Acho que era julho de 83
Eu sempre esqueço do dia
Mas lembro do mês
A gente mal se conhecia
Nos vimos apenas uma vez
Mas foi como a fotografia
De um velho filme francês
Não fosse a roupa que eu vestia
Naquele estilo new wave
Quem sabe eu conseguiria
Chegar perto de você

     Gaara e Ino estão abraçados no sofá da casa deles. A loira está no colo do ruivo e o mesmo a abraça amorosamente. Os cabelos dela estão mais curtos, na altura dos ombros e ela está bem mais velha, por volta dos 42 anos, mas mesmo assim continua linda. Gaara também encelheceu, seu cabelos continuam iguais, mas agora ele tem algumas rugas no rosto e a mesma idade de Ino. Então, quatro crianças entram correndo na sala. Dois meninos loiros, uma linda garotinha ruiva e um menino ruivo também. A menina tem olhos verdes, assim como o menino ruivo, já os dois loirinhos têm olhos azuis.

     - Mamãe! Papai! Contem uma história pra gente! – pede Yasuaki, um dos loirinhos.

     - Qual história vocês querem ouvir? – a loira pergunta, com um sorriso contagiante.

     - Hoje queremos uma especial – fala Yasukuni, o outro loirinho.

   - Como assim? – pergunta Gaara desconfiado.

    - Queremos ouvir a história de vocês dois – fala Akimi, a mais nova.

    - Daonde vocês tiraram isso? – pergunta Ino, desconfiada.

    - A ideia foi da Akimi-chan mamãe – fala Akisato, apontando para a irmã mais nova.

    - Mas eu só tive essa ideia porque o Yasuaki-nii-san me desafiou! – fala a pequena defendendo-se.

     - Foi o Yasukuni quem pediu pra eu desafiar a Akimi-chan mamãe – diz Yasuaki, colocando a culpa no irmão gêmeo.

     - Não importa quem teve a ideia, mas já que foi um desafio, vocês querem mesmo ouvir ou não? – pergunta Gaara desconfiado.

     - Queremos! – respondem os quatro ao mesmo tempo.

     - Ótimo. Sentem aí que nós contamos – fala Ino sorridente.

     Os quatro sentam-se imediatamente no chão e encaram os pais anciosos. Gaara suspira e começa.

     “Acho que foi em julho de 1983 que eu conheci a mãe de vocês… eu sempre me esqueço do dia, mas lembro do mês… eu havia a visto apenas uma vez, numa foto dela com o tio Naruto… sua mãe era linda naquele tempo. O baka do Naruto havia me levado à Praça de Konoha, um lugar animado, mas eu não era muito animado e fiquei olhando de longe, no balanço. Sua mãe conversava com as amigas dela e eu estava sozinho. Foi lá que eu a vi pela primeira vez. Mas eu estava com uma roupa ridícula, estilo new wave, fiquei com vergonha de ir até ela. Não fosse por isso, eu talvez até tivesse ido lá dar um “oi””.

Adolescência vazia
Eu tinha quase 16
Ninguém me compreendia
E eu não compreendia ninguém

     - Nossa papai, como você tinha mau gosto para roupas – fala Yasukuni sínico.

     - Vocês querem ouvir a história ou não? – Gaara pergunta irritado, enquanto Ino ria da irritação do marido.

     - Queremos sim otou-san! – Yasuaki dá um cutuvelada nas costelas do irmão gêmeo e o olha com raiva, para logo em seguida olhar para os pais com os olhos brilhantes.

     - Continua Otou-san – pede a mais nova, mexendo em seus cabelos ruivos e olhando com curiosidade para os pais.

     Gaara assente com a cabeça e continua contando a história.

      “Vocês sabem que eu nunca tive ninguém… tinha meus amigos, mas minha adolescência sempre foi vazia… na época eu tinha quase dezesseis anos. Era bem jovem ainda, mas mesmo assim sentia falta de alguma coisa sabe… todos os meus amigos tinham namorada e nenhum deles conseguia me entender completamente… assim como eu também não conseguia entendê-los…”

Fiquei ali sentado
Sentado sobre as mãos
Pensando em te perder
Querendo te encontrar
E foi então que aconteceu
Você me viu olhar
E veio em minha direção
Sorrindo disse: Olá
E neste dia começou
A nossa história
Que continua até hoje
E só parece melhorar

     - Você já contou Otou-san – Akisato se manifesta – que seus pais morreram em um acidente de carro e que seus irmãos não ajudaram muito…

     - É, mas Kami-sama foi gentil e me colocou no caminho do Otou-san de vocês – Ino sorri acariciando os cabelos de Gaara, que esboça um pequeno sorriso.

     - Ele foi bem legal comigo mesmo – Gaara fala, abraçando Ino um pouco mais forte e apoiando a cabeça na curva do pescoço dela – Mas continuando…

     “Eu fiquei sentado no balanço, olhando para a Okaa-san de vocês… Ino sempre foi linda. A mais linda. Mas eu me recusava a me aproximar dela… o motivo? Simples. Mesmo antes de ter a mãe de vocês pra mim, eu já estava pensando em perdê-la. Já estava pensando em como seria perder mais uma pessoa importante na minha vida… e por mais que eu tentasse ficar longe… eu queria encontrá-la. Encontrar a Okaa-san de vocês, encontrar o sorriso dela para mim… eu queria simplesmente… encontrar… ela. E então aconteceu algo que eu não estava emocionalmente preparado… e sinceramente ainda não estou…”

    Gaara faz uma pausa dramática, olhando para os filhos de forma malandra, tentando atiçar a curiosidade deles, coisa que estava funcionando perfeitamente bem.

     - O que aconteceu Otou-san? – Akimi pergunta inquieta, mexendo freneticamente em seus pequenos cabelos ruivos, presos em um rabo de cavalo, exatamente o mesmo penteado que a mãe usava.

     Ino ri da situação em que a filha se encontra. Realmente, Akimi mesmo tendo a aparência de Gaara, puxou a si no quesito curiosidade.

     - Para de ser mau e conta logo pra gente Otou-san! – exclamam Yasuaki e Yasukuni em coro. Os olhos brilhando de curiosidade.

     -Tudo bem, tudo bem – ele suspira derrotado, vendo as quatro crianças a sua frente aproximarem-se um pouco mais, com medo de perder uma palavra que seja do relato de seu Otou-san.

     “Ino aproximou-se de mim sorrindo. O sorriso da Okaa-san de vocês é algo contagiante… eu me perdi naquelas duas safiras que eram e ainda são os olhos de sua Okaa-san e fiquei a encarando como um baka, enquanto ela, com toda a graça e habilidade de uma Hime, falava ainda sorrindo… “olᔓ.

     Gaara sorri de canto para a esposa que no momento parece um tomate de tão encabulada e depois olha para os filhos, com um brilho no olhar que os mesmos chamam de “Brilho Okaa-san” nos olhos.

     - E foi assim que começou a nossa história – Gaara termina, beijando a face corada da bochecha de Ino, fazendo com que a mesma core ainda mais.

     - Que lindo Otou-san – os olhos da sonhadora Akimi brilham, pensando em, um dia, encontrar um príncipe encantado, assim como sua Okaa-san encontrou seu Otou-san.

     Gaara cora um pouco, mesmo convivendo com Ino por anos ele ainda não conseguira se acostumar em ter uma família de verdade, alguém que o ame e alguém que ele também ama. Muito.

     - Ótimo, agora que já receberam sua história, é hora de dormir crianças! – Ino como toda boa mãe preocupada manda os pequenos irem dormir, afinal, no dia seguinte eles têm escola.

     Mesmo a contragosto, os quatro levantam-se do chão e vão para seu quarto, logo após de terem desejado boa noite aos pais.

     - Então quer dizer que o meu maridinho ainda lembra do dia em que me conheceu? – Ino pergunta, enlaçando seus braços ao redor do pescoço do homem mais perfeito do mundo, segundo ela.

     - Como esquecer do dia em que conheci a mulher mais importante da minha vida… o dia  em que a nossa história começou… e ela só melhora… e se depender de mim… vai durar para sempre – ele sussurra no ouvido dela, enlaçando perigosamente a cintura da esposa.

Ieeeee... ieeeee...
Ninguém me compreendia
E eu não compreendia ninguém
Acho que era Julho de 83
Eu sempre esqueço do dia
Mas lembro do mês

     Ino cora violentamente antes de sentir os lábios tão conhecidos e tão viciantes do marido sobre os seus.

     Na verdade… ela tambem não era muito compreendida quando mais nova mesmo tendo muitas amigas e uma família incrível, ela apenas se compreendeu quando conheceu esse ruivo que no momento lhe tirava o fôlego… literalmente.

     Enquanto estavam um nos braços do outro, os pensamentos voam para longe e toda a razão foge-lhes a mente enquanto se afogam nesse amor tão grande.

Acho que era Julho de 83.

     O dia? Nem mesmo Ino lembrava… mas de que importa se o que conta são os acontecimentos e não as datas. Enquanto pudessem ficar juntos, nada mais importaria… nem dia, nem mês e nem ano…

     Mesmo assim, esse julho de 1983 ficaria guardado para sempre na mente dos dois nem mais tão jovens amantes.