Às Margens do Lado Negro escrita por Patricia S


Capítulo 1
Capítulo Único




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Era comum, no final da tarde de uma sexta-feira cansativa, que os alunos se reunissem às margens do Lago Negro. Alguns jogavam restos de comida na água para tentar chamar atenção da Lula Gigante, outros mais preguiçosos apenas descansavam sob a sombra de qualquer bétula pelas redondezas. Outros até aproveitavam para ficar a par dos últimos acontecimentos da escola, e esta era a hora perfeita para fazer um convite àquela pessoa especial para ir a Hogsmeade juntos na próxima oportunidade. Dentre todas as utilidades que um final de tarde às margens do Lago Negro oferecia, era unânime que aquela hora era a melhor do dia de qualquer aluno.

- Pontas – chamou Sirius Black que caminhava em direção a James – O que está fazendo?

Sirius largou-se ao lado do amigo, jogando os fios de cabelo que estavam sobre seus olhos para trás. Uma garota de cabelo loiro cutucou a amiga quando Sirius chegou. Cochichou alguma coisa inaudível a eles e deram risadinhas abafadas em seguida. Sirius fingiu não dar a mínima a elas, mas gostava da atenção que recebia das garotas.

- Estou em meio a uma epifânia, Black – disse James, sério, que dobrava e desdobrava uma folha entre os dedos.

Sirius riu.

- Ora, de uma hora para outra está falando de modo certo – caçoou Sirius – O que houve? Lily te dispensou mais uma vez por falar como um asno?

James não riu. Apenas dobrou e desdobrou a folha mais uma vez.

- Estou falando sério, Almofadinhas – continuou ele – Veja bem, nós temos pouco menos de dois anos em Hogwarts e eu ainda não fiz nada além de azarar alunos mais novos e fazer alguns gols para a Grifinória. Claro que ganho atenção e popularidade, mas isso tudo para quê? Lily me odeia. Eu serei o pior funcionário que o Ministério já teve, isto é, se me aceitarem no Ministério algum dia.

Sirius endireitou-se ao lado de James. Talvez a tal epifânia de Pontas fosse verdadeira.

- Não seja tão duro consigo James...

- Não. É verdade – afirmou – Lily tem razão. Eu sou um biltre descerebrado e inútil, e nem ao menos sei o que isso quer dizer. Entendeu? Não sou capaz de encontrar definição até aos insultos que Lily vomita sobre mim toda vez que me encontra.

- Ora, vejo pelo lado bom, se você não encontra definição, não sabe o que significa. Talvez seja um elogio e ela ame você e você ainda não se deu conta.

- Vê? Até você concorda que sou um biltre descerebrado e inútil.

- O que?

- Acabou de dizer que talvez Lily me ame e eu não percebi. Não sou nada útil. Nem para perceber algo que é perceptível a uma rã.

- James, você voltou a beber whisky de fogo escondido em algum armário de vassouras pela escola? Você não está em seu juízo perfeito. Falo sério.

- Não, Almofadinhas – retrucou James irritado – Da última vez, Filch confiscou todo o nosso estoque de whisky porque eu não consegui escondê-lo a tempo! Mais uma vez eu provo que sou inútil.

Sirius girou os olhos.

- Certo. Você é inútil. Você acaba de descobrir o que eu sei a muito tempo. Agora, qual é o intuito de todo esse drama?

- Sou inútil demais para saber.

Sirius então se levantou.

- Potter, recomponha-se imediatamente antes que eu seja obrigado a azarar você!

- Vá em frente.

- Se você não voltar ao normal nos próximos cinco segundos, eu vou encontrar Lily e entregar aquele caderno seu que escreve sobre ela.

- Meu diário está guardado embaixo do colchão, logo ao lado do Mapa do Maroto. Vá em frente e o pegue. Tem minha autorização para entregá-lo até ao Ranhoso se quiser.

Impaciente, Sirius voltou a se sentar ao lado de James. Por um momento ficaram em silêncio profundo, e então, novamente, Sirius tomou a palavra.

- Pontas, você está passando por uma crise existencial.

- Oh, não! É mesmo? – ironizou o outro.

- É mesmo – repetiu Sirius, ignorando a ironia – Mesmo que eu não tenha passado por nenhuma crise destas, uma vez que eu sou eu e eu não estou inclinado a coisas deste tipo, sei muito bem do que você precisa.

- Eu preciso de Lily.

O amigo bufou.

- Você precisar parar de pensar na Lily. James, olhe, você, mesmo com uma lista enorme de defeitos que tem, você é ainda meu amigo. Você serve para ser meu amigo. Você não é verdadeiramente inútil.

- Isso somente prova que você também não é uma pessoa de muitas qualidades, que se contenta com qualquer tipo de pessoa para compartilhar de seus sentimentos, armações e, enfim, a sua vida.

- Isso é realmente sério? – quis saber Sirius, preocupado.

- É.

- Francamente, James, eu realmente estou decepcionado com você. Pensei que não era destas coisas.

- Eu também não.

- Pois bem. Quer ouvir a verdade? Você é um irresponsável que não mede esforços para azarar a qualquer um que perturbar, somente para mostrar que sabe. Você é um preguiçoso, mas parece que nasceu virado para a Lua e conseguiu quase tantos N. O. Ms quanto eu. É irritante e Lily não te suporta porque é irritante. Mas, ainda assim, se você não estivesse aqui em Hogwarts, seriam apenas três marotos e você sabe que com três marotos não se constrói um mapa detalhado de Hogwarts, não é? O que eu quero dizer é que você tem alguma utilidade e você é meu amigo. Você é impo... É. Você é meu amigo.

- O que disse?

- Que você é meu amigo. Além de inútil você é surdo também?

- Não, não. Aquela outra coisa... Sobre eu ser seu amigo e sobre o “Impo...”, como é?

Sirius bufou mais uma vez.

- Você é meu amigo. E amigos são importantes na vida de qualquer um.

- Logo... ?

- Certo, Pontas. Você é importante para mim. Feliz agora?

James sorriu e se levantou.

- Otimamente bem.

- O-o que? Como assim? – perguntou Sirius completamente perdido – A crise existencial acabou? Você não passa mais de um verme inútil e sem cérebro?

- Bem, Almofadinhas – disse James em tom divertido. Ele apoiou o braço no ombro de Sirius quando este se levantou – digamos que.. Olhe, não é uma ofensa. Mas digamos que alguns tem dotes mais voltados para a arte do que outros. E você faz parte do “outros”.

Sirius não encontrou nada para dizer.

- Veja bem, eu estava atuando – esclareceu James – Tudo isso para provar minha tese que você não é um cachorro sem coração. Até você, Black, tem sentimentos.

Almofadinhas ruborizou-se de raiva.

- Seu... – ele empunhou a varinha.

- Cuidado! – disse James a dois passou de distância – Você não vai querer ferir alguém que é importante para você!

- Potter! Seu veado de chifres de unicórnio! Volte aqui! – brandou Sirius furioso, quando James fugiu correndo – Vou te mostrar com quantas doninhas se alimenta um hipogrifo! Levi Corpus!

E assim as tardes às margens do Lado Negro continuavam. Com ou sem utilidade. 


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