Ele não a ama.

Porque diz isso? – questionei irritada – O que você sabe sobre amor?

Sei que muitas vezes ele não passa de uma desculpa para buscar abrigo, proteção, atenção ou qualquer coisa fútil suficiente para acolher uma alma mórbida de solidão.

Quis silenciá-la, mas tive medo que ela dissesse a verdade. Tentei ignorar seus pensamentos que se misturavam com os meus, mas ela fazia parte de mim. Não queria pensar que, talvez, tudo o que passamos juntos não representasse nada para ele. Ele me protegeu tantas vezes e, ao mesmo tempo, pareceu esforçar-se para afastar-se de mim, como se me odiasse sem limites. O que passaria por sua mente afinal? O que ele queria de mim?

Kohana – chamou ela – Acredita que vale a pena viver sem ele?

Fechei meus olhos, mesmo estando em meio à escuridão. Quis observar seus olhos mais uma vez. Sentir seu corpo quente envolvendo-me com cuidado, sentir seu coração batendo em sincronia com o meu. Sentir o calor de seu corpo aquecendo-me insistente e discreto. Quis tocar sua face pela última vez, sentindo-o tão perto que nos faria apenas um. Quis tê-lo para mim, mesmo sabendo que nunca poderei ser mais do que uma imagem em sua mente.

Ele saberia que morri pensando nele?

Não. Eu não daria esse gosto a ele. Talvez fosse a única forma de não matar completamente meu ego.

Não – respondi ainda absorta nas lembranças inúteis e perdidas – Certamente que não.

Kohana?

Abri os olhos. Pude sentir a mulher em minha mente aproximar-se ameaçadora, como nunca antes pensei que fosse possível. Achei que ela estava presa em minha mente, mas parecia tão viva e tão forte como nunca. Estava sem forçar para lutar contra ela e, naquele momento, não havia muito a ser feito.

O que você quer de mim? – perguntei com a voz fraca, como se caísse em um poço sem fim.

Quero que desista de sua vida.