BELLA 

Não sobra muito para se ter esperança quando se perde alguém importante. Eu perdi Jake de uma maneira irremediável. Talvez fosse verdade a idéia de que nós não nascemos para dar certo, talvez aquela seja uma história a parte em nossas vidas quem nem deveria ter acontecido. A verdade é que aconteceu, e bem ou mal eu tinha que lidar com as conseqüências de cada decisão errada.

Ele saiu da minha vida pela porta da frente, nobre e leal como sempre foi, mesmo que eu soubesse que ele tinha todo o direito de ter me humilhado. Eu não o culpo por ter me traído com aquela enfermeira, afinal nós nos traímos de maneira variadas. Eu por nunca ter amado ele com toda dedicação que ele merecia, ele por não ter tido um pouco mais de fé em mim.

Nesta história onde eu e Jake éramos o trágico casal fadado a infelicidade, Edward surgiu como a centelha da discórdia. Talvez Shakespeare estivesse prevendo o meu futuro quando escreveu Otelo. Jake era o mouro, eu era Desdêmona e Edward era o terrível Iago entre nós, semeando a desconfiança. Mas eu nunca fui tão virtuosa quanto à heroína da peça. Ela era inocente, eu não.

Edward havia armado o palco para sua encenação no momento em que me levou para aquela viagem. Eu, estúpida como era, me dei um motivo para não cair na tentação de ceder a uma inegável atração que eu sentia por ele. Suspendi os anticoncepcionais durante a viagem, isso me manteria determinada a não ir pra cama com ele. Mesmo sendo algo idiota, funcionou. No entanto, eu havia me esquecido do quão poderoso pode ser um beijo.

Eu me deixei levar por palavras cínicas e absurdamente plausíveis. Eu me permiti por um momento cair naquela teia tentadora que ele tecia com tanta habilidade. Eu quis dar a ele a chance de me mostrar à magia daquele mundo sedutor em que ele vivia. E inevitavelmente eu me apaixonei de uma maneira irresponsável, me lembrando apenas vagamente do quão iludida eu poderia ser.

Terminar com Jake foi um abalo sísmico na minha vida, que me lançou contra Edward numa fúria incalculável. Ter ido ao Cullen Plaza, determinada a feri-lo foi talvez a maneira inconsciente que eu encontrei para fazer cumprir o que Jake havia dito que eu faria. Naquela noite uma parte de mim só conseguia pensar no meu ex melhor amigo e namorado, que eu simplesmente adorava, enquanto a outra parte ansiava por Edward furiosamente, incontrolável e egoísta.

Uma noite levou a outra e mais outra. Edward estava saindo vitorioso, exatamente como Jake previu. Com um pequeno detalhe, havia ainda uma parte no meu coração que estava guardada, lacrada a novos amores, porque inevitavelmente eu amava Jacob. Doía admitir, mas eu amava ele quase como uma necessidade física, como respirar.

"Tudo o que posso ser para você

É aquela escuridão que já conhecemos

Com esse arrependimento me acostumei

Era tudo ótimo quando estávamos no auge

Eu esperava por você no hotel toda noite

Eu sabia que não tinha o par ideal

Mas a gente se via sempre que podia

Não sei por que me apeguei tanto

A responsabilidade é minha

Você não me deve nada

Mas não sou capaz de ir embora"

As coisas com Edward iam bem, sempre cercadas de um ar de clandestinidade para que eu continuasse sendo respeitada no emprego e também para não dar a Jake mais este desgosto de saber que estava certo. Era emocionante, mas também claustrofóbico viver daquele jeito e eu já não tinha mais como pular fora do barco.

Alice e Esme estavam sempre bem atentas a mim. Por algum motivo que eu não compreendia elas acreditavam piamente que havia mais entre eu e Edward do que simples atração. Elas estavam empenhadas em fazer aquela relação durar, mais ainda em me incluir em ocasiões restritas a família. É como dizem, você nunca casa apenas com um homem (ou tem uma relação, como no meu caso), você casa com a família inteira. Quisera eu saber realmente o que era viver sobre o peso do nome Cullen com um pouco mais de antecedência.

Fui afundando em tudo aquilo lentamente, como se estivesse sendo tragada por areia movediça, sempre dizendo para mim mesma que eu poderia sair daquilo a qualquer momento, mesmo sentindo que aquilo era mentira. Foi então que as coisas ficaram mais definitivas do que eu jamais esperei.

Primeiro vieram os enjôos, depois a tontura. A principio pensei que estava doente e fui fazer exames no mesmo hospital onde Billy estava internado, ainda lutando para se manter vivo. No dia em que fui buscar os exames aquela mesma enfermeira, agora namorada de Jacob, veio até mim traze-los. Me senti insultada por aquilo, só entendi o porque quando me dei conta de que havia um exame de gravidez entre os outros.

Ela me levou a uma sala reservada, me ofereceu uma cadeira e se sentou em outra. Nessie me encarava com um ar de serenidade meticulosamente ensaiada. Senti minha privacidade ser invadida de maneira bruta e descuidada. Ela não podia estar pensando que eu contaria a ela o que estava naquele envelope, seja lá o que fosse.

- Se não se importa, este é um assunto particular que não lhe diz respeito. – eu disparei contra ela com toda falta de educação que meus pais não me deram. Ela apenas sorriu calmamente para mim, me fazendo ter vergonha do meu comportamento.

- Se não percebeu, dependendo do resultado deste exame, ele pode influenciar diretamente na minha vida. – a voz dela era calma e controlada, quase maternal – Não espero que confie em mim, Bella. Mas acho que se meu namorado vai ter um filho com outra garota, eu tenho o direito de saber isso e me preparar da melhor maneira possível.

- Seu namorado não vai ter um filho. – eu a cortei imediatamente e ela me encarou desconfiada – Jacob e eu sempre fomos cuidadosos, muito, pra ser mais exata.

- E isso não acontece com Edward? – ela questionou ligeiramente surpresa. Eu encolhi os ombros.

- Costuma acontecer, mas houve uma vez... – respirei fundo – A primeira vez, pra ser mais exata. Ele me pegou de surpresa, eu não havia tomado pílula tão pouco ele se lembrou de tomar precauções.

- Você não tomou nenhuma providencia quanto a isso? – ela me olhava como se fosse minha mãe passando um sermão.

- Teria tomado, se não estivesse amarrada e vendada. – os olhos dela se arregalaram.

- Uou! – ela exclamou – Eu não imaginava que ele fosse tão criativo. – aquilo pareceu dar idéias a ela, mas logo ela retomou o foco – Você deveria abrir isso. – ela apontou para o envelope e segurou minha mão em seguida – Talvez não sejamos amigas, mas nos importamos com uma mesma pessoa. Você é parte da vida dele, inevitavelmente, e isso pode ser difícil pra você. Algumas mulheres gostam de ter alguém por perto nessa hora. – era fácil entender porque ele havia se apaixonado por ela.

- Não precisa fazer isso, Nessie. – eu disse enquanto meus dedos rompiam o lacre do envelope.

- Eu quero fazer isso por você, Bella. – ela sorriu pra mim, me encorajando – O que diz ai? – eu passei os olhos pelo papel. Um gosto amargo inundou minha boca e minhas pernas ficaram fracas, imagino que tenha ficado terrivelmente pálida também. – Não precisa dizer nada, sua cara já me contou. – ela disse – O que pretende fazer agora?

- Tenho três opções. – eu disse logo após recuperar o fôlego – Conto a ele e supondo que ele fique absurdamente feliz com a idéia nós nos casamos, essa é a opção mais apavorante, é claro. – ela riu diante do meu comentário – Na segunda opção, eu também conto pra ele, mas ele não fica nada satisfeito e eu sumo de Nova York, voltando pra Froks. Na terceira opção, eu volto pra Forks sem contar pra ele e tenho meu filho lá.

- Bella, independente da reação dele, acho que você deve contar. – ela disse calmamente – E se por um acaso precisar de alguém pra te ajudar, ou cuidar de você, pode contar comigo. Aproveito e ofereço minha casa também.

- Acho que Jacob, não vai gostar da idéia. – ela balançou a cabeça negativamente.

- Ele sente sua falta, Bella. – ela disse como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo – O que aconteceu nunca vai mudar, o que vocês sente também não, mas é assim que as coisas são. Temos de lidar com isso da melhor maneira possível. Além do mais a casa é minha também, eu tenho o direito de levar você pra lá se eu quiser.

- Você não tem medo dele ter uma recaída? – eu olhei pra ela e ela pareceu refletir.

- Eu não gostaria que acontecesse, ficaria arrasada, mas se tiver que acontecer simplesmente vai. – ela disse tudo com tanta simplicidade que eu me senti constrangida – Mas não se preocupe com isso, eu confio nos meus atrativos mais do que você pensa. – aquilo foi um alerta bem claro de que ela lutaria, mesmo querendo se tornar minha amiga.

- Acho que é melhor eu ir. – me levantei e fui até a porta – Até mais, Nessie.

- Até, Bella. – ela disse sorrindo – Boa sorte.

Conversar com Nessie só serviu para me mostrar o quanto eu não fazia falta na vida dele. Diante de tantas reviravoltas, agora eu temia perder esse jogo insano e não ter nem mesmo o consolo do ombro amigo de Jake. Agora eu tinha que me cuidar sozinha, sem amigo, sem irmão, sem ninguém para me amparar. Mesmo lutando contra isso, não pude evitar as lágrimas.

"Quando ele vai embora,

O sol se põe,

Ele leva o dia embora,

Mas sou crescidinha,

E do seu jeito,

Neste tom azul

As minhas lágrimas secam sozinhas"

Fui até o Cullen Plaza, Edward já estava me esperando na esperança de mais uma das nossas noites. Eu subi pelo elevador privativo que ele normalmente usava. Senti o estomago revirar e as mãos suarem. Minha vida seria definida nas próximas horas.

Ele já estava me esperando na porta da suíte de luxo, usando apenas um roupão de banho. Os cabelos estavam molhados e caindo sobre os olhos displicentemente, encobrindo o tom vibrante de verde. Ele me puxou para um abraço e me beijou, diferente das outras vezes eu não correspondi com tanto entusiasmo.

Entramos no quarto, nos acariciando e provocando como sempre. Quando as coisas começaram a ficar mais insinuantes eu o afastei. Ele me encarou confuso por um momento. Eu me sentei na beirada da cama e afundei meu rosto nas mãos.

- Está tudo bem, Bella? – ele agachou do meu lado e colocou a mão no meu ombro – Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu sim. – eu disse meio vagamente.

- Por que não me conta? – ele levantou meu rosto para que eu o olhasse diretamente nos olhos. Pensei por um minuto em como eu diria o que estava acontecendo. Respirei fundo.

- Os enjôos, a tontura, a queda de pressão. – eu enumerei os sintomas, analisando o efeito na expressão dele.

- Você está doente? – ele me encarou com genuína preocupação. Era a hora.

- Não, Edward. – respirei fundo – Eu estou grávida. – puxei o envelope de dentro da bolsa e estendi a ele. Ele pegou o papel, como se não entendesse o que eu estava dizendo. Ele leu rapidamente e me encarou.

- Este filho que você está carregando... – ele respirou fundo – Ele é meu? – eu estava preparada para esse tipo de pergunta, mas ouvi-la saindo da boca dele doeu mais do que eu imaginava.

- Sim, é seu. – eu afirmei categórica – E antes que você pense na hipótese dele ser do Jake eu já digo que eu e ele nunca fizemos nada sem os devidos cuidados. Já não se pode dizer o mesmo de nós dois, principalmente no que diz respeito à nossa primeira vez. – eu me levantei e ele fez o mesmo. Passei a mão pelos cabelos, desarrumando-os – Eu entendo que já tenha passado por situações similares e que não queira ser enganado. Se for este o caso, eu aceito fazer o exame de DNA quando a criança nascer sem problema nenhum. – peguei minha bolsa e caminhei em direção a porta. Senti Edward segurar meu braço com força.

- Onde pensa que vai, Bella? – a voz dele estava ríspida.

- Pra minha casa. – eu respondi com calma – Conversamos sobre isso depois, mas eu preciso descansar agora.

- Você não vai pro Brookly! – ele falou autoritário, de uma maneira que eu nunca tinha visto. Me livrei da mão dele e o encarei decidida.

- Infelizmente esta é uma questão sobre a qual você não tem poder. – abri a porta – Até mais, Edward.

"Eu não entendo por que estresso um homem

Quando há coisas tão mais importantes

Poderíamos não ter tido nada

Tínhamos que bater num muro

Por isso o afastamento é inevitável

Mesmo se eu deixasse de querer você

Uma perspectiva verdadeira

Eu serei a mulher de outro cara em breve

Eu não deveria cair nessa de novo

Eu tinha que ser a minha melhor amiga

E não ficar louca por causa de caras idiotas"