Meu nome é Ran e eu tenho dezesseis anos. Nasci na Cidade das Plumas... Sou uma arqueira level 57.

Desde os meus cinco anos observo uma sacerdotisa, amiga da família. O nome dela? É Hikari. Achava que era só um sentimento bobo... Estava errada. Hoje sei que amo uma mulher 144 anos mais velha que eu. Pois é, sacerdotes vivem muito tempo.

Ela é 62; Sacerdotes são considerados deuses da vida, e levam anos para se aperfeiçoarem.

Para a minha felicidade, há cinco anos fui convidada a entrar no mesmo clã que ela. Nesse meio tempo nos aproximamos muito.

Três anos atrás, ela ficou noiva do meu irmão... Nunca senti tanto ódio; Logo eu, um ser alado!

Tentei esquecer de todas as formas, afinal, meu sentimento era pecaminoso. Dediquei-me de corpo e alma às missões que me eram dadas, passei a viajar muito e logo nos afastamos.

Tive muitas batalhas, cresci e me tornei forte.

Quando voltei o clã estava em guerra. Nosso marechal, Bakura, me convocou para uma TW¹, e eu fui.

Nunca havia visto tanto sangue, minhas flechas nunca haviam sido direcionadas contra pessoas. E um sentimento forte de culpa me tomou.

Foi quando vi Hikari ser atacada. Fui a sua direção, mas meu irmão chegou antes; Recuei.

A guerra foi ganha e enquanto todos comemoravam me isolei. Foi quando vi a figura angelical se aproximar de mim; os cabelos brancos esvoaçavam e seus olhos azuis olhavam diretamente para mim, acompanhados do sorriso mais lindo do mundo.

-“O que houve Ran querida?” – Aquela voz me enfeitiçava.

-“Não me sinto muito bem.” – Respondi desviando o olhar.

-“Às vezes devemos sacrificar princípios para proteger quem amamos, para estar com eles.” – Ela sentou ao meu lado.

-“Você acha mesmo isso, Hikari-sama?” – Tive vontade de chorar.

-“É claro. Você não pensa assim?” – Ela me olhava.

-“Eu... Eu amo... Você.” – Uma lagrima escorreu pelo meu rosto.

-“Desculpe... mas amo o Beliel.” – Ela não precisava ser tão direta.

Vi a pessoa que mais amo se afastar. Fechei minhas asas em torno do meu corpo e chorei como uma criança.

A partir daquele dia, ela não falou mais comigo nem se quer me olhou. Tornou-se fria como a neve.

Foi um ano sofrido. Fui mandada pelo ancião para a Cidade das Feras, onde as bestas amaldiçoadas pelos deuses viviam. Eu devia ficar por lá pelo resto do ano.

Observei o quanto aqueles seres se sacrificavam pelo que amavam, não importando o quão errado fosse.

Ao mesmo tempo em que me sentia inferior e impotente, me sentia impura e amaldiçoada como eles.

Nesse mesmo ano, meu marechal começou a namorar um deles, uma feiticeira, que se tornou general do clã.

Fiquei deveras frustrada, mas que moral tenho eu pra julgá-la?!

E assim passou o ano. Triste e opaco.

No inicio desse ano, aconteceria o casamento da Hikari e do meu irmão Beliel, então voltei a minha cidade.

O dia chegou rápido, e tudo estava impecável.

Havia muitas flores, e um aroma agradável pairava no ar.

Hikari estava mais bonita do que o normal. Seu cabelo estava preso em um coque e seu vestido era brilhoso, gracioso e muito majestoso.

Meu irmão vestia um terno branco. Estava elegante.

Eu estava com um vestido azul-bebê de festa, longuete, e uma sandália de salto branca com detalhes em cristais.

Estava dando um ultimo retoque em meu cabelo quando a vi pelo espelho. Ela se aproximou e me abraçou por trás, sussurrando em meu ouvido. Fiquei paralisada enquanto ela se retirava do local.

“Eu amo você, Ran... Mas é impossível, vão machucar você.”

Lagrimas saíam dos meus olhos, eu ria sem acreditar naquelas palavras.

Concentrei-me e caminhei até o salão onde seria a cerimônia. Todo o clã estava presente.

Tudo corria bem, mas quando foi perguntado se alguém tinha algo contra não consegui agüentar. Levantei e gritei chorando novamente. Todos os olhares se voltaram para mim.

-“Eu tenho! Hikari, EU TE AMO! Não preciso de véu e grinalda, não preciso da benção dos deuses, nem da aceitação dos outros! Só preciso de você!”.

Percebi que ela também chorava. Minha mãe ficou com muita raiva e veio em minha direção.

Meu irmão estava sem reação.

Minha mãe parou na minha frente, levantando a mão.

Surpreendi-me ao ver a feiticeira – namorada do marechal – segurar a mão da outra, que ia desferir um tapa em meu rosto.

-“Nem tente! Estou do lado da sua filha.” – Sorri, sentindo-me culpada pelo julgamento que fiz dela.

Logo todos do clã se levantaram, me defendendo. O local virou um tumulto.

-“Eu também te amo, RAN!” – Ouvi sua doce voz enquanto a mesma corria em minha direção me abraçando, logo selando seus lábios nos meus.

Corremos para fora do local e nos mudamos para a Vila Nanke. Estamos lá até hoje. Deixei de lado todos os preconceitos.

Minha família esta começando a aceitar e quanto aos olhares críticos dos outros, eu nem ligo. Porque descobri que é ao lado dela que quero viver para sempre.