Era manhã e, como em todas as manhãs de dias úteis, eu estava na escola. Havia saído a pouco tempo da casa de Sieghart, mas isso não queria dizer que o mesmo tinha ficado lá. Ele me acompanhou até a minha casa e logo depois até a escola. Hoje estava acontecendo um festival escolar, e eu ainda procurava loucamente Lire, Arme e Amy.

Mas eu estava no banheiro feminino do colégio agora, com outra pessoa definitivamente indesejada.

- Gorda!

- Baleia assassina!

- Invejosa!

- Sem cérebro!

- Babaca!

- Nojenta!

- Arrogante!

- Sem estilo!

- Como...? – enfureceu-se ela.

Dei um sorriso vitorioso. Há há, eu sabia que Rey se achava A estilosa. Ofender o seu jeito de se vestir era como uma facada em sua barriga.

- Retire o que disse – pronunciou, cerrando os olhos. Olhei-a com sarcasmo.

- Não.

- Sua ruiva falsificada! Só por eu sou muito mais sexy e feminina que você, sua machona!

- O que você acabou de falar? – uma veia saltou de minha testa, fazendo-a sorrir.

- O que foi? Ficou com raiva? É a pura verdade, é por isso que você não tem namorado – ela piscou para mim.

- Sua vagaba dos infernos – dei um passo a frente – Você pode não saber, mas eu tenho um namorado sim! – gritei sem pensar, ainda envolvida com a raiva. Não que a parte de ter um namorado fosse verdade... ou talvez não completamente. Eu acho.

- Namorado, é...? – ela sorriu maliciosamente, com um ar assustador. Senti um arrepio na nuca e logo depois certo arrependimento de ter dito aquilo. Seu olhar me ameaçou. Engoli em seco.

Mal sabia eu o que me esperava...

**

- Maldito – soltei entre dentes, fazendo de tudo para empurrá-lo para dentro daquela sala. Nós estávamos na frente do depósito escolar, uma sala escura cheia de caixas de papelão e esfregões sujos. Eu empurrava seu peito para que ele andasse para trás e entrasse na sala. 

- Sei que você usa a raiva para expressar seu amor ardente por mim, não adianta negar. – Sieghart me olhou com um leve toque de sedução – Sei que sou sexy.

- Exibido isso sim.

- A verdade é sempre a verdade, não é?

Empurrei-o com mais força. Eu tinha que escondê-lo a qualquer custo antes que ela o visse.

- Entre aí agora!

- Está tentando esconder meu rostinho lindo das outras garotas ou tem planos para nós dois nesse lugarzinho apertado aqui? – ele apontou com o dedo para trás, mas logo depois seu olhar ficou malicioso – Ou será que só está aproveitando essa oportunidade para tocar em meu corpo sarado? – Sieghart olhou para minhas mãos com uma expressão provocadora. Acompanhei seu olhar, percebendo seus músculos em minhas palmas.

- I-I-idiota! – cambaleei para trás, corando enquanto puxava rapidamente meus braços. Ele riu superiormente. Como ele era irritante... Fuzilei-o com o olhar – Você é tão...

- Lindo, atraente, perfeito? – propôs ele.

- SIM! – arregalei meus olhos. Não, não havia sido eu ao falar. Olhei para o lugar de onde a voz saiu, assim como Sieghart. Sua expressão surpresa só não ganhava da minha – Você é divino – falou Rey, olhando-o de cima a baixo.

Uma veia pulsou em minha testa. Droga! Ela o encontrara. Seu olhar continuou a percorrer partes mais baixas do moreno de forma pervertida, o que o fez olhar para ela desconfiadamente. Meu punho tremeu de raiva. Peguei a manga de sua camisa, a qual chegava até o pulso, e o puxei para o lado contrário do de Rey.

- Te proíbo de chegar perto dessa aí, ouviu escravo? – vociferei, em um tom baixo, mas ameaçador. Ouvi o riso de Sieghart atrás de mim.

- Escravo? – ele ergueu uma sobrancelha.

- Proíbo – repeti, apressando o passo.

- Elesis, minha amiga! – Rey correu até mim. Ah meu Deus... – Acho que o seu caminho é para o outro lado, não é? – ela sorriu maliciosamente, apontando para o concurso de espadachins que acontecia ali, mas eu sabia que ela não apontava exatamente para isso, e sim para um garoto de cabelos cor de vinho que competia lá.

Dio era amigo de Rey, ela o convidara para o evento que acontecia em nossa escola. Sieghart cerrou as pálpebras quando seu olhar e o de Dio se cruzaram, mas ele apenas girou os olhos, ignorando.

- Vagaba nojenta. – resmunguei, quase a matando com o olhar. Ela sorriu para mim e puxou meu pulso.

- E os combates estão ficando mais acirrados! – falou uma voz metálica vinda de um microfone.

- Vamos, ou prefere deixar seu namorado entediado? – ela apontou para Sieghart, olhando maliciosamente de mim para ele. Meus olhos se arregalaram quando ela pronunciou essas palavras, assim como meu coração explodiu dentro de meu peito.

Ah não! AH NÃO! AH NÃO! AH NÃÃÃOOO! NÃO acredito que ela falou isso NA FRENTE de Sieghart!

Corei, soltando a manga do mesmo. Ele olhou para mim, esperando que eu negasse como sempre, dizendo que não havia nada entre nós, mas esse era o caso em que eu não podia fazer isso... Não na frente dela. AAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHH!! PORCARIAAAA!!

Cobri minha boca com as costas de minhas mãos, tentando esconder de todo modo possível a minha vermelhidão.

- E o vencedor é Tyson! – anunciou novamente a mesma voz distante.

- V-Vamos então... – gaguejei, andando para a arena rapidamente. Sieghart ergueu uma de suas sobrancelhas, satisfeito, e andou até mim.

Sim, ele havia notado que eu não negara, ou seja, afirmei que estava namorando com ele. Sieghart deveria está rindo muito por dentro. Imaginei todas as formas possíveis de como ele poderia me irritar para o resto da vida com isso.

- Competidores, apareçam na arena agora. Repetindo, competidores...

- Então você me apresentou para ela como seu namorado ou foi só especulação? – segurei um grito quando senti seus braços possessivos em minha cintura. Seu murmuro foi baixinho em meu ouvido, mas seu sorriso travesso era evidente.

- S-Segunda opção, seu idiota – sussurrei de volta.

- Hm... Então você admite nosso namoro, ruivinha? – eu podia imaginar o sorriso provocante em seus lábios, me irritando com malícia.

- Eu falei segunda opção!

- E agora, escolheremos a próxima jovem em perigo...

Ele riu.

- Mentira, porque se fosse a segunda você negaria naquela hora. – olhei para o chão, rubra como a cor de meus olhos. Sua voz ecoava de tal forma em meus pensamentos que me fizera estremecer levemente.

- Maldito. – disse eu.

- Elesis!

E, de uma hora para outra, todos os olhares estavam sobre nós, junto com a câmera que transmitia a imagem para um telão, alvo de toda a atenção. Arregalei meus olhos, sentindo a vergonha me inundar quando me vi abraçada com Sieghart na frente de todos naquela tela. Tentei-o tirar de lá no mesmo segundo, mas ele apenas riu, me soltando.

Meus olhos percorreram toda a multidão que ria do nosso “flagra”, e pararam na menina com cabelos rosados postada ao lado no cara que falava no microfone. Ela ria, mas seu olhar desafiador me dizia que havia sido ela ao me indicar para aquela brincadeira idiota. Como se fosse a nova apresentadora, ela puxou o microfone para sua boca, falando de forma exibida e sorridente.

- E o vencedor ganhará o beijo da donzela. Está lá nas regras, não se esqueçam de olhar – Rey piscou para o público que aplaudia agora. Até os garotos que usavam uma armadura de batalha negra, lembrando a de um justiceiro, aplaudiam. Uma veia pulsou de minha testa, aquela idiota... Eu sabia que ela estava armando alguma...

Olhei rapidamente para o relógio, xingando alto. Eram onze e meia, eu só tinha meia hora. Logo uma tez de preocupação inundou meu rosto.

Olhei Dio ajeitando a roupa de justiceiro em seu corpo. Então ele também ia participar?

(  http://www.youtube.com/watch?v=kQ-htB7Q3tY  )

- Até parece que esses magricelos vão ganhar – Sieghart bufou, entrelaçando minhas mãos enquanto me puxava para a arena. Seu movimento era determinado.

- Vo-você vai participar? – perguntei incrédula, mas ele não me olhava. Um sorriso sanguinário brincou em seus lábios, respondendo minha pergunta.

**

Eu estava fantasiada de fada e em cima de uma torre de plástico – lá no alto. Uma veia saltou de minha cabeça. Sieghart usava aquela roupa obrigatória de justiceiro, que o deixava perigosamente mais atraente. 

- Posicionem-se rapazes! – gritou o juiz. Um sorriso assustador firmou-se nos lábios do moreno.

- Prepare-se para morrer. – disse Dio com os lábios.

- Comecem!

Sieghart tirou sua espada de madeira no mesmo segundo que Dio, fazendo um barulho mais alto do que deveria quando elas se chocaram no ar. Havia mais seis garotos na arena tirando os dois.

Com um rápido movimento Sieghart pulou para trás, jogando a espada horizontalmente na barriga do oponente, mas o mesmo se defendeu com outro golpe, esboçando um sorriso.

Apesar do sorriso irônico de Sieghart, era perceptível que ele levava mais a sério aquilo. Dio puxou sua espada, somente para depois avançá-la diretamente no corpo do inimigo, mas Sieghart simplesmente colocou a arma no meio do golpe, girando-a no ar e se aproximando de Dio.

- Eu digo o mesmo para você. – zombou Sieghart, empurrando o garoto como se fosse algum objeto sem valor.

Uma distância de dois passos os separava, mas como um vulto negro, eles se aproximaram novamente. Seus movimentos eram ágeis e rápidos, com a batida das madeiras forte e violenta, chegando a reproduzir um som altamente pesado. Alguém do outro lado do campo voou para cima de Sieghart, mas o mesmo defendeu-se, jogando o intruso para fora da arena e voltando a defender como raios violentos os golpes do inimigo principal.

Os dois lutaram por alguns minutos, até serem os últimos no campo de batalha.

Um sorriso apareceu em meu rosto quando Sieghart fez Dio cair de costas no chão, mas eu o reprimi mordendo o lábio inferior, o que não ajudou muito. O moreno colocou a espada no pescoço do oponente, sorrindo de uma forma vitoriosa.

- E temos um vencedor – anunciou o juiz, ajudando Dio a se levantar. Sieghart virou-se para mim, me mandando um beijo no ar junto com um piscar romântico de olho. Virei rapidamente, enrubescendo.

Mas logo eu me lembrei do horário. Virei o olhar para Rey, que me observava com um sorriso enquanto apontou para seu próprio relógio. Eram 11:59. A qualquer segundo dariam 12:00h.

Corri pelas escadas daquela plataforma loucamente, puxando o maldito vestido para não tropeçar. Os três corpos estavam ali reunidos, passei rapidamente pelo juiz, ficando de frente para Dio e Sieghart.

- Elesis – disse Dio com uma voz maliciosa. Desviei o olhar dele.

- Sieghart, eu juro que lhe explico depois. Desculpe-me por isso, me perdoe. – implorei desesperadamente, o mais rápido possível. – Por favor, acredite em mim.

Ele me olhou de forma confusa, mas eu virei o olhar antes. Virei-me para Dio, me aproximando de forma ousada. Peguei o rosto do garoto em mãos, ficando na ponta dos pés enquanto me aproximava seu rosto do meu. Ele ficou imóvel, assim como Sieghart. Eu podia sentir a tensão em seus músculos e a confusão em seu olhar. Mas eu precisava fazer aquilo, ou se não... Engoli em seco. 

Isso iria doer... mas eu não tinha certeza se era mais em mim...