Relatos de Um Não-vivo escrita por Rizon


Capítulo 2
Vampiro




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Na primeira noite demorou um pouco para eu entender o que realmente tinha acontecido comigo. Fui atacado por um lobisomem, fui morto por um lobisomem. Mas estava vivo.

Era assim que eu me sentia, uma aberração, deveria estar morto. Mal eu imaginava o quão aberração virei.

Meu estomago estava seco, sentia como se não ingerisse alimentos a meses. Mais do que isso, eu me sentia diferente. Algum tipo de sensação diferente.

Logo eu percebi um pequeno roedor, me sentia fraco, mas consegui capturá-lo, apenas para assar sua carne, ingerir e depois de algumas horas regurgitar tudo. Não estava satisfeito. Acho que o meu erro foi assar o roedor antes de rasgar sua pele, não conseguir perceber o que queria. No segundo que capturei senti o cheiro do sangue correndo por um pequeno ferimento na cabeça. Quando menos percebi tinha drenado todo sangue do pobre animal.

Eu pude sentir a vida dele se esvaindo e entrando em mim, me dando forças. Lobisomem, so podia ser isso, com aquela mordida eu me transformei em lobisomem! Mas, apenas nos filmes eu tinha visto referencias de pessoas que se transformam com arranhões ou mordidas, em todas outras pesquisas descreviam como uma maldição, que se nascia com ela. Será que eu tinha me transformado nos seres que eu tanto idolatrei naqueles anos?

Descobri a irrefutável verdade no meu ultimo nascer do sol. Depois que estava totalmente saciado de minha sede, descobri que tinha muita disposição, e estava assistindo o nascer do sol no topo de uma arvore. Foi lindo, como todos que eu já assisti. Como eu ainda não estava totalmente entregue a minha nova situação, demorou mais ou menos meia hora, mas minha pele começou a arder. No começo não entendi porque minha pele tanto ardia, o que estava acontecendo. Até que finalmente liguei os pontos.

Algumas memórias me invadiram. Aquele informante em São Paulo, onde tudo começou. Quando disse que “... meu negocio é caçar outra coisa...”. então percebi. Se existem lobisomens, o que impede de existirem vampiros? Era isso. É isso. Sou um vampiro.

Então entrei em desespero, percebi que se continuasse lá morreria. Saltei para o chão e corri para o buraco escavado na terra de onde sai com uma velocidade que nunca tinha imaginado possuir. Lá dentro, naquela escuridão nem pude mergulhar nos meus pensamentos, fui tomado pelo transe vampírico do sono diurno.

A partir daí cada noite eu me descobria mais, e cada vez me sentia mais diferente. Mas continuei vivendo na floresta. Tinha medo de como seria visto na cidade.

Uma noite criei coragem e fui para cidade, para minha surpresa o hotel em que estava hospedado ainda estava com a minha reserva, e todos meus pertences lá. Tomei um banho e me vesti. Aquela sede novamente me atormentando, era melhor eu voltar para a floresta e achar alguma fonte de sangue. Ou será que eu deveria matar humanos? Será que com o sangue humano eu ficaria satisfeito por mais tempo? Ou sangue é sangue? Quando eu me deparei com a idéia de matar um humano, e estava pensando casualmente, percebi que não tinha mais volta, que mudei completamente.

Mas onde estaria o desgraçado que me amaldiçoou desta maneira? Absorto em pensamentos eu caminhava pelas ruas da pequena cidade do interior. Silencio total, escuridão total.

Um cidadão com bafo de bebida alcoólica me para no meio da rua, ele me pede uma esmola, e quando neguei, tentou pegar de mim a força. Foi estranho, mas foi bom, ver aquele homem adulto e com músculos definidos, com uma força comparada a de uma criança. Era o que eu sentia. Então veio aquele cheiro inebriante. O bêbado estava machucado, e sentia o cheiro do sangue, podia até sentir o gosto antecipado do sangue descendo pela garganta. Quando menos percebi tinha atacado o pescoço do bêbado, senti seu braço forte tentando em vão me empurrar, os músculos do corpo todo se retesando até que como se entrasse em um êxtase se deixou levar. Eu senti o liquido quente da  vida correndo novamente pelas minhas veias. Pude sentir a pulsação do coração dele, levemente desacelerando, e a minha pulsação frenética.

Larguei o corpo quando não restava uma única gota de sangue, um único resquício de vida. Eu descobri os prazeres de tomar o sangue humano. Mas descobri algo mais, quando se toma sangue de um bêbado, você também fica bêbado.

Confesso que fiquei feliz com isso no momento, hoje em dia não vejo mais utilidade nisso. Sai cambaleando pela cidade e quando percebi estava no cemitério.comecei a vagar por lá e logo me deitei em cima de um tumulo e fiquei lá olhando as estrelas. Depois de varias horas eu percebo que perdi noção do tempo, que precisava encontrar abrigo antes que o sol nasça, então empurrei a tampa de mármore do tumulo mais bonito próximo, após entrar eu fechei e me deitei junto com os restos de um ser que estava morto. Assim como eu.

Vários meses se passaram, e lentamente com o tempo fui descobrindo minha agilidade e força vampírica. Fui descobrindo tudo sozinho, na marra. Até que uma noite encontrei outro da minha espécie.

Estava no cemitério contemplando o quanto minha vida tem sido vazia quando um vulto surge do nada.

- Hmm, bonitinho você ein?

Era o vulto de uma mulher, mas quando ela apareceu na luz eu simplesmente fiquei sem fala. Não era apenas pela beleza, sim era muito bela, mas algo na aura dela, nos olhos dela, eu não sabia dizer, só sei que fiquei paralisado, sem ação nenhuma.

- O que você faz aqui nesse buraco ein? Você é mais um desses cachorros do mato? Ein? O que foi? O gato comeu sua língua? – uma risada estridente e irônica saiu da boca dela.

- Chega. – Uma voz masculina corta o transe em que me encontrava.

- Oh, Julius, então ele é seu filhotinho?

- O que você veio fazer por este lado ein?

- Sempre agressivo você. Vim em uma missão da camarilla claro. So queria brincar um pouco com este jovem. Desculpe se o ofendi.

- Desculpas aceitas, agora caia fora.

O homem que estava enfrentando a vampira era alto e robusto, possuía olhos bestiais e em vez de mãos ele tinha garras. A mulher apenas deu as costas com um risinho estridente e irritante.

Um segundo depois o homem que estava relativamente longe estava a um palmo de distancia, agora com olhos e mãos normais.

- Olá filho.

- Filho? Então foi você que me transformou nesta aberração?!?!

- Fui sim.

Nesta hora eu me exaltei. Acho que nem tanto por ter sido ele, mas pelo modo como me deixa a deriva tanto tempo para depois aparecer desta forma dizendo que me amaldiçoou. Parti para cima dele, mas confesso que não vi nada do que aconteceu, em um segundo estava prestes a acertar um soco na cara dele, no segundo seguinte estava no chão e uma das botas dele sobre as minhas costas.

- Eu te transformei em vampiro pois você praticamente pediu! Sempre te observei observando os lobisomens, mas você nunca seria nada parecido com eles. Provavelmente te matariam se te encontrassem! Agora você vai ter uma chance maior de sobreviver. Apesar de ter virado seu pior inimigo. Aproveite a vida de vampiro que te dei!

- Aproveitar como? Tudo que eu sempre idolatrei está mais distante agora, já que como você disse, virei o pior dos inimigos.

O vampiro ofereceu a mão para eu me levantar e assim eu o fiz. Ele me passava uma calma, uma tranqüilidade.

- Quer mesmo se aproximar deles? Eu posso ajudar. Mas vai ser uma longa jornada.

- Eu quero! Estou disposto a tudo, já que não tenho mais nada mesmo.

E assim apertamos as mãos e Julius começa a me ensinar uma arte praticamente desconhecida no mundo dos vampiros. 


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Notas finais do capítulo

Peço desculpas pela demora, ando meio sem tempo.
Espero que gostem e aguardo opiniões.



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