Amor por Compaixão escrita por CarolFernandes


Capítulo 3
Capítulo 1 - Futuro e Passado Colididos


Notas iniciais do capítulo

Tão animada para o primeiro capítulo!!



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Peguei a carta no correio, nervosa e ansiosa, sem saber se abria ou não. Se eu abrisse naquele momento, três segundos depois eu poderia estar pulando de felicidade ou manchando meu rosto com lágrimas de tristeza. Era uma variável grande demais e perigosa.

A coisa que eu mais queria na vida era ir para a Universidade de Cambridge, a 80 quilômetros de Londres, e para que isso se realizasse eu faria de tudo. Não bastava ter estudado como uma condenada durante anos e economizado até dizer chega, eu ainda faria mais.

Eu estava farta de morar em Forks, uma cidade verde e minúscula americana que definitivamente não era o meu lugar. A única coisa que eu gostava na cidade era o frio, mas até o frio de Cambridge, na minha mente, era melhor do que o de Forks.

Meu plano era poder trabalhar como advogada na Inglaterra, mas para isso, depois de cursar em Cambridge eu teria que cursar em outra instituição os cursos profissionalizantes obrigatórios, que não eram fornecidos em Cambridge. Seria cansativo e até um pouco caro, mas no fim, quando eu estivesse segurando o meu diploma, valeria a pena.

“Coragem, Bella! Você conseguiu, você passou.” Falei tentando me animar, sem muita certeza. Eu podia não ter conseguido, não ter passado.

Desde a morte dos meus pais, eu tinha perdido qualquer confiança em mim mesma ou ego. Eu não tinha muitos amigos ou pessoas que gostasse, na verdade, era considerada um zero a esquerda naquela cidade e até gostava disso. Ser invisível, sabe?

Minha mãe tinha morrido no parto junto com seu segundo filho e o policial Charlie Swan, que era meu pai, fora assassinado por uns bandidos que ele tinha ajudado a prender um tempo antes. Aos dezesseis anos eu já não tinha nem pai, nem mãe... Muito menos algum parente que quisesse cuidar de mim.

Por incrível que pareça, nenhum assistente social veio me jogar em um orfanato sujo qualquer. A cidade de Forks era tão isolada, que eu duvidava que o governo soubesse que existia uma órfã ali. Eu fazia de tudo para não chamar a atenção das pessoas, usando agasalhos grandes e escuros acompanhados do meu cabelo sempre caindo no rosto.

Suspirei.

Se não fosse o salário mínimo que eu ganhava pela morte do meu avô, pai de Renée, eu já teria morrido sozinha de fome. Eu não lembrava do meu avô, porque segundo Charlie, ele tinha morrido cedo, decapitado por uma máquina na empresa que trabalhava, justificando o salário pós-morte.

Eu também mal lembrava da minha infância e tudo que eu sabia era Charlie quem tinha me contado. Ele contou que na época em que eu era pequena, tínhamos muitos amigos – a família Cullen, como citara uma vez – mas todos aos poucos foram embora e Forks se transformou em uma espécie de cidade fantasma.

Às vezes eu sentia calafrios ao ficar sozinha naquela casa vazia e antiga, por isso queria tanto ir para Cambridge, esperando que esse fosse meu recomeço. Sentada na mesa de jantar feita com madeira fajuta, suspirei outra vez.

Agora ou nunca!

Abri a carta endereçada a mim devagar, com medo do que encontraria dentro do envelope. Fui direto ao ponto da página onde estava escrito que eu tinha sido aceita. Minha mão foi acima da minha boca escancarada no mesmo momento, não acreditando e acreditando naquilo ao mesmo tempo. Deus! Era o meu maior sonho sendo realizado.

Minha próxima reação foi dar pulos de alegria, gritando e sorrindo como eu nunca tinha feito antes. Se eu tivesse vizinhos, eles estranhariam, mas eu não tinha já que a pessoa mais perto de mim morava no fim da rua sendo que eu estava no começo. Tudo que havia entre nós eram árvores, mas nem elas perceberiam minha felicidade.

Voltei a sentar na cadeira, relendo o contrato com a faculdade quando percebi que eu não tinha ganhado uma bolsa como esperado. Havia o valor que eu tinha que pagar e, bem, eu não tinha aquele dinheiro. Eu podia trabalhar para conseguir pagar a faculdade, mas seria difícil estudar e trabalhar ao mesmo tempo.

Meu coração acelerou e eu pus a mão em cima dele. Será que meus sonhos escorreriam por entre as frestas dos meus dedos, sem eu poder fazer nada?

Não! Eu faria de tudo para realizá-los, eu arrumaria um jeito.

O salário do meu avô daria apenas para pagar comida e algumas necessidades, como roupas, e eu planejava pagar a passagem de avião com algumas poucas economias que eu ainda tinha. Mas a bomba de ter que pagar uma faculdade cara como àquela também, foi dilacerante. Cambridge era considerada a melhor Universidade de todo o mundo, se eu já tinha sido aceita lá, não daria para perder essa chance única na vida agora apenas por causa de dinheiro.

Fui dormir com a convicção de que eu daria um jeito. Algum jeito.

Na manhã seguinte, acordei para fazer a faxina de todos os sábados na casa. O que era ironia já que se dependesse de mim, eu fecharia aquele lugar e não abriria nunca mais. Eu até tinha boas recordações de lá, mas olhar para cada canto empoeirado e ver que eram somente recordações, doía. Se eu tivesse um desejo, seria ter uma vida normal, com pais, irmãos e felicidade.

“Mas não existem milagres.” Murmurei para mim mesma, enquanto jogava água no chão. Esse era o meu modo de manter minhas cordas vocais já que eu não tinha ninguém para conversar.

Ouvi um barulhinho do lado de fora e pelo horário deduzi que era o carteiro. Peguei o pacote na porta desejando que fosse uma boa notícia. A carta era destinada a minha mãe e não a Charlie ou a mim, como todas as outras. Estranhei, então entrei correndo em casa, sentando no sofá e lendo o remetente: Esme Cullen.

O sobrenome imponente chamou a minha atenção e a curiosidade foi tão grande que eu nem reparei no endereço de onde a carta vinha.

Querida amiga Renée,

Espero que esteja bem, com saúde e aquela sua alegria que sempre foi bem-vinda em minha vida.

Suspirei. Esme devia ser a nossa antiga vizinha que pela carta parecia muito simpática também. Eu lembrava de como Renée animava a todos, ela era maravilhosa e eu sentia orgulho da sua pessoa.

Infelizmente o tempo e a vida nos separaram, mas eu nunca esquecerei de seus conselhos. Sinto sua falta já que nos conhecemos desde pequenas, lembra-se? Sei que não mandei cartas durante todo esse tempo e me arrependo, mas só você pode me ajudar agora. No momento, estou passando por uma fase difícil da vida...

Eu quase ri. Fase difícil da vida? Eu sim estava numa!

Eu poderia me sentir culpada por estar lendo uma carta que era redigida à outra pessoa, mas Renée tinha morrido – penso nisso e meu coração aperta mais – e eu era a filha dela... Não achei que era errado naquele momento.

Emmett já é um grande médico, Edward é um príncipe e Alice cresceu um pouquinho e já não chora mais quanto quando era bebê e nós morávamos ai. Carlisle arrumou um ótimo emprego como advogado e eu continuo fazendo artesanatos, só que dessa vez, apenas por diversão. Ganhamos dinheiro o suficiente para ter uma vida confortável, mas certas coisas não olham para a conta bancária, raça ou religião.

Existiam mais alguns detalhes na carta que eu não entendi muito bem ou ignorei por serem íntimos demais. No fim havia um telefone.

Espero que você me ligue logo...

Preciso do seu colo, da sua ajuda e das suas palavras doces.

Esme Cullen.

A data da carta mostrava que era recente. Então aquela mulher que fora tão amiga da minha mãe estava precisando de sua ajuda. Por mais idiota, eu senti compaixão por ela já que nutríamos do mesmo sentimento... Eu também queria o colo da minha mãe.

Entrei em um dilema entre ligar ou não ligar para ela. O que eu diria?

Senhora Cullen? Ah, minha mãe morreu há muito tempo atrás e meu pai? Bem, ele morreu também. Se eu sou maior de idade? Acabei de fazer dezoito! Como sobrevivi? Nem eu sei a resposta.

Eu não podia ligar para a tal Esme, afinal, ela deixara minha mãe sozinha todo esse tempo. Talvez se ela não recebesse resposta, não seria tão ruim assim. Se ela gostasse mesmo da minha mãe, teria procurado saber dela antes.

E se ela tivesse procurado eu não estaria digitando o telefone dela, enquanto roia as unhas com medo do que aconteceria.

O telefone tocou várias vezes e quando eu ia desistir, uma voz angelical disse alô.

“Esme Cullen?” Me certifiquei.

Não, sou Alice, filha dela. Quem deseja falar com minha mãe?” Ela devia ter percebido que eu respirei fundo.

“Isabella Swan.”

Fui até o banco quitar algumas dividas, utilizando a caminhonete antiga que era do meu pai. Aproveitei para ver quanto dinheiro eu ainda tinha – vibrando ao ver que daria para a passagem até Londres – depois coloquei gasolina no carro e comprei alguns sucos prontos para abastecer a geladeira também.

Enquanto eu estava na porta – tentando segurar todas as compras e achar a chave – o telefone tocava dentro de casa. Corri o máximo que pude e soltei alguns palavrões ao ver que o telefone tinha parado de tocar assim que eu pus a mão nele. Coloquei as compras na cozinha e bufei quando o telefone voltou a tocar.

“Quem é?” Falei agressivamente, apesar da pessoa do outro lado não merecer meu mau humor. Deveria ser um cobrador como em todas as outras vezes, ou então, poderia ser Esme Cullen.

Bella?” Estranhei o modo com a tal mulher me chamou pelo apelido de infância. Como ela sabia? Revirei minha mente atrás de uma resposta e cheguei a conclusão de que ninguém me chamava assim, além de quem tinha me conhecido desde pequena.

“Sim.”

Eu sou Esme, querida. Onde esta a sua mãe?” Engoli o nó formado na minha garganta. “Eu sinto falta dela.

“Eu também.” Sussurrei.

Ela esta ai?” Perguntou esperançosamente. Só Deus sabia como eu queria dizer sim.

“Ela... Ela morreu, Esme.” E minha voz morreu pelo caminho da frase também, apesar de eu ter tentado falar em alto e bom som.

Oh...” Um som de surpresa atravessou o telefone e depois ele ficou mudo. Eu fiquei um tempo esperando que ela voltasse a falar, mas quando as lágrimas de saudade invadiram meu rosto, resolvi que colocaria o telefone no gancho. Mas Esme era rápida e parecendo que prevera minha ação, voltou a falar. “Bella! Oh meu Deus! Bella!

“É isso, Esme. Eu vou desligar.” Eu não aguentaria falar muito tempo com ela sobre a morte da minha mãe. Estava tudo tão perfeito e de repente acabou... Eu iria ganhar um irmão e acabei perdendo no mesmo dia ele e minha mãe.

Eu tinha conseguido criar uma fortaleza dentro de mim para continuar sem dor, mas ainda existiam lágrimas.

Não. Não desligue, querida.” Falou com pesar. “E Charlie, ele esta bem?” Não respondi por que não conseguiria falar aquilo novamente. Eu nunca tinha dito antes, nunca ninguém tinha perguntado. “Bella... Você esta sozinha, não esta? Porque não me ligou?” Eu sabia que ela ia fazer muitas perguntas, mas não perguntas tão idiotas quanto essa.

“Você acha que eu tinha seu telefone e, afinal, quem é você?” Revirei os olhos.

Durante um tempo fui a melhor amiga da sua mãe.

Grande explicação, fodona!

Você deve estar precisando de uma mãe... Porque não vem me visitar? Você esta de férias, não esta?” O que eu menos precisava era de alguém sentindo pena de mim.

“Estou me preparando para ir até a Universidade de Cambridge...”

Então.” Fui cortada por ela.

“Então, o que?” Perguntei não entendendo nada.

Respira, Bella! Se ela não fosse amiga da minha mãe, eu já teria desligado o telefone.

Eu moro em Cambridge desde que Emmett cursou a mesma Universidade que você, Bella.

“Você... Você fala... Fala sério?” Gaguejei.

Sim, Bella.” Suspirou audivelmente. “Odeio conversas telefônicas, preciso falar com você ao vivo. Porque não vem para Cambridge, me visita e ainda aproveita para resolver as ultimas coisas para sua vinda definitiva para cá?” Eu podia dizer para ela que o que eu mais queria era ir até Cambridge e nunca mais voltar?

“Tudo bem, eu irei.”

Mandarei alguém te buscar no aeroporto, combinamos tudo, certo?

Fiz um planejamento na minha mente antes de aceitar. Eu iria para Cambridge conhecer a grande amiga da minha mãe, Esme Cullen, e ela iria me amar por ser filha de quem sou. Seria uma intervenção forte demais do destino, ela morar no lugar onde eu iria passar a viver nos próximos meses? Destino maior que ela mandasse uma carta para Renée exatamente naquele momento?

Talvez a minha grande chance fosse conseguir a confiança de Esme Cullen, morar em sua casa por algum tempo, me estabelecer financeiramente e realizar meus sonhos. Afinal, dinheiro para ela não devia faltar...

... E eu ainda teria um colo de mãe.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pelas reviews! Estou muito feliz por estar começando uma história tão especial pra mim quanto APC. Espero que vocês gostem e não me abandonem ou qualquer coisa assim. ashuashs

Cáh