de quê lá, hein? Não acho que seja de conversível...
– Andamos a cavalo, a pé, no máximo em carroças, ou carruagens, no caso dos nobres e das princesas.
– Cavalo? – Ann pergunta, com uma careta. – Deus me livre! Prefiro uma boa Harley-Davidson.
– Como?
– É uma moto. Depois te mostro umas fotos. Ainda vou ter uma. Ah, vou.
– Bom, então não daria certo levar para Asgard. Moto não é o veículo apropriado para neve.
– E quem disse que algum dia eu pretendo ir para Asgard?
– Nem para me visitar algum dia?
– É, talvez um dia... Sei lá, acho que essa Asgard parou no tempo. Digo isso porque vocês se vestem como se estivessem na Idade Média, chegaram usando armaduras e tem toda essa coisa de princesinhas virgens e seus guardas...
– É bem isso mesmo. Nós não temos carros, nem energia elétrica, nem telefone, nem nada da vida moderna.
– E vocês não se assustaram com o que encontraram na civilização?
– A maioria de nós já esteve "na civilização", Ann. Não estamos presos em Asgard. Acontece que gostamos de viver do jeito que vivemos. A maioria gosta, ou pelo menos aceita seu destino.
– Eu não conseguiria. Como ouviria meus discos do Iron?
– Você e suas músicas – ri Bado.
– Eu e minhas músicas – ela repete como se falasse sozinha e depois anuncia: – Chegamos, tigre. Desce aí. Eu vou dar a volta e entrar pelo estacionamento de funcionários.
Ele protesta:
– Nem um beijo de despedida?
– Tigre, tigre... não venha com esses romantismos bobos.
– Está bem, leoa – Bado diz ao sair do carro.
– Não me chame de leoa! – Ann censura, irritada. – Linus me chamava assim!
– Por isso chamei. Sabia que você ia se irritar.
– Ah, vai lá ver como estão as princesinhas virgens, vai! – Ann diz e afunda o pé no acelerador.
Bado dá uma gargalhada gostosa e entra no hospital, mas já na recepção encontra Freya completamente descontrolada.
– Onde você estava? – a princesa esbraveja assim que vê o guerreiro-deus.
– Eu... eu.. eu estava... – Bado procura uma desculpa para sua ausência, mas antes mesmo de encontrá-la Freya explica a razão de seu desespero.
– A Hilda! A Hilda sumiu, Bado! Eu não sei o que fazer! Shido e Mime saíram para procurá-la há horas e ainda não retornaram.
– Posso apostar que ela apenas foi dar um passeio como da outra vez.
– Durante a madrugada? Não, não! Ela não faria isso! Além do mais a recepcionista disse que a viu sair do hospital com um homem!
Bado franze a testa.
– Que homem?
– Ela não conseguiu ver direito. Bado, estou muito preocupada. Eu sinto que aconteceu alguma coisa.
– Acalme-se, senhorita Freya. Eu também vou procurá-la, mas antes preciso falar com uma pessoa...
– Quem? A médica maluca?
– É, com a Ann. Acho que ela pode nos ajudar.
– Aquela desvairada nos odeia!
– Alteza, as coisas não são como parecem ser. Espere-me aqui. Logo trarei notícias.
– Tomara que você esteja certo. Quando voltar, estarei na enfermaria com Hagen. Não demore, Bado. Por favor.
– Não demorarei.
Bado corre até a sala de Ann e entra sem bater à porta.
– Eu já ia dar uma belíssima bronca no filho da mãe que ousou entrar na minha sala sem bater, mas como é você, vou esquecer.
– Perdão, doutora – ele diz em tom de brincadeira, mas logo franze o cenho.
– O que foi, tigre? Tenho uma cirurgia daqui a pouco, não posso brincar agora.
– A princesa Hilda desapareceu.
– De novo?
– Viram-na sair com um homem desconhecido. Será que...
– Linus – ela completa o raciocínio dele. – Pode ter certeza.
Pensativa, Ann olha o relógio e depois anuncia:
– Tenho alguns minutos antes da cirurgia. Vou visitar uma pessoa que eu acho que sabe onde Linus se meteu com a princesa.
– Então eu vou com você.
– Não, tigre. Eu vou sozinha. Falo com você assim que voltar.
– Está bem. Esperarei na enfermaria.
Ann corre até o estacionamento, pula no conversível e sai cantando pneu até a casa de Linus. Grethe a recebe na porta.
– O que foi dessa vez, doutora?
– Eu quero falar com o Linus – Ann anuncia em tom grave.
– Só se você procurar na casa de alguma outra amante dele – Grethe responde com um sorrisinho irônico, e completa: – Não o vejo desde ontem.
– Grethe, é muito importante...
– Importante pra quem? Pra você? Então não é importante pra mim.
Ann respira fundo. Sua vontade é agarrar o pescoço de Grethe e torcê-lo até quebrá-lo, mas ela se contém e explica a situação.
– Uma das asgardianas pode estar em apuros e algo me diz que Linus está metido nisso.
– Eu realmente não sei aonde ele foi, Ann. E você acha mesmo que ele me diz alguma coisa?
– Não, não acho. Mas você poderia ter ouvido algo sem querer. Ou querendo. Afinal, você se faz de idiota, mas sempre sabe de tudo, não é mesmo?
Grethe engole em seco a provocação de Ann e diz:
– Eu não ouvi nada. Não sei de nada. Agora, se me dá licença, preciso preparar o almoço porque meu querido marido pode aparecer.
– Ok, Grethe, ok. Se ele voltar, por favor, ligue para o hospital.
– Claro, doutora, claro – ela assente, em tom irônico.
– Ah, e você faria um bem à humanidade se levasse em consideração o que eu disse na minha última visita, sabe? Temperar a comida do seu querido marido com uma bela pitada de veneno de rato realmente não é má ideia.
– Hum... Cuspir no prato que comeu é tão indigno, doutora – a primeira-dama diz e dá mais um de seus sorrisinhos, depois fecha a porta, antes mesmo que Ann lhe responda.
A médica retorna ao hospital, vai até enfermaria e, da porta, chama Bado. O guerreiro vai até ela, acompanhado por Freya, e Ann lhes conta da conversa que tivera com Grethe, omitindo as provocações mútuas.
– Então só pode ter sido ele – Bado constata. – Não é possível que seja coincidência.
– Também acho. E sabe o que mais? Tenho certeza que Grethe sabe onde ele está. Vamos fazer o seguinte: eu vou fazer minha cirurgia, não é um procedimento muito complicado, em duas ou três horas estarei livre. Enquanto isso, você monta guarda na casa de Linus e manda alguém para a prefeitura, para o caso de ele dar as caras em um desses lugares, ou Grethe resolver ir até o querido maridinho dela. Encontro com você assim que estiver livre.
– Certo. Boa sorte – ele diz, e num gesto impensado, beija Ann. Quando se dá conta do que acabara de fazer, ele a olha com um pedido de desculpas na ponta da língua, mas as palavras não ousam sair.
– Pra você também... – ela diz, e sai naturalmente, como se nada tivesse acontecido. Boquiaberta, Freya encara Bado.
– Eu estou chocada – ela diz.
– Não esperava que o prefeito fosse capaz de sequestrar a senhorita Hilda?
– Não, isso eu já imaginava, não precisava da doutora doida para saber! O que me choca é que você e ela... vocês... vocês estão tendo um romance! Eu já tinha percebido que havia algo, mas não pensei que tivessem ido tão longe!
Bado dá um sorrisinho amarelo e muda de assunto.
– Bom, estou indo – ele diz. – Vou ficar de prontidão em frente à casa dele e mandarei Alberich para a prefeitura. Se Linus aparecer, nós o pegaremos.
– Faça isso, Bado. Faça rápido.
– Fique tranqüila. Nós vamos encontrar a senhorita Hilda.
– Que Odin nos ajude. E que Ele ajude você a ter cuidado com a doida da médica.
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Mais tarde, Bado encontra Alberich no hotel e lhe explica o plano.
– Acho melhor você ir para a prefeitura e eu para a casa do prefeito – sugere Alberich, sem denotar segundas intenções. Em sua mente, entretanto, já elabora todos os passos que dará.
– Que seja. Se ele aparecer, faça o que for preciso para descobrirmos o paradeiro de Hilda.
Alberich dá um sorrisinho vencedor quase imperceptível.
– Pode deixar. Eu vou adorar torturá-lo.
– Acha que eu não sei disso? Faça o que quiser desde que seja discreto.
– Serei – ele diz, e escancara o sorriso.
Ao chegar à casa de Linus, Alberich toca a campainha em vez de ficar pelos arredores como combinara. Grethe recebe-o com um beijo.
– Por essa eu não esperava – surpreende-se o rapaz. "Vai ser mais fácil do que eu pensava...", ele constata em pensamento.
– Pois estava louca para fazer isso.
– Confesso que gostei.
– Ótimo. Mas me diga, você veio por causa do sumiço da princesa, não é?
– Exatamente.
– Ann veio aqui saber do Linus.
– Eu sei.
– Então já deve saber que ele também sumiu.
– Sei disso também. Assim como sei que você não faz a menor ideia de onde ele possa estar, embora eu ache isso bem pouco provável.
– Hum... é... eu sei... – admite a primeira-dama, com piscadelas teatrais.
– Então...
Ele espera que ela fale, mas ela se faz de desentendida.
– Então?
– Então não vai me dizer? Eu ganharia muitos pontos com a princesa se eu a encontrasse.
– E eu, o que ganharia? O ódio do Linus? Nem pensar.
– Grethe, ele não precisaria saber que foi você.
– Mas ele saberia, porque além dele, só eu conheço esse lugar. Olha, não se preocupe. O Linus é incapaz de matar. O máximo que ele pode fazer é violentar a princesinha. Ele é tarado, não é assassino.
– E você acha isso pouco?
– Ela não vai morrer por causa disso, ok? Quantas mulheres já foram estupradas nesse mundo e estão aí, vivas e serelepes? Ela no máximo vai precisar de psicólogo.
– Senhora primeira-dama, sua frieza...
Alberich faz uma pausa proposital e encara Grethe, tentando decifrar a expressão na face dela.
– Assusta?
– Não. Me encanta – Alberich sussurra ao pé do ouvido da primeira-dama, e encosta a ponta da língua na orelha dela, contornando-a, descendo pela nuca, onde pressiona os lábios com força. Um calor vulcânico consome Grethe e ela sente como se fosse desmanchar nos braços do asgardiano, cujas mãos já passeiam por baixo de seu vestido.
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Enquanto isso, no hospital, Judith anda de um lado para o outro no quarto de Siegfried. Ficara encarregada de cuidar do rapaz, mas há horas ninguém lhe dá notícias da princesa, nem de Shido, que saíra com Mime para procurá-la.
– Hilda... princesa Hilda.
A voz de Siegfried faz Judith sobressaltar-se. Ela para onde está, olha fixamente para ele, e murmura pasmada:
– Por Odin! Ele acordou!
– Hilda? – ele continua falando.
– Não, senhor, eu sou uma criada do palácio. A senhora não está nesse momento...
– Hilda... – ele insiste.
– Não, senhor...
Lentamente, Siegfried abre os olhos e percebe que quem está com ele não é a princesa.
– Hilda? Ela... ela está bem?
Judith fica sem saber o que responder.
– Está? – ele torna a insistir, num fio de voz.
– Está sim, senhor. Só deve ter ido descansar no hotel.
– Não consigo ouvir... – ele fala. – Não consigo. Hilda...
– Ai, meu Deus! – Judith exclama.
– Hilda... onde ela está?
A criada respira fundo e fala pausadamente, bem de frente para ele, na esperança de que Siegfried consiga compreender.
– Ela está bem. Estamos em Narvik.
– Narvik... – ele repete, demonstrando que compreendera e parecendo tentar localizar-se geograficamente.
– Eu... eu sinto que ela não está bem...
A afirmação de Siegfried deixa Judith sem reação e antes mesmo que ela consiga dizer alguma coisa, uma enfermeira entra no quarto.
– Olá, queridinha – a moça diz para Judith e se surpreende ao ver Siegfried acordado e falando. – Ó, mas não é que o rapaz já saiu do coma? Que agradável surpresa! É hora do remédio. Vou colocar esse remédio aqui. Não vai doer nada. É só uma bobagenzinha.
– Ah, não vai injetar nada, não! – Judith protesta e segura firme o braço da enfermeira. – Eu estou com uma tabela com todos os horários de medicamentos do senhor Siegfried e não tem nenhum programado para as próximas três horas.
– Sim, queridinha, mas isso era antes de ele acordar. Agora é diferente.
– Mas você nem sabia que ele acordou!
– Claro que sabia, ora essa. Os aparelhos avisam.
– Ah, não sabia, não! Você ficou surpresa quando entrou no quarto. De qualquer forma, remédio nele, só quando a médica vier aqui e anotar o horário na minha tabela.
– Não seja ignorante, querida – a enfermeira diz, já perdendo a paciência. "Essa vadiazinha não vai me impedir de matar esse imbecil. Linus ficará muito orgulhoso de mim se eu conseguir acabar com ele ao invés de só retardar sua recuperação."
– Você ainda não viu nada da minha ignorância! – Judith grita, com o punho erguido. A enfermeira avança, empurrando-a.
– Dá licença, querida.
Judith segura a mulher, mas ela se desvencilha e avança em direção a Siegfried. Novamente a criada a detém, segurando-a firmemente pelos dois braços.
– Me solta, sua ignorante! – Johanna berra, já dominada por Judith.
– Agora você vai ver a força que uma criada de Asgard tem!
A enfermeira se debate, tenta desvencilhar-se mais uma vez, mas a criada não cede. As duas vão ao chão juntas e Johanna acaba por cravar a seringa na própria perna.
– Ah, não! – ela exclama aterrorizada.
Judith continua segurando-a firmemente, mas afrouxa os braços quando sente o corpo de Johanna amolecer e sua cabeça pender para a frente.
– Será que a desgraçada morreu? – indaga Judith, deitando-a no chão. Ela verifica o pulso e não sente nada. Depois, levanta, ajeita o vestido e os cabelos e conclui: – Ah, bem feito. Eu sabia que o que ela queria era fazer maldade com o senhor Siegfried, mas é claro que eu não ia deixar essa vagabunda matar o futuro marido da princesa. Só se eu fosse louca.
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Em lugar ignorado, Linus mantém Hilda num cômodo sem móveis, de pé, acorrentada a uma coluna de madeira, com os braços para trás.
– O que pretende fazer? – ela pergunta, observando-o limpar o revólver que usara para forçá-la a acompanhá-lo.
– Tudo o que eu bem entender, princesa. Tudo o que eu bem entender.
– Está fazendo isso por causa de... uma noite?
– Bom, sim, eu estou. Uma pena que a senhorita não terá sua primeira noite com o seu querido Siegfried, não é?
Hilda ruboriza. Nunca passara pela sua cabeça que seus sentimentos mais íntimos acabariam na boca de um desconhecido sem caráter.
– Aliás, para o azar do seu queridinho, as coisas só vão piorar.
– Do que está falando? O que vai fazer com Siegfried, seu desgraçado?
– Oh, nem deixei você se despedir dele, princesa. Como eu sou mau.
A expressão de Hilda, antes altiva e pronta para enfrentar Linus, agora parece aterrorizada. Engolindo em seco, ela continua:
– Faça o que quiser comigo, mas deixe-o em paz. Não é a mim que você quer? Pronto. Estou aqui.
– Não é tão simples assim, princesa. Se eu deixo que ele viva, ele virá atrás de mim, não é mesmo? Afinal, vou ser o deflorador da querida princesa virgem.
– Ele está surdo, não vai fazer nada. Além do mais, não há nada entre nós dois e ele nem vai ficar sabendo. Eu prometo.
– É tarde demais para promessas, princesa. A essa altura, seu querido Siegfried já deve ter partido.
– Não, por favor! Eu faço o que você quiser, mas deixe-o em paz.
Linus dá de ombros. Hilda se exalta e grita:
– Está me ouvindo? Eu faço o que você quiser!
– Eu ia dizer 'quietinha, princesa', mas não precisa. Pode gritar à vontade porque ninguém vem a essa casa, e é bem longe da estrada principal.
Mal Linus termina de falar e ouve-se um ruído de carro se aproximar e parar na frente do chalé. Hilda enche-se de esperança, enquanto Linus engatilha o revólver e corre até a janela.
– Mas é a idiota da Grethe! O que ela veio fazer aqui?
O prefeito põe o revolver em cima da mesa e abre a porta, olhando ao redor e certificando-se de que a esposa viera sozinha.
– Olá, marido – ela o cumprimenta com seu sorrisinho clássico, e completa: – Não se preocupe, eu vim só.
– Esta me seguindo, sua infeliz?
– Imagina, marido. Jamais pensaria em segui-lo. Mas é que a doutora Ann e os asgardianos foram atrás de mim para saber do seu paradeiro.
– E você não abriu o bico, abriu?
– Claro que não. Mas quando falaram que a princesa também tinha desparecido eu soube no mesmo instante com quem e onde ela estava. Ela está aí, não está?
– Não interessa. Volte pra casa!
– Eles estão procurando por você, marido. Acho que você vai precisar da minha ajuda.
– Eu não preciso de você, Grethe!
– Precisa, sim. Eu posso sair com a princesa e dizer que a encontrei na mata, ou qualquer coisa assim. Depois você sai sozinho, no seu carro. Não é um ótimo plano?
– Seria. Se eu já tivesse feito o que pretendo.
– Pois faça. Eu não me importo. Sou traída por você desde quando namorávamos. Que diferença faz uma a mais, uma a menos? Vai, Linus, anda! Eu vigio a porta.
– Você está em seu juízo perfeito, Grethe?
– Perfeitíssimo. Já disse que não me importo. Vá em frente, meu caro.
Linus assente com a cabeça e vai até o cômodo ontem mantém Hilda. Os dois fecham-se lá dentro, mas a primeira-dama se certifica de que a porta não está trancada. Grethe então, pega o revólver que ficara sobre a mesa e espera em frente ao quarto. Hilda começa a gritar e Grethe se aproveita disso para abrir a porta e se aproximar. A cada grito um passo que Hilda dá, Grethe avança um passo. Olhando para a princesa, ela põe o indicador sobre os lábios. A primeira-dama encosta o cano da arma na cabeça de Linus, que se sobressalta.
– Grethe? O que é isso? O que está fazendo?
– Levante devagar – ela ordena. Sua voz não parece a da primeira-dama boba e submissa.
Ele o faz. Seu olhar, ao invés do costumeiro desdém, agora tem apenas medo e surpresa, e Grethe saboreia o momento em que, pela primeira vez, vê o marido acuado.
– Nunca imaginou que eu fosse capaz de me rebelar, não é mesmo? – ela diz, com um sorriso de satisfação autêntico, bem diferente de seus costumeiros sorrisinhos falsos. A sensação de estar no controle a invade como uma onda devastadora. Linus, entretanto, sente-se encurralado como nunca se sentira.
– Grethe, as coisas podem acabar mal... além do mais, você nem sabe atirar.
– Não sei? Se você tivesse procurado me conhecer, saberia que meu pai costumava me levar para caçar na adolescência, mas não você não tinha tempo para mim, não é mesmo?
– Vamos conversar, Grethe.
– Hum... não sei se quero conversar. Tantos anos tentando falar e você nunca me ouviu. Acho que agora eu não quero ouvir.
– Você disse que não se importava.
– É, eu disse, mas mudei de ideia.
– Grethe... – ele olha para a esposa com olhos suplicantes, mas a primeira-dama olha de volta, sorri e puxa o gatilho.
Continua...
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