Como se começar um diário?
Como se começar a conversar com uma pessoa que você sequer conhece?

               Essas e muitas outras perguntas rondavam minha cabeça no exato momento, eu estava sozinha em casa como de costume, afinal, depois que meus pais se divorciaram e meus dois irmãos mais velhos se casaram restou apenas eu e mamãe.
          Morávamos numa casa não muito grande, em uma rua calma, mas às vezes eu tinha a impressão de que quando o ronco do motor do carro de minha mãe chegava ao quarteirão os pássaros se assustavam. Minha mãe é uma pessoa boa, mas anda muito estressada nos últimos anos, com a separação ela ficou um pouco amarga devo concordar, porém, por mais triste que fosse a situação, às vezes ela sorria, e quando isso acontecia, mesmo que nas raras vezes a rua se iluminava.

        Era dezembro, e as casas da rua estavam todas enfeitadas, mas por mais que eu achasse toda aquela decoração de natal lindíssima minha casa não tinha sequer um pisca-pisca, era uma pena... Quando eu deitava em minha cama a noite eu via as luzinhas piscando do lado de fora enquanto o sono vinha tomar conta da minha mente.
       Do lado da minha casa morava Jared, que por sinal era meu melhor amigo, no meu ver o melhor amigo que qualquer pessoa no mundo queria ter. Nos conhecíamos desde sempre, fomos criados juntos praticamente, e quando minha vida estava mais atordoada, ele me ajudava a segurar as pontas.  Era engraçado, tínhamos uma ligação tremenda, às vezes ele sabia exatamente o que eu queria só de me olhar, e o mesmo acontecia comigo em relação a ele.

       Mas não sei muito bem, acho que nos últimos meses tenho andado meio distante das pessoas, e meu humor que já se oscilava bastante devido aos meus 16 anos, agora se estabilizou, só que no nível mais baixo de alegria.
     Não estava conseguindo conversar muito com as pessoas, nem com Jared, nem com Charlotte, que também é minha melhor amiga, como uma vez eu disse, acho que estou com uma trava na garganta que estava me impedindo de falar, então quando eu não agüento mais eu choro. Tenho chorado muito, mais do que o normal, e na verdade eu mal sei o porquê, a única coisa que sei é que se eu juntasse todas as minhas lágrimas dos últimos meses, eu enxeria a caixa d’água daqui de casa. 
        Há uns dias atrás estava no colégio, e a professora de artes pediu que nos expressássemos mais, apesar de eu não ser nenhum pouco tímida, achei que ela tinha razão, eu não acreditava que conseguiria descobrir o meu problema, mas decidi tentar.

Essa foi a única ideia útil que eu tive, as outras seriam ficar em casa e chorar, ou então aprender a lutar boxe, mas quando perguntei pra minha mãe se eu poderia entrar na academia ela perguntou se eu estava pirando completamente?  Depois da segunda frase gritada, resolvi subir pro meu quarto, então foi ai que tive uma ideia, talvez um pouco boba para uma garota de 16 anos, mas perfeita pra mim.
      Sempre gostei do nome Adam, e não foi por causa de nenhum menino antes que alguém pense assim, não sei direito como explicar, mas Adam me transmite um pouco de paz, como se esse nome já estivesse na minha vida sem eu perceber.

Quando era menor eu tinha um amigo imaginário, mas depois que eu completei 10 anos ele foi embora, agora então resolvi criar um novo, assim eu vou poder contar tudo que se passa na minha mente, sem ter o peso na consciência de que estou preocupando meus amigos reais, Charlotte e Jared já têm tantos problemas... Não quero ser mais um. Então minha ideia foi de criar um amigo chamado Adam, mas para eu me sentir menos idiota e não conversar com o vento, decidi escrever cartas para ele, na verdade um diário, mas todas as folhas escritas eu colocarei em um envelope e assim fingirei que terei respostas, algum dia.

                                             Meu Querido Adam.