Estávamos todas ali, de mãos dadas.

— Eu espero que todas vocês se lembrem desse dia — Disse — Que todas vocês continuem o que elas fizeram. que passem adiante nossa tradição. Que vocês estejam aqui daqui alguns anos, no lugar delas, e as mais novas olhando para vocês com esses olhos e lágrimas que olham pra elas agora.

Soluços.

— Eu acho que não se devia desistir de dançar no terceiro colegial. — Disse ela — Porque ninguém fica estudando vinte e quatro horas por dia. Mesmo assim, sigam seus corações. E arrasem nesse palco. Vamos rezar.

Como de costume, entoamos o Pai Nosso.

Aquele coro de voz subiu aos céus, carregado de desejos e pedidos, mergulhado em lágrimas, que escorriam por todas as faces ali presentes. E ali, de mãos dadas, todas estavam numa mistura de felicidade e tristeza.

Algumas vozes davam falsetes, soluços eram ouvidos, e mesmo assim a oração soou forte e firme, mas ao mesmo tempo frágil e delicada. Minha garganta se retorcia sob a gola do nosso figurino.

Abri os olhos. Observei todas juntas, enquanto orávamos Ave Maria. Olhei no rosto de cada uma. Um grupo de dança. Meu grupo de dança. Ali não haviam só garotas. Haviam amigas, presas por um grande laço. Assim como o de suas sapatilhas.

Pulamos para o lado cantando a oração do Santo Anjo. O sorriso que iluminava o rosto de cada uma era o melhor presente que eu podia receber na minha vida. Nos abraçamos fortemente, chorando muito e borrando a maquiagem que a pouco havíamos passado uma nas outras.

Sorrimos de novo, antes de cantar nossa música:

São vocês que eu amo,

Com vocês que eu quero ficar,

Pois não há,

Nada melhor que dançar!

"Coreografia 1, Jazz" Anunciou a apresentadora. Formamos rapidamente uma fila atrás da cortina. Meu coração se acelerava, as mãos suavam. Começamos a entrar. Nossa última apresentação. Era aquela a hora de iluminar a noite.

Era a hora de brilhar.