Amor Após a Morte escrita por Daani_Graah


Capítulo 29
16. Verdade e Consequência - Maríe




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16.Verdade e Consequência - Maríe

Parte 2

Antes de Ron sair eu saí correndo até a mesa de café. Eu tinha certeza que estava vermelha. Não era tão branca como os outros.

Jane estava na mesa. Eu tinha certeza que ela tinha visto o desespero em meu olhar.

- Maríe o que foi? – sua voz era de preocupação.

Meu olhar para ela foi de pena, mas eu não tinha sentimentos. Não podia sentir pena dela. Quanto mais me apegasse á essa ideia mais eu sofreria depois. Meu destino era ser outra daquelas sombras.

Não a respondi, apenas peguei um croissant que estava numa cesta na mesa e corri para fora. Para o cemitério, ver os ‘soldados’ perdidos nas guerras.

Sentei na lápide de minha mãe.

- Ela conseguiu fugir. – sussurrei para mim mesma.

Deitei no chão cheio de folhas secas, fechei meus olhos e me abracei, com frio.

Ideia de jegue usar shorts num tempo daqueles.

Adormeci atormentada por tudo que ouvira.

***

- Me fala agora o que aconteceu! Maríe? Maríe! – Jane me encarava incrédula.

Abaixei a cabeça e a virei para o lado.

Não queria falar com ninguém naquela hora. Nem em hora nenhuma.

- Agente se fala depois Jane. Não quero conversar. Tenho muito que te explicar, mas .. me deixa tá perfeitinha?! – meu tom era agressivo.

- Está bem. – ela saiu andando.

Me levantei. E fui jantar.

Já era quase nove da noite.

Era frio o vento que entrava pela janela da sala, fazendo as cortinas flutuarem, meio que como se estivessem voando.

Uma mão encostou no meu ombro enquanto eu engolia o macarrão.

- Parece cansada. Seus ombros estão tensos.

- Dormir no chão do cemitério não faz bem, demoniza.

- Hum ...

- Vai ficar mesmo me olhando jantar?

- Não .. só vim te avisar, que você não pisa mais fora do seu quarto hoje.

- COMO É QUE É? – quase engasguei com sua fala.

- Você não é surda.

Ela se virou e saiu andando como se nada tivesse acontecido.

Terminei o jantar e decidi obedecê-la.

Afinal, sair para quê?

***

Tomei outro banho e peguei o primeiro pijama de lã que vi.

Com pantufas todas cheia de pelinhos que me incomodavam.

Arrastei lentamente os lençóis da cama e me afundei nos travesseiros.

Depois de alguns minutos encarando o teto de dedos entrelaçados, me virei e reparei na estante uma pilha de livros que eu amava.

Jane. Pensei.

Por favor, pare. – e como eu queria que isso realmente acontecesse.

Minha irmã me amava. Como eu não era capaz de ama-la.

Peguei o primeiro da pilha. ‘Fallen’

Desde alguns anos eu estava ansiosa para lê-lo mas nunca tinha dinheiro suficiente para compra-lo.

E, de repente, sem que eu percebesse, a janela se abriu. E só me dei conta ao sentir o golpe de ar frio me atingindo.

Arrepiei.

Os olhos verde-água inundaram o quarto e eu quase me afoguei sem ar, fitando-os.

A escuridão negra de seus cabelos me tomava completamente.

Eu estava caindo em um abismo.

O abismo da minha ilusão de amor.

Talvez essa viajem dele fosse realmente boa para mim.

- Eu vim.

- Você veio. – disse de cabeça baixa.

- O que você queria?

- Conversar.

- Aqui estou eu.

Me lembrei da minha decisão. NÃO. Não iria me iludir mais.

- Bem, como você disse. Eu QUERIA.

- Não quer mais?

- É esperto. – disse sínica.

- Não vim aqui por nada.

Ele se aproximou de mim, e eu estava frágil demais para afastá-lo.

Seus braços musculosos me envolveram e me aqueceram.

Eram como um cobertor de lã, quente e macio, aconchegante demais, para que eu pudesse desvencilhar-me.

- O que você tem? – ele percebera meu humor.

- Nada.

- Nada não causa isso. – ele sorriu torto e seu sorriso me fez suspirar - O que aconteceu?

- Nada, só me dei conta da realidade.

- E a realidade é .. ?

- Eu ... você não iria acreditar em mim.

- Sou todo ouvidos.

- Eu não tenho sentimentos. É tudo pura ilusão. Não amo Jane, não odeio demoniza não amo ... não amo você.

- Ah! Mas que patético!

- Eu te disse.

- Não. Isso é ridículo. Eu acreditaria em você, se você desse algum sinal de que isso fosse real. Você sente sim e ...

- Não. – Eu o interrompi – Demoniza disse ...

- E vai dar ouvidos á o que ela te diz? – agora ele me interrompeu.

- Ela não me disse nada ..

- Como assim? Você disse que ela disse ..

- Ela disse. Mas não foi para mim. Eu escutei uma conversa. E ela tem ótimas justificativas está bem? E não estou com vontade de lhe explicar todas.

Ele ainda me abraçava, e agora encostava seus cabelos negros nos meus ruivos.

- Esquece tudo o que ela diz. O que você ouve ou vê. O que interessa é o que sente.

- Eu não sinto.

- Sente sim. O que você acha certo ou errado, o que você abomina ou idolatra. Apenas siga seus instintos. Espere aí. Quando negou sentir, quando negou amar e tudo mais .... por que você disse .. eu não amo você?

Eu estava muda.

Ele finalmente ouviu as palavras que queria, que comprovavam meus supostos sentimentos.

Um sorriso enorme tomou seu rosto antes do mesmo se aproximar do meu.

Seus lábios encostaram calmamente nos meus, que se moviam ritmicamente.

Eu tentei me separar e ele me puxou com força para perto de si.

Então segurei em seu pescoço, enquanto ele enlaçava minha cintura e retribui seu beijo com o maior carinho que pude.

Até que a porta se abriu.

- Ora. Mas que lindo!

Nos separamos e me virei para a porta.

Era demoniza.

- Ah, mas é encantador. Um anjo e um demônio juntos.

Nate se colocou na minha frente.

Eu o abracei.

- O que vai fazer? Me matar? – desafiei.

- Não. Nada diretamente á você. No início. Quanto á você – ela se virou para Nate – Vai pro seu céu enquanto eu não deduro suas fugidinhas para o superior.

- Ele já sabe.

- Então é melhor ir antes que eu o mantenha aqui.

- Pois eu fico.

- Nate. Não. Por favor. Vai pro céu. Depois eu juro que agente se fala. Temos a eternidade.

- Rárá. Ah, ingênuos. Ouça sua princesinha do mal. Vá pro céu.

Assenti com a cabeça para ele.

- Ficarei bem.

Ele abriu as asas e se foi pela janela, com angústia estampada em seu rosto.

Ela finalmente se virou para mim.

- Já era seu inferno dos céus. Lojas, mordomias, belezinha natural e todos esses luxos que vocês tem aqui. Eu ainda ofereço tudo isso para vocês e é assim que me agradecem? Se encontrando com o inimigo?

- É isso? Perder as mordomias. Rá. Nunca tive muito. Posso me acostumar de novo.

Eu fui me deitar.

- Ahn, querida. Não é aqui seu novo quarto.

Ela me levou até uma porta ao lado do cemitério.

Nunca havia reparado antes.

A casinha era toda de madeira. – muito mal conservada, por acaso.

Dentro, Nenhum espaço amplo. Apenas uma cama da mesma madeira desgastada, sem colchão, apenas com papelão molhado nela.

Uma escrivaninha de ferro enferrujado. As janelas quebradas e cortinas rasgadas. A chuva invadia o quartinho e criava mofo nos cantos das paredes.

Algumas gotas também caíam do teto desgastado e molhava o criado mudo no canto.

Três gavetas.

Demoniza as abriu para mim. Uma por uma.

- Essas são suas novas roupas.

Eram todas rasgadas, ou então manchadas, cheirando a mofo. Roupas de pessoas de rua, sem realmente condições de nada.

- Se vire para limpá-las. Não sai mais daqui. Duas vezes por dia algumas sombras baterão na porta trazendo sua comida. Se é que podemos chama-las assim.

“É melhor atender, ou então terá que esperar a próxima refeição.

Quanto seu banheiro, há uma portinha no chão, bem ao lado da sua cama. Lá não há janelas, nem portas. Apenas o que precisa para suas necessidades. Se vire com a limpeza.

Abusou demais da bondade do demônio. Te dei corda. Agora se enforcou.

Sua água virá com a comida. Viva bem.”

Sentei no papelão molhado – a única coisa menos molhada que o chão naquele quarto – e olhei pela janela.

Vi Jane sendo levada pelos vultos, provavelmente também fora pega, e agora estava sendo levada para outro quartinho mofado.

Bain estava atrás dela. Eles provavelmente estavam se despedindo, até que, depois de ela assentir com a cabeça – assim como eu – ele partiu.

Eles voltariam. Pensei para mim mesma, tentando obter esperança – palavra que quase não existia no meu dicionário. Muito difícil de encontrar nele.

Bom, para cada ação, uma reação.

Essas foram nossas consequências.

Sinto muito Jane – sussurrei para mim mesma.


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Notas finais do capítulo

espero que gostem.
e deixem seus reviews.



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