The Deaths Child escrita por MollySaven, JPerkinson


Capítulo 7
7.




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- Ai que nojo! – Jenna falava lentamente,enfatizando cada palavra.

- É só um túnel escuro,úmido e mofado.Nada de mais. – Respondi enquanto descia os degraus,com cuidado para não deixar minha mala cair.

- Pra que você trouxe isso afinal? – Ethan reclamou,logo atrás de mim.

- Quero pegar umas outras roupas lá em casa.

- Bela casa,a sua. – Jenna comentou após tirar um pedaço de musgo dos ombros.

- Obrigada. – fingi não perceber sua ironia.

- Quanto falta? – Jesse perguntou,parecendo exausto.

- Só mais alguns degraus.

Ouvi alguém tossindo perto de mim.

- Tudo bem,Ethan?

- Eu que ia te perguntar.Você tossiu bem alto.

- Eu não tossi.

- Então quem tossiu?

Mais um acesso de tosse.Depois de procurar um pouco por seu dono,percebi que quem tossia era minha mala.

- É bom que essa seja uma mala mágica infectada por algo contagioso e mortal e não o que eu estou pensando... – Agachei-me e abri a mala,de onde saiu um pequeno anjo. – Mike,o que você faz aqui?!

- Eu te segui.

- Era uma pergunta retórica!

- Retórica? – ele perguntou,inocentemente.Coloquei a cabeça entre minhas mãos.

- E agora? – perguntei mais pra mim mesma do que pra qualquer um.

- Posso cuidar dele enquanto você fala com seu pai. – Jenna se ofereceu.Obviamente,ela não tinha o menor interesse em cuidar de Mike,e sim estava morrendo de medo do meu amado progenitor.

- Ótimo.Mas não vou te deixar voltar pro Central Park. – pude senti-la desanimar.Mike lutava para não tropeçar nos degraus.Levantei-o e coloquei-o em meus ombros. – Cuidado com a cabeça.

- Esta bem – eu não conseguia vê-lo,mas tinha certeza de que sorria.

- Molly...mortais podem entrar no Mundo Inferior? – Ethan permanecia calmo,mesmo não gostando de nosso destino.

- Não.A Nevoa para tornar tudo ali parecer normal seria tão forte que mataria qualquer um.Mas... – tapei os ouvidos de Mike – acho que ele não é um mortal.

- Como assim?

- Um mortal já teria morrido.Talvez um mortal que veja através da nevoa não,mas o garoto não é filho do Walter,o que me faz suspeitar...

- Como sabe que ele não é filho do Walter?

- A covinha no queixo.Para possuir uma covinha,pelo menos um de seus pais tem que ter uma também.Nem minha mãe nem Walter tem covinhas no queixo.É genética.Isso significa que minha mãe é pior do que eu pensava.E isso não me surpreende.Mas,no momento,não importa se ele é meio-sangue ou não.

- O que vamos fazer com ele?

- Ele vai com a gente.

- Por que?A casa da sua mãe não fica tão longe daqui,e ele pode morrer.

- Não exatamente.A profecia diz “voltar a ver o velocino e seu pinheiro”.Mike nunca viu nem o velocino nem o pinheiro.

- Ta,ta,mas por que você quer levá-lo?

- Muitos motivos.Primeiro, ele pode ser útil.Segundo,ele viveu seis anos sem eu irritá-lo nenhuma vez!Preciso recuperar o tempo perdido.Terceiro,ele é um fracote!Precisa crescer um pouco,a vida de meio-sangue não é fácil.E estamos com integrante a menos,não?E se ele for o bendito quinto integrante?

- Mas a sua mãe vai...

- Quarto,minha mãe merece.Quero que ela surte.Mais um filho dela sumiu,vamos ver se pra esse ela liga.

- Ah,agora eu entendi o verdadeiro motivo.Muito maduro da sua parte.

- Obrigada – sorri pra ele – Foi necessário um enorme esforço pra não ter pichado as paredes da casa dela,o que não seria nada maduro...

Finalmente chegamos ao fim do túnel.Senti o cheiro de mofo e morte ainda sorrindo.Cheiro de lar.Cérbero me aguardava ali.

- Ceb,querido,não era pra você estar trabalhando? – suas três cabeças se inclinaram – Tirou uma folga?Ótimo.Cuida disso pra mim?

Os três cachorros latiram em uníssono.Joguei Mike em cima da cabeça central,e este escorregou até seu dorso.Afaguei suas testas.

- Lindo,lindo,muito obrigada.Vamos,pessoal? – Assoviei o mais alto que pude.Em segundos,as Fúrias apareceram,voando baixo. – No já,todo mundo pula.Já!

Ainda sorria,feliz por estar de volta ao lugar ao qual eu pertencia.

Passamos em frente ao lugar aonde era o palácio de meu pai.Ele com certeza havia feito uma reforma.O castelo parecia saído de alguma cidade inglesa durante a idade media.Os tijolos de pedra eram extremamente escuros,e algo neles se movia,como se um pano transparente os envolvesse,balançando sem parar.Pareciam sussurrar palavras inteligíveis repletas de pavor.Eu já tinha visto aquilo antes.Almas aprisionadas,uma em cada tijolo.Era uma forma de punição,ter sua alma presa a um objeto.

Pelas janelas se viam vistosas cortinas vermelhas e chamativas que chacoalhavam com a forte brisa.No Mundo Inferior não havia vento.Eram almas novamente.

Um enorme tapete igualmente vermelho se estendia da porta,atravessando todo o belíssimo jardim – o jardim de Perséfone – e acabando num portão de metal que se localizava a pouco menos de meio metro de mim.Pude perceber figuras semitransparentes movendo-se pela tapeçaria.Percebi que almas era o tema decorativo da vez.Com certeza era melhor do que o anterior,quando Perséfone convenceu meu pai a usar rosas como tema.O deus da morte não fica muito bem cheirando a flores.Meu sorriso aumentou ao me lembrar de meu pai,serio,todo de preto, e em seu cabelo uma linda rosa escarlate.

As Fúrias nos deixaram em frente ao palácio,no jardim.Fiz questão de pousar num canteiro de flores.

Alguns guerreiros-esqueleto seguraram meus braços e agarraram meu pequeno grupo.Não sabiam quem eu era.Resolvi que deveria passar um pouco de autoridade.

Respirei fundo,concentrando-me na morte.Pude sentir as chamas surgindo em meus olhos.Pisquei e todos os soldados subnutridos que me tocavam entraram em combustão espontânea.Em um rápido instante,já eram cinzas.Por algum misterioso motivo,os guerreiros recuaram.Vá saber por que.

Encarei todos a minha volta.Pareciam aterrorizados.Dei de ombros e atravessei o jardim.Almas gritaram de agonia quando toquei a maçaneta.Abri a porta num único e rápido movimento,e me deparei com o hall de entrada.Segui em frente até encontrar a familiar escada em espiral.Subi,sem sequer olhar para trás para ver se me acompanhavam.

Joguei-me no sofá de pedra não muito confortável e logo ouvi.

- Quem ousa entrar no castelo do poderoso Hades?

- Poderoso Hades?Metido,hein,papai?

- Ah,Molly – ele não parecia surpreso – precisamos conversar.

- Sem duvida,precisamos.

O que eu mais gostava em meu pai eram seus olhos.Eram totalmente negros,impossível diferenciar a íris da pupila e,se você observasse por mais que cinco segundos – coisa que muito poucos tinham a chance de fazer - ,você podia realmente ver e sentir a morte,como calafrios e pelos arrepiados,maus pressentimentos e coisas do tipo.

Ele usava seu manto preferido,preto com detalhes cinzas de pessoas morrendo,como se suas almas estivessem lá,aprisionadas,embora na verdade não estivessem.As almas em objetos gritam quando tocadas.Papai tentara usar um casaco com almas de verdade,mas elas faziam tanto barulho que ele as obrigou a servirem de piso do banheiro.

Subitamente,notei que ao seu lado uma mulher usando um vestido florido me encarava com os olhos sérios,porem cansados.

- Perséfone – pensei alto – Então,pai,sobre o que quer falar primeiro?Como esta orgulhoso de mim por não ter matado Nico?Ou sobre como esta feliz com a minha presença?

- Na verdade...não. – ele falava com a voz seria,mas eu podia ver o divertimento em seus olhos – Mas com certeza deve ter sido difícil pra você não matar Nico e, em parte,eu estou orgulhoso.

Eu sempre fora a favorita.Nico era um garoto correto e bonzinho de mais para conquistar o afeto do senhor dos mortos.

- Foi um grande sacrifício.

- Com certeza foi.

- Mas eu sinceramente preciso falar de assuntos particulares a sós com você, pai. – Olhei para Perséfone,que fez uma discreta careta e retirou-se da sala. – Você poderia,por favor,me explicar o que exatamente esta acontecendo?

- Que linda,pedindo por favor.Então,filha,estamos tendo um pequeno probleminha.O Mundo Inferior esta sob ataque.

- Ataque de quem?

- Não tenho idéia.Mas algo,sem duvida,esta tentando nos destruir.Eu posso sentir esse lugar enfraquecendo,monstros e monstros se desintegrando,mas isso não tem importância.Você deu uma olhada no Estíge no caminho até aqui?

- Não,nem prestei atenção.

- O Estíge esta secando. – Ele falou,usando um soturno tom de voz e fazendo uma longa pausa dramática.

- Como?

- Tem alguém atingindo esse lugar.O Mundo Inferior está diretamente ligado ao rio Estíge.E eu estou diretamente ligado ao Mundo Inferior,ou seja...

Meus olhos se arregalaram automaticamente.Senti meu rosto empalidecer.Era impossível – Deuses não...

- Não morrem.Mas podem ser reduzido a simplesmente espíritos vagantes e sem poder nenhum.Ou,talvez,a pedacinhos de deus no fundo d’O Tártaro.E eu não gostaria muito de que nada assim acontecesse...

- Mas...Como alguém consegue atacar o Mundo Inferior dessa forma?

 - Ele esta nos usando como tomada.Puxando a energia daqui pra alguma coisa.Não é algo muito difícil de ser feito,mas exige vastos conhecimentos das trevas e alguns objetos em especial,com,por exemplo,uma de minhas chaves.

- Ele pegou uma das chaves? – A historia era cada vez mais surpreendente.

- É.Bem,o nosso sistema de segurança nunca foi dos melhores,ninguém ousaria roubar Hades...Mais isso não importa.O Mundo Inferior não é pouca coisa,de forma alguma.Ele esta usando esse lugar pra alguma coisa grande e poderosa.Algo que com certeza teria a capacidade de dominar o que ele quisesse.O Olimpio cairia,os mortais cairiam,os titãs...

- Mas nós cairíamos primeiro,certo?

- É.

- Quanto tempo até o rio secar?

- Ele não vai conseguir esgotar toda a nossa energia em menos de seis dias.

- Seis dias?Seis dias!Você acha mesmo que eu vou conseguir encontrar alguém que eu nem sei quem é,mas tem poder pra dominar o mundo,em seis dias?

- Seria uma semana,se você tivesse saído quando te mandei sair.Você tem que conseguir...

- Ah,claro.É tão simples,é só ir até a esquina,agarrar o primeiro cara que aparecer e pronto,é o nosso inimigo!Pai,não da pra capturar o inimigo se nem sequer sabemos quem é!Onde ele pode estar?

- O Mundo Inferior se estende pelo subsolo de todo o pais.Ele pode estar em qualquer lugar.

- Ah,que útil.Qualquer lugar,qualquer um.Realmente,facilitou tudo.O que me lembra,por que você pediu pra eu sair antes de encontrar o maldito quinto cara?

- Você precisava sair rápido.Soube da sua profecia,se existe mesmo um quinto integrante,ele vai encontrar vocês alguma hora.O oráculo vai fazer com que encontre.

Suspirei.Ah,como eu odiava o maldito oráculo Dare - Por que você não manda Nico?

- Nico já contribuiu com sua parte.É hora de você contribuir com a sua.

- Nico já contribuiu com sua parte?NICO JÁ CONTRIBUIU COM SUA PARTE?A única coisa que ele fez foi pedir pra você lutar!E isso foi há seis anos!E a minha parte é salvar o M.I. inteiro?! Só pode ser brincadeira...

- Você não tem escolha.

- Na verdade...

- Não,você não tem escolha.

- O que eu ganho salvando sua pele,papaizinho?

- Nada,mas se ele dominar mesmo o mundo...

- Foi o que eu pensei.Vou pegar minhas coisas. – Sai pisando firme e entrei num longo corredor.Não ouvi os passos de minha trupe atrás de mim,então virei na direção que levava ao meu quarto.

Tudo se encontrava exatamente da mesma forma na qual eu havia deixado.A moderna cama de vidro e bronze celestial com os cobertores brancos levemente bagunçados,meu laptop jogado sobre eles,ligado.O som estéreo conectado a meu mp3 no modo “pause”,a televisão passando algum episodio qualquer de The Big Bang Theory.O armário de vidro aberto,as paredes púrpura quase totalmente cobertas por posteis de bandas mal colados e quadros abstratos propositalmente tortos.Tive vontade de abraçar aquele lugar.Como era de se esperar,meu pai se sentava ao lado do computador.Ser um deus devia ser bem legal.

- Você tem que ir.Nico não conseguiria,mas você pode conseguir.

- Eu estava realmente esperando ouvir isso – sorri – Quer dizer que eu fui escolhida pra missão porque...sou melhor que Nico?

Ele sorriu de volta. – Se eu disser que sim,você vai?

- Vou pensar no seu caso.

- Sim,você é muito melhor que Nico.

- Conte comigo,papai.

Ele desapareceu.
Puxei as gavetas do armário aberto e peguei algumas blusas e fui jogando-as sem dobrar dentro da mala.Continuei até sobrar apenas uma única camiseta.Segurei-a entre meus dedos.Era de um laranja vivo,como o cabelo de Ethan,com “Acampamento Meio-Sangue” escrito em chamativas letras garrafais.Nunca chegara a usá-la.Guardei-a novamente e literalmente enfiei a mão num mar de roupa suja que eu me recusava a lavar,até encontrar um pequeno apontador a laser.

Suspirei ao deixar meu quarto.No corredor,esbarrei em Jesse.

- Olhe por onde anda,seu bastardo filho de uma péssima pessoa – talvez “péssima pessoa” não tenha sido realmente a expressão que usei.Com certeza era com P.

- Molly... – Começou Ethan num tom extremamente paternal.

- Esta bem,eu vou me controlar.Nossa estadia aqui esta terminada,não temos tempo a perder.Falando em bastardos – assoviei – Ceb!

O grande cachorro de três cabeças surgiu automaticamente,o garotinho loiro em seu dorso.

- Ei,coisa,o que você esta vendo?

- Um cachorro de – ele parou e contou com os dedos – três cabeças.Bem bonito.

- É mesmo.Bem bonito. – Eu disse em grego.Voltei a falar normalmente – O que você ouviu,Mike?

- Algo sobre bonito – ele coçou a cabeça,confuso.Eu teria mesmo de fazer o teste.Não era difícil,só cansativo.Senti sua aura.Eu estava certa.

- Conhece mitologia grega,pirralho?

- Aquele negocio com monstros grandes e malvados?

- Mais ou menos isso.

- Conheço.

- Bom saber – volte-me para Ethan – Papai disse que temos de voltar para nossa busca ao desconhecido.

- Ele te explicou alguma coisa?

- Te conto depois. – coloquei minha mão sobre a enorme corrente de ferro estigeo que balançava sobre o pescoço da terceira cabeça e me joguei sobre o dorso do enorme cachorro. – Para o meu carro,Ceb!Ele esta no estacionamento do Central Park! – gritei ao vislumbrar a expressão confusa de Ethan.

Os olhos azuis de Mike se arregalaram enquanto o cachorro se misturava com as sombras.


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Notas finais do capítulo

A partir de hoje,postaremos um novo capitulo toda quinta feira.