Night escrita por bionicrevenge


Capítulo 1
The Night Is Calling




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Tudo aconteceu numa certa noite em que eu caminhava sozinha pela rua, como qualquer pessoa normal, eu estava com um certo medo de andar sozinha naquele horário, três horas da madrugada. Meu chefe havia me segurado para fazer os documentos do dia seguinte, ele estava me enchendo o saco, odiava esse trabalho, esse chefe e essas pessoas inúteis, mas a observação é que eu sou uma dessas pessoas.

Andava com pressa, o capuz cobria minha cabeça enquanto meus cachos negros caiam sobre meus seios, ouvi algo atrás de mim, um barulho de sapatos andando, o medo me dominou, continuei andando mais rápido, o meu salto batia no chão e ecoava naquela rua suja com as calçadas molhadas, os prédios precisando de reconstrução e os buracos sobre o chão.

Os passos só pareciam se apressar mais para me alcançar, uma brisa surgiu, mesmo com a minha blusa de frio, pude sentir meus pêlos se arrepiando, me abracei com medo e frio, mas também com a brisa senti um perfume doce, malicioso e ousado, não conseguia decifrar se era um cheiro de homem ou de mulher, meu medo não deixava.

Passei a mão no canto da minha bolsa tentando achar o meu Ipod, o achei, não hesitei em colocar os fones no meu ouvido e ligá-lo, não importava a música, não importava o cantor, só me importava o volume – que eu coloquei no máximo.

Mas os passos eu ainda conseguia sentir, ainda conseguia sentir em minha alma que eles estavam me seguindo, virei a esquina seguida pelos passos, a rua era escura, não havia nenhuma luz sequer ou quaisquer janelas com a luz acesa. Sentia que a cada passo da pessoa – isso, se ela fosse mesmo uma pessoa – meu coração batia mais forte, seguindo o ritmo.

Meu passo, meu coração, o barulho do sapato da pessoa, meu passo, meu coração e o barulho do sapato da pessoa. Uma música inacabável. Queria gritar mas parecia que a voz não sairia, e naquela rua, não iria ter alguém para me socorrer, olhei para a Lua tentando chamar seu nome e fazê-la iluminar meus passos, mas a estúpida da Lua estava coberta pelas nuvens, me perguntei para que ela se escondia nas nuvens se sua forma estava tão linda aquela noite. [i]Lua Cheia[/i].

No intervalo de tempo entre o fim da música de Justin para o começo da música de Christina, eu ouvi os passos se apresando junto com o meu coração, pisquei os olhos fortemente e tomei a força que precisava – mas não a bastante para fazer minhas pernas pararem de tremer. Parei de andar, arranquei os fones do meu ouvido e virei para trás para observar meu seguidor, pude ver meus movimentos em câmera lenta.

Meus cachos negros voando enquanto a toca saia da minha cabeça, o salto alto tocando o chão, os fones de ouvido voando junto com os meus cachos, meus olhos escuros se abrindo para ver meu seguidor, todos os efeitos causados pelo meu giro perfeito. 

Não vi nada nos primeiros instantes, mas a Lua estava se desfazendo das nuvens que a fantasiavam e iluminando a pessoa que me seguia – não poderia estar mais feliz em dizer a palavra “pessoa”. A Lua, primeiro, iluminava a parte direita de seu rosto: olhos castanho-esverdeados, tão profundos que eu poderia me perder ali, um abismo sem fim... eu não conseguia ver o fim deles. Lábios finos e avermelhados, mas o lábio inferior estava dramaticamente preso aos seus caninos pontiagudos e brancos, não era como os de vampiros, eram menores, mas pontiagudos igualmente.

Usava uma toca verde musgo, mas as pontas loiras e rebeldes de seu cabelo estavam jogadas para o lado e insistiam em sair. A Lua se desfazia mais ainda das nuvens, iluminando agora o lado direito de seu corpo, estava com um cachecol vermelho enrolado no pescoço, usava uma camiseta branca com algumas inscrições em verde vivo e ainda tinha aquela jaqueta de couro, via seus músculos tentando rasgar a jaqueta, parecia que ela os apertava e eles gritavam por socorro. Sua calça jeans escura mostrava aquelas pernas grandes, ele deveria ter 1.85.

Esperei mais alguns segundos enquando meus pulmões se enchiam com aquele doce perfume, meus olhos se perdiam no abismo que ele tinha no lugar dos olhos, minhas pernas se deixavam dominar pelo medo e meus cachos voavam com a pequena brisa. O sujeito deu mais um passo a frente ficando apenas um passo para ele me tomar nos braços e fazer tudo o que ele queria, mas no mesmo momento que seu tênis tocou o chão, a Lua se despiu por inteira, iluminando-o por inteiro.

Olhou para a Lua devagar e piscou preguiçosamente, seus olhos castanho-esverdeados estavam ainda mais profundos, parecia que eles tinham uma relação com a Lua, parecia que ela dominava-os como dominava a noite.

Continuava encarando-o, esperando que ele falasse algo, eu lhe desse um tapa para ir embora e depois chegar em casa e esquecer. Mas a Noite gostava de me torturar e me fazer de uma pequena menina boba.

Ele voltou os olhos para os meus, mas as imensidões castanhas estavam amarelas e mais vivas do que nunca, as pontas loiras de seu cabelo cresciam e já se tornavam pretas, seus caninos cresciam.

Que diabos estava acontecendo? Devia ser meu medo, me fazendo fantasiar coisas sem noção.

Só pude ver a verdade quando seu cachecol se arrebentava no pescoço do sujeito que crescia cada vez mais, ficando grosso. A touca caiu no chão quando os seus cabelos, antes loiros agora negros, cresciam cada vez mais e se jogavam para trás; tirou as mãos dos bolsos e abriu os braços como se sentisse dor em todo o corpo. Suas unhas cresciam, suas mãos se enchiam de pêlos negros e tomavam formas grossas, o pêlo parecia um vírus que tomava conta de seu corpo, os pêlos das suas mãos infectava seus braços, rasgando a jaqueta de couro. Os tênis se rasgavam, dando espaço para as patas traseiras que se formavam e por fim, seu rosto tomava a forma de um lobo.

Um ruivo a Lua penetrou em meu ouvido, parecia que ele implorava para a dor acabar ou para aquele vírus deixar seu corpo em paz. Era o pedido mais sincero feito a Lua que alguma criatura – eu tinha certeza que ele não era uma pessoa – fez.

Aquela criatura olhou para mim, tinha medo nos olhos, medo e anseio. Parecia que me conhecia, olhava pra mim com intimidade, como se soubesse tudo o que eu havia feito de errado na vida, ele conseguia ver meu coração. Rosnou para mim e, incrivelmente, não me senti ameaçada. O medo não tomava conta de mim, não mais.

Levantei minha mão para tocar os seus pêlos negros, mas parei no meio do caminho, eu tinha apenas 1.65m e ele, “transformado”, deveria ter uns 1.95m ou até mais, cheio de músculos mais parecia um armário. Tentei avançar a minha mão um pouco mais, parei de novo ao bufar que ele deu, como se quisesse se esconder; como se tivesse vergonha de si mesmo.

O ar de seu focinho percorreu minha mão, meu braço e meus cachos negros, e mesmo o ar não chegando ao meu pescoço, eu conseguia sentir o arrepio percorrendo-o. Com a minha mão parada no ar, ele chegava perto dela com a cabeça, deixando que meus dedos tocassem os pêlos macios dele, uma sensação tomou conta de meu coração, um conforto imenso e puro.

Fechei os olhos e senti seu focinho molhado tocar minha testa... ele deveria estar querendo sentir meu gosto, seria um aperitivo fácil, afinal, eu mesma virei para trás e eu mesma fui até a rua escura. Tola Nicole.

Nunca imaginei como morreria, mas ser o aperitivo de um lobisomem de olhos amarelos parecia ser um ótimo jeito de morrer, poucas pessoas morreriam assim... mas a Lua não deixou, ela se vestia de nuvens de novo e parecia que ela gostava de brincar com ele.

O lobisomem voltava para seu tamanho normal, os pêlos caiam de sua pele como se o vírus tivesse cura, seus cabelos voltavam ao tom loiro e ao tamanho real, suas unhas entravam dentro de sua pele para darem impressão que eram unhas normais. O sujeito caiu no chão com as mãos apoiadas no chão e uivou com dor, o focinho se escondia no rosto dele como se tivesse sendo espremido, suas costas deixavam o pêlo cair e sem perceber, sua coluna vertebral tentou sair do seu corpo mas ela logo se colocou no lugar, os músculos de suas costas se saltavam para o normal, um a um. Ele uivou de novo, as veias de seus braços pulsaram mostrando o sangue correndo tão rápido por todo o seu corpo, os músculos de seus braços voltavam ao normal e o último ruivo que se transformava em um grito.

Observei sua transformação com pena nos olhos, a dor que ele sentia devia ser desconhecida, era como se algo explodisse dentro dele mesmo e nada faria a explosão parar, mas quando vi os pêlos negros do chão queimarem eu percebi que não havia acabado.

  O sujeito levantou a cabeça para mim, tão humano quanto eu e tão bonito quando qualquer um, estava tão ofegante que eu conseguia ouvir sua voz perfeitamente, seus olhos encontraram os meus, o amarelo vivo ainda estava presente assim como a suplicação, eles suplicavam a mim para tirar aquela cor deles, suplicavam a mim para fazer aquela dor parar – como se eu conseguisse.

O amarelo vivo se desfazia aos poucos de seus olhos, do amarelo vivo para o castanho-esverdeado, da suplicação para o alivio. Colocou as mãos nos joelho, levantou tão devagar que dava vontade de ajudá-lo naquele ato e piscou lentamente.

Minha mão ainda no ar conseguiu tocar seu peito e meus olhos analisaram seu corpo mais uma vez... nu, completamente nu, eu sabia disso, mas a Lua coberta por nuvens só me deixava ver uma palma abaixo do umbigo para cima.

Roupas não faziam jus a ele, de jeito nenhum... as gotículas de suor dançavam pelo seu rosto fazendo as pontas de seus cabelos loiros rebeldes se fixarem na testa, também nos seus braços, as gotículas escorregavam pelas ondulações dos músculos que antes gritavam, e em sua barriga e peitoral, elas continuavam dançando por todos os lados e músculos. Divertiam -se percorrendo seu corpo definido e zombavam de mim por só tocar seu peito esquerdo.

– Mas que diabos é você? – Perguntei num sussurro, meu tom não demonstrava medo, mas interesse. 

Não recebi resposta, nem se quer um olhar irônico.

– Chamam-me de lobisomem, mas prefiro Brad... – Tinha a voz igual ao seu perfume: doce e ousada... maliciosa e também, tinha sotaque, não qualquer sotaque, era o sotaque inglês tão gostoso de se ouvir.

– Por que você está me seguindo, “Brad”? – Sussurrei mais uma vez só que com o olhar baixo, não queria olhar para seus lábios, apenas para o chão.

– Porque se eu não o fizesse, alguém o faria e esse alguém não conseguiria resistir ao seu cheiro como eu. – O sotaque inglês tocou meus ouvidos.

– E agora que eu percebi que você está me seguindo, o que você fará?

– Sou obrigado a te vigiar a todo o instante, vendo se você contará a alguém que eu sou um lobisomem... – Disse enquanto tocava meu pescoço com a mão direita, mas eu ainda continuava a olhar para o chão.

– E se eu falar para alguém que você anda me seguindo?

– Não hesitarei em transformar você em uma criatura igual a mim. – A sua mão era macia, e sua pele era quente, muito quente.

– E se eu não contar para ninguém?

– Bom... – Ele fez uma pausa, trouxe seu nariz até meu pescoço e sugou meu cheiro com prazer. – Nós poderemos ter algum relacionamento. – Sussurrou no meu ouvido.

Maldita Inglaterra.

– E se eu não quiser esse relacionamento? – Levantei minha cabeça, meus olhos mal levantaram e já estavam encarando os olhos dele.

– Eu farei você querê-lo... – Mal terminou de falar e já se afastou de mim. – Estarei lhe vigiando.

Brad olhou para baixo e eu acompanhei seus olhos estupidamente, pois, quando eu levantei meus olhos de novo, ele já estava cheio de pêlos e com os olhos amarelos e a Lua já estava despida. A transformação tinha sido imediata, como dizia em filmes e livros: lobisomens podem fazer a segunda transformação da noite ser mais rápida do que a primeira. Pulou para o prédio do nosso lado, fincou as unhas nas paredes e olhou mais uma vez para mim. Amarelo vivo. Continuei com os olhos fixados nele até que subisse todo o prédio e sumisse.

Naquela noite, eu soube o que acontecia quando eu tinha a sensação de que algo estava me olhando, quando alguma coisa estava tentando me tocar, quando algo estava me seguindo e quando algo sussurrava meu nome. Era a Noite, sempre foi a Noite e sempre vai ser a Noite com seu escravo amaldiçoado com olhos amarelos vivos e corpo cheio de pêlos, o escravo que me visitava toda a Noite a procura de meus cachos negros e meus lábios vermelhos. Não precisava mais olhar para o lado, não precisava mais tentar ouvir melhor e não precisava mais me tocar para garantir o que sabia.

O escravo vem, ele está me chamando... sussurrando meu nome. E eu vou até ele sem hesitar.


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Notas finais do capítulo

Mereço um review? (: