Alex estava sentada na praia, junto com seu cachorro, olhando para o mar. Estava a uma certa distância, mas ainda assim suficiente para se impressionar com as grandes ondas. Ou melhor, impressionada. Estar assustada não era algo que fazia parte de sua vida. Os últimos acontecimentos tiraram-lhe tal capacidade. Mal podia acreditar, porque haviam tirado bem mais que isso: o amor de sua vida.

Bastava lembrar disso para que o ar lhe faltasse. A dor subia pela garganta cada vez que se lembrava dele treinando ou fazendo brincadeiras. A lembrança era fácil de vir, e sabia que continuaria sendo e aquilo não iria diminuir conforme o tempo passasse, por mais que não conseguisse acreditar em sua morte.

Tudo ainda parecia ser tão nítido... podia vê-lo perfeitamente em seu primeiro dia de agência, em como ele pareceu frio e reservado. De como não gostara nada da expressão de desconfiança permanente daquele novato... de como aos poucos o sorriso tornou-se fácil e sua própria aversão foi sumindo a medida em que o conhecia melhor. De como a parceria no trabalho virou amizade e depois de poucos meses viraria uma outra coisa. Osamu era tão fácil de se gostar...!

As lembranças vinham com o pranto e o sorriso. Cada detalhe vinha com tanta nitidez que seria ousadia sua esperar que acabasse tão rápido, ou que esquecê-lo fosse tão fácil. Sabia que não seria. Tanto dos momentos felizes que passaram juntos, quanto as brigas, as palavras doces, as juras de amor... o último carinho que pôde dar a ele, sem que ele pudesse sentir.

O último. Ele morrera. Alex não sabia se ele tivera tempo de sentir dor, mas a última expressão que viu em seu rosto era serena, plácida de como quem já esperava que fosse acontecer. Talvez ele soubesse... últimos segundos, não duvidava disso.

Qual teria sido o último pensamento?

Eu te amo, Alex.

Ainda podia ouvir sua voz, sussurrando em seu ouvido. Sentir seu toque, as mãos afagando seus cabelos assim como sempre fizera... como ela mesma fizera ao tê-lo em seus braços, morto.

Queria morrer para estar com ele de novo. Estar com ele para sempre. Podia entrar no mar e deixar que as águas revoltas a envolvessem e a levassem ao seu amor. Sem dor, pranto ou arrependimento... mas faltava a coragem.

Ele parecia abraçá-la a cada vez que pensava nisso, como se quisesse impedi-la. Alex se sentia fraca, voltava atrás. Sonhava com ele pedindo para que agüentasse, pois estariam juntos de novo um dia. Seus lábios ficavam doces, como se ele os beijasse.

Só mais um dia!

E ela suportava, mais um dia de vida sem sentido.

Mais um dia, Osamu...

Um dia, apenas mais um dentre muitos em que se sentiria incompleta.

Viveria mais um dia. Apenas por ele.