Observava o movimento das pessoas pela janela embaçada. Os olhos, antes tão vivos e brilhantes, estavam opacos e contornados por fundas olheiras. Grossas mechas brancas entremeavam-se pelo cabelo castanho sem brilho, rugas lhe emolduravam o rosto envelhecido; cansaço presente em cada linha de expressão. Vivera tempo demais...

Um suspiro lhe escapou dos lábios pálidos. Lembranças de tempos tão antigos lhe voltando a mente, fazendo-o lembrar de todos que ele conhecera. De todos que ele vira partir. Levados por doenças, acidentes... Levados pelo tempo. Sentia-se como o único sobrevivente daqueles tempos tão bons.

Lembrou-se da mãe, que se fora há tantos anos. Do irmão, que sempre lhe protejera e encorajara... Que lhe fora levado por aquele acidente tão, tão terrível. Suas lágrimas começaram a cair ao lembrar-se dos últimos momentos ao seu lado.

Lembrou-se do amigo de tantos anos, e de todo o tempo que ficara ao lado dele enquanto a doença o consumia. Por mais triste que fosse vê-lo definhando, não saíra do lado dele até o aparelho parar.

Lembrou-se da única pessoa que amara. Afastada de si por motivos tolos, levada pelo tempo tão cruel. Sentiu-se mal por ter permitido a separação. Teria sido mais feliz ao seu lado, sem preocupar-se com palavras alheias. Mas era tarde demais...

Tudo que lhe restara fora uma vida solitária, alguns montes de dinheiro e um império de mentiras. De que lhe valia todo dinheiro e fama? As coisas realmente importantes se foram, todas. Uma por uma. Mas ele continuava ali, sendo obrigado a assistir todos que amava serem levados.

Estava cansado demais, vivera demais...

Apenas queria descansar, ir para junto de todas as pessoas que conhecia. Por quanto tempo mais teria que viver aquela vida de solidão? Por quanto tempo mais teria que recordar de tudo, todos os dias?

Seus olhos então se fecharam, e ele apenas esperava que não tornassem a se abrir.