Sobrado Azul escrita por Chiisana Hana


Capítulo 23
Capitulo XXIII




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são meus e eu não ganho nenhum centavo com eles.

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

Capítulo XXIII

Uma semana depois da formatura de Ikki, Hyoga recebe um telefonema da Rússia. O advogado de Yujiro ligava para informar-lhe o suicídio de seu cliente.

Hyoga não demonstra qualquer emoção ao receber a notícia e nem quando liga para Eiri contando o que houve. Ela aceita ir com ele ao funeral e, no dia seguinte, os dois embarcam para Vladivostok.

Impassível, Hyoga acompanha o enterro do pai. Há muita gente no cemitério, mas a grande maioria é de funcionários da empresa. Ao lado dele, Eiri observa as pessoas e nota que o único que parece realmente comovido é o velho mordomo.

Depois do enterro, os dois acompanham o advogado de Yujiro ao escritório, onde é feita a leitura do testamento, que fora escrito de próprio punho. O pai de Hyoga deixara a casa em que viveu e uma boa quantia em dinheiro para seu fiel empregado, legando ao filho os outros imóveis, a empresa, as ações e algumas joias de família. Junto ao documento há uma carta que o advogado entrega a Hyoga ainda fechada. Ele rompe o lacre de cera e retira o papel que está dentro do envelope. Ali, Yujiro reconhecia seus erros e pedia perdão por tudo, desde o abandono de Natássia até a tentativa de assassinar Eiri. Finalizava dizendo que não havia mais o que fazer neste mundo, por isso tinha decidido partir.

Ainda sem demonstrar qualquer emoção, Hyoga informa ao advogado que não tem interesse em manter nenhum negócio na Rússia, muito menos os imóveis, por isso gostaria de pôr tudo à venda.

Assim que acerta os detalhes com o advogado, ele vai com Eiri para o hotel onde passarão a noite, já que o próximo voo para Tóquio só sairá no dia seguinte.

– Como se sente? – Eiri pergunta assim que entram no quarto. Apesar de ele esforçar-se para parecer indiferente, está clara a tristeza em seu olhar, por isso ela o instiga a falar. Conhece o noivo bem o bastante para saber que ele está reprimindo brutalmente os próprios sentimentos e que isso certamente não lhe fará bem.

– Não sei... – mesmo hesitante, ele começa a falar. – Sinto algo estranho. Não sei explicar... Apesar dos problemas que tivemos... eu não queria que ele morresse... eu... não...

Hyoga desaba num choro incontido e é abraçado por Eiri. Ela sabia que ele não podia estar lidando com a perda tão friamente quanto pretendia aparentar. Então ela deixa que ele fique um pouco em seus braços, sem dizer nada, apenas acarinhando-o e deixando que ele volte a falar quando sentir que deve.

Depois de algum tempo, ele enxuga as lágrimas e fala.

– Eu queria que tivesse sido diferente...

– Eu sei, querido. Eu sei.

– Ainda bem que eu tenho você, meu amor, meu ponto de equilíbrio. Não sei o que faria sem você. Sabe, acho que devíamos nos casar logo. Ainda faltam dois períodos para eu me formar, mas o que acha? Não quero mais ficar longe de você. Quero chegar em casa no final do dia e encontrar seu carinho, seu sorriso amoroso.

Eiri sorri ternamente.

– Eu estou pronta para isso, Hyoga – ela diz. – Totalmente pronta.

–S-A-

Enquanto isso, no sobrado, Seiya recebe um telefonema que lhe traz notícias inesperadas.

– Está sentado, meu bem? – Saori pergunta do outro lado da linha.

– Na verdade, estou deitado – ele responde bocejando.

– Então lá vai: acho que encontrei a sua irmã.

Seiya quase dá um pulo da cama. Já tinha perdido as esperanças de reencontrar a irmã desaparecida desde a infância. Ninguém tinha notícias dela desde então e agora Saori finalmente descobrira algo?

– A Fundação localizou uma moça na Grécia que acreditamos ser sua irmã – Saori continua. – Ela não se lembra de muita coisa, nem tem documentos, mas sabe que se chama Seika.

– Tem certeza de que é ela? – ele pergunta, um tanto desconfiado.

– Ainda não, mas tudo indica, querido.

– Mas na Grécia? – ele indaga, sentindo-se um tanto confuso. Além de não entender como Seika teria ido parar num país que ficava a uma distância absurda do Japão, a Grécia ainda lhe traz más lembranças. – Como ela foi parar tão longe? É meio louco isso, não?

– Ainda não sei direito. Meu pessoal está verificando tudo. Se for ela mesma, prepare-se. Vou dar um jeito de trazê-la pra cá.

– Nossa, vai ser incrível reencontrá-la, Saori.

– Eu posso imaginar, meu bem.

– Obrigado. Obrigado de verdade. Eu sei que não mereço, mas obrigado.

– Eu faço qualquer coisa para deixá-lo feliz – ela diz. E Seiya sabe que é verdade.

–S-A-

Dois meses depois.

Na véspera de seu casamento com Eiri, Hyoga está reunido com os amigos na sala do sobrado. Já tinha levado quase todas as suas coisas para o apartamento que comprara. Apesar de se sentir feliz e ansioso, há um pouco de inquietação em seu coração, pois sabe que vai sentir falta do convívio diário com os amigos. Apesar de ser por um motivo muito bom, é difícil sair do local onde ele tinha vivido e sido feliz nos últimos anos.

– Eu vou sentir muita saudade de vocês – ele diz aos amigos.

– Mais cedo ou mais tarde a gente ia se separar... – Shiryu constata, e Shun completa:

– Você foi apenas o primeiro a sair.

– Mas não pense que vai se livrar da gente – Seiya disse. – Vamos visitá-lo e vamos fazer bagunça na sua casa nova!

– Sei... – Hyoga responde ironicamente, depois completa: – Talvez nos primeiros meses seja assim, mas depois a gente vai acabar se afastando.

– Mas o que é isso? – Ikki pergunta, batendo com a palma da mão na cabeça de Hyoga. – Depressão pré-casamento? Deixa de drama, cara. Além do mais, seu apartamento fica a três quadras daqui, dá até pra vir a pé!

– É, tem razão... – concorda Hyoga. – E quem será o próximo a deixar a casa, hein?

Os rapazes entreolham-se e, mentalmente, fazem suas apostas. Na verdade, não importa quem será o próximo, porque a partir de agora a vida mudará para todos.

Eiri também já tinha levado seus pertences para o apartamento e dias atrás tinha pedido demissão, embora continuasse lá até o dia do casamento. Com o curso de cabeleireira terminado, Hyoga ajudou-a a abrir um pequeno salão de beleza perto do apartamento deles e, consequentemente, do sobrado.

Em sua última noite no orfanato, ela e Minu resolveram deixar as crianças brincarem até mais tarde. Os pequenos brincaram e depois fizeram desenhos para Eiri levar como lembrança. Depois de colocarem os pequenos para dormir, as duas ficam sozinhas na salinha do orfanato.

– Eu vou sentir tanto a sua falta, amiga – Minu diz. – Vai ser difícil ficar sem você aqui.

– Eu também... Já faz tanto tempo que trabalhamos juntas...

– É, mas não podemos ficar pra sempre. Vou sentir saudades, mas estou muito feliz por você.

– Eu sei. E eu estou torcendo para que você seja a próxima a casar.

– Ah, acho que isso está meio difícil! O Ikki não recebeu uma herança recentemente...

As duas caíram na gargalhada.

– É, a herança do velho veio em ótima hora. Eu sei que é horrível o que vou dizer, mas finalmente ele fez alguma coisa boa pelo filho.

– É, isso foi bem... cruel... mas considerando o que ele fez com você, eu compreendo perfeitamente.

Eiri inspira profundamente. Não sentira nem um pouco de simpatia por Yujiro e desde que ele entrou na vida de Hyoga, de alguma forma, ela sabia que não ia acabar bem.

– Bom, vamos lá dormir que amanhã é meu grande dia – Eiri diz, deixando Yujiro de lado e imaginando como será o casamento. A união está marcada para o final da tarde do dia seguinte, na capelinha anexa ao orfanato, e a festa será no pátio. A empresa contratada já tinha trazido algumas coisas e ela as olha pela janela, pensando em como tudo ficará quando estiver arrumado.

– Tudo vai ser perfeito – Minu diz, como se tivesse adivinhado os pensamentos da amiga. Eiri se volta para ela e sorri.

– Vai sim.

–S-A-

No dia seguinte, Eiri sai para arrumar-se num salão de beleza. Para o grande dia, escolhera um modelo branco muito delicado, cuja parte de cima era um corpete feito de renda rebordada com pérolas e a de baixo uma saia evasê de cetim. O véu de renda será preso por uma tiara dourada. Para completar, ela usará um presente que Hyoga lhe deu: um conjunto de joias de ouro e pérolas.

Enquanto ela se arruma, Minu conta com a ajuda de Shunrei e de Saori para aprontar as crianças. Dias antes, a milionária tinha saído com ela para comprar roupas e sapatos novos para eles.

– Eles estão tão lindos, né? – ela comenta com Saori quando todos estão arrumados e comportadamente sentados na salinha, esperando a hora do casamento. Shunrei já estava a caminho do sobrado para se arrumar e voltar com Shiryu.

– Estão, sim – responde Saori. – Muito lindos. E até parece que vão se comportar!

– Ai, essa parte é um pouco difícil! Só espero que não se sujem até a hora da cerimônia. Muito obrigada pelo que fez, Saori. Eles iriam de qualquer jeito, porque eu já estava pronta pra comprar pelo menos alguns sapatos para os que mais precisavam. Eles crescem rapidamente, perdem calçado logo. Mas graças a você, pude comprar para todos.

– Não precisa agradecer, Minu. E não se preocupe, já estou providenciando alguém para mandar para o lugar de Eiri. Você não vai passar muito tempo sozinha.

– Agradeço muito. Tem sido difícil cuidar deles nos últimos dias, com a Eiri envolvida nos preparativos da festa e na arrumação da casa nova.

– Tatsumi me garantiu que em uma semana, no máximo, a nova funcionária chegará.

– Isso é muito bom! Obrigada, Saori.

– Agora vamos nos arrumar, não é? – Saori diz. – Senão chega a hora e ainda estamos assim, descabeladas e suadas.

– É verdade!

– Bom, até daqui a pouco – Saori se despede e vai para casa, onde seu cabeleireiro e seu maquiador já a esperavam.

–S-A-

No sobrado, os rapazes já se arrumaram, inclusive o noivo, que usa um terno chumbo, feito sob medida. Ele procura parecer calmo, mas está uma pilha de ansiedade por dentro.

Ikki saíra com Shun para buscar Penélope e June, enquanto Seiya, Hyoga e Shiryu esperavam Shunrei terminar de se arrumar para irem juntos à capelinha. Não demora para ela aparecer, usando um vestido roxo e sandálias de salto. Pelo farfalhar do tecido, Shiryu deduziu que o traje era longo e quando ela chegou perto, ele identificou também o perfume que Shunrei reservava para as ocasiões especiais.

"Com certeza ela está linda", ele pensa.

– Vamos, rapazes? – ela pergunta, segurando o braço de Shiryu levemente. – Só não vou dirigindo por causa do vestido e dos saltos.

– Melhor mesmo. O Hyoga quer chegar ao casamento na hora – Seiya brinca.

Shunrei tinha tirado a habilitação havia poucos dias e os meninos ainda brincavam com a insegurança dela ao dirigir.

– Mas olha que ousadia! – Shunrei retruca. – Eu sou ótima motorista! Eu só sou muito cautelosa.

– Isso quer dizer que você dirige a vinte quilômetros por hora – ri Seiya.

– Tenho que admitir que você dirige devagar, amor – Shiryu diz.

– Até o senhor contra mim? – ela retruca.

– Estou brincando – Shiryu admite. – Melhor ser cautelosa que imprudente.

– Isso! – Hyoga concorda. – Agora vamos, né? E quem vai dirigindo sou eu.

–S-A-

Minu acomoda as crianças na capelinha. Algumas já estão com as roupas meio amassadas, mas pelo menos conseguiram manter os trajes limpos. Boa parte dos convidados já está lá, e Saori também acaba de chegar. Ela se acomoda em um dos lugares reservados para os padrinhos de Hyoga, onde também já está o chefe dele, Camus, acompanhado da esposa. Logo depois Seiya chega e senta ao lado dela. Shunrei e Shiryu acomodam-se do outro lado, onde ficarão os padrinhos de Eiri. Os outros dois lugares estão reservados para Ikki e Minu.

Hyoga permanece no carro, aguardando para entrar mais tarde.

Não demora muito para Ikki e Shun chegarem. O irmão mais velho cumprimenta Minu com um beijo. Os dois tomam seus lugares, enquanto Shun e June assumem a tarefa de cuidar de Penélope e das crianças do orfanato.

O pessoal do cerimonial tinha sugerido que Hyoga entrasse na capelinha com alguma amiga, mas ele decidira entrar sozinho, pois ninguém jamais ocuparia o lugar de sua mãe. Ao dar os primeiros passos em direção ao altar, ele sente a presença de Natássia com uma força arrebatadora. Ele sabe que ela está ali, que vê tudo e aprova seu casamento. Mesmo quando chega ao altar para esperar a noiva, ele ainda sente a mãe a seu lado. E quando Eiri entra na igrejinha, ele quase perde o fôlego. Ela está deslumbrante naquele vestido, carregando seu buquê de rosas brancas, usando a tiara, as joias e o mais importante de tudo: um sorriso arrebatador.

O padre faz uma cerimônia rápida mas muito bonita, em parte para não cansar demais as crianças, as quais ele já conhecia das missas no orfanato. Mesmo assim, umas já estavam impacientes, perguntando pela comida, enquanto outras bocejavam ou cochilavam escoradas umas nas outras.

– Hyoga, aceita receber Eiri como sua legítima esposa? – pergunta o padre.

– Sim – ele responde, olhando amorosamente para a noiva.

– Eiri, aceita receber Hyoga como seu legítimo esposo?

– Sim – ela responde, e o padre os declara casados.

Com o fim da cerimônia, Minu sai de seu lugar e vai para perto das crianças.

– June, Shun, muito obrigada por ficarem com eles.

– De nada, Minu – Shun diz. – Eles até que ficaram quietos.

– É – concorda June. – Tirando o fato de alguns perguntarem toda hora se já ia sair a comida...

– Falando nisso, agora é a hora da comida? – Makoto pergunta. Minu ri.

– É, é hora da comida – ela diz. – Vamos lá.

Todos se reúnem no pátio do orfanato para a festa. O lugar está arrumado, bem iluminado e decorado com muitas flores e fitas brancas. Assim que acomoda as crianças nas mesas, Minu vai cumprimentar os noivos, que já estão cercados pelos outros amigos mais próximos.

– Minha amiga! – Minu disse, abraçando Eiri. – Estou tão feliz por você!

– Ah, Minu, eu sei! Eu também estou tão feliz!

– Foi tão lindo! – Minu diz.

– Foi! E os pequenos? Estão tão lindos arrumados! Os meninos de roupa social e as meninas de vestidinhos cheios de frufru! Que bom que a Saori proporcionou isso a eles.

– Pois é. Ela até veio me ajudar a arrumá-los!

– Isso é ótimo! – Eiri diz.

– Mas eu queria mesmo era que ela pudesse fazer o milagre de arrumar um lar de verdade para essas crianças – murmura Minu.

Continua...


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