O céu mudara de rosa para um tom de laranja, ao fundo podia ver a noite chegar com tons azulados trazendo consigo as pequenas luzes se formavam, parecendo uma continuidade da cidade que se acendia aos poucos. Dali, Paul podia imaginar que podia contar cada uma das lâmpadas acesas dos prédios, de toda a iluminação gasta nas ruas.

Fazia exatamente seis meses que se mudara para o apartamento de Carl. Decidiram morar juntos quando a situação apertou e Paul apareceu acabado no seu tapete de entrada, quando tudo parecia difícil demais. Quando tudo parecia conspirar pra que eles ficassem longe, dessem um tempo. Carl pediu pra que ele trouxesse as roupas pra lá e os comentários de voltar ao apartamento antigo haviam sumido da boca dos dois há uns dois meses atrás. Não havia nome para o que estava sentindo.

Elisa foi a primeira a chegar, junto de Emma. Tinham algumas sacolas na mão e um sorriso divertido nos lábios. Paul sacudiu o cigarro e, depois de uma última tragada, se desfez do fumo pela janela. Elisa tinha feito outra tatuagem, agora no braço cresciam duas rosas e alguns pássaros ao lado do “Words are broken lives”, as duas tinham roupas surradas e agora elas não pareciam tão deslocadas uma da outra. Podia ver que uma tinha adotado os hábitos da outra e vice-versa. Pareciam mais juntas do que já eram.

“Seu cabelo cresce um palmo toda vez que eu te vejo” – Paul comentou ao ver que o cabelo da moça morena estava alcançando metade das costas, enquanto da namorada sempre fora do ombro pra cima.

Houve algumas risadas, alguns comentários de outras vezes em que falaram algo sobre o cabelo de Emma ter adubo, ou que ela comia terra pra crescer tanto daquela forma.

Sentia-se calmo por dentro.

Até que por fim, viu Carl atravessar a porta do pequeno cômodo que fizeram de sala. Era divertido ver os semblantes dos três alaranjados, piscando junto com as luzes da árvore que haviam montado juntos.

Era maravilhoso sentir o coração batendo sôfrego.Era daquilo que estava falando. Sentir que as coisas começaram a dar certo, aquela ansiedade de começar o outro mês, a outra semana. Fazer planos e ao mesmo não querer pensar em nada.

Era aquela mesma sensação que o dominava quando via o ruivo atravessar a porta.

O mesmo sentimento de quando ele abria os braços e o aconchegava, era muito além de afeto, era muito além de carinho e talvez até de amor. E era aquilo que sentia, afinal.

Lembrou-se que o ruivo havia comentado uma vez que acreditava em milagres, e por um momento quis acreditar que Carl era um, mas o que acertava ele quase como uma bala toda vez que os via, aquilo era diferente...

Não se dando ao esforço de pensar, o aconchegou em seus braços e assumiu que se sentia mais feliz do que acreditara poder estar.