Amor Após a Morte escrita por Daani_Graah


Capítulo 31
17. Abandonada - Maríe


Notas iniciais do capítulo

Segunda parte do capitulo.



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17. Abandonada - Maríe

Parte 2

***

Era noite escura. As estrelas não apareciam no céu. As nuvens cinzas encobriam tudo próximas a si.

Eu sangrava demasiadamente sobre o chão de pedra.

Minha pele não cobria mais os braços e pernas, que agora estavam em carne viva.

Eu ardia. Mal conseguia me mexer.

Não ouvia nada mais além de sussurros ao longe.

Algo ou alguém vinha em minha direção carregando algo que aparentava ser pesado.

Era demoniza com Jane nos braços.

Ela não estava descansando eternamente. Era pior.

Ela estava viva. E se contorcia nos braços do demônio.

Sangrava até mais do que eu, e não era apenas seus braços e pernas que estavam em carne viva.

Seu tórax estava marcado de chicotadas, que formavam feridas secas.

Eu estremeci.

Demoniza colocou Jane ao meu lado.

Ambas estávamos no chão, doloridas.

Ela, três vezes pior que eu.

Então um vulto surgiu por detrás da Demoniza.

Ele tinha um balde nas mãos.

Não reconheci o que era, até ele se aproximar mais.

Então eu percebi o que era. E não fui a única. A expressão de pavor de Jane mostrou que ela também havia reconhecido o conteúdo do balde.

Sal.

Aquilo nas feridas abertas seria dor e sofrimento na certa.

Tentei me levantar e sair correndo.

Eu não conseguia me mover um centímetro sequer.

Derrotada, desisti.

Olhei para Jane.

Ela estava de olhos fechados e a boca contorcida, esperando pelo pior.

Fiz o mesmo.

Quando abri os olhos, nada mais estava ali.

Jane sumira. Idem os vultos.

Apenas demoniza me olhava.

Com alivio percebi que eu imaginara tudo aquilo.

Estava inconscientemente perturbada.

Mas eu sabia que ela era capaz daquilo e de muito mais.

***

Pelo modo como a lua estava posicionada no céu, eu diria que eram nove e meia quando demoniza chegou para me soltar.

O fogo já havia sido apagado pela chuva.

As correntes pioraram os machucados no meu braço, e eles jorravam sangue.

Minhas pernas estavam em cinzas, e ardiam a cada movimento.

O fogo não queimara meu corpo internamente.

Apenas a parte externa.

As correntes caíram no chão, e logo após isso, demoniza saiu andando sem dizer uma palavra sequer.

Tentei me levantar mais não consegui.

A fome me consumia, assim como a sede e a dor que eu sentia.

O que estaria acontecendo com Jane naquele momento?

***

Eu não sabia o que estava acontecendo, ou aonde eu estava. Mas a cena se repetia.

E dessa vez, eu tinha certeza de que não era um sonho.

Eu estava tendo a sensação de d’javú que me perturbava.

Eu estava deitada, me contorcendo no chão, e demoniza apareceu com Jane em seus braços, depois deitando-a a meu lado e toda cena se repetiu.

Não era onde eu havia sonhado.

Não era ao lado da pilastra.

Estávamos em um quarto. Com cheiro de mofo. Igual ao meu.

Em alguns minutos ficamos sozinhas. Se remoendo com a dor.

Eu queria que novamente fosse um sonho.

Não era.

Por alguns segundos eu e Jane realizamos os mínimos movimentos possíveis em total acordo.

Parecíamos um espelho. Até que nossas mãos se tocaram.

Quando finalmente conseguimos apertar uma a mão da outra, fechamos os olhos e creio que novamente ficamos inconscientes.

***

Ouvia vozes ao longe. Não reconhecia nenhuma.

Abri os olhos com cuidado, analisando cada centímetro de onde estava.

Agora eu havia sido tirada do quarto mofado.

Jane não estava perto de mim. Demoniza também não.

Eu não reconhecia ninguém.

As pessoas mais próximas de meu corpo eram duas garotas. Uma delas era corada de cabelos negros como breu e longos. Chegavam até sua cintura.

A outra garota era loira dos cabelos curtos. Era branca feito neve. Seus lábios eram delicados e tinham um brilho natural.

Ambas conversavam algo que eu não compreendia muito bem.

Tentei falar algo mais a dor ainda me tomava. Depois de algum tempo percebi que estava amarrada.

Elas não pareciam nem um pouco com os vultos da Demoniza.

Eu queria gritar. Não podia mais uma vez ser torturada.

Por algum motivo elas pararam de discutir e em um único movimento, ambas me encaravam.

- Oi. Eu sei que você deve estar assustada, mas não queríamos que você fugisse.

- Como se eu conseguisse. – sussurrei. Cada palavra que saía de minha boca me causava tremenda dor.

- Não podíamos correr o risco. Prazer sou Rosane. – disse-me a morena dos olhos verdes. Sob os cabelos negros eu quase pude ver Nate estampado em seu rosto. A semelhança era incrível.

- Por que estou aqui com vocês? – perguntei confusa.

- A encontramos jogada em um quarto mofado. – disse-me a loira de olhos negros.

- E onde está Jane?

- Quem?

- A outra garota que estava do meu lado. – Pronunciava cada palavra com cuidado. As dores ainda tinham muito efeito sobre cada ação que eu exercia.

- Não conseguimos tirá-la de lá a tempo. Depois que pegamos você, Morgan entrou no quarto e quase nos viu.

- Desculpe. Quem entrou no quarto? – seria outra sombra da Demoniza?

- Demoniza. – disse a loira por fim.

- A conhecem? – perguntei encabulada.

- Se conhecemos?! Sofremos até mais do que você. E depois, com algumas dificuldades, fugimos para o mundo humano. De vez em quando voltamos para visitar alguns amigos.

- Qual o nome que vocês disseram mesmo? – tudo era novidade para mim.

- Morgan. Depois de umas investigações finalmente descobrimos seu nome.

- Ah. – disse por fim. E então desisti das perguntas. Cada movimento me doía muito.

Por algumas horas elas me contaram suas histórias, com detalhes fascinantes. Descobri muitas coisas que aconteceram á Rosane e sua amiga – de nome Nathalie.

E então, para meu espanto, descobri também que não estávamos tão longe do palácio, apenas atrás de uns arbustos, que se mantiveram conservados da destruição causada por Demoniza.

Rosane e Nathalie cuidaram de mim por alguns dias, depois passaram a ficar menos comigo, indo e voltando do mundo humano. Corajosas – pensei.

***

Em uma manhã qualquer acordei com o barulho dos arbustos se movendo.

- Ora, ora, ora. Se não são as duas fugitivas. – novamente Demoniza. – Dessa vez, daqui vocês não saem mais.

Fechei os olhos torcendo para que quando os abrisse, ela sumisse.

- E você mocinha – nada. Era real. Ela se dirigia a mim agora – vai voltar para o seu quartinho. E se uma dessas mocinhas te levarem de volta, pode ter certeza que as consequências para você serão cada vez piores.

Ainda não estava em condições de me mover, então esperei que um de seus vultos me carregasse.

Aos poucos fui me distanciando de Rosane e Nathalie – em alguns minutos eu só conseguia ver seus cabelos um pouco á frente de Demoniza – e logo me vi novamente no quarto mofado.

Novamente abandonada.


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Notas finais do capítulo

Esperamos que gostem. E deixem seus reviews. Eles nos ajudam a escrever cada vez melhor.



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