Sobrado Azul escrita por Chiisana Hana


Capítulo 25
Capítulo XXV




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são meus e eu não ganho nenhum centavo com eles.

 

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

Capítulo XXV

— Eu não posso acreditar que vocês dois não vão mais morar com a gente – Shun declara a Shiryu e Shunrei, que assinaram os papeis do casamento algumas horas atrás e agora recebem os amigos mais próximos para um jantarzinho no jardim da casa nova.

Desde o casamento de Hyoga, há pouco mais de um ano, Shun vem se preparando para outra partida do sobrado. Ele achava que encararia isso numa boa, porém de uma só vez estão partindo dois membros da “família”, o que faz com que ele se sinta pior do que devia.

— Não faça tanto drama – Ikki diz, dando um tapa na cabeça do irmão mais novo. – Se você abrir o portão lá de casa e der dez passos estará aqui na casa deles!

— Eu sei, não estou fazendo drama. Mas em breve você também vai casar e...

— Você está morrendo de medo de ter que morar somente com o Seiya! – Shiryu completa, rindo, e levando todos às gargalhadas.

— Deve ser isso mesmo – concorda Ikki.

— Seria um castigo! – June diz, ainda rindo.

— Poxa, eu tô aqui – protesta Seiya. – Não fiquem falando assim de mim! Eu sou uma ótima pessoa.

— É, Seiya – Shiryu tenta amenizar. – Você é ótimo, só que é um pouco bagunceiro...

— E irresponsável – completa Ikki. – E sem noção.

— Eu compreendo o que você sente, Shun – Minu diz, séria. – Eu vou sofrer muito quando tiver de deixar as crianças. O orfanato é a minha vida, sempre foi. Eu quero muito começar uma vida nova com o Ikki, mas uma parte de mim quer ficar lá.

— Sei bem como é – concorda Eiri. – Apesar de já estar casada há mais de um ano, ainda me pego pensando nas crianças, sinto falta daquela algazarra na hora das refeições. Sou muito feliz com meu marido, tenho meu salão de beleza, mas às vezes bate aquela saudade, sabe?

— Não trabalho no orfanato há tanto tempo quanto você, Minu – diz Seika –, mas já me apeguei aos pequenos. É impossível não criar vínculos com eles, por mais que a gente tente ser profissional.

— E se a gente ficasse lá? – Ikki pergunta a Minu, pegando todos de surpresa.

— Como? – Minu retruca. – Eu e você naquele quartinho minúsculo? Acho que vai ser bem complicado, Ikki.

— Não é isso. Estava pensando em outra coisa. O terreno é grande, dava para fazer nossa casa lá. Acho que você não iria se opor, né, Saori?

— Claro que não – responde a milionária. – Se vocês acharem que é a melhor coisa a se fazer, eu cedo o terreno com prazer.

Chocada, Minu olha para Saori e dela para Ikki.

— E onde é que nós vamos achar dinheiro pra fazer uma casa? – Minu pergunta a ele.

— O escritório está indo bem, Minu. Logo terei o suficiente para a obra. E, bom, engenheiro temos de graça.

— Eu não sei... – Minu diz, surpreendendo-o.

— Como não sabe? – ele indaga. – Achei que você ia dar pulos de alegria.

— É que isso pode confundir a cabeça das crianças... e a minha...

— Não estou entendendo.

— Um dia teremos filhos... Sei lá, pode ser estranho para as crianças do orfanato...

— Então a gente adota os guris.

— Todos, Ikki? São vinte!

— Acho que dou conta dos vinte, da Penélope e dos que ainda vamos ter.

— Você não sabe do que está falando – ri Minu, enquanto secretamente pondera se essa ideia louca teria alguma chance de dar certo. Tornar-se mãe dos vinte órfãos não soava nada mal, de certa forma ela já faz isso, mas ela se pergunta se Ikki teria condições de assumir o papel de pai deles.

— Não sabe mesmo – concorda Shun.

— Isso é uma coisa muito séria – diz Hyoga.

— E quem disse que não é? – Ikki retruca.

— O Hyoga está certo – aduz Shiryu. – É preciso pensar muito se isso é o que você realmente quer fazer porque depois não dá pra voltar atrás.

— Essa eu queria ver... – ri Seiya. – O Ikki criando um monte de moleque!

— E a Pepê já vale por três – Shun diz.

— Mas temos que admitir que ela passa a maior parte do tempo com o Radamanthys – June diz. – O Ikki fica só com a parte boa que é passear no final de semana!

— Não porque eu quero – ele diz, levemente irritado. – Ela mora com a mãe porque, no momento, é o melhor para ela.  E chega desse assunto. Resolvo isso com a Minu depois. Vamos falar desses recém-casados! E aí, quando é que sai o herdeiro de vocês? Shiryu já se formou, e você está quase se formando, Shunrei.

— Ainda vai demorar bastante – Shunrei responde, dando ênfase ao “bastante”.

— É – concorda Shiryu. – Acabamos de casar, ainda estou me adaptando à casa nova e tenho muito trabalho no escritório.

— E nós ainda temos muita coisa pra fazer aqui em casa – continua Shunrei. – Queremos trabalhar nesse jardim, vou fazer também uma horta e, no futuro, vamos fazer uma piscina lá no fundo.

— Só vou ter que tomar cuidado pra não cair nela acidentalmente – brinca Shiryu.

— É bom vê-lo feliz, fazendo piadas – comenta Shura, único convidado fora do círculo mais próximo.

— Eu tive que me acostumar – Shiryu diz, sorrindo serenamente. – Estou cego, é assim que é. E preciso dizer que devo essa aceitação a  Shunrei. Se não fosse por ela, eu teria desistido de tudo... Ela salvou minha vida.

Shunrei sorri comovida ao ouvir essas palavras do marido. Sabe bem do papel fundamental que teve na recuperação dele, mas ainda assim é tocante vê-lo admitir isso.

— Que bom que ela cruzou o seu caminho, meu discípulo – Shura diz. – E, mesmo sem querer, eu percebi de primeira que vocês foram feitos um para o outro.

— Verdade! – concorda Shunrei, lembrando-se do episódio em que Shura achou que ela e Shiryu eram namorados quando eles mal se conheciam.

— Eu quase morri de vergonha ao fazer aquela pequena confusão.

— Eu diria que foi intuição – Shiryu diz, e pensa em completar dizendo que espera que alguém como Shunrei também cruze o caminho de Shura, mas, discreto, ele mantém o comentário somente para si. Shunrei pensa o mesmo, porém acha que essa pessoa já apareceu. Desde o começo do jantar, ela percebera certa troca de olhares entre o mestre de Shiryu e a irmã de Seiya, embora eles claramente se esforcem para manter a discrição.

— Então, onde vão passar a lua de mel? – indaga Shura.

— Aqui mesmo – responde Shiryu, rindo. – Não podemos viajar agora. Estou bastante atarefado no escritório.

Depois de sua formatura, Shiryu continuara trabalhando no escritório de Siegfried, onde tem a confiança do chefe e costuma assumir casos difíceis.

— E eu com o término da faculdade – completa Shunrei. – Nas férias faremos uma boa viagem para compensar.

— A parte importante da lua de mel dá pra ser feita aqui mesmo – Seiya diz rindo e fazendo um gesto obsceno. Saori revira os olhos.

— Meu amor, você é sempre tão delicado – ela ironiza.

— Esse meu irmão não tem jeito mesmo – completa Seika.

— Eu só falo a verdade!! – ele diz. – O importante mesmo é molhar o biscoito!

— Eu já me acostumei, sabe – Saori diz e revira os olhos outra vez. – Nem me irrito mais. Só sinto um pouco de vergonha e me pergunto o que eu vejo nele.

— É que você me ama, Sassá!

— Vai ver que é isso mesmo...

— Você devia ir para as aulas do mestre Shura para ver se aprende a se controlar um pouco – Seika diz, levemente abaixando o olhar, gesto que não passa despercebido para os mais atentos.

— Esse negócio de kung fu não é pra mim, mana. Eu sou mais do futebol.

— A senhorita Seika está certa – manifesta-se Shura. – O kung fu poderia ajudá-lo com disciplina e concentração. Soube que não vai muito bem nas aulas...

Seiya fecha a cara.

— Bando de fofoqueiro – ele resmunga, fuzilando a todos com o olhar. – Já foram bater com a língua nos dentes... Foi você, né, Shiryu?

O amigo responde com uma risada.

— Isso é verdade – Saori confirma para Shura. – Ele tinha melhorado um pouco, mas ultimamente não vai nada bem. Nada bem.

— Pô, Saori!!! – protesta Seiya.

— Está decidido – Saori diz. – Ele vai para as aulas de kung fu, mestre Shura.

— Pode deixar que eu me encarrego de levá-lo – Shiryu completa ainda rindo e Seiya tem certeza de que não vai conseguir escapar.

— Todos contra mim... – ele resmunga. – Eu não mereço!

— Todos a favor de você! – corrige Seika. – Queremos o seu bem!!

— Pois é! A propósito, tenho que ir pessoal – Saori diz, levantando-se da mesa. – Sinto muito, mas tenho uma prova essa semana e preciso muito estudar.

A milionária cumprimenta novamente os recém-casados, beija o namorado e vai embora.

—Agora é assim – Seiya diz. – Ela tem sempre que estudar.

— É o que você devia fazer também – aconselha Shun.

— Ela está sendo responsável – Seika diz.

— E eu devia ser também... – ele resmunga, com expressão irritada. Seika concorda, então ele acrescenta: – Pra quê estudar, Seika? Ela é milionária!!

Agora é Seika quem revira os olhos.

— Ai, Seiya... – ela diz. – Não dá pra conversar sério com você.  

A saída de Saori é a deixa para os outros começarem a ir embora, até que restam apenas os recém-casados. No portão, abraçados, eles esperam o último amigo afastar-se.

— Nós conseguimos – Shunrei diz ao esposo. – Nós vencemos todas as dificuldades, meu amor.

Um filme dos últimos anos passa pela cabeça dela. A doença que levou o avô a morte, a humilhação ao ser despejada do apartamento onde morava, o desespero que sentiu na ocasião e que foi a razão de ela ter conhecido Shiryu.

— Sim – ele concorda. – Por várias vezes achei que tudo estava perdido, mas você sempre esteve lá, me mantendo firme, no caminho certo.

— Eu sempre estarei, não importa o que aconteça – ela diz, agora lembrando-se do acidente, do hospital, de como foi preciso ser forte por Shiryu.

— Eu sei. Bom, enfim, sós... – Shiryu diz sensualmente, enquanto é conduzido para dentro de casa. Depois que Shunrei fecha a porta, ele a puxa para si e a beija.

— Hum... eu ia lavar a louça – ela diz, retomando o fôlego –, mas acho que ela pode esperar.

— Sim, pode – ele concorda, e a agarra com uma paixão quase febril. Tateia as costas dela, encontra o fecho do vestido simples que ela usa, um tubinho azul-marinho, e abre-o sem cerimônia, fazendo-o deslizar até o chão.

Nos últimos dias, com a preparação da mudança para a casa nova, quase não tiveram tempo um para o outro. Agora é a hora de resgatar as horas perdidas. O vestido ficara para trás e, só de lingerie, Shunrei conduz seu marido ao quarto que preparara cuidadosamente no dia anterior. A cama nova está forrada com lençóis brancos e há um vaso de rosas vermelhas na mesa de cabeceira. Shiryu sente o perfume delas no ar, mas logo o esquece quando seu rosto se aproxima da nuca da esposa e aspira o doce perfume dos cabelos dela.

Os recém-casados passam os dias seguintes dividindo-se entre trabalhar, curtir a lua de mel e ajeitar coisas da casa nova. Shunrei tem mais uma coisa para se dedicar: seu trabalho de conclusão de curso. Está focada nele quando Shiryu chega do escritório com uma expressão indecifrável na face. Usando a bengala, ele procura o sofá e deixa-se cair nele pesadamente.

— O que foi, Shiryu? – Shunrei pergunta ao marido, ainda tentando decifrar o que se passa com ele.

— Aconteceu uma coisa lá no escritório... – ele começa a falar.

Ela se aproxima e senta ao lado dele.

— Que coisa? Está me deixando preocupada.

— Acho que é uma coisa boa, mas não sei se estou preparado...

— Não estou entendendo nada.

— Bom, a senhora Hilda terá de voltar para a terra dela. Houve algum problema lá e ela é herdeira do trono... É uma história confusa...

— Hum... já entendi... e o Siegfried vai com ela e vai fechar o escritório...

— Na verdade, não. Ele vai passar o escritório pra mim.

— Mas isso é ótimo!! – ela exclama, o rosto iluminando-se com a grande notícia.

— Eu não sei se consigo, Shunrei. É um escritório muito grande, com clientes importantes. Não sei se dou conta, não sei se posso, se terei pulso firme pra ser chefe. Eu sou só um advogado cego.

— Você é um excelente advogado – ela corrige. – Ele está passando o escritório pra você e não para os outros porque você é o melhor, meu amor! É claro que consegue!

— Eu ainda não dei uma resposta a ele.

— Você vai ligar pra ele agora e dizer sim! Não vou deixar você perder essa oportunidade!

— E se eu não der conta? E se eu decepcioná-lo?

— Eu sei que você vai dar conta. Ligue agora.

Ele obedece. Shunrei aguarda ao lado dele enquanto a conversa com Siegfried se desenrola.

— Feito – ele diz, com um suspiro aliviado, após desligar o telefone. – O escritório será meu. Amanhã realizaremos as formalidades legai. – Ele suspira outra vez. – É muita responsabilidade, Shunrei.

— Eu acredito em você – Shunrei diz, sempre confiante. – Nem que eu tenha que ir lá ser sua secretária e ler todos os processos pra você, isso vai dar certo!

— Meu amor, eu não sei o que seria de mim sem você... – ele diz, beijando a esposa. – Ah, o Siegfried nos convidou para um jantar no próximo fim de semana, uma despedida antes que eles partam. Eu aceitei.

— Claro, vai ser ótimo! – Shunrei concorda empolgada. – Eu vou adorar rever a Emme e me despedir dela!

—S -A -

No sábado, Shunrei reencontra-se com as amigas no salão de Eiri. O jantar na casa de Hilda é logo mais à noite e, enquanto fazem as unhas e os cabelos, elas aproveitam para conversar.

— Como estão as coisas no escritório? – Eiri pergunta a Shunrei.

Logo depois de formalizada a transferência do escritório, Shiryu ligara para Hyoga, convidando-o para ser sócio.

— Vai tudo bem – Shunrei responde alegremente. – Shiryu está com medo, mas eu sei que tudo vai correr bem. Eu sei que vai. Aliás, ele mandou dizer que a proposta ainda está de pé. Se o Hyoga quiser ser sócio dele, as portas estão abertas.

— Eu já falei pro Oga aceitar, mas ele insiste em ficar lá com o Camus. Você sabe, ele gosta muito do patrão. Mas seria outra coisa ser sócio e não empregado, né?

— Claro. Vai ser estranho se algum dia os dois atuarem em causas opostas. Já pensou nisso?

— É verdade. Não tinha pensado nisso, mas eles vão tirar de letra. Os dois são ponderados e extremamente profissionais. Agora se fosse o Ikki, eu já não sei...

— Mas o Ikki mudou tanto nos últimos tempos – Minu entra na conversa defendendo o namorado.

— Pois é, mas o temperamento dele ainda é esquentado... – Eiri diz.

— Sim, mas ele seria profissional também! Claro que seria!

— Talvez, talvez... – Eiri diz, e procura mudar o foco da conversa. – O Seiya é que não é, certo, Saori? Ele já começou a fazer as aulas de kung fu?

A milionária parece estar alheia ao assunto.

— Hã? – ela pergunta, balançando a cabeça como se despertasse de um devaneio. – O que foi?

— O Seiya – Eiri repete. – Como estão as aulas de kung fu?

— Ah, ele não está curtindo muito, mas está indo à força.

— Com a mudança no escritório – Seika diz –, Shiryu deu uma pausa nas aulas, então sou eu quem está levando aquele molenga. Ele reclama, mas vai.

— O mestre Shura vai dar um jeito nele – diz Shunrei.

— Se ele conseguir, será um milagre!! – Saori fala. – Eu ainda não perdi a esperança, mas sei que o caso do Seiya é bem complicado.

— Ô se é... – concorda Seika, suspirando. – Ele passa o caminho todo reclamando, tanto na ida quanto na volta. Só milagre mesmo.

— E o milagre de você sair com o Shura quando vai ser? – Eiri provoca Seika. – Eu notei uns olhares no casamento da Shunrei.

— Eu também percebi – diz Saori.

— Ele é solteiríssimo – Shunrei diz, fazendo Seika enrubescer. Achava que tinha sido discreta no casamento, mas agora vê que falhara terrivelmente.

— Ai, parem com isso!!! – Seika brada. – Não tem nada a ver!

— Sei... – as outras quatro respondem em coro.

— Tá, eu acho ele interessante – ela admite –, mas isso não quer dizer que vai rolar alguma coisa.

— Pois devia – Eiri incentiva. – Porque ele também ficou olhando pra você.

— Ficou nada – retruca a irmã de Seiya. – Ai, gente para! Impressão errada de vocês.

— Fala com ele na próxima aula!! – Shunrei instiga novamente.

— Não!

As outras garotas gritam em coro:

— Fala! Fala! Fala!!

— Eu vou pensar... – ela diz, e logo busca outro assunto. – Minu, e sobre aquela ideia louca do Ikki?

— É como você disse: só uma ideia louca – ela responde com um longo suspiro. No entanto, essa “ideia louca” vem lhe tirando o sono.

— Bom, sim – Saori concorda –, mas se vocês quiserem mesmo, podem fazer a casa no terreno.

— Agradeço muito, Saori, mas duvido que isso dará certo. O Ikki não tem a menor noção do que seria assumir as crianças. Eu sei que ele disse aquilo de coração, mas ele não faz ideia do que significa realmente.

— Eu tenho que concordar com isso, mas se vocês resolverem mesmo tentar... já sabem.

— Acho que vamos ter de pensar muito, mas muito mesmo, Saori. Mas me diga, você está meio distraída hoje. O que há?

— Não é nada... só estava pensando que está cada dia mais difícil ver o Seiya. A faculdade tem me tomado todo o tempo. E quando estou livre, como agora, ele está estudando. E isso porque eu mandei ele estudar. Tenho que ficar em cima, ele está quase perdendo matérias... Por maior que seja a vontade de ficar com ele, preciso dar uma dura e fazê-lo se dedicar aos estudos. Mas aí eu fico ouvindo vocês falarem de seus maridos... Seria bom chegar em casa e encontrá-lo, sabe?

— Então casa logo com ele! – Minu diz. – Dinheiro não é problema pra você. Casa e leva ele para a mansão.

— Será que ele aceitaria? – Saori pergunta mais a si mesma que às amigas.

— Mas o certo não seria ele te pedir em casamento? – indaga Seika.

— Eu não me importo com essas convenções – diz Saori. – Se me importasse, não namoraria seu irmão, né?

— Bom, isso é verdade – Seika diz. – Sou obrigada a admitir.

— Eu vou pensar nisso... Vou pensar bem. Hoje à noite vou lá para o sobrado ficar um pouco com ele. Talvez eu toque no assunto.

— Parece que nós duas temos muito que pensar... – Minu diz.

— Nós três – completa Seika.

— Você, não! – Eiri corrige. – Você só tem que chamar o cara pra sair!!

Mais tarde, Shiryu e Shunrei tomam um táxi e vão para a casa de Hilda e Siegfried.

— Não fazia parte dos meus planos voltar para Asgard – Hilda começa a falar, depois de recebê-los e acomodá-los no sofá. Siegfried e Emmeline também estão na sala. – Sempre achei que a minha irmã seria a rainha, mas ela... – Hilda não termina a frase e suspira ao pensar no acidente que matara a irmã. – Não há mais ninguém. Vou ter que abrir mão da vida que construímos aqui. É um momento muito triste, mas preciso cumprir o meu dever.

— Eu entendo... – diz Shiryu, pensando no quanto custaria para ela largar a vida que ela escolhera para voltar àquela que não desejava.

— Eu não vou te ver nunca mais, Shunrei? – Emmeline pergunta, sentada no colo da moça. Apesar de já não ser mais a babá da menina, Shunrei ainda a visita e telefona com alguma frequência.

— Nunca mais é muito tempo, Emme. Quem sabe eu possa ir lá visitar você? Ou você pode vir aqui me ver.

— É, né? E também tem o telefone.

— Sim! E a internet. Me mande uns e-mails!

— Eu vou mandar!!

Enquanto Emmeline e Shunrei conversam, Hilda dirige-se a Shiryu.

— Saiba que apoiei completamente a decisão de Siegfried. Você é a melhor pessoa para continuar o trabalho que ele construiu naquele escritório de advocacia.

— Fico feliz por isso – ele responde, ligeiramente envergonhado. – Eu prometo que farei o melhor que eu puder.

— Eu sei que fará – Siegfried completa. – Eu não entregaria o escritório a você se não tivesse certeza disso. Vou manter contato pois quero ver prosperar o meu legado.

— Espero que eu consiga corresponder à expectativa.

— Tenho certeza que sim! – diz Siegfried.

Mesmo conversando com Emme, Shunrei presta atenção no que os três falam e responde mentalmente: “Sim, vocês podem ter essa certeza”.

 -S -A –

Ikki está na casa de Radamanthys e Pandora como costuma fazer alguns sábados. Tem passado bastante tempo lá, aproveitando um pouco mais da companhia da filha nos finais de semana em que não a leva para casa. Depois de uma tarde de brincadeiras na piscina com os dois pais, a menina finalmente se cansara e dormira.

Agora e Ikki e Radamanthys aproveitam o sossego para assistir lutas na tevê, beber cerveja e jogar conversa fora. Pandora está perto e lê uma revista de moda distraidamente, aproveitando para observá-los.

— Sabe, azulão, eu estava pensando numa coisa... – Radamanthys diz. O que antes era insulto agora se transformara numa brincadeira entre eles, embora já fizesse alguns anos que Ikki voltara a sua cor de cabelo natural.

— Fala, taturana – Ikki responde, no mesmo tom brincalhão.

— A Pandora está esperando um menino, como você já sabe. Estava pensando se você não gostaria ser o padrinho do meu filho.

— Só aceito se você colocar o nome dele de Ikki.

— Ah, para, azulão! Esse nome horroroso não combina com meu sobrenome!

— Tô brincando. Claro que aceito. Será um prazer ser padrinho do irmão da Pepê.

— Então tá fechado. O batizado vai ser lá na Alemanha, claro. E não se preocupe com a passagem, vamos no jatinho do meu pai.

— Mas você gosta de aparecer, né, taturana?

— Eu apenas sou rico.

 Mantendo os olhos na revista, Pandora sorri e acaricia a barriga de cinco meses. Nem nos seus melhores sonhos tinha imaginado algo assim. Ikki e Radamanthys tinham combinado de manter uma relação cordial por causa de Penélope, mas isso definitivamente ultrapassa a cordialidade. Eles estão realmente amigos e Pandora não acreditaria se não estivesse vendo a cena.

—S -A –

Enquanto isso no sobrado, o som de tiros ecoa no vídeo game de Seiya. Saori está sentada ao seu lado, fazendo anotações na agenda sobre as tarefas que terá durante a semana. Tinham conseguido um tempo para ficarem sozinhos, já que Shun saíra com June e Ikki estava na casa de Pandora.

— Está gostando do kung fu? – Saori pergunta, tentando estabelecer alguma conversa com o namorado.

— Ai, fala sério! A aula é muito chata. Melhor ficar em casa jogando vídeo game.

— Eu suspeitei que você ia dizer isso... – Saori diz. – Mas você vai continuar, sim! Vai ser bom para seus estudos.

— Tá, tá... Agora deixa eu jogar um pouco aqui. Quase não tenho tempo!!

— Sabe, Seiya, eu estava pensando...

— Quê? – ele pergunta. – Vai, vai, vai! Sai daí! Sai, caramba!

— Eu?

— Não, amor! O cara do jogo! O que você tava pensando?

— Bom, é que quase a gente não tem tempo de se ver...

— Isso é verdade, isso é verdade. Para, porra!! Para.

Saori revira os olhos, sem querer acreditar no que ele está fazendo.

— E quando a gente se vê, você fica aí jogando essa droga – ela diz, encarando-o com um olhar faiscante.

— É que quase não tenho mais tempo pra jogar... – ele tenta se justificar.

Saori se levanta e põe as mãos na cintura.  

— Desliga agora senão vou embora!! – ela grita.

— Mas Saorinha...

— A-go-ra!

— Tá... – ele concorda e encerra o jogo. Ela volta a sentar no sofá e continua:

— Bom, eu ia dizendo que nós estamos bem atarefados com a faculdade, quase não nos vemos e eu pensei numa solução pra isso...

— Largar a faculdade?

— Não, né? Pelo menos não eu.

— Então eu posso largar?

— Sei lá, Seiya! Tem horas que você me tira do sério. O que eu quero dizer é que você devia ir morar comigo.

devia ir morar lá em casa.

Seiya arregala os olhos.

— Morar lá na mansão?

— É. Assim poderíamos nos ver pelo menos todas as noites, jantar juntos, você sabe.

— E eu ia poder jogar vídeo game naquela sua televisão enorme – ele diz esperançoso, enfatizando o tamanho do aparelho.

— Ai, Seiya, deixa pra lá – impacienta-se Saori. – Acho que não quero mais. Você é um completo idiota.

— Mas você me ama. E eu te amo também. Eu vou.

— Vou pensar se ainda quero – ela diz, emburrada. Seiya faz biquinho.

— Você quer, sim – ele diz, e a beija.

— Não sei, não... – ela diz, depois do beijo. – Mas talvez me convença se beijar de novo...

— Já é! – ele diz, e torna a beijá-la.

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Eu seeeeeei, demorou uma vida pra eu atualizar a fic... Dois anos... Eu mesma levei um susto ao ver que já fazia tanto tempo... Foi uma luta trazer esse capítulo à tona. Primeiro eu não sabia bem por onde ir, depois me achei, mas a coisa não fluiu bem, empacou mesmo. Depois consegui desempacar quase tudo, menos uma maldita cena que teimava em não sair como eu queria, mas ela finalmente saiu. Aleluia!!

Obrigada a todos que, pacientemente ou não, esperaram!

Um cheiro!

Chii



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