Outra noite quente em que estou deitado na minha cama, com insônia e sem saber no que pensar. Mas, nesta noite quente tudo é diferente. Lá fora cai um temporal. O som dos trovões que ecoa pela casa passando pelos pingos de chuva me faz lembrar de você. Me faz lembrar como o som devastador da sua vós me fortalece. Faz-me vir à mente o cheiro molhado das mentiras que contei. Algumas só pra te ver sorrir. E com forçosa ironia a noite continua quente, diferente de nós.

Parte deste dia foi proveitoso, parte foi um tédio, mas a melhor parte foi quando essa chuva me fez lembrar de você. Fez-me quebrar dum jejum mental de algumas semanas. Semanas estas em que fingi que não pensava em nós. Eu sempre fingi não me importar. E realmente sou um grande estupido por me importar contigo. E os motivos nem importam mais. Eu realmente não me importo mais. Por que agora você é como o vento frio e implacável que esta noite trouxe a chuva e a quem nada pode deter. Você é como este céu tão nublado e escuro a quem coisa alguma pode conter. Por isso não me venha com este carinho e palavras de amizade. Não sou seu amigo! Eu sou seu escravo que simplesmente não sonha mais. Não posso agora que o meu pesadelo se tornou a minha razão de ser. De assustador fez-se atraente. A fera tornou-se um anjo. A menina fez-se mulher.

E por que não deveria eu atrever-me a tentar? Tentar viver com um anjo e domar a fera, brincar com a menina e amar a mulher. O que não deveria eu fazer é incomodar-te com os meus devaneios e as minhas frases adversas. O que importa agora não são pensamentos nem palavras complicadas, só importa o pouco que eu deveria ter lhe dito, mas que por insegurança não fui capaz. Faltou dizer-lhe que te amo.