Inner Outer Space escrita por matt


Capítulo 18
Excursão


Notas iniciais do capítulo

"Resolvi me deixar levar. As alternativas que eu tenho não me deixam muita escolha."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/11492/chapter/18

 

            Voltei ao portão. Eu já estava com pressa de fazer alguma coisa para evitar o fim do mundo, mas as poucas palavras que troquei com Ana foram o suficiente para me deixar ainda mais desesperado. Eu preciso salvá-la de qualquer jeito. Já devia pensar isso antes... De certa forma, é realmente egoísta da minha parte querer isso com mais intensidade só porque eu descobri que ela, inconscientemente, ainda me ama. Mas não vou pensar nisso agora, preciso reencontrar Kasumi..., que ainda não apareceu.

            Resolvi tentar chamá-la.

            - Kasumi, onde você...

            - ME-KUUUN!! – disse a coisa que pulou nas minhas costas e me derrubou no chão. Ou quase isso. Quando meu rosto estava a alguns centímetros de atingir o solo, ele parou no ar. Ficamos eu e Kasumi flutuando, ninguém seriamente ferido.

            - ...está? – terminei.

            - Ainda preciso responder?

            Ela me soltou de costas para o chão.

            - Você gosta de chegadas aleatórias, hein... – falei, me levantando.

            - Só um pouquinho – ela riu.

            - E então? Já pegou o dispositivo D?

            - Hihi, faz tempo. Você ainda estava dormindo.

            - Por que você não me acordou?!

            - Porque a Ana estava chegando.

            - Ahn... Foi bem nessa hora?

            - Não, foi antes ainda. Mas eu queria ver vocês dois juntos.

            - ...Por quê?

            - Porque é tão kawaii! – ela reproduziu com perfeição a expressão de menininhas que gritam “Ah, que fofo!” quando vêem algo romântico. Estranhei.

            - Não achei que você gostaria tanto de ver a gente junto.

            - É claro que eu gosto! Vocês ficam muito bonitinhos – ela fez a mesma face – Você se transforma num herói perto dela. E mesmo sem memória, ela te vê assim.

            Kasumi se virou e, após algum tempo de silêncio, continuou:

            - Isso me faz gostar ainda mais de você, Me-kun.

            Um longo silêncio se sucedeu. Antes que eu pudesse dizer que “eu não te entendo”, ela suspirou e disse:

            - É, eu sei.

            - Hã?

            - Enfim, vamos! A gente já perdeu um tempão nessa conversa.

            Ela começou a me arrastar de volta para a casa da Ana.

            - Ei! O que você tá fazendo?

            - Pondo o plano em prática.

            - Mas aqui? A gente vai ser visto!

            - Eu, não. E se você for rápido, também não.

            Chegamos ao quintal.

            - Kasumi – lembrei de perguntar – qual é o plano, afinal?

            - Calma, menino apressado. Você vai ver.

            Ela fez um sinal para eu me afastar. Recuei até a parede da casa, enquanto ela fazia alguma coisa com as duas caixinhas pretas.

            - Ei, você não vai ficar invisível?

            - Já fiquei.

            - Então por que eu ainda te vejo?

            - Porque eu quero.

            - ... Só isso?

            - Não, mas vai dar muito trabalho pra explicar. Especialmente para um 42.

            - Ah, então tá... – ela gosta de me rebaixar, só pode ser.

            Sentei-me, observando o que ela estava fazendo. O que quer que fosse, era bastante tedioso. Resolvi, mais uma vez, não pensar nos problemas que me afligiam naquele momento e baixei minha cabeça para descansar. No entanto, assim que eu fechei os olhos, um barulho ensurdecedor me fez levantar rapidamente.

            O chão começou a tremer, enquanto Kasumi parecia estar em transe. Bem à frente dela, algo começou a sair do chão. Algo grande. Por fim, revelou-se um “algo” que lembrava um jato militar totalmente branco e reduzido, de modo que ocupava perfeitamente o espaço do quintal. Encarei a coisa por algum tempo, abismado, enquanto Kasumi olhava satisfeita.

            - O que... é isso? – perguntei.

            - Ué, eu tentei fazer o mais óbvio possível. É uma nave.

            - Tá, mas... como... o que... por que...?

            - Ah, isso de novo, Me-kun? Anda, vamos subir!

            - “Vamos”?! Como assim? Vamos pra onde? – não me mexia.

            Ela já estava a meio caminho andado até a escada que desceu de baixo da nave brilhante quando respondeu:

            - Também não é óbvio? Vamos fazer uma visitinha à base do C.E.M.

            ...eh?

            - Vem, Me-kun, tá esperando o quê? – ela disse, subindo, saltitante, a escada. Parou ao ver que eu não me moveria por livre e espontânea vontade, o que me deixou apreensivo.

            - Tá – continuou, agora descendo e vindo na minha direção – Eu sei que deve ser um choque pra você acompanhar uma manipulação atômica dessa proporção e que você provavelmente nunca fez uma viagem intergaláctica antes, mas, como eu já disse, não temos tempo para acostumar – sorriu, segurou minha mão e, de novo, começou a me arrastar até a escada.

            - Ei, ei, pára! – exclamei, me soltando – Como assim, vamos até a base do C.E.M.? O que você acha que vai conseguir lá?

            - Eu SEI o que eu vou conseguir lá, acredite. No caminho, eu te conto – mantinha seu sorriso. Eu só não sabia se este era natural ou uma simulação do SPIPA.

            - Ok... Mas eu não posso viajar assim, do nada!

            - Algum motivo que eu ainda não saiba?

            - E a minha família? E os meus amigos? O que eles vão pensar?

            - Eu já cuidei disso – ela se segurou por alguns instantes antes de soltar uma risada esquisita.

            - ... O que você fez?

            - Ah, eu deixei um clone seu lá na sua casa, assim como um meu.

            Não deixava de ser uma solução interessante. Eu não sabia que ela podia me clonar também usando aquela turbina...

            - Então por que você riu?

            - Huhuhu – ela estava me assustando – É que... Originalmente, o clone é meu, mas modelado para ser você.

            - E...?

            - Isso quer dizer que ele mantém a minha consciência.

            - Ah! – saltei para trás.

            - Vai ser divertido... – seus olhos brilharam, maliciosos.

            - Por favor, Kasumi, tenha piedade da minha imagem – pedi, temendo o que ela poderia ter em mente para os clones.

            - Não se preocupe. Na frente dos outros, tentarei manter sua personalidade.

            - Ufa.

            - Já entre quatro paredes, é outra história – repetiu o olhar provocativo.

            - Ah, meu Deus... – tá, melhor parar de pensar nisso e mudar de assunto – Mas e a escola? Você vai conseguir manter...

            - Amanhã é sábado.

            - ...ah. Tinha me esquecido disso.

            - Algo mais te aflige?

            Eu queria encontrar um motivo para não fazer essa viagem tão arriscada, mas tudo me pressionava a entrar naquela nave e partir.

            - Só o fim do mundo... e Ana – respondi.

            - Você não quer chamá-la pra vir com a gente?

            - Não!! – respondi por reflexo – Quer dizer, eu queria estar junto dela e poder explicar a situação, mas eu não quero envolvê-la nisso.

            - Sabe, ela já está envolvida até o pescoço. Aliás, do pescoço pra cima...

            - Você me entendeu.

            - Que seja, você não quer salvá-la?

            - Claro!

            - Então vamos logo! – ela me puxou novamente – A gente tá enrolando demais.

            Resolvi me deixar levar. As alternativas que eu tenho não me deixam muita escolha. Ou eu fico aqui e espero que Kasumi tenha sucesso na sua missão, seja lá qual for (e caso não tenha, sou destruído junto com a Terra), ou eu vou com ela e provavelmente sou destruído de qualquer jeito. Bom, é melhor que esperar sentado.

            Enquanto Kasumi me conduzia escada acima até o centro de comando da nave (que era muito maior por dentro, de alguma forma), pude dar uma última olhada para a casa de Ana. Tive a impressão de que havia algo no canto de uma parede, mas quando olhei outra vez, não tinha mais nada.

            - É bom se sentar, Me-kun. A decolagem não é muito suave – ela assumiu uma espécie de manche que mais parecia um controle de videogame com inúmeros botões.

            Acomodei-me a uma poltrona na frente do que parecia ser um frigobar e, automaticamente, fui preso por um cinto de segurança.

            - Vou fechar a escada. Última chance de ir buscar algo pra se entreter no caminho! – ela brincou.

            - Como se eu tivesse disposição pra algum entretenimento...

            - Ah, deixa de ser chato! Sorria, nós estamos indo salvar seu planeta!

            - Tá... – virei o olhar e, por algum motivo, deixei escapar um sorriso.

            - Isso! Mantenha essa expressão! – ela riu. Eu a acompanhei. Não sabia por que, mas o fiz. Isso acendeu uma pequena esperança dentro de mim. Talvez fosse mesmo possível salvar a Terra. Não faço idéia de como, mas Kasumi parecia confiante.

            - Segure-se, estamos indo!

            A nave sacudiu e, pela janela do cockpit, pude ver que nos distanciávamos do chão. De repente, esse distanciamento passou a se dar numa velocidade absurda e, se o cinto não estivesse me segurando, provavelmente ficaria estirado no chão. Então, tão subitamente como começou a se mover, parou, orbitando o planeta.

            - Olha, Me-kun.

            O cinto se desprendeu sozinho. Kasumi observava de pé pela janela. Resolvi me juntar a ela. E foi uma das visões mais lindas que já tive. Nenhuma das fotos que eu já vi na internet chegava aos pés da esfera azul imensa que parecia nos atrair para um pulo longo e suicida. Era simplesmente maravilhoso.

            - É simplesmente maravilhoso, não? – disse Kasumi.

            - Sim...

            Ela manteve-se olhando para o horizonte circular.

            - Agora é o típico momento em que o casal pára de admirar a paisagem e se beija apaixonadamente, não é?

            Olhei para ela, interrogativo. Ela riu baixinho.

            - É, eu estudei alguns filmes da Terra, recentemente.

            - Ahn...

            - Por mais que eu queira fazer isso, Me-kun – ela veio até mim, me segurou e aproximou-se o máximo que podia da minha boca, sem tocá-la – não vou passar deste ponto – e me soltou, voltando a olhar para o planeta e me deixando, mais uma vez, perplexo.

            - Afinal – continuou – isso é um papel para ela, ali, não é?

            Ela, ali?

            Virei a cabeça rapidamente e me deparei com um de meus maiores temores e, ao mesmo tempo, o que eu mais desejava naquele momento.

            Ana.

 


 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu não me canso de fazer finais assim =D
(Prevejo pessoas me metralhando... ._.)