- Eu te amo... – as palavras de Sieghart eram brandamente sussurradas para mim.   

- Sieg... hart – murmurei em sua boca enquanto o mesmo beijava meus lábios. Eu ofegava e meu rosto ardia, mas um rosado manso rondava meu corpo. Seus beijos eram doces, tão deliciosos quanto chocolate – Eu tam...

- NYAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! - um som felino vociferou no carro, me fazendo pular.

- KYAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!! – gritei em um susto, arregalando meus olhos. Quem foi o imbecil?! Meu olhar e o de Sieghart foram lançados para o mesmo lugar em um relance violento. Para a mesma bolinha de pelos negros, que possuía um olhar falsamente fofinho que me dava raiva só de encará-los.

- Neko-chan.... – vociferei entre dentes.  

**

- NOJENTA! AQUELA... GRRRR! – Rey andava de um lado para outro, mexendo nos cabelos como se fosse um objeto a ser torturado. Seu rosto em pura fúria era perverso e irritado. Ela estava com raiva por ter passado vergonha no meio de tanta gente por causa de Elesis, mas estava com mais raiva ainda por ter saído com o rabo entre as pernas. Ela não suportava ter perdido para a ruiva, ou melhor, nem acreditava que isso tinha acontecido. Um risinho no fundo da sala vazia a fez virar com um olhar fulminante para o garoto de cabelos cor de vinho.

- Você e seus caprichos mimados. Quando vai parar com isso? – falou Dio, deitado em um canto escondido do local. Sua cabeça postava-se em cima das mãos enquanto as pernas se cruzavam pra cima, pousadas no braço da cadeira escolar. Sua posição e voz soavam de uma forma superior, sarcástica. Como se ele estivesse convicto do que dizia. Rey rangeu os dentes, isso a irritou, apesar de perceber que um toque disso a seduzia.

- Cale a boca, Dio. Você que foi o rejeitado aqui, não é? – ela ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços enquanto erguia o queixo. Dio apenas a olhou com o canto do olho, ainda em uma posição irônica.

- Pelo menos não fui eu que recebi umas verdades na cara publicamente. – ele sorriu de forma provocadora. Uma veia saltou da testa da menina.

- Infeliz... – vociferou Rey, indo em direção ao garoto com uma missão certeira para seu salto pontudo.

- Venha, meu amor – ele piscou para ela de forma travessa. Rey juntou as sobrancelhas, atravessando a sala com passos mais rápidos e furiosos, porém, antes mesmo de erguer um dos pés para ao menos mirar em uma parte dolorosa do garoto, o mesmo tirou suas pernas do encosto e envolveu os dois calcanhares de Rey. Um sorriso malicioso se fez presente em seus lábios enquanto, em um só movimento, ele virou seu corpo, deixando a garota sem mobilidade e a empurrando para o chão.

Rey colocou os braços instintivamente na frente do corpo antes de tocar no solo, impedindo-a de se machucar, mas ainda assim não melhorando em nada seu humor. Ela virou o olhar para o lado, com os olhos em chamas para o “amigo”.

- Vou te matar seu desgra...

Dio puxou a cintura de Rey, fazendo-a cair de lado para a direção dele. Ele riu em seus cabelos enquanto aninhava as costas da rosada em seu peito, mas envolvia os braços em volta dela de forma cautelosa e segura... Para ele.

- Me mate se for capaz, milady.

- Juro que farei. – ameaçou ela, tentando sair de seus braços.

- Não enquanto você estiver em minha prisão pessoal – murmurou Dio em um sorriso quase pervertido, fechando os olhos enquanto sentia o aroma delicioso que se emanava dos cabelos da menor.

- Você é realmente um inútil, um idiota... um imbecil... – e um verdadeiro galanteador, completou em pensamentos, juntando as sobrancelhas enquanto sentia as maçãs do rosto enrubescerem levemente. – Preciso que me ajude a fazer um feitiço. - pediu por fim.

Dio possuía, desde pequeno, uma coisa diferente de todas as outras pessoas. Ele conseguia usar a magia do mundo ao seu favor, tanto a negra quanto a branca, mas era sempre forte o suficiente para fazer qualquer coisa que o garoto desejasse. Ou, o mais comum, o que a garota pedia para ele. 

- Esqueça esse negocio com a Elesis. Isso é perda de tempo.

-Dio, você me conhece...

E pior que ele realmente a conhecia. Vingança era uma coisa do cotidiano de Rey. Principalmente quando alguém a envergonhava, não que isso já tenha acontecido com ela alguma vez antes de hoje. Era inevitável, e ele sabia disso. E tanto ele quanto ela sabiam que o garoto com os cabelos de vinho, por mais que não parecesse, sempre a obedecia. Ele sempre cuidou dela desde a infância.

- O que quer fazer? – perguntou ele em um suspiro. Rey sorriu.

- Irei matá-la! MUAHAHAHAHAHA!

- Rey... – uma gota se formou na cabeça de Dio.

** 

A gata de pelos negros olhou para a Elesis de tal forma, que a ruiva tinha certeza do que a mesma pensava: “Saia de perto do meu dono, seu morango estragado!”

- Maldita... – vociferou Elesis, se levantando do banco do carro enquanto a veia em sua testa pulsava. Sieghart ergueu uma sobrancelha, dando um sorriso de duplo sentido quando viu Elesis se posicionar para atacar a felina preta.

- Vai lutar por mim novamente, ruivinha? – disse, em um tom sedutor.

- NÃO É POR VOCÊ! – mentiu a ruiva, o olhando furiosamente.

- Nyah nyanyaah nyaah? – a Neko-chan ergueu a sobrancelha, sorrindo igualmente a Sieghart enquanto, em sua língua, irritava Elesis.

- CALE A BOCA, SUA NOJENTA! – a ruiva pulou para o banco de trás, atacando a gata que gargalhava. Sieghart cruzou os braços, erguendo as sobrancelhas. Elesis realmente falava com gatos?

- Só uma gata para entender outra... – o moreno deu de ombros, olhando a cena enquanto se acomodava em um canto do veiculo. Somente ele sabia, mas Elesis não estava lá em uma posição muito... favorável a ela, vamos dizer assim. Ele sorriu maliciosamente.

- Como disse...? – perguntou a ruiva, demorando um pouco para captar a frase dita pelo moreno. Ele mordeu os lábios para segurar um sorriso. Elesis estava virando em sua direção. Com a raiva pura em seus olhos, a menina agarrou a gola da blusa do rapaz a trazendo para mais próxima de si, como uma ameaça.

- Sobre a parte da gata ou a que você fica muito linda nessas roupas?

- Como...? – perguntou, entre dentes.

- Ah é verdade. Eu não havia mencionado sua roupa antes... – ele sorriu de forma travessa – Você está muito sexy nestas roupas, ruivinha.

- Você vai morrer! – Elesis ergueu o punho, prestes a socar o rosto perfeito do moreno, porém algo a impediu. De uma hora pra outra havia vermelho. Vermelho por todas as partes. Uma névoa avermelhada tomara conta daquele veículo, o preenchendo internamente por completo. O rapaz piscou os olhos várias vezes, tentando enxergar alguma coisa. O que era aquilo? O que estava acontecendo?

De repente o peso que ele sentia pela ruiva encima de si suavizou. Tanto que ele praticamente não sentia nada ali. Arregalou os olhos, preocupado, e sem pensar abraçou o ar a sua frente, mas estranhou a pequena coisa que encontrara ali.

- Quem é você e porque está me abraçando, seu idiota?! – perguntou a pequena voz, tão irritadiça quando a da ruiva, mas tão fofa quanto a de uma criancinha. Sieghart se assustou e quando piscou novamente, a fumaça inteira havia sumido.

- Ru-ru-ruivinha? – espantou-se ele, pulando para trás enquanto seus olhos se arregalavam. Com um soco certeiro a menina o acertou bem embaixo do queixo. Sieghart gemeu de dor. Ele foi pego desprevenido.

- Não me chame de ruivinha, estranho!

- Ai aiaiai... Você está mais veloz, hein...

- Quem é você? – ela exigiu saber. Sieghart massageava a parte inferior da face, olhando-a ainda com espanto.

O que está acontecendo? Como Elesis do nada virara uma criança? Uma pequena garota de olhos vermelhos. Seus cabelos ruivos estavam soltos, passando da cintura enquanto sua face rosada a deixava com um toque mais kawaii. Aquela era Elesis. Uma Elesis de 10 anos.

Sieghart a analisou de cima a baixo. Uma versão mini da Elesis normal. Por mais fofa que fosse, era assustador. Ele franziu o cenho, confuso. Ao menos que alguém estivesse fazendo uma brincadeira com ele... Espera aí. Ele logo sorriu, rindo-se de si.

- Por um segundo eu acreditei que era verdade – gargalhou para si mesmo. Era óbvio. A ruiva estava fazendo uma brincadeira com a cara dele. Não havia outra explicação.

Sieghart saiu do carro, segurando a mão da menor consigo enquanto a retirava de lá.

- Tudo bem Elesis, pode sair, você me pegou. – ele esperou, ainda rindo – Vamos ruivinha, não tem mais graça, já levei um susto. – Sieghart olhou para os lados, ainda com um sorriso no rosto. – Onde você está, hein?

- O que você está fazendo, seu estranho? – perguntou a ruiva quando o moreno começou a dar a volta no carro, ainda segurando sua mão.

- Estou procurando Elesis.

- Eu sou Elesis.

- Não, não, você é uma menininha que está atuando ser a Elesis para me pregar uma peça, eu já seu de tudo, pode parar de encenar agora. – ele olhou por debaixo do carro.

- Eu não estou encenando nada.

Sieghart suspirou, coçando atrás da cabeça. Essa garotinha deveria está recebendo um bom salário. Um sorriso carismático apareceu em seu rosto. Ele se ajoelhou de frente a ela, olhando-a nos olhos.

- Hm... então se não está encenando nada me diga: qual a data de nascimento da Elesis?

- Minha data de nascimento, você quer dizer. É dia 15 de dezembro.

Ele ergueu as sobrancelhas, surpreendido novamente, mas o sorriso deixou seu rosto.

- E qual sua cor favorita?    

- Vermelho.

- Animal que você detesta?

- Gatos.

Sieghart engoliu em seco, franzindo o cenho.

- Qual a cor de sua casa?

- Amarela. Já terminou?

- Qual a cor do seu diário?

- É... Espera aí! COMO VOCÊ SABE QUE EU TENHO UM DIÁRIO?

- Put* merd*, você é a Elesis.

- Put* o que? O que é put*?

Sieghart bateu na testa, deixando a mão escorrer pelo seu rosto. Isso não estava acontecendo, isso não estava acontecendo. Não, por favor, que isto não esteja acontecendo.