Ele saiu do carro e viu o Erick no chão, ele pegou o garoto, que parecia estar meio tonto e colocou-o no carro.

            - Você está bem? -perguntou preocupado

            - Sim - respondeu de cabeça baixa

            - O que você está tentando fazer? Se matar?

            - Eu perdi o equilíbrio e caí, só isso.

            - Aquela garota, a Jennifer, escutou a nossa discussão básica no jardim e agora quer que eu explique tudo pra ela. Por que ela? Você pode me explicar o que acontece dentro dessa sua cabeça?

            - Começou o interrogatório! Eu estou apaixonado pela amiga dela...

            - A Claire, é tô sabendo - interrompeu

            - Então, só que eu percebi uma energia diferente na Jennifer e aliás ela é bem parecida com a Brittany, não? - disse cutucando o tio com o cotovelo

            - É, é parecida sim. O estranho é que ela me escutou no jardim, não era pra isso acontecer.

            - Deve ter sangue de algum dos Imãs de Lembranças nela.

            - Talvez, ou também pode ser que parte da alma da Brittany esteja nela.

           - Hein? Como se faz isso?

            - As nossas almas, quando nós moremos se despedaçam, pode ser que um desses pedaços se juntem com a alma de outras pessoas, ou virem uma estrela, por isso alguns de nós tem a marca de estrela como você, mas esses não são capazes de "reencarnar" 

            Os dois chegaram em casa, desceram do carro e entraram na casa, ela tinha um ar colonial, as janelas eram grandes e tinham grossas cortinas, as portas eram de madeira e eram bem pesadas, a parte de dentro da casa era bem escura, porém não tinha aquela sensação de um lugar apertado, os móveis eram bem antigos e de cores também escuras, mal parecia uma casa que morava um adolescente e um cara de 20 anos.

            - E então, Erick, você mudou de assunto e não respondeu minha pergunta. O que está acontecendo?

            - Eu estou confuso, ela é humana, meu pai não ia aceitar e eu nem sei se dá certo ou se eu posso ter relações com humanos. - disse de cabeça baixa

            - Erick, vou te contar umas coisas. Você sabia que a sua mãe era humana? E sim, você pode namorar, ficar ou qualquer coisa do gênero, com humanos - disse segurando um a risada

            - Como eu ia saber? Ela morreu quando eu nasci e meu pai não toca no assunto. Dá pra parar de tentar segurar o riso? Você não está conseguindo e o assunto é sério! - disse as últimas frases irritado.

            - Desculpe. Então ela era humana e exatamente por isso morreu quando você nasceu. Os líderes da época não quiseram que seu pai a salvasse.

            - Que crueldade! Eles podem fazer isso? Tirar a vida de alguém?

            - Eles eram líderes, eles podiam tudo. O meu tio, que criou a mim e ao seu pai nunca aceitou o namoro dos dois, ele queria que seu pai se casasse com a filha de outro dos líderes e quando teve a oportunidade deu um jeito de separar os dois. Sua mãe teve um parto difícil e meu tio não deixou que os curandeiros a ajudassem, então ela acabou morrendo.

            - Mas então como eu sou um de vocês? Não deveria ter nascido meio-humano?

            - É, deveria, mas quando nós estamos amando, do jeito que você diz estar por essa garota, a Claire, nós podemos fazer um juramento e este faz com que ela (ou ele) tenha algumas das habilidades dos Imãs, seu pai fez esse juramento com a sua mãe e deve ter influenciado quando você nasceu. Você deveria conversar mais com o seu pai sabia? Você saberia muito mais sobre nós e também deveria ter feito aquelas "aulas" - disse fazendo aspas no ar - que seu pai queria que você fizesse.

            O último sinal do dia, o barulho era irritante, mas ao mesmo tempo aliviante, aquele barulho significava o fim de mais um dia cansativo.

            No meio de vários alunos do colégio um garoto do lado de fora se destacava apenas pelo fato de não ser um rosto comum naquele lugar. Luke olhava para porta, de onde saíam os alunos, esperando Jennifer, quando duas pequenas e delicadas mãos taparam seus olhos.

            - Oi lindo, quanto tempo. - disse a garota 

            - Meg! - disse Luke virando - se para abraçar a garota

           A Meggan era uma garota muito bonita, tinha aproximadamente 1, 75 de altura era loira, seu cabelo tinha cachos bem definidos e eram cortados um  pouco acima dos ombros, ela estava com uma calça jeans e uma blusa rosa simples, de mangas curtas, com manchas que pareciam respingados de tintas, nos pés uma rasteirinha de tirinhas finas também rosa com uma flor enfeitando.

            - Você está estudando aqui agora? - perguntou Luke

            - Sim, sim - respondeu

            - Meu deus, você cresceu muito desde a ultima vez que nos vimos.

            - Uma hora eu tinha que crescer.

            - É, não dava pra ficar aquela baixinha irritante pra sempre.- disse dando um sorriso brincalhão.

            - Bom, vejo que você continua chatinho, como sempre. 

            Vendo aquela cena de longe, um garoto e uma garota conversando e sorrindo de mãos dadas, qualquer um pensaria em tudo, menos na verdade.

            - Eu tenho que ir Luke, nos falamos depois, vê se não some, hein? - disse dando um beijo no seu rosto e abraçando - o

            - Você também não suma. - disse correspondendo ao abraço

            - Ah, aliás, o que você está fazendo aqui?

            - Esperando uma amiga, a Jennifer Campbell - disse apontando para a porta.

            - Amiga, aham, sei, - disse piscando com um dos seus olhos azuis - ela é legal, eu aprovo.

            - Por enquanto ela é só amiga, mas obrigado pelo apoio.

            - De nada, tchau - afastou - se dando um aceno pra ele.

            Luke olhou de novo para a porta, a Jennifer estava ali, parada junto com a Claire, linda como sempre, olhando na direção de Luke. Ele saiu de perto da sua moto, onde estava parado e foi o mais rápido que pode na direção das duas garotas paradas na base da escada.

            - Oi, Jenny. Oi, Claire.

            - Oi - disse Jennifer cabisbaixa, desanimada.       

            - Oi - respondeu Claire

            - Jenny, esqueci de te falar, não sei se vou poder ir no apartamento te ajudar a pintar, o Erick me mandou uma mensagem falando que precisava falar comigo urgente.

            - Tudo bem, eu vou então.

            - Eu vou com você, se não for incomodar - disse Luke

            - Tá, mas tenho que arranjar carona.

            - Eu tô de moto, é só você me mostrar o caminho.

            - Então tá. Tchau, Claire, até mais - disse Jennifer

            Ela foi andando com o Luke até a moto e saiu e ele deu um outro capacete, em seguida a Jennifer também subiu e ele deu um outro capacete, ele acelerou a moto e saiu, não estava andando em alta velocidade, mas Jennifer nunca tinha andado de moto e sim, estava com medo. Ela colocou os braços ainda mais apertados em volta do Luke.

            - Quer que eu vá mais devagar? - perguntou preocupado

            - Não está bom assim.          

            - Se quiser é só falar. Pra onde eu viro agora?

            - Pra esquerda. O prédio é a uma quadra do colégio...   

            - Ah, então é fácil. É perto de casa.

            A sensação de estar na garupa daquele garoto lindo e com o vento batendo no seu rosto era ótima, mas ela não conseguiu deixar de pensar no Aaron, ela estava ansiosa para o dia seguinte, ela queria saber o que o Erick era realmente, mas estava com medo.

            Ao chegar em frente o prédio, Luke parou em uma das vagas, Jennifer desceu da moto, tirou o capacete e mexeu no cabelo, para que ele voltasse ao lugar enquanto Luke desligava a moto, a apoiava e ficava esperando Jennifer terminar de se ajeitar. Quando Jennifer terminou olhou para Luke que estava com um sorriso meio torto e quando a viu olhando colocou a mão atrás da cabeça, envergonhado, mas mesmo assim abriu ainda mais seu sorriso para Jennifer.

            - Podemos ir? - disse ela

            - Ah, sim, claro - respondeu Luke ainda meio abobalhado.

            Claire estava no seu quarto Erick iria pegá - la em 1 hora, ela ainda precisava escolher a roupa. Os dois iriam assistir um filme na casa do Erick, o filme era tipo um documentário sobre sobrenaturalidades, Erick queria mostrá -la, ela não sabia exatamente por que, mas estaria com o Erick então nada importava. Enquanto pensava foi mexendo nas suas roupas para descobrir com que roupa iria e pra terminar de se arrumar assim ela achou um vestido azul claro com uma faixa branca um pouco acima da cintura, nos pés colocou uma rasteirinha branca e na cabeça uma faixa branca com um laço delicado. O azul do vestido combinou com sua pele bem branca e seu cabelo loiro-escuro, deixando - a ainda mais meiga.

            As latas de tinta estavam no chão. Tinham tintas de várias cores. Verde para sala, laranja para alguns detalhes da cozinha, azul claro para o banheiro, lilás para o quarto da Jennifer, rosa bebê para o quarto da Claire, o quarto de hospedes ficaria branco mesmo e o closet das duas seria creme.

            - Vamos começar por onde? - perguntou Luke achando o chão da sala com as latas de tintas.

            - Aqui pela sala mesmo, mas vamos cobrir os móveis primeiro.

            Jennifer pegou alguns jornais, para não sujar tanto o chão e alguns lençóis velhos para cobrir os sofás. Ela colocou o lençol em cima do sofá e algumas folhas de jornal perto das paredes. Luke tinha pego vários pincéis e começou a pintar a sala com a tinta verde, logo depois Jennifer também foi ajudá- lo. O silêncio entre os dois era tanto que chegava a incomodar, eles ficaram um bom tempo em silêncio, isso nunca tinha acontecido antes.

            - Jenny, o que está acontecendo? Eu fiz alguma coisa e você está brava comigo? Nunca te vi assim... - disse o Luke parando de pintar e olhando para Jennifer.

            - Nada, só estou preocupada - disse tentando soar o mais natural possível.

            - Você sabe que pode contar o que quiser, não sabe?

            - Sim, eu sei.

            - Aliás, o que você tinha pra me contar, você falou que era urgente.

            - Era sobre o pássaro, ele é mesmo o Erick, ouvi ele conversando com o Aaron, professor de colégio, e o pássaro estava em cima de mim. Aaron disse algo como: "Erick, saia daí!" enquanto eu estava no jardim do colégio. Eu falei com o Aaron depois e vamos os encontrar na praça perto de casa às 16:00 amanhã, eu queria saber se você queria ir comigo, estou com medo de encontrá - lo sozinha.

            - Bom, nada mais do que uma confirmação, agora temos certeza. E sim eu vou com você, te pego às 15:30 na sua casa, pode ser?

            - Sim, pode.

            - Agora, tem algo a mais te incomodando e o que é?

            - Deixa pra lá, é besteira, continue pintando. - virou as costas para Luke e voltou a pintar.

            Tinha algo estranho com a Jennifer, Luke estava preocupado com ela, o que será que ele tinha feito algo que a tivesse magoado, ele pensou em tudo que ele tinha feito em outros dias e hoje até que se lembrou da Meggan. Será que ela estava com ciúmes? Ele ficou feliz pelam possibilidade dela estar com ciúmes, isso significava que ela gostava pelo menos um pouco dele, mas ele não gostava de vê - la triste por causa dele.

            - É por causa da Meggan, a garota loira que você me viu conversando hoje que você está assim?

            Jennifer não respondeu de imediato, só parou de pintar e virou - se novamente para Luke enquanto ele falava:

            - Se é por isso, pode ir colocando um sorriso nesse rosto porque é besteira, eu não gosto dela , somos só amigos. - ele abaixou a voz - Eu gosto de outra garota.

            Ele foi se aproximando da Jennifer , abaixou - se um pouco e deu um beijo nela. Ela colocou os braços em volta do pescoço dele fazendo com que ele se aproximasse ainda mais dela. Eles ficaram se beijando por um bom tempo até que Jennifer se afastou perguntando:

            - Me deixa entender. O que foi isso?

            - Um beijo - disse Luke sorrindo.

            - Essa parte eu entendi. Mas por que você me beijou?

            - Ich libie dich. Só por isso.

            - Hein?

            - Depois eu te falo o que é, vamos continuar a pintar se não, não iremos acabar de pintar nem a sala.