Sobrado Azul escrita por Chiisana Hana


Capítulo 16
Capítulo XVI




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

Beta-reader: Nina Neviani

Capítulo XVI

Rozan, China.

Lentamente Shunrei abre os olhos. As pálpebras estão pesadas e, ao tentar mover-se, ela sente todo o corpo dolorido. Olhando ao redor, vê outras camas e deduz estar na enfermaria de algum hospital. Só então se recorda do acidente com o táxi e de como Shiryu a tinha abraçado naquela hora.

– Shiryu – ela murmura, e pergunta-se onde estará ele. Com esforço, olha ao redor outra vez na esperança de vê-lo, mas logo se dá conta de que aquela é a enfermaria feminina. Uma enfermeira passa por perto e Shunrei a chama.

– Precisa de algo? – a mulher pergunta.

– O rapaz que estava comigo no acidente... – diz Shunrei. – Onde ele está? Ele está bem? Eu posso vê-lo?

– Hum... Aquele rapaz de cabelo comprido?

– Sim, ele mesmo – Shunrei responde, ansiosa.

– É seu parente?

– Meu noivo. Onde ele está?

– A situação dele é um pouco delicada, então ele está num quarto.

– Pelo menos não aconteceu o pior – ela diz, aliviada por ele estar vivo, e completa: – Eu quero vê-lo.

– Você ainda está em observação e ele não pode receber visitas, mas... – a mulher hesita. Shunrei nota pela expressão dela que se trata de algo importante e instiga-a a prosseguir.

– Mas? Pode dizer, seja lá o que for – ela diz, aflita, mas pensa que se ele está vivo não pode haver nada suficientemente ruim.

– Bom, o rapaz... – ela hesita. – É melhor você conversar com o médico.

– Não, por favor! Eu quero saber. O que houve com ele? Por favor, me diga.

– É que ele teve uma lesão muito séria nos olhos...

– Ele ficou cego?

A mulher responde afirmativamente. Shunrei sente um leve tremor e, pasmada, tenta assimilar o que acaba de ouvir.

– Cego... – murmura. – Mas ele não vai morrer, vai?

– Creio que não, apesar de ele ter sofrido outras lesões também. Vou pedir para o médico vir conversar com você, ele vai saber explicar melhor. Agora descanse. Se mais tarde você estiver bem, quem sabe não consiga ir visitá-lo?

– Está bem – conforma-se a moça, e recosta-se outra vez na cama.

"Cego", ela repete mentalmente, considerando o que significaria para ele perder a visão e o que pensaria se estivesse no lugar dele.

Mais tarde, o médico que os atendera finalmente aparece e explica a Shunrei que ela não tinha sofrido mais que pequenas escoriações, ao contrário de Shiryu, que tivera algumas fraturas e ainda a lesão nos olhos, frisando que esta era irreversível.

– Então não tem mesmo o que fazer? – Shunrei insiste, depois de ouvir o diagnóstico.

– Sim – o médico responde. – Infelizmente, no caso dele, o descolamento de retina não pode ser revertido. Ele ficou cego para sempre. É uma pena, o rapaz ainda é muito jovem.

– Eu quero vê-lo – Shunrei diz, determinada. Não sofrera mais que alguns cortes e hematomas, enquanto Shiryu tinha fraturado um braço e sofrido o descolamento das retinas.

"Pelo menos estou bem e posso cuidar dele", pensa, tentando achar algum conforto.

– Acho que não tem problema, você pode ir até lá. Vou pedir que a acompanhem.

Minutos depois, Shunrei caminha lentamente até a ala onde Shiryu está, com a ajuda de uma enfermeira. O taxista falecera no hospital, ela soube através da mulher, enquanto se dirigiam para o quarto. E a pessoa que havia causado acidente tinha sido presa pouco depois, ainda com sinais de embriaguez. Em frente ao quarto de Shiryu, Shunrei chora. Depois, respira fundo, procurando controlar-se, enxuga as lágrimas e entra. Delicadamente, ela toca a mão direita dele e, para sua surpresa, ele a segura com firmeza e murmura o nome dela.

– Shunrei... Você está bem? – ele pergunta.

– Estou – ela responde, a voz ainda embargada pelo choro.

– Graças a Deus – ele suspira aliviado. – O que houve, afinal? Só lembro o carro descendo a ribanceira... Por que estou com os olhos enfaixados?

Shunrei engole em seco e não consegue responder.

-S -A - -S -A - -S -A - -S -A –

Munique, Alemanha.

Pandora finalmente toma coragem de aparecer em casa e é recebida pelos pais com alegria. Ela e Radamanthys sentam-se na imensa sala da mansão e falam da vida no Japão e de outros assuntos amenos. Os móveis antigos e o excesso de cortinas e tapetes de tons escuros no cômodo sempre fizeram Pandora sentir-se sufocada, sensação que ela experimenta ainda com mais força quando Radamanthys finalmente toma coragem e anuncia que se casarão em breve.

– Mas assim tão rápido? – a mãe de Pandora pergunta pasmada, sentada no sofá. – Eu nem sabia que vocês dois namoravam.

– Ela está grávida, não está? – o pai da moça pergunta, deduzindo o motivo da pressa, que tinha sido deliberadamente omitido pelos dois.

– Bom... – Pandora começa.

– Está – Radamanthys conclui, deixando de lado o fato de não ser o pai da criança. – Aconteceu, mas está tudo bem, senhor Heinstein, vamos nos casar de qualquer forma.

– Está tudo bem? – o homem pergunta, áspero. – Tudo bem coisa nenhuma! Foi para isso que eu gastei meu dinheiro, Pandora? Para você engravidar? E a faculdade? E o seu futuro?

– Continuo na faculdade, pai. Está realmente tudo bem. Talvez atrase um pouco o curso, mas isso não quer dizer que vou abandoná-lo.

– Pandora, querida, seja razoável – intervém a mãe. – Filho não é brinquedo.

– Eu sei disso – Pandora retruca, surpresa com a reação da mãe.

– Se sabe então por que vai insistir nessa bobagem, querida?

Pandora se irrita.

– Bobagem, mãe? É o meu filho!

– É um empecilho para o seu futuro, isso sim! – o pai brada, e a mãe concorda. – Você vai resolver esse problema ainda hoje. Vou ligar agora para o nosso médico de confiança. E quer saber? Não vai se casar coisa nenhuma. Pronto.

Pandora e Radamanthys entreolham-se perplexos. Esperavam que o pai não reagisse bem à gravidez, mas acreditavam que ele acabaria aceitando o casamento como modo de reparação. E Pandora esperava apoio incondicional da mãe, o que não aconteceu.

– Pai, eu quero ter meu filho – ela ainda tenta argumentar. O pai rebate prontamente.

– Você não decide nada enquanto viver do meu dinheiro.

– Ótimo, porque a partir de agora ela viverá do meu – Ramanthys intervém.

– Cala a boca, seu playboyzinho de merda – o homem rebate, levantando-se do sofá e avançando em direção a Radamanthys, que também se levanta. – Ela é minha filha, eu mando nela e querendo ou não ela vai tirar essa porcaria dessa criança que vocês fizeram.

– Ah, mas não vai mesmo!

– Acalmem-se – a mãe pede, prevendo um embate físico entre os dois. Nenhum deles é do tipo que cede, mas fisicamente Radamanthys leva grande vantagem, pela idade, porte físico e, principalmente, vontade inabalável de proteger Pandora. Ela, mais que decepcionada, está chocada com a reação da mãe.

– Querida – continua a mulher, aproximando-se da filha –, seu pai está certo. Não é hora de se casar e ter filho, você é muito nova para isso. O doutor Kastner é um bom médico, você não vai sofrer. Vai dar tudo certo, querida.

Sem dizer nada, Pandora afasta-se da mãe e se refugia nos braços de Radamanthtys.

– Me leva embora daqui – ela pede, mas o pai segura-lhe o braço com força.

– Você fica, Pandora! – ele diz.

– Não fica, não – Radamanthys retruca. – Ela vai comigo.

– Isso é o que nós vamos ver!

– Solta ela pra eu te mostrar se ela vai ou não.

A mãe de Pandora a tira dos braços do pai e a abraça, mas ela rejeita o abraço e observa os dois homens trocando olhares furiosos. Radamanthys avança para o pai dela e desfere um soco, fazendo o homem ir ao chão.

– Seu animal! – grita a mãe e corre até o marido. Radamanthys ignora a ofensa, pega Pandora no colo e deixa a casa.

-S -A - -S -A - -S -A - -S -A –

Tóquio, Japão.

Minu serve um lanche para as crianças.

– Tia Minu! Tia Minu! – uma das crianças grita. – Tá derramando o suco!

– Ah, meu Deus! – lamenta-se a moça, rapidamente tirando um paninho do bolso do avental para limpar a bagunça. – Eu estou tão distraída.

– Está mesmo, tia! – concorda outra criança. – Desde que o tio Ikki saiu daqui ontem que a senhora não faz nada direito...

– Vocês estão namorando, tia?

– Namorando? Ehr... eu... eu... ah, não fiquem fazendo essas perguntas! Sentem logo para lanchar e deixem de conversa mole! Vocês se aproveitam porque a Eiri não está aqui, não é?

"Eiri..." ela pensa. "Queria contar o que houve ontem... Aquele beijo, meu Deus, aquele beijo foi a coisa mais intensa que eu já senti na vida."

O telefone toca e Akira corre para atender, depois o passa para Minu e anuncia com um sorrisinho deliciosamente travesso:

– É o tio Ikki!

Minu cora à menção do nome dele, lembrando-se do beijo que trocaram no dia anterior.

– Oi, Ikki – ela atende, lutando para controlar a voz.

– Oi. Está a fim de sair hoje?

– Ah, Ikki, eu adoraria, mas não posso. Sem a Eiri aqui não tem ninguém para ficar com as crianças à noite e eu não posso deixá-las sozinhas.

– Queria passar um tempo só com você, mas já que é assim, eu vou aí. Até posso te ajudar a cuidar deles de novo.

– Por mim está bem assim, Ikki.

Mais tarde, pouco antes do jantar, a campainha toca. Várias crianças correm para atender e quando abrem a porta, Minu só ouve um 'ooooooooooooooh'.

– Tia, vem ver! – Makoto chama. Minu vai até a porta e, ao ver Ikki, tenta dissimular seu espanto, sem sucesso.

– Ikki – murmura incrédula. – Você está, está... diferente – diz, depois de sofrer para não dizer que ele estava lindo-maravilhoso-deslumbrante-uau-que-coisa-mais-perfeita.

– Gostou mesmo da mudança? – ele pergunta, mexendo nos cabelos que agora tinham um tom castanho-escuro, sua cor natural, que ele não usava há muitos anos.

– Sim... ficou muito bom!

– Eu não gostei! – brada Akira. Makoto concorda.

– O cabelo azul era mais legal! – ele diz.

– Eu gostava do azul, mas agora quero um visual mais sério. Azul não é cor de cabelo de pai.

– Você vai ser pai? – uma das crianças pergunta.

– É, eu vou.

– Humpf... e onde está a barriga? – indaga uma das meninas.

– Não seja boba, quem fica com a barriga é a mulher! – Makoto retruca.

– Eu sei! Quero saber é onde está a barriga da tia Minu – a menina diz. – Eles não estão namorando?

Minu ruboriza diante do comentário.

– Não é nada disso, crianças... – ela nega inutilmente, mas as crianças já estão a mil.

– Quando é que a cegonha vai trazer o bebê, tia? – um pergunta.

– Não vem da cegonha, sua anta – outro responde. – É uma semente.

– A tia engoliu a semente?

– Como o bebê vai sair?

– Ora, ele sai por...

– Não tem bebê! – Minu brada, interrompendo as divagações das crianças. – Eu não vou ter um bebê! E chega dessa conversa que isso não é assunto pra vocês! Vão tomar banho logo porque está quase na hora de ir para a cama.

– Desculpa, Minu – Ikki diz depois que os pequenos se dispersam. – Não devia ter comentado isso na frente deles.

– Tudo bem, mas você é quem vai ter que acalmar os ânimos e colocá-los para dormir...

– Pode deixar comigo. Trouxe um filme para eles. E um para nós dois vermos quando os pestinhas finalmente dormirem.

Minu riu, feliz por Ikki pensar também nas crianças. Os pequenos eram a família que ela conhecia e amava, e seria complicado namorar um homem que não gostasse deles, como ela imaginava que Ikki era. Felizmente ele estava mudado.

Começaram vendo o filme infantil, mas já pela metade, as crianças começaram a capotar de sono e, aos poucos, a sala foi ficando vazia. Só Makoto e Akira continuam assistindo, apesar de darem claros sinais de que a luta contra o sono estava perdida. Pouco depois, os dois estão deitados no tapete, dormindo profundamente. Ikki os coloca na cama e volta para o sofá, onde ele e Minu aproveitam o tempo para namorar. Depois de muitos beijos, Minu resolve fazer a pergunta que a inquieta desde a noite anterior:

– Ikki, o que está acontecendo entre nós? Estamos mesmo namorando?

– Claro! Você ainda tinha alguma dúvida?

– Mas e a Pandora?

– Você sabe que eu e ela não temos mais nada, Minu. O que aconteceu com Pandora foi uma química muito forte, difícil de resistir. O que está acontecendo agora é diferente. Eu gosto de estar aqui com você, me sinto bem, fico feliz, e quero muito levar isso adiante.

– Você não está brincando comigo, está?

– Não, não estou. Eu quero ficar com você, Minu. Se você também quiser.

– Claro que eu quero.

Eles trocam mais um beijo, e Ikki dispara, do seu jeito irresistivelmente charmoso:

– E quem não ia querer ficar comigo, não é?

– Ora, você é convencido demais!

– Mas isso é jeito de falar com o cara com quem você acaba de começar a namorar?

Os dois caem na gargalhada e logo em seguida trocam mais beijos.

Mais tarde, já andando a caminho de casa, Ikki pensa em Esmeralda e espera que ela aprove a felicidade que começa a sentir ao lado de Minu.

"Onde quer que você esteja, minha querida, desejo que entenda que é chegada a minha hora de seguir adiante e que esteja feliz por mim... você sempre terá um lugar no meu coração e na minha vida, mas agora preciso olhar para o meu futuro, com o meu filho e com a Minu."

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Kanazawa, Japão.

Pela primeira vez na vida, Shun saboreia a liberdade. Desde a infância, fora super protegido pelo irmão e considerado por todos frágil, delicado demais, incapaz de virar-se sozinho, de lidar com seus próprios problemas. Livrar-se da presença opressora dos pais de June e pegar carona com uma desconhecida fora um rito de passagem importante para o rapaz. Ele está feliz e se sente forte ali, sozinho, sentado na grama do parque, comendo alguns bolinhos que comprara numa simpática barraquinha localizada nas redondezas. Depois de comer, ele deita na grama e se espreguiça demoradamente. Põe-se a pensar na namorada com ternura, lembrando-se dos bons momentos que tiveram juntos ao longo dos anos de namoro, apesar de alguns altos e baixos. E, pensando nela, Shun vê quanta falta faz a presença vivaz de June e constata que é a energia dela que o move, que o mantém vivo.

Ele sorri satisfeito ao ver uma chamada de June no celular.

– Parece que adivinhou que eu estava pensando nela – ele diz, antes de atender. – Oi, Ju. Estava pensando em você.

– Onde é que você está? – ela indaga. Shun observa que parece nervosa.

– Estou em Kanazawa.

June surpreende-se.

– Kanazawa? Achei que tinha voltado pra casa... O que está fazendo aí?

– Vim por acaso... peguei uma carona que vinha pra cá e resolvi ficar, conhecer a cidade, afinal, estou de férias... Estou num parque maravilhoso neste momento e a única coisa que me falta é você.

– Por pouco tempo – ela diz.

– Como?

– Eu fugi. Estou indo encontrar você.

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Vladivostok, Rússia.

Eiri e Hyoga descem do táxi em frente à casa do pai dele.

– Então esta é a casa do seu pai? – Eiri pergunta, diante do casarão. – Ele não vai gostar nem um pouco de me ver aqui.

– Combinamos que você também não ia se importar com as reações dele, não foi?

– Sim, mas...

– Vamos lá, Eiri – ele interrompe –, são só alguns dias. Hyoga toca a campainha e o velho e fiel criado de seu pai prontamente abre a porta, fazendo-os entrar.

– Ele está no quarto – o homem diz, antes mesmo de Hyoga dizer qualquer coisa. O ar do velho era mais soturno que de costume, mesma sensação que a casa inteira passava.

– Nós vamos até lá – Hyoga anuncia.

– Acho melhor a moça não ir... – adverte o empregado.

– Ela vai – Hyoga retruca e, conduz Eiri até o quarto. Um enfermeiro de olhos encovados e mãos enormes recebe os dois e os faz entrar.

– O que houve afinal, pai? – Hyoga pergunta, aproximando-se da cama onde o homem está deitado. Tem aspecto macilento, os lábios ressequidos e o cabelo desgrenhado.

– Ah, não estou nada bem – ele diz, num fio de voz, entrecortado por uma tosse seca. – Não vou demorar muito tempo neste mundo...

– Mas o senhor parecia ótimo da última vez que nos vimos.

– Pois é, num dia estamos ótimos, no outro acontece alguma coisa e a saúde se vai para sempre. Eu sofri uma queda, uma queda banal, filho. Um tropeço no tapete que me levou ao hospital apenas para verificar se não tinha alguma fratura. Acontece que durante os exames descobriram que tenho um tumor no pulmão.

– Tão sério assim?

– Pois é. Ainda estou fazendo outros exames para avaliar a gravidade da doença, mas já me sinto tão fraco. Filho... fico feliz por você ter vindo. E vejo que trouxe mesmo sua namorada... – ele diz, ao ver Eiri parada na porta.

– Oi, como vai o senhor? – Eiri cumprimenta-o.

– Olá – o velho diz, esboçando um sorriso, mas seu olhar é perscrutador e faz Eiri sentir-se desconfortável. Já tinha ficado com uma má impressão do enfermeiro, e o olhar do pai de Hyoga só reforça seu mal-estar. Além do mais, o homem não lhe parece tão doente assim, apesar de a voz dele sair como uma coisinha quase inaudível. Ela observa pai e filho conversarem, o velho sempre falando da sua doença, do suposto pouco tempo de vida que tem e, vez ou outra, dirigindo-lhe um olhar que ela não sabia muito bem como classificar, mas que não era nada amistoso.

– Bom, agora acho que o senhor precisa descansar – Hyoga diz, depois de alguns minutos de conversa. – E nós também precisamos. Essa viagem nos pegou de surpresa.

– Lamento muito ter atrapalhado as férias de vocês – ele diz. Eiri acha que não parece nada sincero. – Você já conhece o seu quarto e Konstantin, meu fiel empregado, já deve ter levado as malas de vocês para lá.

– Certo. Mais tarde volto para conversarmos mais um pouco. Agora descanse.

O homem responde com um sorriso pouco espontâneo e tem um acesso de tosse. O enfermeiro entra rapidamente.

– Senhor Yujiro, não deve se cansar – ele diz, amparando o homem e oferecendo-lhe um remédio, enquanto Eiri e Hyoga deixam o recinto.

No quarto que lhes fora reservado, o casal conversa.

– Viu? Não foi tão ruim – Hyoga diz. – Ele vai acabar gostando de você.

– Não – Eiri responde irônica. – Seu pai só me olhou como se eu fosse um cachorro vira-lata.

– Não exagera, Eiri. Ele se surpreendeu por vê-la aqui, apenas isso. Além do mais, ele está doente. Natural que nessas condições ele não esteja tão simpático.

– Sei... Vem cá, você não achou aquele enfermeiro meio esquisito?

– Esquisito como?

– Não sei... ele não me parecia... real...

– Eiri, você está inventando coisas. A mim parecia apenas um enfermeiro.

– Certo, deixa pra lá – ela diz, desistindo de expor sua impressão de que tudo aquilo, do enfermeiro à doença do pai, parecia teatral demais.

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Atenas, Grécia.

Saori se espreguiça e se alonga, tentando recolocar os ossos no lugar. Tinha dormido no enorme sofá do escritório, depois de chorar e pensar nos acontecimentos da noite passada. O desenho do bordado da almofada está marcado no rosto dela e todo seu corpo está dolorido. Pelo interfone, ela manda chamar Tatsumi. Pouco depois o mordomo aparece e recebe ordens de preparar-lhe um banho e servir-lhe o café no quarto.

– Não quer conversar sobre o que houve? – o fiel mordomo e amigo pergunta. Está sinceramente preocupado com a moça, de quem cuida desde criança, apesar de não ser essa sua função original. Obviamente ele sabe muito bem o que se passara entre ela e o namorado pobretão, que ele sempre considerou inadequado para uma moça do nível dela, e sente-se até aliviado por ver o relacionamento chegar ao fim.

– Fez o que eu pedi ontem? – ela pergunta, ignorando o questionamento do mordomo.

– Sim, senhorita. Entreguei ao Seiya as coisas dele e a passagem de volta como a senhora pediu, só acho que a senhorita devia...

– Obrigada, Tatsumi – ela interrompe e, entendendo que ela não quer mais falar, Tatsumi se afasta.

"Ainda não consigo acreditar que ele foi capaz...", ela pensa, enquanto se dirige ao quarto. "Ele sempre foi um moleque irresponsável, mas eu tinha certeza do amor dele. Eu morreria por essa certeza e de repente ele faz o que fez comigo. Não consigo entender como ele pôde. É tudo tão sujo. E aquela vaca! Ela o desejou desde o momento em que pôs os olhos nele. Como eu não percebi? Os dois que se preparem para arranjarem novos empregos. Eu vou colocar ambos no olho da rua e a ficha deles vai ficar mais suja que meu iPhone quando caiu na lama! Ele não merece o meu sofrimento, não merece nem mais uma lágrima minha, aquele desgraçado, traidor, imbecil!"

– Tatsumi! – ela chama. O mordomo prontamente vem atendê-la. – Sabe aquele convite para o aniversário do milionário grego? Confirme minha presença. Eu vou aparecer lá deslumbrante!

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Aeroporto de Atenas.

Seiya está sentado à espera da hora de seu vôo.

"Eu sou mesmo um golpista sem vergonha", pensa. "Meus amigos tinham razão quando brincavam com isso", ele admite com tristeza, sentindo-se sozinho e humilhado. "Até pra voltar pra casa eu preciso do dinheiro da mulher que não me quer mais. E tudo por culpa minha! Tudo por causa de um par de peitos! Eu devia ter ouvido o Shiryu..." Pensar no amigo faz com que ele se sinta um pouco melhor, embora saiba que ouvirá um belíssimo sermão quando reencontrá-lo.

"Como será que a Saori está?" ele se pergunta. "Com certeza nada bem... apesar de tudo ela me amava. Sei que não foi nada fácil para ela assumir um relacionamento com um cara como eu, um órfão, pobre, sem berço, quando todos esperavam que ela namorasse um cara ainda mais rico que ela. Mesmo assim ela não pensou duas vezes. Ela ficou comigo. Eu não valho nada mesmo. Melhor seria se eu ficasse aqui pra sempre... não vou ter coragem de encarar a Saori mais uma vez."

-S -A - -S -A - -S -A - -S -A –

Rozan, China.

– Cego? – Shiryu pergunta, quando Shunrei finalmente consegue lhe explicar o que houve.

– É... – ela assente.

– Para sempre?

– Parece que sim... – ela diz com o coração partido, mas não quer mentir para ele. – Eu sei que vai ser difícil, nós vamos precisar ter muita força e muita coragem, meu amor. Você não está sozinho nessa, o.k.? Bom, e as coisas felizmente evoluem, quem sabe não haja alguém já pesquisando algum tratamento para casos como o seu? Temos de ser otimistas.

Shiryu não responde, ainda tenta assimilar sua nova condição.

"Cego", ele pensa. "Justo agora que tudo ia tão bem. Acabou tudo... Acabou... Não tenho mais o que fazer nessa vida."

Shunrei continua falando.

– Espero que você tenha alta logo. Você vai se recuperar melhor em casa, com nossos amigos por perto.

Ela fala, mas Shiryu não ouve. A cabeça dele está dando voltas e ele pensa em tudo que a perda da visão acarretará em sua vida. Todos os planos que vinha fazendo nos últimos meses, desde que conhecera e se apaixonara por Shunrei, estavam perdidos. A ideia de casar-se, ter filhos com ela, tudo... Ele teria que deixar o emprego, a faculdade, não haveria mais casamento. Era o fim.

– Eu não quero mais viver... – ele diz.

Shunrei olha para ele perplexa. Esperava uma reação ruim, mas não a esse ponto.

– Como assim? – ela indaga.

– Não quero. Não faz mais sentido. Eu só quero ir embora... descansar...

– Você não está falando sério, está?

– Estou. Claro que estou. O que vai ser de nós agora?

– Nós continuamos do mesmo jeito, ora! Que bobagem é essa, Shiryu?

– Shunrei, eu quero que você volte pra casa e me deixe aqui.

Ela mal consegue acreditar no que ouve.

– Então é isso, você vai se entregar?

– Eu não quero que você fique presa a um inválido – ele diz, e faz Shunrei perder a paciência.

– Pois não se trata do que você quer! Se trata do que eu quero, e eu quero ficar aqui e você vai ter que me agüentar. Mais que isso, vai ter que levantar essa cabeça e acabar com essa história de coitadinho! Você não é um coitado, você é um homem forte, que tem uma mulher que o ama e que está aqui do seu lado para o que der e vier. Cadê aquele Shiryu que sem nem me conhecer direito foi me defender?

– Aquele Shiryu – ele diz com ar grave –, morreu.

Continua...




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Notas finais do capítulo

ALELUIA! Sobrado voltou, minha gente! Eu sei, demorou demais... além da minha enrolação normal, fiquei doente, depois minha mãe quebrou o braço e ficou internada, fora outras coisas... Bom, pelo menos terminei esse bendito capítulo!

E não é só isso! Terminei também o cap novo de "Sorrisos, Segredos e Enganos". Vou revisá-lo e ele irá para o ar em poucos dias. JURO! Dois ou três dias no máximo! Nos próximos dias também postarei uma nova história...

Bom, é isso, pessoal! Voltei com vontade de escrever muito! Vamos ver se dura o ano inteiro! kkkk

Um ótimo começo de ano pra vocês! Beijo enorme a todos que esperaram por esse capítulo!

Chii



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